terça-feira, 22 de março de 2016

85 anos de Cali


85 anos de Cali. Uma homenagem àquela que sempre considerei a minha grande Amiga, a que deu sempre tudo por mim, e em mim "encarnou" o filho que nunca teve. Não se explica. Sente-se. Sei que as minhas outras mulheres da minha vida (2× de propósito), Fernanda Sobreiro e Alzira Sobreiro me-o perdoam. Tantas vezes elas têm de domesticar o Pedro imaturo, sempre rebelde, teimoso e desalinhado. Tantas vezes... Muitas mais daquelas que eu queria. A Cali nunca me ralhou. Antes fechava os olhos, como fez hoje, e me abraçava.
Levou-me pela primeira vez ao Jardim Zoológico, de comboio, que não pagávamos por o meu avô Leopoldo se ter reformado com o cargo de inspector dos Caminhos de Ferro (ele que começou do zero, fez a carreira toda pelo seu pulso e cabecinha até lá a riba, servindo-me de grande exemplo de trabalho para a vida).
No incontornável comboio, foi-me levar à faculdade, com a ti Bia, quais tias do Vasco Santana, que foi aprender o que era o esternocleidomastroideu.
Já há uma série de anos que alimenta de vida o corpo cujo cérebro funciona, mas "morreu" há muito. Mais de 10 anos? ( que a Ti Bia a foi encobrindo, enquanto carregava acruz sozinha e "perdia" tardes a ensiná-la a reescrever e a ler.)
Vive na Santa Casa da Misericórdia de Marvão que lhe dá todo o Amor e compreensão que merece, por nós já não conseguirmos, presos pela vida absorvente que levamos.
Hoje que trabalhei até às 6h, liguei para pedir que me deixassem passar da hora para lhe dar um beijinho e um abraço. Deus quis que a apanhasse depois do jantar e pudesse ter estado a sós com ela, sentados na cama. Beijei-a tanto, afaguei-a e apertei-a tanto junto a mim, que acho que lhe passei o calor que queria.
Se tem dias em que parece que não me conhece, hoje falou comigo. Deu uma conversa longa e ininteligível com o ar de quem estava a fazer um grande discurso. Nos seus olhos, o último bastião da minha família Sobreiro, vi, em silêncio, a avózinha, a Ti Mirene, o meu pai e a Ti Bia. Naqueles olhos castanhos viveram em minutos, todos os mortos que amei desta família e são a minha génese.
Fui feliz.
Nasce a Primavera no dia em que nasceu a minha Cali, que há-de sempre viver em mim gravada nas duas andorinhas que tatuei no peito, em homenagem às centenas que faziam o ninho no telhado da sua casa da Beirã.
Assim, bem tratada, querida numa casa que é um autêntico hotel pelas excelentes condições que lhe proporciona, de conforto, atenção e companhia; que deram à irmã o descanso de partir em paz na segunda noite em que lá dormiram juntas, peço a Deus, 1 ano de cada vez, para que a possamos ir amar sempre que podemos. É raro o fim de semana em que não.
Quando saí e a beijei na testa com o calor que lá quero sempre sentir, uma companheira que não conhecia, muito mais jovem e consciente que ela, comentou com as colegas: "não há homem como este..."
Eu sorri. Oxalá ela também sinta assim. Que nunca a deixei a ela como nunca me deixou a mim.
Parabéns, minha querida Cali.


1 comentário:

Ana Sequeira disse...

Lindo , Pedro! Eu gosto da Cali quase tanto quanto tu, sei que o teu amor e diferente, mas tambem a amo muito! Tambem a vi no dia dos anos dela, nao tive a sorte que tu tiveste, a Cali nao me conheceu mas não faz mal eu conheci a CAli a minha madrinha! , beijinhos e bem aja por estas palavras