Lamentável. Absolutamente lamentável é como qualifico
o tratamento que os estudantes no ISCTE deram ao ministro dos assuntos
parlamentares, Miguel Relvas. Lamentável e dá-me pena. Pena de viver num país
assim como o nosso. Civilizado mas à beira da barbárie. Que estudantes do
ensino superior tenham este tipo de atitude é de envergonhar qualquer um. Nem
deixaram o homem falar e participar no debate para o qual se deslocou lá. Um
debate sobre o jornalismo e a liberdade de imprensa. Os alunos provaram que não
têm a mínima disponibilidade para qualquer tipo de conversa sobre a liberdade
porque esta rapaziada é a tirania dos novos tempos. Os novos tiranos. Os
ditadores da democracia. Sem qualquer tipo de respeito ou boa educação,
escorraçaram de lá o homem que se não tivesse sido escoltado pela polícia,
teria sido por lá linchado. Estes trogloditas são capazes disto e muito mais. Bárbaros,
é o que eles são.
Depois metem-se a cantar o “Grândola, vila
morena” em alta voz. Pobre do Zeca Afonso que deve estar a dar voltas na tumba.
Quando ele cantava esta canção que simboliza para nós a liberdade, cantava que
“o povo é quem mais ordena” num momento do nosso país, numa fase da nossa
história em que quem mandava não era o povo mas uns tiranos fascistas. Fazia
sentido cantar que “em cada esquina um amigo, em cada rosto, igualdade” porque
o sentimento geral era o de revolta: como aconteceu a 25 de Abril e garante
hoje a liberdade. Se ele imaginasse que a liberdade a mais iria resultar no
nascimento de novos tiranos, no nascimento destes novos tiranos, haveria de se
arrepender e meter a viola no saco. Que pena…
Pois explico eu aqui a estes meninos e
meninas que não nos ouvem que este governo foi escolhido pela maioria. Bem ou
mal, isso agora não interessa para o caso nem está aqui em questão nesta
discussão. O governo é constituído pelos partidos políticos mais votados nas
urnas pelos portugueses. Se agora queriam outros, azar! Têm de esperar. O que o
Relvas deveria ter dito com ar duro em vez de se ter juntado ao coro (porque
ele também, pobre, nem as pensa…) era que o governo foi eleito democraticamente
e só se irá embora no fim do mandato. Coisa que estes futuros senhores doutores
parecem não perceber. Estes futuros senhores que hoje são burros e quando uma
pessoa é burra, muito dificilmente deixará de o ser. Só com muito esforço e muito trabalho que eu
não lhes reconheço. Andar na rua a semear ódio e a instigar o pânico é fácil.
Queimar caixotes de lixo e carros é fácil. Armar banzé é fácil. Andar à sorna é
fácil. Dizer mal dos pais que os sustentam é fácil. Dizer mal do governo é
muito, muito fácil. Dizer mal da Troika é muito fácil. Mas é essa Troika
composta pela Comissão Europeia, pelo Banco Central Europeu e pelo Fundo Monetário
Internacional que garante o financiamento deste país, ou seja, nós, que se não
fossem eles iria por água abaixo porque o país gasta mais do que produz. Come
mais do que planta.
E eu pergunto-me: que raio de gente é esta?
Que gente do futuro é esta? Quem nos irá seguir? Se é gente deste calibre…
Medo. Muito medo. O pensar que as minhas
filhas vão ter no futuro gente desta como patrões. Dá-me medo. Eu já tinha em
mim a ideia de que o futuro delas vai ter que ser longe daqui. Não vão ter a
bênção de trabalhar como o pai e a mãe no concelho em que nasceram. Vão ter que
sair lá para o estrangeiro. Eu já ia acalentando essa ideia dentro de mim. Para
que depois não me custasse tanto estar longe delas. Vendo isto… Apercebendo-me
destes episódios na televisão… não só vou acalentado a ideia para mim, como vou
mesmo começar a falar com elas para se irem habituando à ideia.
Medo. Medo do futuro.
Medo. Eles gritam liberdade.
Eu penso, medo.
Medo…
1 comentário:
Relembro muito ultimamente uma conversa que tive com o meu pai aquando das atrocidades cometidas por alturas do 25 de Abril de 74, dizia-me ele que se não houvesse, a par daquela, outra revolução, mas esta de carácter cultural, ficaríamos muito mal. O meu pai não se enganou.
Um abraço
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