O meu irmão passou-se quando, ao folhear a revista do Correio da Manhã de domingo, deu com esta página. Tentou ligar-me, mandou-me um sms e depois enviou-me a cena digitalizada por e-mail. No texto dizia: “Meu, estava a ler a revista e até me passei quando vi esta foto. Uma cena do tipo Twilight Zone se me queres entender. A mãe já confirmou que o Pai nunca esteve na Guiné mas.... Abraço”.
Eu vi a foto e depois foi a minha vez de me passar. Para nós é inédita e o instinto confirmou-me de imediato as suspeições do Júnior. Não restavam dúvidas. Aquele era, the one and only, João Sobreiro.
Mas se esteve em Moçambique e a foto é da Guiné… como explicar? Será que havia aqui um mistério por detrás? Será que se enganou na guerra como o Solnado? Ou terá sido na foto?
Meti a funcionar os meus dotes de detective e enviei um e-mail para a redacção para que me dessem o contacto do autor. No dia seguinte tive a resposta e nessa mesma tarde falei com o senhor. Diz que não, que é um tal Teixeira “ e desculpe lá e mais não sei quê…”.
Pois para mim, até me podiam dizer que o gajo na foto é o Barak Obama porque eu tenho a CERTEZA ABSOLUTA que o homem da foto é o meu pai. E não me restam qualquer tipo de dúvidas. É impossível ter existido alguém assim tão parecido. Não falha nadinha! Conheço tudo aquilo de memória, os jeitos, os tiques, as poses, a aura. Não me amolem!
Se a foto fosse numa missa… ou numa formatura… ou numa outra merda qualquer ainda vá que não vá. Agora: com aquela cara, aquele bigode, aqueles Raybantes verdes que eram imagem de marca, com um lenço de velha na cabeça, a tocar guitarra (a mão, os dedos, os acordes), numa cena de alta paródia e ainda por cima.. com uma garrafa de Dimple de 15 anos aos pés?!?!?! Impossível falhar! (Só falta mesmo o cigarro preso nas cordas do braço da viola...)
Mesmo que me digam que não, cada vez que olho para ela digo sempre que sim. É um flash!
Andava eu envolvido nestas andanças quando me cai na caixa do correio um e-mail com um comentário a um dos artigos deste blogue. Dizia (na íntegra, com pontuações, tamanhos de letra e tudo):
jane deixou um novo comentário na sua mensagem "A tua Guerra (como nunca a vimos)":
Andava á procura de imagens de Moçambique quando vejo uma fotografia .Duas equipes de futebol e um árbirto, eu faço parte da equipe vestida de negro.depois chamou-me a atenção o nome do Autor do blogue,Pedro Sobreiro,disse para comigo,então mas este é o meu GRANDE AMIGO JOÃO SOBREIRO o Homem que sempre nos trazia uma certa alegria mais a sua viola.Tanta coisa passamos:da guerra não vale a pena falar pois a 2357 passou muito mas só quem o sentiu na pele é que sabe.mas ainda lembro com muita saudade uma coluna que fizemos a Tete estava lá o conjunto Oliveira Muge e o Amigo João já com umas cervejitas a gritar para eles (ó muge toca a dos elefantes )aquele pessoal todo a olhar, passado um dia ou dois tambem havia lá um baileco e no intervalo os musicos saiem do palco e o JOÃO não está com meias medidas salta para o palco senta-se á bateria e foi fantástico toda a gente o aplaudiu.Haveria muitas coisas para contar,umas alegres umas menos alegres e muitas muito triztes,mas a verdade é que sempre exitiu muita amizade entre todos que hoje se recorda com muita saudade.Mas foi com lágrimas nos olhos que no fim deste blog li :se o JOÃO estivesse presente:Será que o GRANDE em todos os aspectos JOÃO SOBREIRO já faleceu? Penso que Pedro Sobreiro seja filho, se é peço-lhe que sinta sempre muito orgulho no seu PAI. Joaquim Eliseu condutor da C.C. 2357.--j_eliseuu@hotmail.com
Respondi-lhe na volta. No dia. Na hora. Convidei-o para um café, um copo, um almoço… um pretexto qualquer que me ajudasse a saciar esta saudade vampírica de querer saber mais uma, de querer saber todas as histórias perdidas como se pudesse assim… tê-lo mais perto de mim.
Meia volta, volta e meia chegam episódios, amigos perdidos no tempo, recordações dele. Todas elas neste tom, com este calor humano, com este respeito e esta falta e eu, ainda hoje me pergunto… que homem foi este que sendo tão simples era tão grande ao ponto de tocar desta forma, para sempre, todos aqueles que tiveram a sorte de o conhecer?
Com um sentido de humor único e irrepetível, timing certeiro, piada inteligente e na hora, contagiava de boa disposição até o ar baço do fumo do cigarro que o rodeava. Ninguém podia estar triste à sua volta. Era o músico, o bom vivant, o sempre popular, era o companheirão, o Amigo do Amigo, o que nunca deixava ninguém para trás. E para além destas… tantas outras facetas da sua maneira de ser que só quem estava mais perto as pôde desfrutar. O meigo, o atencioso, o solidário, o leitor compulsivo, o amante das palavras cruzadas, o que se deixava dormir a rir (a ouvir os discos pedidos da Rádio Clube de Monsanto)…
Aquilo que é um lugar comum nas campas dos cemitérios deste país é mesmo verdade… são 15 anos de saudades por ser essa a unidade de medida que melhor se aplica a esta verdade. Estes anos não se medem em tempo, medem-se em saudades. Saudades sem lamechices, mas gravadas num suspiro que nos galga o peito de cada vez que percebemos que já não está cá.
Eu quero lá saber se o gajo do jornal me diz que não é ele. Para mim, é. E foi tão bom revê-lo… nem que fosse numa miragem…
Abração, meu querido!
PS: Há dias um outro amigo, com quem troquei e-mails, teve a cortesia de me enviar uma cópia do livro de caricaturas da sua turma da Escola Industrial. A imagem e os versos falam por si...
Respondi-lhe na volta. No dia. Na hora. Convidei-o para um café, um copo, um almoço… um pretexto qualquer que me ajudasse a saciar esta saudade vampírica de querer saber mais uma, de querer saber todas as histórias perdidas como se pudesse assim… tê-lo mais perto de mim.
Meia volta, volta e meia chegam episódios, amigos perdidos no tempo, recordações dele. Todas elas neste tom, com este calor humano, com este respeito e esta falta e eu, ainda hoje me pergunto… que homem foi este que sendo tão simples era tão grande ao ponto de tocar desta forma, para sempre, todos aqueles que tiveram a sorte de o conhecer?
Com um sentido de humor único e irrepetível, timing certeiro, piada inteligente e na hora, contagiava de boa disposição até o ar baço do fumo do cigarro que o rodeava. Ninguém podia estar triste à sua volta. Era o músico, o bom vivant, o sempre popular, era o companheirão, o Amigo do Amigo, o que nunca deixava ninguém para trás. E para além destas… tantas outras facetas da sua maneira de ser que só quem estava mais perto as pôde desfrutar. O meigo, o atencioso, o solidário, o leitor compulsivo, o amante das palavras cruzadas, o que se deixava dormir a rir (a ouvir os discos pedidos da Rádio Clube de Monsanto)…
Aquilo que é um lugar comum nas campas dos cemitérios deste país é mesmo verdade… são 15 anos de saudades por ser essa a unidade de medida que melhor se aplica a esta verdade. Estes anos não se medem em tempo, medem-se em saudades. Saudades sem lamechices, mas gravadas num suspiro que nos galga o peito de cada vez que percebemos que já não está cá.
Eu quero lá saber se o gajo do jornal me diz que não é ele. Para mim, é. E foi tão bom revê-lo… nem que fosse numa miragem…
Abração, meu querido!
PS: Há dias um outro amigo, com quem troquei e-mails, teve a cortesia de me enviar uma cópia do livro de caricaturas da sua turma da Escola Industrial. A imagem e os versos falam por si...
3 comentários:
E pronto !!! Lá estou eu outra vez de lagriminha no olho, revivendo os momentos agradabilissimos passados com o João e, ao ler estas palavras, não me é possivel reter buscas na memória carregadas de emoções ... Por ele, por ti, pelo teu sentir em relação ao teu pai, pleas comparações que faço inevitáveis ... enfim !!! Abraço do tamanho do Mundo daquele que cada vez mais tem necessidade de combinar contigo um jantar ou um copo para falarmos um pouco!!! Faz-me o favõr de seres feliz, que bem mereces !! Tu e os teus, claro !!!
Chamei a minha Mãe, que quando viu a foto exclamou: "O João Sobreiro".
Convicta, tal como Eu:
Abraço Forte
Ele há coisas...
Bjs Gui
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