Imagem do por do sol que captei na estrada do Valongo
Caminho que percorri a sós, pensando, falando comigo na tarde da minha revolução
O
meu silêncio nestes últimos dias deve-se à dureza do meu 25 de Abril. A minha
revolução foi dura. Não foi tão dura como a de Portugal, onde ainda houve
tanques e militares na rua. Foi mais pacífica mas ainda assim, foi dura. Não que
houvesse mortos ou feridos, mas houve mazelas que só foram superadas porque as
pessoas são inteligentes. Usando o cérebro, souberam chegar ao consenso. Falando.
Não discutindo. Usando a palavra.
Superadas
as convulsões internas, as reações vindas do exterior foram as mais positivas
que poderia imaginar. Melhores até que a melhor das hipóteses.
Acabei
de escrever o texto perto da meia-noite. O meu 25 de Abril não foi madrugador.
Foi noturno. Minutos depois de colocar a declaração no blogue e a divulgar no
facebook, um amigo de infância, da escola primária, fez uma das apreciações que
mais gostei. Já não me recordo bem qual foi a sua expressão mas o que queria
dizer é que este era o Pedro Sobreiro como sempre o conheceu: recto e
verdadeiro.
Depois
as reações foram tantas que já não consigo recordar-me bem delas todas. Mas uma
coisa é certa: ninguém ficou indiferente e já isso é a certeza que atingi o
objetivo do meu 25 de Abril.
O
meu blogue pode não valer nada. È apenas um blogue. Um blogue que muita gente
não conhece. Um blogue do qual muita gente passa ao lado. Mas aquilo é o MEU
blogue, o meu pedestal das novas tecnologias, o meu púlpito onde digo sempre tudo
que me apetece. O blogue onde sou livre. O blogue onde digo sempre aquilo que
quero com verdade, com rectidão, sem medos e sem mentiras. Nada do que digo ali
é falso. O que digo pode ser contestado mas não pode ser recusado por ser
mentira.
O
meu blogue pode não dizer nada mas também pode dizer muito porque eu sei que
muita gente leu, sei que quem eu também queria que lesse, leu de facto. As
caras, os gestos, as reações são translúcidas e não enganam ninguém. Pelo menos,
a mim não me enganam. Isso é uma vitória pessoal saborosa, que me dá muito prazer.
Pouco
tempo após a publicação do texto, o principal visado entrou em contato comigo
via correio eletrónico. A sua opinião, pessoal e privada, tocou-me também bem
fundo dentro como a minha lhe tocou a ele.
Tive
diversos contactos, todos sinceros. Uns elogiaram-me no blogue, outros via
facebook, outros partilhando o texto, concordando com a mensagem e ao
partilha-la, fazendo aquela a sua voz também.
Na
manhã seguinte, recebi diversas mensagens de telemóvel de apreço que muito
estimei. Duas mensagens eram de pessoas por quem tenho a maior consideração.
Uma era visada nas palavras, a dizer que acordou com um grito de revolta. A
outra era da minha mãe Alzira, com quem eu aprendi a escrever. A mensagem dela
dizia que era uma alegria ter “o seu” Pedro de volta. Ela, que sofreu muito com
o meu sofrimento, que sabia que eu poderia ter regressado em estado vegetativo.
Sabia que eu poderia regressado de forma a estar mas não estar. E é por saber
isso que ficou tão feliz por ter o “seu” Pedro de volta. Ficou ela e fiquei eu,
duplamente feliz.
Quem
é que me haveria de dizer que o blogue era assim tão importante para mim, para
a minha vida, para me dar alegria para viver? Realmente, este renascimento foi
mesmo difícil. Lembrar-me que cheguei a colocar um termo no blogue... Há tanta
coisa cuja importância só aprendi a dar valor depois de voltar à vida.
Fora
do universo do mundo virtual, também tive reações de pessoas que admiro. Uns
transmitindo-me a mensagem pessoalmente, dando-me um abraço pessoal; outros manifestando
em conversa informal com amigos que me fizeram chegar os ecos dessas palavras.
Estremeceu.
Muito
poucos criticaram mas houve um amigo pessoal que considero muito que me disse
que na sua opinião, o que eu tinha vindo fazer na internet foi fazer o que o
Sócrates fez na televisão: lavar a roupa suja com Cavaco. Falando educadamente entre
nós os dois, expliquei-lhe as movimentações que tinha feito antes da publicação
para evitar que ela não chegasse a acontecer. Contei-lhe com quem tinha falado,
o que tinha dito… e não vendo que isso tinha surtido efeito algum, apesar das
primeiras indicações serem nesse sentido, só então tinha decidido avançar com a
minha declaração pública.
“Mas
tu tiveste a coragem de dizer isso a essa pessoa?”, perguntou. “Disse! Disse
cara a cara. Coragem, tenho muita. Sempre tive. Posso partir mas não torcer.
Quando não merece a pena, não vergo!”. O riso dele, quando estávamos os dois a
sós, certificou-me que tinha percebido as minhas palavras e eu tinha provado
que não tinha querido lavar a roupa em público como o Sócrates fez com Cavaco.
Apenas quis dizer a verdade.
Os
silêncios de alguns também me transmitiram muito sobre as pessoas que são. Não
me admiraram nada! que fique bem claro. Mas souberam-me bem. Soube que estava
certo.
O
meu presidente da república desse então deu-me uma das melhores reações ao meu texto
ao convocar-me, no domingo, para um almoço em sua casa com bons amigos. Tal
como eu, também ele decidiu não embarcar mais em andanças autárquicas e assumiu
a sua postura. Decidiu afastar-se. Mais reservado, mais elitista, soube dizer o
seu não com o nível que já nos habituou.
Não
vou tornar o domínio privado em público. Mas não revelo muito se disser que
entre os comensais estava o mestre Rui Miguel Pescada Ribeirinho Pinheiro, meu
colega desde o Serviço de Finanças de Nisa, de quem eu gosto como se fosse meu
irmão que cozinhou uma paella de ir às lágrimas, de boa que estava.
Momentos
que me fazem sentir rico. Sem muito dinheiro no banco, ou muito dinheiro em
casa, ou até na carteira para me sentir assim, mas com amizade no coração para
me sentir rico. Na fasquia do milionário!
Assim
sendo, viva o 25 de Abril! Viva a liberdade!
Observação:
este texto está escrito sob o AOS. Siglas
para definir o Acordo Ortográfico Sabi. Isto significa que o autor respeita por vezes o que se diz
ser o novo acordo ortográfico, mas só às vezes. Ele sabe mais ou menos como é
que funciona mas só utiliza o novo acordo quando sente que vale a pena. Quando
acha que sim. Exemplo: deve-se escrever direto e não directo porque o c ali é
uma porra. Não fica bem. É á antiga. È como escrever uma palavra que termina em
oda com ph em vez de ser com f.
;)
Tenho dito!
1 comentário:
O que admiro neste blogue é o tom cordial e a correcção no trato, a visão pessoal sincera, verdadeira e corajosa e a abertura à contestação e ao contraditório.
Um abraço. Viva a liberdade.
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