segunda-feira, 14 de maio de 2018

José João Bráz Nunes. Pinto... logo existo!

<3
Com idade para ser meu pai, mas... apenas(?!?) meu Amigo.

"Nós e a obra"

Foto cortesia do amigo Vitor Carlos

A família não se escolhe. Todos nós temos na nossa, pessoas que, ou têm um conceito de pertença diferente, ou fogem completamente à nossa definição do que deve ser um (familiar).

Já com os amigos, é diferente. Um amigo, ou amiga, é alguém que não tem connosco ligação sanguínea, mas de quem gostamos (tanto), ou admiramos (de tal maneira), que "puxamos" para nós.

Claro que quis assinado! 
Valerá muito mais! (daqui a 100 anos, quando nenhum de nós os dois, estiver entre os vivos)

Destes, há os que queremos como irmãos (pelos quais estamos dispostos a fazer tudo), e os outros, com diversos patamares e categorias. Atendendo à idade (dos mais novos, até aos muito mais velhos), à pertença social (laboral, lúdica, de afinidade), ou a muitos outros fatores, há diversos graus, muitas aproximações, outros patamares.

Cada homem... cada amigo... é uma ilha. O José João Brás Nunes, que me entrou por ser tio de um amigo de décadas (Rui Boto), muito próximo desde o tempo de adolescente (eu)/adulto (ele. É bastante mais velho...), é toda uma personalidade. Há tempos, quando falávamos do amigo que era do meu pai, comoveu—se, quando a sós comigo, e recordou o seu desaparecimento. Isto para explicar o enorme carinho, e ternura que tenho por ele.

Depois de aposentado da exigente, e extenuante atividade bancária, recolheu à terra que era a sua: esta. Acossado pela doença entretanto descoberta, que lhe tolda os movimentos e o limita (das novas que são velhas, mas com outro nome), chamada Parkinson (nestes tempos), procurou encontrar uma ocupação para o preencher (no ócio), e descobriu a paixão pela pintura.

Não sei se será génio, mas certamente incompreendido é, tentou, persistiu, e já vai somando exposições, e solicitações. Longe vão os tempos em que a companheira Carla Nunes lhe apontava o dedo ao estado da roupa, após as catarse epifânica de pincel na mão. À medida que progride no seu desenvolvimento vai ganhando respeito pelos seus pares, conterrâneos, e cada vez é menos olhado com desdém.

Ontem vi este quadro, em cima da máquina de tabaco d' "O Adro".

— "Eina Zé... Cada vez melhor, ãh? Em perspetiva... Quanto menos abstrato, mais concreto, real, mais respeitado. Este é o caminho...", disse—lhe.
— Consegues perceber o que é?
— Por Deus?!?!?! Como não?
— As cores estão...
— Está perfeito, Zé! É a TUA visão da nossa igreja. Não tem nada que enganar! Estás de parabéns! Um artista para ser respeitado... tem de se dar ao respeito. Se o que pinta, é inteligível, e reconhecível... tanto melhor! 
— Queres comprá—lo?
— Não o vendas, sem antes falares comigo.
Pediu—me um valor ridículo, para pagar a tela.
— Isso jamais! Seria uma afronta à tua condição de artista.
Dei—lhe o dobro. Hoje já cá dorme em casa.


Como toda a cena foi passada n' "O Adro", dona Velhaca teve de brilhar: "Ai Zé João, Zé João... és o contrário dos marroquinos! Eles pedem o dobro, para levarem metade; tu pedes apenas X, e levas o dobro." :D

"Foi de borla, Velhaca", disse—lhe eu. "Foi de borla..."
Ficou bonito, não ficou?

Quando o artista já está em Eborae!  ;)

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