quinta-feira, 21 de abril de 2011

Addio, adieu, auf wiedersehen, goodbye


Atenção! Este texto tem asneiras. Se é susceptível… o melhor é passar ao lado… Porque sim!

Isto foi escrito em angústia. Eu avisei!

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Ser do Benfica hoje em dia não é fácil.


E acreditem que eu sei do que falo.

Só assim de memória, e sem ir muito atrás… recordo que eu já levei com o Jordão, eu já levei com o Gomes… já levei com o Jardel, já levei com o Mourinho, já levei com o Liedson… já levei com uma galeria infindável de personagens que parece que desaguaram neste mundo só para me atormentarem.

Agora…

Levar com o Falcão. Levar com o Hulk. Levar com aquele Varela que estava perdido no futebol para toda a vida quando vestia de verde e branco… Levar com o Villas Boas… Levar com… por Deus! o Pinto da Costa… É dose! É um milagre eu estar vivo.

Hoje de manhã, quando falava com o meu colega e amigo João “Finanças”, dizia-lhe que tinha acordado nervoso por causa do jogo. Cada minuto que passava era uma contagem decrescente para o apito inicial. O novelo de angústia adensava-se no estômago a cada segundo que passava . E dizia-lhe também que tinha pena de não poder, de não ser capaz de desfrutar do jogo como desfruto, por exemplo, de um filme. Eu sou incapaz de ver um jogo do Benfica pelo jogo. Eu sou incapaz de desfrutar da partida e do futebol por si só. Quando estamos a perder…

Desço…

Desço…

Desço…

Até aos confins dos infernos.

Quando ganho… exulto… rejubilo e temo que me rebente uma veia na cabeça, infligindo não só a minha morte a quem está à volta, como também sujando todos os azulejos circundantes com esguinchadelas de sangue que jorram dos ouvidos e outros orifícios.

Eu disse ao João que gostava de ver o jogo pelo jogo mas eu tinha um mau presságio. Eu sentia que ia correr mal mesmo quando me ria do prognóstico do genial carteiro Gil que dava “um a zero seco ao glorioso”. Quem me conhece bem… conseguia certamente perceber que o meu sorriso era nervoso. Eu estava com receio que tudo pudesse correr mal.

Para não sofrer tanto, fui-me convencendo de coisas que são verdades insofismáveis e me permitiam sonhar com uma amanhã “pós-eliminação-da-taça”.

Repetia na minha cabeça, em surdina: “Aconteça o que acontecer… nada vai mudar a tua vida. Amanhã… Não acordas mais rico, não acordas mais pobre, não tens um emprego mais bem remunerado, não vais ter uma profissão que te realize mais, não vais de Porsche para Marvão, não… nada! Tudo na mesma! Então… relativiza. Take it slow… Vê de longe…

E assim eu fiz.

Vi o jogo pelo canto do olho, na mesa do fundo da pastelaria, com os minutos a passar entre umas cervejas e uns tremoços e uns amigos e umas conversas sobre música e o ensaio da Grupa que tinha terminado há momentos e o futuro da Grupa que se antevê profícuo e auspicioso.

Enquanto esteve zero a zero e o Benfica aguentou, eu fui aguentando quietinho também, vigiando o perigo à distância, fazendo de conta que ele não existia realmente.

O golo do Motuinho atou-me um fio de nylon aos tin-tins e trouxe-me de volta à terra. “Isto vai piorar”. Meteu-se-me um cabrão dum amendoim ou um tremoço ou que raio de merda era aquela na garganta que tive de me meter no bólide e rumar a casa.

No caminho eu só dizia para mim: “Mais não… mais não…” mas nem isso fez com que o resultado fosse outro quando mudei o canal da televisão. Porto com 2, Benfica com nenhum. E depois há aquele Falcão, sempre ele, e um remate de merda que bate na perna errada e vai morrer nas redes do fundo da baliza, rindo-se de um Júlio César que mais parecia uma marionete partida ao meio.

A vida é lixada.

De que é que me valeu a cabeçada do Javi que não entrou por milímetros, o falhanço flagrante do Cardozo, o penálti terrivelmente mal marcado que ainda por cima não existiu? Que pode tudo isso contra o resto mesmo que o resto seja um golo do Hulk em claríssimo fora-de-jogo?

Que pode tudo isso contra as forças do universo que conjecturam contra o meu benfiquismo e se unem numa conspiração cosmológica contra mim? Nada!

Foi como tinha de ser.

O Benfica de hoje, que até foi competente durante a primeira parte, transformou-se na segunda, assim que lhe bateram o pé, num bando de putas amedrontadas que tremiam ao mínimo movimento.

De um lado… a força, a convicção, o querer, a organização, a camaradagem, a blindagem, o trabalho, a iniciativa, a garra, o futebol…

Do outro… olha… do outro…. Nada. Nem jogadores, nem adeptos, nem aquele monte da merda do Jesus que eu já nem posso ver o homem. Como é que é possível eu ter estado apaixonado por ele e agora ir ao vómito de cada vez que ajeita a peruca?

O Porto voltou a encavar-nos à grande e à francesa na nossa própria casa e já vai fazendo parte do calendário esta coisa de nos virem gozar em solo sagrado.

Foderam-nos o campeonato. Foderam-nos a taça que já tínhamos por garantida e eu tenho bilhete para o Braga e-já-não-estou-com-esperança-nenhuma-porque-mesmo-que-a-gente-passe… isso mesmo! O Porto fode-nos na final da Liga Europa! Não há outra forma de dizer a coisa.

Estou cansado, quero dormir e acordar num mundo ou num país em que o desporto nacional seja o Curling e eu vibre com gordinhas enfiadas em “sacos-cama-para-vestir” que esfregam o chão para uma peça redonda não bater noutra.

Eu sofro tanto com isto tudo. Isto custa-me tanto…

Isto é triste. Isto é infeliz e eu tenho saudades do Bento, e do Chalana, e do Pietra, e do Álvaro, e do Alves, e… dessa malta toda. Que vai ser de nós e do país com esta chuva toda, e o FMI e o Benfica a perder?

Adeus grelhadores. Adeus palhinhas. Adeus eucaliptos do Jamor. Adeus cavalinhos da GNR. Adeus gente boa que por ali passa e eu não vou rever neste ano.

Eu não ligo nada ao futebol. O futebol é, para mim, um entretém.

Eu fartei-me de dizer para mim próprio nos minutos de desconto… “Se houver Deus… a gente marca um golo… a gente marca um golo… a gente marca um golo… mas… não! Ainda não foi desta e nunca foi". Eu sei que há Deus mas não devia estar para aqui virado.

Ser benfiquista, hoje em dia, não é fácil e eu imagino amanhã…

4 comentários:

Helena Barreta disse...

Nem sei que lhe diga. Adepto sofre.

Quanto a vir ao Jamor, venha na mesma e faça a festa pela outra equipa, não aquela que está no lugar do seu Benfica. Não é a mesma coisa, mas pode sempre conviver e desfrutar de um bom dia. E o Jamor está mais bonito que nunca, tirando aquele acesso que está em obras há vários anos, tudo o resto é fantástico para descomprimir e o contacto com a natureza é relaxante.

Mandemos, então, os parabéns aos "nossos" meninos do Real Madrid.

Uma Páscoa feliz.

Um abraço

Clarimundo Lança disse...

O que é que ainda fazes com esse gajo aí ao lado, baza daí deixa o o f.p. a carregar sózinho com a cruz, está vendido desde o principio da época ao fcp, o cabrão do sportinguista.

Jorge Aragão disse...

Caro Pedro, os meus parabéns por sendo benfiquista escreveres nesses termos e concluir que o FCP está a jogar muito.
Não é comum..
Pois é meu caro, muitas luas depois,(aí uns 28 anos) a blogosfera permitiu reencontar-te.
Será que ainda te lembras de mim?
Eu lembro-me de ti - pelo nome cheguei logo lá!!!

Pedro Sobreiro (Tio Sabi) disse...

Bem… eu nem acredito que é o meu Professor Jorge do 5ª ano em Castelo de Vide?!?!?!? Há 27 anos atrás?!?!? Como é que é possível?!? Sinceramente não me lembro da disciplina mas seguramente não me esqueci de si. Pode ter a certeza! As recordações são as melhores. Não está assim tão diferente. A barba… Parece-me que os óculos eram redondinhos ao melhor estilo Lennon, não? Estarei enganado? Eina pá… que proeza. Que coisa esta, a da internet…

Olhe, se não for pedir muito, mande-me um mail que esteja disponível para o sabisobreiro@sapo.pt para podermos meter a escrita em dia. Mudemo-nos ali para o reservado que sempre falamos melhor.

Ora esta…

Um abraço!