Os Monty Python foram a mais demolidora máquina de fazer rir alguma vez criada.
O riso percorreu um longo caminho desde que o homem primitivo deixou acidentalmente cair sobre o dedo mindinho do pé, o seixo rolado com que rasgava a carne da presa recém abatida, provocando uma reacção inusitada nos companheiros que o rodeavam. Toda essa linha evolutiva que atravessou eras e civilizações culminou neste grupo de 5 jovens britânicos que no final dos anos 60, princípios dos 70, revolucionaram para todo o sempre os mecanismos que conduzem à gargalhada.
Quem vive actualmente do humor, seja em que parte do mundo for, presta sempre homenagem a esta trupe fabulosa de cada vez que lhes perguntam qual a sua referência e maior fonte de inspiração.
Herman José; os Gato Fedorento, toda a equipa das produções fictícias que está por detrás de grande parte do humor que se faz hoje no nosso país (seja no Contra-Informação ou no humor radiofónico); o Jel e os loucos da “Luta Continua”; os cabecilhas do stand up comedy e todos aqueles que têm o riso na profissão, lhes prestam com frequência vassalagem.
Mas o prestígio dos magistrais Python está longe de se esgotar na Europa. Do outro lado do atlântico, gerações de cómicos inspiraram-se e reinventam-se na eterna inspiração das suas obras: Matt Groening, criador da saga dos Simpsons (RTP2); Jerry Seinfeld (SIC Radical); Conan O’Brien (SIC Radical); Matt Stone e Trey Parker, pais da série South Park (SIC Radical), todos eles veneram o legado que nos deixaram.
Todo este burburinho porque John Cleese, Michael Palin, Graham Chapman, Eric Idle e Terry Jones decidiram um dia partir literalmente a louça toda no canal estatal BBC, quando montaram o seu “Circo Voador” que alguns de nós pudemos admirar há muitos, muitos anos atrás na RTP, a horas, claro está, bem proibitivas.
Sem tomar qualquer tipo de precaução e sem guardar a mais mínima distância de segurança, estas soberbas inteligências humorísticas apontaram sobre a conservadora sociedade britânica e dispararam em todos os sentidos. Da igreja à família, da política à justiça, das tradições ao futebol, nada, nada mesmo escapou à sua abordagem cáustica.
Senhores de um humor que ia do mais simples ao cerebral, sempre com uma forte veia intelectual, coroaram-se a eles próprios num pedestal bem oposto ao imediatismo grosseiro de um Benny Hill ou do universalismo actual de um Mister Bean.
Os Monty Python eram muitas vezes incómodos, sádicos, perturbadores e personificaram a verdadeira e última provocação.
O seu legado passou também pelos filmes com clássicos absolutos como “O Sentido da Vida”, a “Vida de Brian” ou “Em busca do Cálice Sagrado”, jóias que não podem faltar na dvdteca ideal de quem ama uma boa gargalhada e os meus exemplares estão sempre em lugar de destaque.
Assim, como podem calcular, a expectativa para o espectáculo de ontem à noite no Centro de Artes de Portalegre, cada vez mais a NOSSA sala, era enorme.
O facto de ter sido adaptado para a nossa língua mãe por Nuno Markl, esse, o que mordeu o cão e um dos adoradores-mor dos génios britânicos descansou-me à partida. O espectáculo trazia no currículo excelentes críticas da sua estada no Casino da capital e da sua digressão nacional e a prova evidente disso mesmo era uma assistência a roçar o pleno se é que não estava mesmo no limite.
Para falar depressa e bem, o show vale cada cêntimo dos 15 euros cobrados. A selecção de sketches é irrepreensível, o ritmo é estonteante e hipnótico, o recurso às aplicações multimédia muito bem encaixado e as interpretações muito próximas da perfeição.
António Feio passa muito bem e brilha no quadro do produtor maniento que detesta a graxa dos argumentistas; Bruno Nogueira, claramente fora do seu registo preferencial é competente qb, sempre em postura low-profile; Jorge Mourato esforça-se para estar ao nível do nome dos colegas e sai-se muito bem, brilhando mesmo no número musical dos operários da construção civil; José Pedro Gomes está ao seu melhor nível e arrasa na velhinha do concurso da “Marretada na cabeça” e no Papa que reclama a “Última Ceia”; mas é Miguel Guilherme, cada vez mais soberbo actor e reafirmando-se como genial comediante que leva os louros da glória. Simplesmente perfeito! Sempre com um feeling, um ritmo, um balanço de quem está como peixe na água, num universo que é também o seu, eleva-se acima de todos e carrega os textos e as interpretações mais exigentes e mais rentáveis como são o comprador do papagaio morto, o Miguel Ângelo gay que insiste em 4 Cristos e dezenas de discípulos na última refeição do Messias, ou o homem que dizia os “k” mas não dizia os “C”, no qual ridiculariza os turistas portugueses num retrato delicioso que o leva à loucura pela sala fora.
“Os melhores sketches dos Monty Python” são perto de duas horas de viagem na montanha russa que é o legado deste grupo inesquecível. Para mim, chegava a cena da piada mortal que de tão boa que era bastava para fazer morrer de rir quem a lesse... De ir à lágrimas…
Mas entre muitos outros momentos, ficaram ainda gravados com chave de ouro, o desabafo dos magistrados travestis ao chegar a casa; a esquadra da polícia em que os agentes só ouviam em timbres diferentes; o agente funerário canibal que propõe ao jovem um assado do corpo da falecida mãe e os fora-da-lei que só agiam dentro da lei.
Certamente, muitos saíram com a sensação de que esperavam terem-se rido mais mas essa possível desilusão só se pode explicar a quem avança com determinadas expectativas para um tipo de humor completamente imprevisível e desvairado.
No cimo do cimo do bolo, dois momentos que foram de absoluta e profunda magia e reparei que em qualquer um deles provavelmente nem me ri mas apenas sorri perante a divinal criatividade subversiva, num sorriso que para mim vale muitas mil gargalhadas que às vezes dou ao desbarato: o regresso do filho do dramaturgo ao lar depois de ter renegado as suas origens e ter ido trabalhar para uma mina; e a cena dos ricaços que fantasiam e mentem sobre a miséria do seu passado, entre flutes de champanhe, cada um tentando ir mais longe que o outro na dureza da sua condição.
Génio absoluto!
E então é assim, meus amigos, se vão na linha dos Malucos do Riso, do Fernando Rocha ou do Camilo, fujam daqui que isto não está para brincadeiras.
Se por outro lado querem assistir ao melhor humor de sempre, numa produção que certamente orgulharia os próprios criadores, não percam este barco que o mais certo é ir ao fundo.
Nota final de agradecimento, com um abraço, para as companhias do serão, cada vez mais próximas e agradáveis. Bem hajam pela vossa amizade e boa disposição.
Apontamento breve mas reconhecido ao bar Tapas, no renovado mercado municipal, elegante e cheio de vida, que conhecemos segundo indicação e deferência do meu amigo Luís Martins da Renault, o decano dos vendedores de automóveis na cidade e o charme em pessoa. Ora aqui está uma bela proposta gastronómica com óptimo ar e decoração, e melhores petiscos por preços nada proibitivos. Um sítio onde se pode estar, comer e conversar como a capital de distrito já merecia há muito. 4 estrelas no guia Michelin-Sabi, com grande margem de progressão. Sorte para a rapaziada jovem que apostou e já ganhou.
Ó pessoal: quando é que há outro?
O riso percorreu um longo caminho desde que o homem primitivo deixou acidentalmente cair sobre o dedo mindinho do pé, o seixo rolado com que rasgava a carne da presa recém abatida, provocando uma reacção inusitada nos companheiros que o rodeavam. Toda essa linha evolutiva que atravessou eras e civilizações culminou neste grupo de 5 jovens britânicos que no final dos anos 60, princípios dos 70, revolucionaram para todo o sempre os mecanismos que conduzem à gargalhada.
Quem vive actualmente do humor, seja em que parte do mundo for, presta sempre homenagem a esta trupe fabulosa de cada vez que lhes perguntam qual a sua referência e maior fonte de inspiração.
Herman José; os Gato Fedorento, toda a equipa das produções fictícias que está por detrás de grande parte do humor que se faz hoje no nosso país (seja no Contra-Informação ou no humor radiofónico); o Jel e os loucos da “Luta Continua”; os cabecilhas do stand up comedy e todos aqueles que têm o riso na profissão, lhes prestam com frequência vassalagem.
Mas o prestígio dos magistrais Python está longe de se esgotar na Europa. Do outro lado do atlântico, gerações de cómicos inspiraram-se e reinventam-se na eterna inspiração das suas obras: Matt Groening, criador da saga dos Simpsons (RTP2); Jerry Seinfeld (SIC Radical); Conan O’Brien (SIC Radical); Matt Stone e Trey Parker, pais da série South Park (SIC Radical), todos eles veneram o legado que nos deixaram.
Todo este burburinho porque John Cleese, Michael Palin, Graham Chapman, Eric Idle e Terry Jones decidiram um dia partir literalmente a louça toda no canal estatal BBC, quando montaram o seu “Circo Voador” que alguns de nós pudemos admirar há muitos, muitos anos atrás na RTP, a horas, claro está, bem proibitivas.
Sem tomar qualquer tipo de precaução e sem guardar a mais mínima distância de segurança, estas soberbas inteligências humorísticas apontaram sobre a conservadora sociedade britânica e dispararam em todos os sentidos. Da igreja à família, da política à justiça, das tradições ao futebol, nada, nada mesmo escapou à sua abordagem cáustica.
Senhores de um humor que ia do mais simples ao cerebral, sempre com uma forte veia intelectual, coroaram-se a eles próprios num pedestal bem oposto ao imediatismo grosseiro de um Benny Hill ou do universalismo actual de um Mister Bean.
Os Monty Python eram muitas vezes incómodos, sádicos, perturbadores e personificaram a verdadeira e última provocação.
O seu legado passou também pelos filmes com clássicos absolutos como “O Sentido da Vida”, a “Vida de Brian” ou “Em busca do Cálice Sagrado”, jóias que não podem faltar na dvdteca ideal de quem ama uma boa gargalhada e os meus exemplares estão sempre em lugar de destaque.
Assim, como podem calcular, a expectativa para o espectáculo de ontem à noite no Centro de Artes de Portalegre, cada vez mais a NOSSA sala, era enorme.
O facto de ter sido adaptado para a nossa língua mãe por Nuno Markl, esse, o que mordeu o cão e um dos adoradores-mor dos génios britânicos descansou-me à partida. O espectáculo trazia no currículo excelentes críticas da sua estada no Casino da capital e da sua digressão nacional e a prova evidente disso mesmo era uma assistência a roçar o pleno se é que não estava mesmo no limite.
Para falar depressa e bem, o show vale cada cêntimo dos 15 euros cobrados. A selecção de sketches é irrepreensível, o ritmo é estonteante e hipnótico, o recurso às aplicações multimédia muito bem encaixado e as interpretações muito próximas da perfeição.
António Feio passa muito bem e brilha no quadro do produtor maniento que detesta a graxa dos argumentistas; Bruno Nogueira, claramente fora do seu registo preferencial é competente qb, sempre em postura low-profile; Jorge Mourato esforça-se para estar ao nível do nome dos colegas e sai-se muito bem, brilhando mesmo no número musical dos operários da construção civil; José Pedro Gomes está ao seu melhor nível e arrasa na velhinha do concurso da “Marretada na cabeça” e no Papa que reclama a “Última Ceia”; mas é Miguel Guilherme, cada vez mais soberbo actor e reafirmando-se como genial comediante que leva os louros da glória. Simplesmente perfeito! Sempre com um feeling, um ritmo, um balanço de quem está como peixe na água, num universo que é também o seu, eleva-se acima de todos e carrega os textos e as interpretações mais exigentes e mais rentáveis como são o comprador do papagaio morto, o Miguel Ângelo gay que insiste em 4 Cristos e dezenas de discípulos na última refeição do Messias, ou o homem que dizia os “k” mas não dizia os “C”, no qual ridiculariza os turistas portugueses num retrato delicioso que o leva à loucura pela sala fora.
“Os melhores sketches dos Monty Python” são perto de duas horas de viagem na montanha russa que é o legado deste grupo inesquecível. Para mim, chegava a cena da piada mortal que de tão boa que era bastava para fazer morrer de rir quem a lesse... De ir à lágrimas…
Mas entre muitos outros momentos, ficaram ainda gravados com chave de ouro, o desabafo dos magistrados travestis ao chegar a casa; a esquadra da polícia em que os agentes só ouviam em timbres diferentes; o agente funerário canibal que propõe ao jovem um assado do corpo da falecida mãe e os fora-da-lei que só agiam dentro da lei.
Certamente, muitos saíram com a sensação de que esperavam terem-se rido mais mas essa possível desilusão só se pode explicar a quem avança com determinadas expectativas para um tipo de humor completamente imprevisível e desvairado.
No cimo do cimo do bolo, dois momentos que foram de absoluta e profunda magia e reparei que em qualquer um deles provavelmente nem me ri mas apenas sorri perante a divinal criatividade subversiva, num sorriso que para mim vale muitas mil gargalhadas que às vezes dou ao desbarato: o regresso do filho do dramaturgo ao lar depois de ter renegado as suas origens e ter ido trabalhar para uma mina; e a cena dos ricaços que fantasiam e mentem sobre a miséria do seu passado, entre flutes de champanhe, cada um tentando ir mais longe que o outro na dureza da sua condição.
Génio absoluto!
E então é assim, meus amigos, se vão na linha dos Malucos do Riso, do Fernando Rocha ou do Camilo, fujam daqui que isto não está para brincadeiras.
Se por outro lado querem assistir ao melhor humor de sempre, numa produção que certamente orgulharia os próprios criadores, não percam este barco que o mais certo é ir ao fundo.
Nota final de agradecimento, com um abraço, para as companhias do serão, cada vez mais próximas e agradáveis. Bem hajam pela vossa amizade e boa disposição.
Apontamento breve mas reconhecido ao bar Tapas, no renovado mercado municipal, elegante e cheio de vida, que conhecemos segundo indicação e deferência do meu amigo Luís Martins da Renault, o decano dos vendedores de automóveis na cidade e o charme em pessoa. Ora aqui está uma bela proposta gastronómica com óptimo ar e decoração, e melhores petiscos por preços nada proibitivos. Um sítio onde se pode estar, comer e conversar como a capital de distrito já merecia há muito. 4 estrelas no guia Michelin-Sabi, com grande margem de progressão. Sorte para a rapaziada jovem que apostou e já ganhou.
Ó pessoal: quando é que há outro?
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