Os muitos milhares que ontem quase esgotaram o Pavilhão Atlântico saíram certamente com a clara sensação de que tinham sido testemunhas de uma celebração única e irrepetível, que está muito mais próxima de uma experiência religiosa do que de um mero espectáculo de entretenimento.
A despedida de Leonard Cohen, depois de 3 horas de memorável concerto e após ter regressado pela quarta vez ao palco do alto dos seus 74 anos(!!!) para encores muito aplaudidos foi um momento capaz de enternecer o coração mais insensível. Uns de lágrima no olho, uns de pele de galinha, uns com arrepios na espinha, outros experimentando todas essas sensações (adivinhem quem…), mas todos, todos percebendo a grandiosidade do que tinham vivido.
Com toda a sua banda abraçada de frente para o público, enquanto alguns cantavam em sussurro um belíssimo tema a capella, depois de agradecer a todo o staff, dos técnicos de som aos condutores dos autocarros, dirigiu-se a nós, a quem tratou durante toda a noite como amigos…
Agradeceu a bênção da “recepção tão calorosa e acolhedora num mundo cruel e louco como é o nosso” e disse-nos, com a sua voz apaziguadora, quente e cavernosa, que aquilo a que assistimos foi “apenas um espectáculo e há coisas mais importantes como a família e os amigos” para junto dos quais nos desejava um bom regresso. “Se tiverem que cair… que caíam no lado bom da vida… e nunca se esqueçam de uma coisa muito mais importante: esforcem-se por ser amáveis…”. Nisto uniu as mãos em prece como sinal de agradecimento, ajoelhou-se, levantou-se lentamente, tirou o chapéu, olhou em redor com um sorriso terno e reconhecido, e saiu lentamente do palco, não saltando e dançando em pulinhos graciosos como das outras vezes, mas como se fosse o mais humilde dos servos, encantado por saber que cumpriu a sua missão.
Um rapaz que caminhava para a saída ao meu lado comentou com uma amiga: “só me apetece abraçar e beijar as outras pessoas…”.
Este não foi o concerto promocional de um disco. Esta não é uma tournée pensada para enriquecer. Esta foi antes a forma ideal de celebrar a música, a genial poesia e a arte de um homem cuja carreira e obra são maiores que a vida e enfeitiçaram gerações e gerações de melómanos que com ele aprenderam, riram, choraram e sobretudo viveram ao longo dos tempos. Quantos amantes proibidos em quartos de hotel… quantos beijos de jardim… quantos jantares ao luar… quantas noites de mão dada não terão tido a sua música como fundo.
Leonard Cohen não é um artista qualquer… Arrisco mesmo a dizer que nenhum outro vivo pode aspirar a ter o seu estatuto. Ainda temos o Reed, o Bowie, o Richards mas mesmo esses sabem que este (ele) é território sagrado. A classe, o talento, a inteligência, a sobriedade, a sabedoria e ainda assim, a humildade e a entrega deste ser humano são inexcedíveis. Sabendo sempre qual era o seu caminho, nunca cedendo a exigências, nunca fazendo concessões, traçou um percurso e um perfil ímpares que o colocaram no pedestal que ele nunca quis mas que é hoje seu de pleno direito.
Sempre à margem, sempre um passo à frente, sempre desalinhado e sempre coerente foi mestre e senhor, ídolo para tantas outras das minhas referências, do Nick Cave ao Rufus Wainwright, do Antony à Regina Spektor.
Eu sei que há quem seja contra os discos de tributo mais foi precisamente através de um deles, o “I’m your fan” que muito ouvi por alturas do Liceu, em que os músicos que eu adorava na altura, dos That Petrol Emotion aos House of Love, tocavam temas seus, que eu o conheci. Mergulhei depois no seu trabalho mas foi esse disco, que cheguei a oferecer e mais tarde comprei para mim em cd, que me levou ao memorável concerto de ontem.
Os que já conheciam a tournée através do cd e do dvd “Live in London” que inclusivamente já passou na RTP2 sabiam o que os esperava. A qualidade musical, os arranjos e o nível de execução são primorosos. Os músicos, todos eles (!) são de encantar. Como não levei bloco de notas, escuso-me a detalhes de nomes, mas faço questão de referenciar que a banda era constituída (da direita para a esquerda) por um clarinetista/saxofonista/tocador de harmónica que levantava o pavilhão de cada vez que solava; um espanhol que toca uma espécie de guitarra com uma sonoridade parecida à portuguesa; um guitarrista ultra competente; um baterista sul-americano de grande categoria; um teclista exemplar e com grande swing; um baixista que é director musical e nos coros… a fabulosa Sharon Robinson que é companheira de longa data e co-autora de alguns dos temas do mestre e as Webb SIsters que mais parecem dois anjinhos caídos do céu, de tão lindas que são, deslumbrantes com as suas vozes celestiais. (Para os especialistas… a banda está aqui).
A despedida de Leonard Cohen, depois de 3 horas de memorável concerto e após ter regressado pela quarta vez ao palco do alto dos seus 74 anos(!!!) para encores muito aplaudidos foi um momento capaz de enternecer o coração mais insensível. Uns de lágrima no olho, uns de pele de galinha, uns com arrepios na espinha, outros experimentando todas essas sensações (adivinhem quem…), mas todos, todos percebendo a grandiosidade do que tinham vivido.
Com toda a sua banda abraçada de frente para o público, enquanto alguns cantavam em sussurro um belíssimo tema a capella, depois de agradecer a todo o staff, dos técnicos de som aos condutores dos autocarros, dirigiu-se a nós, a quem tratou durante toda a noite como amigos…
Agradeceu a bênção da “recepção tão calorosa e acolhedora num mundo cruel e louco como é o nosso” e disse-nos, com a sua voz apaziguadora, quente e cavernosa, que aquilo a que assistimos foi “apenas um espectáculo e há coisas mais importantes como a família e os amigos” para junto dos quais nos desejava um bom regresso. “Se tiverem que cair… que caíam no lado bom da vida… e nunca se esqueçam de uma coisa muito mais importante: esforcem-se por ser amáveis…”. Nisto uniu as mãos em prece como sinal de agradecimento, ajoelhou-se, levantou-se lentamente, tirou o chapéu, olhou em redor com um sorriso terno e reconhecido, e saiu lentamente do palco, não saltando e dançando em pulinhos graciosos como das outras vezes, mas como se fosse o mais humilde dos servos, encantado por saber que cumpriu a sua missão.
Um rapaz que caminhava para a saída ao meu lado comentou com uma amiga: “só me apetece abraçar e beijar as outras pessoas…”.
Este não foi o concerto promocional de um disco. Esta não é uma tournée pensada para enriquecer. Esta foi antes a forma ideal de celebrar a música, a genial poesia e a arte de um homem cuja carreira e obra são maiores que a vida e enfeitiçaram gerações e gerações de melómanos que com ele aprenderam, riram, choraram e sobretudo viveram ao longo dos tempos. Quantos amantes proibidos em quartos de hotel… quantos beijos de jardim… quantos jantares ao luar… quantas noites de mão dada não terão tido a sua música como fundo.
Leonard Cohen não é um artista qualquer… Arrisco mesmo a dizer que nenhum outro vivo pode aspirar a ter o seu estatuto. Ainda temos o Reed, o Bowie, o Richards mas mesmo esses sabem que este (ele) é território sagrado. A classe, o talento, a inteligência, a sobriedade, a sabedoria e ainda assim, a humildade e a entrega deste ser humano são inexcedíveis. Sabendo sempre qual era o seu caminho, nunca cedendo a exigências, nunca fazendo concessões, traçou um percurso e um perfil ímpares que o colocaram no pedestal que ele nunca quis mas que é hoje seu de pleno direito.
Sempre à margem, sempre um passo à frente, sempre desalinhado e sempre coerente foi mestre e senhor, ídolo para tantas outras das minhas referências, do Nick Cave ao Rufus Wainwright, do Antony à Regina Spektor.
Eu sei que há quem seja contra os discos de tributo mais foi precisamente através de um deles, o “I’m your fan” que muito ouvi por alturas do Liceu, em que os músicos que eu adorava na altura, dos That Petrol Emotion aos House of Love, tocavam temas seus, que eu o conheci. Mergulhei depois no seu trabalho mas foi esse disco, que cheguei a oferecer e mais tarde comprei para mim em cd, que me levou ao memorável concerto de ontem.
Os que já conheciam a tournée através do cd e do dvd “Live in London” que inclusivamente já passou na RTP2 sabiam o que os esperava. A qualidade musical, os arranjos e o nível de execução são primorosos. Os músicos, todos eles (!) são de encantar. Como não levei bloco de notas, escuso-me a detalhes de nomes, mas faço questão de referenciar que a banda era constituída (da direita para a esquerda) por um clarinetista/saxofonista/tocador de harmónica que levantava o pavilhão de cada vez que solava; um espanhol que toca uma espécie de guitarra com uma sonoridade parecida à portuguesa; um guitarrista ultra competente; um baterista sul-americano de grande categoria; um teclista exemplar e com grande swing; um baixista que é director musical e nos coros… a fabulosa Sharon Robinson que é companheira de longa data e co-autora de alguns dos temas do mestre e as Webb SIsters que mais parecem dois anjinhos caídos do céu, de tão lindas que são, deslumbrantes com as suas vozes celestiais. (Para os especialistas… a banda está aqui).
Ah, meus amigos… Valeu cada um dos 500 quilómetros que percorri! Cada segundo da viagem! Cada cêntimo do bilhete! Não é todos os dias que se pode ter a graça divina de ser testemunha do brilho de uma lenda viva desta dimensão.
O público soube estar e foi merecedor. Guardou respeito, percebeu as deixas e foi notável ao revelar-se conhecedor, como quando o aplaudiu de pé ao cantar em “Tower of song”, “I was born with the gift a golden voice”… A golden talent, diria eu.
Momento alto: quase todos! Os grande êxitos desfilaram na perfeição. Eu encanto-me sempre com o “The Future”, mas o “Tower of Song” só com coro e ao piano, seguido do “Suzanne” foram de deixar qualquer um bêbado de alegria. Adorei as deixas inteligentes e as “buchas” metidas nas músicas para as apropriar ao local: “I didn´t come to Lisbon to fool you”.
Momentos baixos: O som ao início estava estupidamente fraco. A sala era demasiadamente grande. Eu via muito bem e estava bem localizado, mas os desgraçados das últimas filas de trás só devem ter visto pelos ecrãs. Mais valia terem optado por salas mais pequenas, com mais noites, mas… o dinheiro fala mais alto… Eu imagino este espectáculo num Coliseu… num Politeama… numa Aula Magna… num Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre. Ai eu… deve de ser de ir ao céu e ficar por lá.
Um abraço muito grande aos companheiros de jornada, ao meu Bitchi Pescada que os queria a tocar na sala da casinha dele, à Susana Roldão que eu tanto gostei de conhecer e à minha Cris, pela companhia incansável. Ao grande ausente, o meu muito estimado Chico, votos de rápidas melhoras e muita força. Ânimo rapaz! Tu és grande! (Não tanto como o Cohen, mas bastante grande também).
Ao Senhor Cohen… o sábio… o guru… o gentleman… que me perdoe mas tenho de lhe dizer que estava enganado….
Foi muito mais que um concerto…
IT WAS FUCKIN’ MAGICAL!
“THERE IS NO CURE FOR LOVE”
PS: O ambiente era de tal forma especial que não o quis interromper com fotos nem cometer o sacrilégio de fazer vídeos manhosos. Se querem ter ideia do que falo, corram a comprar o dvd e depois digam qualquer coisa… Beijinhos!
PS1: Este post foi escrito durante a viagem a caminho de Pamplona em representação dâ Câmara Municipal de Marvão. Coisas da tecnologia...
2 comentários:
Este sim...é um Senhor!
Concerto magistral, este!
Homens destes já não se fazem!
Magnifico compositor/poeta/intérprete... Uma banda fabulosa que, de tão bem preparada, chega a parecer fácil...
Uma humildade e charme que, nos dias de hoje, é caso raro!
Companhia ao melhor nivel...
Uma jornada de antologia!
Bem-Hajas!
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