quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Medo



Lamentável. Absolutamente lamentável é como qualifico o tratamento que os estudantes no ISCTE deram ao ministro dos assuntos parlamentares, Miguel Relvas. Lamentável e dá-me pena. Pena de viver num país assim como o nosso. Civilizado mas à beira da barbárie. Que estudantes do ensino superior tenham este tipo de atitude é de envergonhar qualquer um. Nem deixaram o homem falar e participar no debate para o qual se deslocou lá. Um debate sobre o jornalismo e a liberdade de imprensa. Os alunos provaram que não têm a mínima disponibilidade para qualquer tipo de conversa sobre a liberdade porque esta rapaziada é a tirania dos novos tempos. Os novos tiranos. Os ditadores da democracia. Sem qualquer tipo de respeito ou boa educação, escorraçaram de lá o homem que se não tivesse sido escoltado pela polícia, teria sido por lá linchado. Estes trogloditas são capazes disto e muito mais. Bárbaros, é o que eles são.
Depois metem-se a cantar o “Grândola, vila morena” em alta voz. Pobre do Zeca Afonso que deve estar a dar voltas na tumba. Quando ele cantava esta canção que simboliza para nós a liberdade, cantava que “o povo é quem mais ordena” num momento do nosso país, numa fase da nossa história em que quem mandava não era o povo mas uns tiranos fascistas. Fazia sentido cantar que “em cada esquina um amigo, em cada rosto, igualdade” porque o sentimento geral era o de revolta: como aconteceu a 25 de Abril e garante hoje a liberdade. Se ele imaginasse que a liberdade a mais iria resultar no nascimento de novos tiranos, no nascimento destes novos tiranos, haveria de se arrepender e meter a viola no saco. Que pena…
Pois explico eu aqui a estes meninos e meninas que não nos ouvem que este governo foi escolhido pela maioria. Bem ou mal, isso agora não interessa para o caso nem está aqui em questão nesta discussão. O governo é constituído pelos partidos políticos mais votados nas urnas pelos portugueses. Se agora queriam outros, azar! Têm de esperar. O que o Relvas deveria ter dito com ar duro em vez de se ter juntado ao coro (porque ele também, pobre, nem as pensa…) era que o governo foi eleito democraticamente e só se irá embora no fim do mandato. Coisa que estes futuros senhores doutores parecem não perceber. Estes futuros senhores que hoje são burros e quando uma pessoa é burra, muito dificilmente deixará de o ser.  Só com muito esforço e muito trabalho que eu não lhes reconheço. Andar na rua a semear ódio e a instigar o pânico é fácil. Queimar caixotes de lixo e carros é fácil. Armar banzé é fácil. Andar à sorna é fácil. Dizer mal dos pais que os sustentam é fácil. Dizer mal do governo é muito, muito fácil. Dizer mal da Troika é muito fácil. Mas é essa Troika composta pela Comissão Europeia, pelo Banco Central Europeu e pelo Fundo Monetário Internacional que garante o financiamento deste país, ou seja, nós, que se não fossem eles iria por água abaixo porque o país gasta mais do que produz. Come mais do que planta.
E eu pergunto-me: que raio de gente é esta? Que gente do futuro é esta? Quem nos irá seguir? Se é gente deste calibre…
Medo. Muito medo. O pensar que as minhas filhas vão ter no futuro gente desta como patrões. Dá-me medo. Eu já tinha em mim a ideia de que o futuro delas vai ter que ser longe daqui. Não vão ter a bênção de trabalhar como o pai e a mãe no concelho em que nasceram. Vão ter que sair lá para o estrangeiro. Eu já ia acalentando essa ideia dentro de mim. Para que depois não me custasse tanto estar longe delas. Vendo isto… Apercebendo-me destes episódios na televisão… não só vou acalentado a ideia para mim, como vou mesmo começar a falar com elas para se irem habituando à ideia.
Medo. Medo do futuro.
Medo. Eles gritam liberdade.
Eu penso, medo.
Medo…   

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Relembro muito ultimamente uma conversa que tive com o meu pai aquando das atrocidades cometidas por alturas do 25 de Abril de 74, dizia-me ele que se não houvesse, a par daquela, outra revolução, mas esta de carácter cultural, ficaríamos muito mal. O meu pai não se enganou.

Um abraço