Eu sei que leva-la a um concerto
com 3 anos de idade é arriscado. Isso pode habituá-la a um nível difícil de
suportar no futuro, quando tiver 14 ou 15. Mas também, se levei a Leonor ao
Rock in Rio quando tinha menos de 10… não posso ter dois pesos e duas medidas.
E tudo bem explicadinho, compreende-se. Querem experimentar?
Há dias fui com Alice ver as
minhas tias paternas à Beirã, sempre as duas. E lá estavam elas, sozinhas na
loja. Naquela que era a sua loja e hoje é só o espaço. Estavam a ouvir rádio,
como habitualmente. Como não têm televisão, a telefonia é a sua companhia de
sempre. Gostam sobretudo de escutar a rádio Renascença onde ouvem o terço todos
os dias, sempre na sintonia da igreja. Nesse dia perguntaram-me se íamos ver a
Sónia.
“Sónia? Mas qual Sónia?”
“A da Praça da Alegria, a da RTP,
que traz o seu espectáculo a Portalegre. Aqui na rádio Renascença está sempre a
anunciar.”
Disse-lhes que não estava a
pensar vir, mas que já estava a imaginar o espetáculo e expliquei-lhes: “ ela agora
tem um dvd musical sobre as profissões que ofereci à Alice no dia da mulher e a
pequena adora-o. Vê-o vezes sem conta. Faz sucesso com ele no infantário e
usa-o com gala. É uma peça da sua dvdteca que chega a tocar em casa em modo non
stop. Como não sabia da vinda, confessei. Prometi que assim que chegasse a casa
iria conferenciar sobre o assunto com a Cristina.”
Esta confirmou a vinda da vedeta
e disponibilizou-se ligar para o Centro de Artes do Espetáculo para reservar os
bilhetes. Tudo encaminhado, então. A decisão de levar as minhas pequenas,
juntamente com a minha afilhada Maria que amo como filha parecia estar a ganhar
forma. Tudo trabalhado e bem pensado, perspectivou-se um domingo de sonho como
veio a acontecer. Os compadres acederam, convidando-nos para um repasto antes em
sua casa e eu, que já estive mais do lado de lá do que do lado de cá, conduzi
até à cidade orgulhoso, admmirando os rostos felizes das pequenas embonecadas vendo
o sol que brilhava lá fora.
Almoço em grande à maneira do
chefe Bonito, “com tudo aquilo a que tivemos direito”. Dali seguimos bem cedo
para o CAEP, para evitar ajuntamentos e confusões. Estacionamento tranquilo,
entrada calma e tudo do melhor para um show que nem sequer se atrasou e começou
pouco tempo depois.
A sala estava composta mas não
repleta e os 15 euros da entrada explicavam bem algumas clareiras, mais que
provadas em tempos de crise.
Afinal, o espetáculo valia e
justificava o dinheiro. Para começar, as miúdas iam satisfeitas, mas eu também.
É que para ver a Sónia não faço sacrifício nenhum porque a piquena é bem bonita
e mexe-se muito bem. Se fosse para ver o Jorge Gabriel, seu colega na
apresentação do programa da televisão que ainda por cima é lagarto, tinha de
fazer um sacrifício. Mas para ver a Soninha, não. As canções são boas. As letras
estão bem feitas, os temas são orelhudos e a Sónia escolheu explicar as profissões
como poderia ter optado por outra coisa qualquer. O filão é inesgotável e ela até
nem canta mal. Compõe bem o ramalhete. Para o paizinho aqui, não está ao nível
das “Canções da Maria” da Maria de Vasconcelos mas está muito bem e deixa à légua
o Avô Cantigas e outras parvoíces que tratavam as criancinhas como se fossem
anormais. Para falar em termos futebolísticos, a Sónia não é a Liga dos campeões
(como a Maria), mas é a Liga Europa, o que já é muito bom.
O espetáculo teve muitos pontos
altos. Foi apresentado por uma figura que furava pelo público imitando os
apresentadores de circos ambulantes e foi avançando o que se iria ali passar.
Uma personagem que estabelecia a ligação com o público e “metia” os espectadores
no cenário que aumentava o palco para o tamanho da sala.
Claro que foi o musical foi um
playback e os cachopos não se incomodaram nada com isso porque o queriam mesmo
era ver a Sónia. Ela mexia, ela gesticulava, ela até dava uma voz da sua graça.
Para eles, estava tudo perfeito. Para mim também não estava mal (que eu me
contento com pouco. Qualquer coisa boa me faz feliz.)
Durou hora e pouco mas o tempo passou
rápido. Foi agradável. A minha Alice delirou, como se tivesse ido ver o Michael
Jackson dela (que o outro já está a fazer tijolo debaixo de terra) e ele a
tivesse convidado para dançar em palco. E a Alice até dançou quase no palco, é
verdade! Quando a Sónia interpretou a canção do DJ e a pequenada foi dançar lá
para a frente, a minha marchou-se também e foi para junto da estrela Sónia.
Ela, a Leonor e a Maria vibraram todas três.
Nem tudo foi perfeito e eu tenho de
criticar a câmara de Portalegre, ou o CAEP ou lá o que for porque se eu quis
dar pipocas às pequenas, tive de ir ao Modelo comprá-las. Ali não havia nem um
algodãozinho doce, nem umas farturas, nem uns cachorros, nem umas pipocas e tanto
que o pessoal que vende isso precisa de ganhar dinheiro. Havia uma máquina de
vender bollicaos e estava avariada. Isto está tudo tão mal e o que aconteceu
aqui foi falta de comunicação. Se tivessem dito aos homens que esta festa era
para as crianças, para fazer o dia lindo para as crianças, teriam vindo com
muito gosto e até tinham ganho algum. Comunicação, meu amigos. Eu que sou um
homem da comunicação, digo que a comunicação é tudo. Falar, dizer, faz
acontecer.
Comunicação como fez a câmara de
Castelo de Vide que lá tinha o seu autocarro estacionado. Não sei bem o que
terá acontecido nem falei com ninguém, mas pelo que vi, presumo que a autarquia
tenha disponibilizado um transporte para as crianças irem ao espetáculo e se disponibilizou
alguns recursos humanos para acompanharem os pequenos, ainda melhor. Prestou um
verdadeiro serviço à população ao permitir que crianças do concelho, entre as
quais poderiam estar algumas mais necessitadas em termos económicos ou afectivos
por terem menos dinheiro disponível para gastar ou menos atenção da família, terem
ido ver o show da Sónia com outras que têm quer recursos, quer atenção e ainda
por cima têm uma câmara municipal que se preocupa com elas. No meu concelho não
houve nada disto e eu que graças a Deus tenho dinheiro e transporte para levar
as minhas, fui. Mas fui mais triste por saber que os meninos da minha terra
também haveriam de gostar de ir. Outros tempos virão. Com calma, o sol quando
nasce há-de ser para todos.
Como não havia pipocas, fomos ver
delas ao sítio onde sabíamos que estavam, ao Modelo. Para saboreá-las, nada
como irmos conhecer o parque infantil da ratinha, um dos mais recentes da
cidade, junto ao parque da feira. Eu não
o conhecia. A minha Leonor diz que já lá tinha estado com os tios quando eu
estava no hospital mas nesse período difícil, a minha diversão era ver o mundo
pela janela enquanto sonhava com o meu regresso à vida.
Bem, aquilo é que foi diversão
das miúdas. Que energia, que força, que vontade! A minha Alice gastou energias
que davam para fornecer luz elétrica a Santo António durante um mês, caso lhe ligassem
uma bateria.
Sei que pode ser franqueza a mais,
mas neste dia senti-me uma sanguessuga que se alimenta das gargalhadas, dos
sorrisos, da boa disposição das pequenas. A minha única atenuante é que nos
últimos tempos, por uma causa que desconheço qual, passei muito tempo, mesmo
muito tempo, mais tempo que esse que estão a pensar, a ver quartos cheios de
camas de doentes, corredores, batas brancas de médicos, cantos vazios, solidão.
Por vezes, numa sala cheia de gente, pode estar um homem só. Falando consigo.
Gosto muito mais assim, de estar
assim, de como estou agora.
Sinto-me muito mais feliz assim.
3 comentários:
Esta ultima foto da Alice está linda, linda ;)
Há lá maior felicidade do que proporcionar aos que amamos alegria e risos? E se nos juntarmos nessa alegria e brincadeira melhor ainda.
Um abraço
Foi um Domingo daqueles que as nossas três meninas não vão esquecer e que vai ficar gravado como felizes. Os sete.Ah!!!a minha felicidades é agora.Por muitas razões...
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