terça-feira, 20 de julho de 2010

Posto de observação: Férias 2010

É capaz de ser a mais curiosa das mais de 500 fotos que tirei neste Verão. Os "Lazy Beggers" cairam-me no goto. Esmola para cerveja, para vinho, para charros ou para a ressaca. Tudo por categorias mas com a sinceridade acima de tudo. Um valor raro nos nossos dias pelo que contribuir é obrigatório. É óbvio que eu e o mano ajudamos estas almas errantes. E eles, perdoaram o cachet da foto... Uma simpatia...
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Do caderninho de notas deste Verão 2010:
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1) Eu na praia gosto de observar: uns lêem jornais, outros revistas do coração. Uns ressonam, outros dormem, outros assam ao sol e algumas ainda fazem crochet. Eu gosto de tentar ver. Hoje em dia, olhar o areal e a fauna que por ali desfila diariamente é como contemplar um quadro vivo do Botero. Percebe-se então, melhor do que nunca, olhando as centenas de corpos em estado de semi-desnudez (apenas tapados por um ou dois farrapos), porque é que se diz que a obesidade é o maior flagelo da saúde dos nossos tempos. Admirando os rabos, as coxas, os braços, peitos e as belas mamas, pasma-se um concluindo que mais de 90% dos exemplares transborda peso em excesso e faz mais do que isso: está-se pouco marimbando para o facto. Quando mais perto do porte de um urso polar, mais eles e elas correm a abalroar o pobre do homem dos bolos que arrisca a vida dia-a-dia no areal de cada vez que abana a sineta. Vê-los enfardar é um regalo!

Eu que já me exibi do lado de lá há não muitos anos atrás, percebo melhor que muitos a diferença de estar de um ou do outro lado da barricada. Um corpo com peso a mais engasga e mergulha para o colapso como para um abismo sem fim. A gordura entope os órgãos vitais, desorienta as células, faz de nós uma bomba relógio. A diabetes, os enfartes e as tromboses esfregam as mãos sentadinhas nas rochas como abutres que sorriem ao contemplar a chegada de mais uma caravana na linha do horizonte da pradaria.

É certo que pode acontecer a qualquer um, mas a possibilidade de uma alimária (daquelas que já oscila nos três dígitos da balança) rebentar em pleno areal ou sucumbir por combustão humana espontânea é gigantesca e imensamente superior a que algo similar aconteça às escassas starlettes que gingam no areal depois de um Inverno de privação e malhação no ginásio. Valeu a pena!

2) A praia estava cheia de idosos. Idosos e idosas, quer-se dizer, pessoas com muitos anos e fatos de banho que parecem sacos-cama às flores e contam a vida toda a cada meia hora. Pareciam os relógios que tocam os hinos de Fátima de 15 em 15 minutos. Pessoas de idade que no meu tempo de miúdo se chamavam velhos mas agora foram baptizados de séniores. E não me venham com a história que seleccionei mal o meu spot. Às 8 e meia da manhã já estava a correr todo o areal e o fenómeno estende-se pelos quase 5 quilómetros de costa. Das duas, três: ou os novos emigraram, ou foram de vacances para o estrangeiro ou estão todos trancados na arrecadação lá de casa com medo que o Sócrates e a crise os comam. Eu não tenho nada contra os velhinhos. Mas preferia, sinceramente, que a a areia estivesse polvilhada com beldades saídas dos reclames dos Corpos Danone. Era mais giro, sei lá! Não sei explicar, prontos.

3) As áreas concessionadas são cada vez mais. Já pagamos para quase tudo. Qualquer dia, quem quiser praia em Portugal tem de pagar e se quiser mesmo espetar o guarda-sol que herdou da família ou gamou na esplanada do café lá da esquina, terá de o enfiar no rabo e sair correndo. Camaradas, a luta armada já esteve mais distante. Resistiremos! Praia livre de merdas e concessões, já!

4)
Por falar em resistência… continua a saga das bolas de Berlim sem creme. Um flagelo! O grandessíssimo filho da puta que inventou esta medida absurda devia ser atado a uma traineira pelos tomates e rebocado até Marrocos a alta velocidade sem se desviar dos tubarões, orcas e outros mamíferos subaquáticos. Puta que o pariu! Há-de arder nos confins dos infernos para toda a eternidade. É o que lhe desejo por me ter estragado um prazer de menino!

Conversa real entre a minha pessoa e o mano que vendia as bolas na primeira tarde de praia deste ano:
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-“Boas, ó chefe! Tem bolinha? Sai uma com creme, então!”.
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(O gajo, rindo) - “Com creme? Naaaa… Estão proibidas!”
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-“Proibidas? Tcchhh, não sabia! Ande lá… você de certezinha que tem aí uma escondida para si debaixo do paninho de linho… Venha ela! Dispense-me isso! Eu vim hoje do Alentejo e sou assalariado. Só tenho uma mísera semana de praia por ano. Cheguei há pouco e tenho de comemorar, de preferência, antes que a minha filha nos apanhe…”.
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- “Não posso, amigo. Íamos presos… Sem creme não quer?”
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- “Não!”
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- “E com creme, queria?”
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-“Ouça… se você tivesse com creme eu comprava-lhas todinhas! Até lhe comprova a trotinete! Dava-lhe gorjeta e comprava-o a si só para ser meu amigo mesmo que gastasse até ao meu último cêntimo. Sem creme não quero. Embaçam!”

5) Quando chegava das minhas corridas matinais, de calções, em troco nú e de óculos de sol, cruzava-me com pessoas na entrada do empreendimento e se me antecipava, segurava sempre o portão para que pudessem passar, carregadas com o estojo da praia (o meu já lá estava). Muitas delas agradeciam-me em inglês: “Thank you”. Eu ficava sem conseguir responder, embargado pelo reconhecimento do meu ar cosmopolita, de cidadão do mundo, vá! Com a selecção a jogar assim e com este governo, quem é que tem orgulho em ser português?!?!? Assim como assim, ficar calado e apenas sorrir nem era muito mau da minha parte. Se respondesse “You’re welcome” teria sido bem pior, não concordam?

6) Na faculdade, os professores proibiram-me de ler o “Correio da manhã”. Péssimo jornalismo, diziam. Eu, que era fã assumido do “Jornal do Incrível” e da “Gaiola aberta”, estranhei a privação. Redescobri o prazer da sua leitura muitos anos depois, na Pastelaria do Choca, entre umas fresquinhas e tremoços. O “CM” é o único e mais fiel retrato do país real, do Portugal profundo. A actualidade não fica completa sem o seu estalo pimba. No Algarve era o primeiro jornal a esgotar. Voavam da banca e esvoaçavam depois pelo areal fora. Não há como começar um dia de praia sabendo de mais um assassinato, uma burla e um desaparecimento em parangonas. Para o ano, façam mais! Ou pelo menos, distribuam-nos melhor.

7) Este foi o Verão em que redescobri a magia sedutora de comer um Fizz limão sentado na esplanada de um bar da praia. A reedição deste mito da nossa infância já é uma das bombas do milénio! O fado é mentiroso. Pode-se voltar a ser feliz onde já fomos no passado. O céu é verde fluorescente, está fresquinho e espera por nós em qualquer ponto de venda da Olá.

8) Este foi o Verão de confirmação da minha geleira. Eu sei que a cor é horrível mas já não haviam azuis-bébé e eu queria mesmo uma da Camping Gaz verdadeira. Cor-de-rosinha desmaiado também não está mal. E serve o propósito na perfeição. Guarda os iogurtes da bebé, os suminhos da mais crescidas e as minis 25 cl. do papá! Maravilha! De revelação a confirmação! Uma das compras da minha vida!

9) As pequenas conseguiram convencer-me (dada a proximidade do apartamento) a não ficar o dia inteiro na praia e a ir almoçar com elas a casa. Foi uma boa concessão. Comecei a comer melhor e redescobri o prazer de assistir às “Tardes da Júlia Pinheiro” na TVI enquanto ensaiava violão. Como é que eu pude ser feliz perdendo este programa que já é o meu favorito da televisão portuguesa? Que burro eu era! Eu vivia na Idade Média e a Júlia marcou a viragem para o Renascimento televisivo. Para já, apesar de entradota, ainda gasta bem as solas. Tem o seu quê! Depois, quem mais tem o talento de fazer programas com títulos tão sugestivos como “Eu só casei aos 40” ou “Eu fui o melhor amigo da minha mulher durante a menopausa”? Júlia: Tu és grande e mereces o céu! Sabes o que arranjaste? Já tenho o Meo programado para gravar todinhos e não vou deixar de rever mais nenhum ao serão. Júlia… tu devias ser a nossa rainha! “Eu amo você!”.

E prontos! Apontei muito mais coisas mas as outras eram tontas e sem sentido. Não valia a pena contar… Envergonho-me!

2 comentários:

Helena Barreta disse...

Consigo tirar fotos muito parecidas com esta, com hippies de verdade, todos os anos, da janela de minha casa vejo a Quinta da Atalaia, que é como quem diz: vejo a Festa do Avante.

Não há direito venderem bolas de berlim sem creme e não venderem com creme, está mal.

Também me faz muita aflição ver, principalmente, crianças e jovens com excesso de peso, pergunto-me sempre onde estão os pais deles, será que não sabem ler? Serão surdos? Sou pouco tolerante com pais negligentes.

janita disse...

Amigo está lindo, defenitivamente és neste momento a minha leitura preferida.

Aquele abraço daqui dos Tinenses.