domingo, 18 de julho de 2010

A banhos...


Ah, meus amigos (e amigas)… umas feriazinhas… Tinha de ser…

Pois, eu sei que não se fecha assim a taberna por quase 10 dias sem passar pano à clientela mas não houve mesmo oportunidade. Só houve tempo de armar a trouxa e zarpar. As novas tecnologias ficaram deliberadamente para trás. Foram dias dedicados em exclusivo à família. Mergulhos salgados, banhos de sol, petiscos e gelados (Muito Fizz limão!), sardinhas e excelsos jantares, mas também corridas, caminhadas e claro, minis geladinhas no areal magnificamente refrescadas com distinção pela minha geleira de eleição. Um mimo!

Já tenho saudades, mas enfim.

Como nos ensinaram os bons Python, temos sempre de fazer um esforço para olhar para a vida pelo lado mais brilhante.

Sendo assim, não chorem mais. O vosso velho Tio Sabi já está aqui de volta para animar a pequenada com as suas tarequices.

E para provar que não me esqueci de vocês, aqui vos deixo um artigo que li no Público da outra Sexta-Feira, dia 9 de Julho, que me deixou verdadeiramente emocionado. Tem dentro todo o poder revelador da música e vale mesmo a pena ler. Para o poder partilhar convosco vi-me obrigado a comprar a edição desse dia na loja digital do jornal pelo que nem que seja por isso, não me façam a desfeita. Percam lá 5 minutos e vão ver se não vale a pena.

Muitos beijinhos e até já!





Alzheimer
O que é que a música lhe faz lembrar, Marsha?

Um homem que parecia não ter memórias da sua vida acabou por lembrar-se que um dia tinha ido a um concerto de Frank Sinatra. Uma mulher que é incapaz de dizer o que comeu ao pequeno-almoço sabe de cor o Let me call you sweetheart. Pode a música ser uma forma de resgatar o passado enterrado pela demência? Por Donald Bradley
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Percebe-se a custo que o ténis branco está a bater no chão. Levemente, suavemente, regularmente. Como o bater de um coração. “O que é que a música lhe faz lembrar, Marsha?”, pergunta o enfermeiro de Villa Ventura, no Sul do estado do Kansas, Estados Unidos da América, num tom suficientemente alto para ser ouvido por cima do som dos auscultadores.

A mulher olha para cima, primeiro um pouco intrigada, depois responde: “De estar viva.” Os investigadores no campo da medicina não parecem ter conseguido até agora fazer muito pelos doentes com Alzheimer. Talvez Perry Como o consiga. Ou Patsy Cline. Ou até mesmo Mozart. Hospitais e casas de acolhimento ao longo dos Estados Unidos da América estão cada vez mais a utilizar a música para tentar alcançar áreas do cérebro encobertas pela demência. A doença de Alzheimer é degenerativa. Mas alguns especialistas pensam que canções antigas podem atrasar a evolução da patologia, e activando memórias e possivelmente até restaurando algumas funções cognitivas.

Concetta Tomaino, directora-executiva do Instituto de Música e Funções Neurológicas dos Serviços em Nova Iorque, afirma que os doentes com demência em estádios médios ou avançados tiveram valores mais elevados nos testes de funções cognitivas após dez meses de terapia musical.

Desde há muito se sabe que, mesmo depois de já não reconhecerem nomes e caras, os doentes ainda conseguem cantar a acompanhar a sua canção favorita. “O processamento auditivo parece ser a última capacidade a desaparecer”, avança Tomaino, que trabalha neste campo há 32 anos. E as pessoas, conscientemente ou não, associam canções a acontecimentos, como se fosse uma espécie de banda sonora da sua vida.

Canções para cada doente

Assim, nesta era de assombrosa tecnologia médica, uma canção como "Ain’t she sweet" poderá ser a melhor ferramenta para recuperar memórias de amor, família, um dia de neve ou o regresso a casa.

O lar Villa Ventura iniciou recentemente o seu programa de música em iPod. Sarah Miller, directora de assistência aos internados, não pode falar de nenhuma melhoria de funções cognitivas, mas pode falar daquilo que todos os enfermeiros desejam para os doentes com demência: um momento de alegria.

No período de confusão do fim da tarde conhecido como sundowning, uma residente pode ficar agitada e sentir-se ansiosa e perdida. Mas basta colocar os auscultadores do iPod nas orelhas e pôr a lista de músicas fornecida pela família a tocar, e ela acalma-se.

Conta Miller: “Ela pode não se lembrar do que comeu ao pequeno-almoço, mas consegue recordar toda a letra de Let me call you sweetheart.” Os investigadores sabem desde há muito que os sentimentos, as emoções e as memórias estão adormecidos no fundo das mentes – como caixas esquecidas no sótão – das pessoas com demência. Aceder-lhes tem-se revelado um grande desafio.

“Agora, estamos a aprender cada vez mais e mais acerca de como a música pode levar a uma melhoria das funções, que podem despertar mais a mente”, diz Michelle Niedens, directora para a educação e programação da secção “Coração da América” da Associação Alzheimer, sedeada em Prairie Village, estado do Kansas. O que já não acontece com uma cara ou uma fotografia. “A mente não consegue decompor a imagem”, explica Tomaino. “A música é neurologicamente mais enriquecedora.” E a razão para isso é o facto de o ritmo, a melodia e o volume da música a tornarem um estímulo complexo que não é processado por uma só área do cérebro.

Tomaino fala-nos acerca de um doente que raramente falava e parecia não se recordar de nada do que tinha feito ao longo da sua vida. Mas, após participar num programa de música, o homem contou como anos antes tinha ido assistir a um concerto de Frank Sinatra no Paramount Theatre [em Nova Iorque]. Sabe-se também de doentes que recomeçaram a alimentar-se sozinhos.

Outra vantagem é que o efeito calmante de música que é familiar pode diminuir a necessidade de medicar doentes agitados.

Estas investigações foram vistas – ou ouvidas – pelos responsáveis da Senior Star Living, a companhia sedeada em Tulsa que é proprietária de Villa Ventura. O programa de música da companhia está já a ser posto em prática em todas as suas instalações. As equipas de funcionários trabalham em conjunto com as famílias para criar listas de canções únicas para cada doente.

“Perseguir a felicidade”

Os estudos ainda não determinaram qual o efeito que a música tem na doença de Alzheimer, declara Letitia Jackson, a directora de serviços de saúde da companhia. “Mas temos ouvido acerca de regeneração de células cerebrais, melhorias ao nível cognitivo e de humor. Por isso tivemos que agarrar esta oportunidade.”

Marsha Snyder, de 66 anos, está sentada num sofá em Villa Ventura a gingar ao som de "I only have eyes for you", de Harry Connick Jr. “Ele está a cantar para mim”, diz esta ex-enfermeira, com um grande sorriso. Depois nota que está um homem sentado ao seu lado. Ele estala os dedos de ambas as mãos. A cabeça abana. Estão os dois com auscultadores nas orelhas. Ela bate-lhe com o cotovelo. “O que é que estás a ouvir?”, pergunta ela. Ele responde com uma canção. "My momma done tol’ me… Blues in the night". Ele até imita um trompete. Bob Ryan tem 88 anos e não sofre de demência. Apenas gosta de música. Canta até passar um empregado a empurrar um carrinho de comida. “Vou ter que lhe cobrar por esta versão”, diz Ryan ao empregado.

Em Villa Ventura está quase a bater as quatro horas da tarde. Tal como em lares e casas de repouso um pouco por todo o lado, é a altura do dia em que as actividades tendem a terminar e começa a agitação. Parte da confusão e ansiedade está relacionada com a mudança de turno dos funcionários. Outra parte está relacionada com a escuridão que se instala no exterior. Está na hora de ligar os iPod.

Marlene gosta dos Beatles. Fazem-na lembrar de quando os seus filhos eram pequenos. “Andamos a perseguir aquele momento de felicidade – quer seja de cinco minutos ou de cinco segundos”, diz Sarah Miller enquanto a observa.

Normalmente, os residentes querem ouvir Sinatra, orquestras de Glenn Miller, Benny Goodman e êxitos pop. Mas isso irá mudar com o passar do tempo.

Qualquer dia, esses pedidos deverão começar a incluir, também, os Rolling Stones e Michael Jackson.

Exclusivo PÚBLICO/ The Kansas
City Star

2 comentários:

Helena Barreta disse...

Espero que tenham sido umas boas férias. Eu já conto os dias que faltam para ir até aí.

O poder da música é fantástico. Eu, quando estou com a neura, basta-me ouvir as músicas do meu filho, que é como quem diz, a música que os adolescentes ouvem na noite, para ficar logo outra, danço e passa-me logo a rabugice.

Um abraço

Jaime Miranda disse...

viva,
fico contente por ter de regresso os teus escritos.
sobre o tema da reportagem do público, aconselho este livro, em que tropecei há algum tempo: Musicofilia - Histórias sobre a Música e o Cérebro, de Oliver Sacks (http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=8144)
é uma boa leitura de verão, mesmo para que quem já gozou as férias.
um grande abraço e beijinhos à familia.
Jaime