terça-feira, 14 de abril de 2009

No templo sagrado do futebol

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São jogos como este, eliminatórias como esta que devem ser mostradas às pessoas que queiram saber mais sobre a essência mítica, mágica e onírica do futebol.

Quando alguém vos der aquela conversa de “vinte e dois parvos a correr atrás de uma bola”, ou que “isso é só trafulhice”… falem-lhe nisto, falem-lhe em episódios inolvidáveis como este.

Liga dos campeões, o último estágio selectivo antes do Olimpo só ao nível de Cruyffs, Eusébios, Maradonas, Pélés, Platinis e afins.

Chelsea e Liverpool encontraram-se hoje nos quartos-de-final.

O confronto entre dois gigantes ingleses, perfumados e aprimorados pela escola espanhola (Benítez em Anfield Road) e escola portuguesa (Mourinho) e holandesa (Guus Hiddink) em Stamford Bridge.

Os azuis de Londres trazem uma vantagem de dois golos (1-3) da cidade dos Beatles, conquistada a pulso e com muita mestria e rigor depois de estarem a perder.

Os vermelhos entram avassaladores e fazem o 0-2, um num livre genial e o outro num penálti indiscutível. Empatam a eliminatória (3-3) e parecem estar a um golo de passar.

O intervalo e os conselhos de balneário de um dos grandes treinadores da actualidade fazem o Chelsea entrar de rompante e acreditar. Em seis minutos e com seis de diferença, Drogba e o brasileiro Alex concretizam e voltam a garantir a eliminatória. O jogo está empatado 2 a 2 e o conjunto cifra-se num 5 a 3 para os azuis.

Lampard dá então aquela que parece ser a estocada final para o Chelsea e aos 76 minutos parece querer sentenciar o diferendo. 3 a 2 para os da casa. (6-3 agregados)

Mas o futebol tem destas coisas…Lucas remata fora da área, a bola ressalta em Essien e empata a partida para o Liverpool. 3-3. (6-4 no total)

Dois minutos depois, Kuyt entra demoníaco na área azul e vira o marcador para o Liverpool. 3-4. (6-5 nos cômputo dos dois jogos)

Só falta um golo para o impossível. Um golo para o 3-5 e para colocar a eliminatória em 6-6 com vantagem de golos para os de Liverpool.

E quando já toda a gente pensava que era o que ia mesmo acontecer, Drogba insiste junto à linha do Liverpool, serve Lampard na boca da área e este desfere um pontapé indefensável que beija os dois postes da baliza antes de entrar de mansinho, como que marcando o início de um território sagrado e eu digo para comigo: “Foda-se, pá! Que lindo e que sagrado é o futebol! Tanto que nos faz sonhar…”

4-4. Resultado final. O Chelsea passa com uma vitória agregada de 7-5.

E porque gritam e saltam e cantam os maravilhosos supporters ingleses? Porque se abraçam pais e filhos e filhas e netos? Porque se riem assim... com as bocas tão abertas, com as gargantas a não poderem mais de tanto berrar?

Porque ali… meus amigos… não há fome nem doença, não há desemprego nem mortandade, não há prejuízos nem preocupações para além de mais um golo. Ali… estamos entregues à divindade. Ali somos todos filhos do mesmo Deus. E que bom que isso é…


Ps1: Juro-vos que me arrepiei quando vi o holandês Kuyt, depois do seu golo de esperança, a espumar da boca e de alegria, de punhos cerrados e ar de guerreiro, gritando para os adeptos na bancada para sonharem com ele, para jogarem com ele e ajudarem a equipa a ser capaz.

Se eu um dia visse o meu Benfica a voar tão alto…

Perder assim é uma honra!

É por isso que esta Liga é só para alguns…

Ps2: Amanhã… torço pelo Porto. Juro! Quem merece… merece!



4 comentários:

Joaquim Carita disse...

Bora projectar este jogo nos balneários da Luz!...Corrijo:BALDÁRIOS!...melhor dizendo.

Garraio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Garraio disse...

Devias torcer mais vezes pelos bimbos... ;)

Enganado disse...

Só na RTP MEMORIA