Minha querida filha, Nônôzinha, muitos parabéns pelo teu vigésimo aniversário.
Porra!
20 anos…!!!!
Eu
sei que parece um lugar comum, mas não parece só… é mesmo!, por ser uma lição
que aprendi com a vida: passa tudo muito depressa, a correr, tudo depressa
demais! Parece que ainda foi ontem que regressei, completamente exausto, do
hospital de Portalegre, depois de ter visto o esforço sobre humano que a tua
mãe fez para depois de um dia inteiro em contrações, à espera, mais de que o
médico decidisse que estava na hora, do que tu chegasses, para ainda ter ido
buscar forças sabe-se lá onde, para te conseguir meter cá fora.
Eu,
que vi de frente, ao contrário do que mandam as boas práticas, muito por causa
das obras que estavam curso no nosso hospital de Portalegre, na “Ortopedia”,
por a “Maternidade” estar a ser alvo de melhoramentos, jamais me conseguirei
esquecer, mesmo que via 1.000 anos, de tudo o que vivi naquela noite. Uma noite
em que apenas depois de termos ganho por 2-1 ao Santa Clara, com golo de
Mantorras, depois de termos estado a perder, vimos o médico responsável, que
padece de grande Befiquismo, graças a Deus (mas ali não ajudou nada!), ter
subido ao quarto onde a tua mãe se contorcia já de esperanças, sem forças, por
ter estado o dia todo a exasperar. Nada fora diferente daquilo que o pessoal de
apoio me foi dizendo durante o dia, sobretudo quando me viam cabisbaixo, ao
fundo do corredor, sem ter direito a bola, nem Benfica, nem nada que se pareça,
já completamente esmorecido pela forma como estavam a decorrer as
movimentações.
https://www.zerozero.pt/jogo.php?id=17674
Por
esta altura já sabes de tudo o resto, de como não me avisaram do momento em que
a minha primeira filha estava para chegar a este mundo, de como eu me esgueirei
pelo corredor abaixo para tentar ver, daquela Mefistofélica enfermeira que me
barrou, não me deixou entrar, e deu sinal (mais de negação do que de
interrogação) ao médico, que corroborou com um “o pai é muito grande para
entrar para aqui que isto é muito apertado!”, o cabrão; de como me deitei a ela,
e lhe apertei a manápula dizendo com firmeza: “EU SOU PAI E SEI DOS MEUS
DIREITOS! ESTOU-ME A MARIMBAR PARA AS OBRAS, SAIA-ME DA FRENTE, SE NÃO POSSO
ENTRAR, EU VEJO AQUI DA PORTA!”, e vi, como a tua cabecinha cabeluda sai cá
para fora, e como o ar de cansaço da tua mãe, se encheu de luz, glória e
descanso.
Depois
veio aquela atribulação de ver como eles te agarravam pelos pés, como se das
patinhas de um coelho te tratasses, da aflição de tu, toda roxinha, a deitares
fumo do calor do ventre, não emitires som algum quando eu sonhava com um berro
desalmado que me soaria a “Pedrocas, já estou aqui!!!!”, daqueles segundos que
eram como horas, em que mais parecias uma tripa roxa pendurada incapaz de
emitir um sinal de vida, e das tão abençoadas nalgadas, que te desentupiram
toda e as gooooOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOooEEEEEEEEEEEEEEEeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeellllllllllllaaaaaaaaaaaaaaaaaassssssssssssss,
meu Deus, que nunca tinha ouvido um som tão bonito!!!
Já
20 anos desde aquela noite a seguir, e daquela memorável frangalhada que paguei
aos meus amigos no Zé Calha, e eram bastantes!!!!; 20 anos depois da noite de
lerpa que seguiu na nossa casinha da rua do Espírito Santo, em Marvão, só
interrompida pelos meus constantes “epá falem baixo que acordam o morto!!!!”,
para não incomodarem o velório que estava a acontecer ao lado, na Igreja
fúnebre vizinha.
Pobre
defunto… mas… cá do nosso lado, era tanta gente, tanta boa disposição, tanta
alegria, mesmo no dia a seguir quando percebi que me tinha deixado dormir, e
eles tinham saído de fininho, não sem antes terem dado grande amok no álcool
por ali disponível, e terem barbeado muito do que havia para comer no
frigorífico, mas não sem antes o terem aquecido nas louças velhas que tiraram
da parede, à falta do discernimento lhes ter dado para que procurassem dentro
dos armários, outras diferentes daquelas mais à mão.
Olha
Leonor, o que te quero mesmo é felicitar, dar os parabéns, e dizer que claro
que aquilo que mais quero, é que sejas muito feliz na tua vida, e te aconteça
tudo do melhor! Creio que aqui não acabo por diferir dos outros pais e mães.
Neste
contexto, gostaria de te conseguir transmitir dois conceitos / aprendizagens /
vivências:
1)
Este aniversário são os teus 20 anos, número redondo, bonito, de afirmação da
maioridade. É o teu aniversário mas… é meu também e da tua mãe, por tu seres a
maior, e melhor obra que fiz com a Cristina até, 9 anos depois, quando nasce a
tua irmã. Assim que respiraste pela primeira vez, deixei de viver apenas neste
corpo de metro e oitenta, pois passei também a bater no teu coração, como bato
no da tu irmã, porque vocês são, para além do meu maior orgulho, a afirmação
derradeira da vida sobre a finitude que afronta cada um dos mortais.
2)
Passa tudo muito depressa, Leonor. Ouve aquilo que te digo. Vive intensamente,
aproveita e saboreia cada minuto porque daqui a amanhã, serás tu a sentir
aquilo que eu sinto. Ainda ontem vivia na Beirã…
Pertencendo
nós a uma família matriarcal (e não precisas que te faça um desenho para que
percebas aquilo que te quero dizer), tenho que te confessar que lamento que não
estejamos tão próximos quanto eu gostaria. Certamente me dirás que assim é,
porque eu também vivo a minha vida, tomo as minhas opções. Até compreendo, mas
permite que te diga que a vida de cada um é inalienável, e deve ser vivida,
embora nunca duvides do meu Amor por ti, e que por ti faria tudo sem
pestanejar, numa fração de segundos.
Tenho
saudades dos tempos em que passávamos os dois, os fins de semana em que a mãe
trabalhava, juntos, em casa, em Marvão, a passear. Tenho saudades dos milhares
de fotos e vídeos que te fiz, que perdi quando se perdeu o disco rígido que
ainda tenho esperança de conseguir recuperar, por ter lá um repositório imenso
de uma década fundamental da minha vida.
Tenho
pena de não conversarmos mais, de não estarmos mais próximos. Sei perfeitamente
que a ligação que tu, e a tua irmã, têm com a tua mãe, para além de ser mais
forte e mais antiga (convém não esquecer que foram geradas, e saíram de dentro
dela!), eu também cá estou, com todos os meus defeitos, tontices, imperfeições,
parvoíces. Eu… sendo eu.
Há
já muito que não te escrevia nos anos, como tinha o hábito de te fazer antes.
Este blogue é o meu repositório, o meu espaço virtual para viver, e desta vez
senti um apelo. Sabes que ligo às redes sociais e me importo com o blogger e
com o facebook. Não sou do Instagram citadino e urbano, como tu. Gosto de
passar por lá para descarregar umas fotos tuas sem fazer muitas ondas, que depois
meto no telemóvel como capa de fundo (uma para ti, outra para tua irmã). Às
vezes penso que gostaria que fizesses aqueles testemunhos de agradecimento, e
amor lamechas como alguns, muitos filhos fazem aos pais, mesmo que sejam da
boca para fora, mas eu sei que esses… não são para mim. Há que aceitar. Coisas piores
há.
Tenho
o maior orgulho em ti. Orgulho que sempre tive por tu seres o produto final do
amor de duas pessoas que sempre se quiseram muito (já desde 1986; um com 13,
outro com 11; há 35 anos, e sempre se quiseram nesta vida). Agradeço sempre a
Deus que sejas inteligente, trabalhadora, exemplar aluna, doce filha, grande e
sincera amiga, boa companhia, consciente cidadã, e muito bonita (mais ainda que
a tua mãe!), agora magrinha, como eu te pedi sempre que tivesses cuidado.
Sonho
muito que sejas aquilo que queres ser, que consigas os teus objetivos
académicos e profissionais, que fiques com o Luís e consigam ser felizes os
dois, que queiras ter, e tenhas filhos, meus netos.
Nunca te esqueças que estaremos sempre aqui por ti, e que a ti, com Deus nos faz a nós, perdoaremos e amaremos sempre tudo.
Muitos
parabéns, Leonorzinha. Sê sempre feliz!
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