terça-feira, 16 de abril de 2013

As profissões da Sónia




Eu sei que leva-la a um concerto com 3 anos de idade é arriscado. Isso pode habituá-la a um nível difícil de suportar no futuro, quando tiver 14 ou 15. Mas também, se levei a Leonor ao Rock in Rio quando tinha menos de 10… não posso ter dois pesos e duas medidas. E tudo bem explicadinho, compreende-se. Querem experimentar?

Há dias fui com Alice ver as minhas tias paternas à Beirã, sempre as duas. E lá estavam elas, sozinhas na loja. Naquela que era a sua loja e hoje é só o espaço. Estavam a ouvir rádio, como habitualmente. Como não têm televisão, a telefonia é a sua companhia de sempre. Gostam sobretudo de escutar a rádio Renascença onde ouvem o terço todos os dias, sempre na sintonia da igreja. Nesse dia perguntaram-me se íamos ver a Sónia.

“Sónia? Mas qual Sónia?”

“A da Praça da Alegria, a da RTP, que traz o seu espectáculo a Portalegre. Aqui na rádio Renascença está sempre a anunciar.”

Disse-lhes que não estava a pensar vir, mas que já estava a imaginar o espetáculo e expliquei-lhes: “ ela agora tem um dvd musical sobre as profissões que ofereci à Alice no dia da mulher e a pequena adora-o. Vê-o vezes sem conta. Faz sucesso com ele no infantário e usa-o com gala. É uma peça da sua dvdteca que chega a tocar em casa em modo non stop. Como não sabia da vinda, confessei. Prometi que assim que chegasse a casa iria conferenciar sobre o assunto com a Cristina.”

Esta confirmou a vinda da vedeta e disponibilizou-se ligar para o Centro de Artes do Espetáculo para reservar os bilhetes. Tudo encaminhado, então. A decisão de levar as minhas pequenas, juntamente com a minha afilhada Maria que amo como filha parecia estar a ganhar forma. Tudo trabalhado e bem pensado, perspectivou-se um domingo de sonho como veio a acontecer. Os compadres acederam, convidando-nos para um repasto antes em sua casa e eu, que já estive mais do lado de lá do que do lado de cá, conduzi até à cidade orgulhoso, admmirando os rostos felizes das pequenas embonecadas vendo o sol que brilhava lá fora.



Almoço em grande à maneira do chefe Bonito, “com tudo aquilo a que tivemos direito”. Dali seguimos bem cedo para o CAEP, para evitar ajuntamentos e confusões. Estacionamento tranquilo, entrada calma e tudo do melhor para um show que nem sequer se atrasou e começou pouco tempo depois.

A sala estava composta mas não repleta e os 15 euros da entrada explicavam bem algumas clareiras, mais que provadas em tempos de crise.

Afinal, o espetáculo valia e justificava o dinheiro. Para começar, as miúdas iam satisfeitas, mas eu também. É que para ver a Sónia não faço sacrifício nenhum porque a piquena é bem bonita e mexe-se muito bem. Se fosse para ver o Jorge Gabriel, seu colega na apresentação do programa da televisão que ainda por cima é lagarto, tinha de fazer um sacrifício. Mas para ver a Soninha, não. As canções são boas. As letras estão bem feitas, os temas são orelhudos e a Sónia escolheu explicar as profissões como poderia ter optado por outra coisa qualquer. O filão é inesgotável e ela até nem canta mal. Compõe bem o ramalhete. Para o paizinho aqui, não está ao nível das “Canções da Maria” da Maria de Vasconcelos mas está muito bem e deixa à légua o Avô Cantigas e outras parvoíces que tratavam as criancinhas como se fossem anormais. Para falar em termos futebolísticos, a Sónia não é a Liga dos campeões (como a Maria), mas é a Liga Europa, o que já é muito bom.



O espetáculo teve muitos pontos altos. Foi apresentado por uma figura que furava pelo público imitando os apresentadores de circos ambulantes e foi avançando o que se iria ali passar. Uma personagem que estabelecia a ligação com o público e “metia” os espectadores no cenário que aumentava o palco para o tamanho da sala.

Claro que foi o musical foi um playback e os cachopos não se incomodaram nada com isso porque o queriam mesmo era ver a Sónia. Ela mexia, ela gesticulava, ela até dava uma voz da sua graça. Para eles, estava tudo perfeito. Para mim também não estava mal (que eu me contento com pouco. Qualquer coisa boa me faz feliz.)





Durou hora e pouco mas o tempo passou rápido. Foi agradável. A minha Alice delirou, como se tivesse ido ver o Michael Jackson dela (que o outro já está a fazer tijolo debaixo de terra) e ele a tivesse convidado para dançar em palco. E a Alice até dançou quase no palco, é verdade! Quando a Sónia interpretou a canção do DJ e a pequenada foi dançar lá para a frente, a minha marchou-se também e foi para junto da estrela Sónia. Ela, a Leonor e a Maria vibraram todas três.







Nem tudo foi perfeito e eu tenho de criticar a câmara de Portalegre, ou o CAEP ou lá o que for porque se eu quis dar pipocas às pequenas, tive de ir ao Modelo comprá-las. Ali não havia nem um algodãozinho doce, nem umas farturas, nem uns cachorros, nem umas pipocas e tanto que o pessoal que vende isso precisa de ganhar dinheiro. Havia uma máquina de vender bollicaos e estava avariada. Isto está tudo tão mal e o que aconteceu aqui foi falta de comunicação. Se tivessem dito aos homens que esta festa era para as crianças, para fazer o dia lindo para as crianças, teriam vindo com muito gosto e até tinham ganho algum. Comunicação, meu amigos. Eu que sou um homem da comunicação, digo que a comunicação é tudo. Falar, dizer, faz acontecer.

Comunicação como fez a câmara de Castelo de Vide que lá tinha o seu autocarro estacionado. Não sei bem o que terá acontecido nem falei com ninguém, mas pelo que vi, presumo que a autarquia tenha disponibilizado um transporte para as crianças irem ao espetáculo e se disponibilizou alguns recursos humanos para acompanharem os pequenos, ainda melhor. Prestou um verdadeiro serviço à população ao permitir que crianças do concelho, entre as quais poderiam estar algumas mais necessitadas em termos económicos ou afectivos por terem menos dinheiro disponível para gastar ou menos atenção da família, terem ido ver o show da Sónia com outras que têm quer recursos, quer atenção e ainda por cima têm uma câmara municipal que se preocupa com elas. No meu concelho não houve nada disto e eu que graças a Deus tenho dinheiro e transporte para levar as minhas, fui. Mas fui mais triste por saber que os meninos da minha terra também haveriam de gostar de ir. Outros tempos virão. Com calma, o sol quando nasce há-de ser para todos.






nota: as fotos do espetáculo foram emprestadas pelo sítio do CAE Portalegre do facebook

Como não havia pipocas, fomos ver delas ao sítio onde sabíamos que estavam, ao Modelo. Para saboreá-las, nada como irmos conhecer o parque infantil da ratinha, um dos mais recentes da cidade, junto ao parque da feira.  Eu não o conhecia. A minha Leonor diz que já lá tinha estado com os tios quando eu estava no hospital mas nesse período difícil, a minha diversão era ver o mundo pela janela enquanto sonhava com o meu regresso à vida.

Bem, aquilo é que foi diversão das miúdas. Que energia, que força, que vontade! A minha Alice gastou energias que davam para fornecer luz elétrica a Santo António durante um mês, caso lhe ligassem uma bateria.






Sei que pode ser franqueza a mais, mas neste dia senti-me uma sanguessuga que se alimenta das gargalhadas, dos sorrisos, da boa disposição das pequenas. A minha única atenuante é que nos últimos tempos, por uma causa que desconheço qual, passei muito tempo, mesmo muito tempo, mais tempo que esse que estão a pensar, a ver quartos cheios de camas de doentes, corredores, batas brancas de médicos, cantos vazios, solidão. Por vezes, numa sala cheia de gente, pode estar um homem só. Falando consigo.

Gosto muito mais assim, de estar assim, de como estou agora.

Sinto-me muito mais feliz assim.



3 comentários:

Catarina disse...

Esta ultima foto da Alice está linda, linda ;)

Helena Barreta disse...

Há lá maior felicidade do que proporcionar aos que amamos alegria e risos? E se nos juntarmos nessa alegria e brincadeira melhor ainda.

Um abraço

zira disse...

Foi um Domingo daqueles que as nossas três meninas não vão esquecer e que vai ficar gravado como felizes. Os sete.Ah!!!a minha felicidades é agora.Por muitas razões...