Ainda
a política. Sempre a política. Eu bem me quero afastar dela, mas não consigo…
Um
amigo do peito pediu-me ontem de tarde que largasse o assunto. Não é só a
opinião da minha Cristina. Também ele, bom amigo, me pediu que largasse a
política de vez. Em conversa, pediu-me que me concentrasse na minha família,
nas minhas filhas. Disse-lhe que sim. Mais… prometi-lhe que sim. Ontem assegurei-lhe
que já mordi o que tinha a morder e que me ia afastar do assunto.
Mas
não consigo. É mais forte que a minha vontade própria. Mal feitas as
comparações, é como um homem que quer ir para padre e se tranca num convento
para afastar o mal do amor que sente. Até que sai de lá e mal sai, foge com a
mulher que ama.
Eu
quero afastar-me da política mas dias depois de ter acontecido o meu 25 de
Abril publicado aqui no blogue, recebo no telemóvel, na manhã de hoje, a
mensagem de um amigo mais velho que pensava nada dedicado às novas tecnologias
e à internet. No sms dizia que tinha lido o que eu tinha escrito e gostou muito.
Disse-me que era o que esperava de mim.
A
política é mais forte que eu. Persegue-me.
No
telejornal, à hora de almoço, vi uma reportagem sobre as eleições na Venezuela.
Para o meu cérebro foi inevitável fazer comparações. As eleições na Venezuela
são já no domingo. As do concelho de Marvão são neste ano, mais lá para a
frente. Mas a disputa é parecida. A outra escala, mas parecida.
Na
Venezuela há um homem que caiu na graça do povo porque era amigo de Hugo Chávez,
Nicolás Maduro, o segundo do presidente. Maduro sabe-se valer da morte deste,
tirando proveito como ninguém, como se fosse um abutre. É um predador selecto.
Caiu no goto da povoação que tudo lhe consente.
Henrique
Capriles pode significar uma abertura da Venezuela ao mundo. Pode significar
uma libertação, o rasgar um novo horizonte.
Mas
é esta é uma luta entre David e Golias. Um David muito pequenino, menor que um
anão porque já perdeu nas anteriores eleições, porque gera desconfiança num
povo que nem sequer lhe dá o benefício da dúvida. O Golias é muito poderoso e tem
a população adormecida, tem o povo na sua mão. Um povo que não lê jornais, que
não acede à internet, que só vê a televisão em que acredita, que está
adormecido, cego.
Ali
é uma luta entre o sagrado e o profano. Os homens de nada podem contra a
vontade de Deus.
A
escala no meu concelho é menor mas a crença da povoação em quem está no alto(ar)
tolda-lhe a capacidade para acreditar em quem é diferente, em quem vem de fora.
O meu concelho tem medo de mergulhar no desconhecido.
Uma
população fechada não questiona e fica com o que se lhe dá. É submissa.
No
meu concelho, a fé tem de ser de quem vem de fora e quer entrar na direção dos
destinos. Aqui a fé tem de ser de quem chega, de quem o rodeia e acredita no projecto
de todos. Todos têm de ter fé para acreditar que o milagre pode não se dar já neste
ano, apesar do esforço e do trabalho, mas só daqui a 4 anos, quando for o fim
de um ciclo, quando quem lá está não puder mais ir e acabar por secar.
Mesmo
que o mar vermelho não se abra agora como no episódio bíblico, que Deus no dê
fé para que nos mantenhamos unidos, íntegros nos princípios. Continuando a trabalhar
logo após o escrutínio para que o êxito seja mais alcançável.
Como
poderei ser eu o Sansão para esta gente da minha comunidade? Como poderei
ajudar estas pessoas da minha terra, a terra que me viu nascer, que viu nascer
as minhas filhas, onde tenho o meu pai e os meus entes queridos enterrados?
Perguntas que eu faço a Deus. Em silêncio.
Como
posso eu, se os marvanenses já acreditaram em mim e nada fiz, se pactuei com o
que está e ajudei a estar, indo? Se me silenciei…
De
que vale agora gritar a plenos pulmões na internet se ela não chega aos
moradores que não só não têm computador como muitos nem sequer sabem ler e
escrever. As ditaduras, a da política e a da vida difícil, muito mais difícil que
esta austeridade que se respira agora, ceifaram os seus sonhos e os deixaram sós.
Solidão que agora o isolamento das grandes urbes e dos centros de decisão querem
matar de vez.
De
que valem estes meus gritos? Para que servem?
Para
já, para ficar em paz com a minha consciência, pessoal e cívica.
Isso,
para mim, para já… é tudo.
2 comentários:
A tua alma de bom samaritano, de homem bom e justo não são suficientes para mudar o mundo e o teu concelho. Deixa o tempo passar. Deixa o tempo julgá-los.Deixa...Se incomodas muito...tenho medo. Mesmo sem fazeres percursos a pé sozinho.
Nada melhor do que estarmos em paz connosco, com as nossas convicções e ideais.
Bom fim de semana
Um abraço
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