quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Foliões... à séria!

Gay Parade da esquerda para a direita: Fabrício Bonitão (Bonito), Vitorina da Ramila (Ramos), Madama Kátia Vanessa (Sobreiro), Orlandera (Hernâni), Prima Benvinda (Benvindo), Comadre Machadona (Machado); Zeca Mercury (Zeca); Luísa Barradas dos Outeiros (Barradas)


Sentar-me no meu sofá.


Ficar tranquilo a admirar o lume.


Poder estar junto das minhas pequenas.


Ter uma refeição condigna e em paz.


Descansar… finalmente, ao fim de tantos dias.


Quando me perguntam como foi o Carnaval, a palavra que me surge como mais adequada é… visceral. É isso. Eu e a minha rapaziada, o pessoal do meu grupo, levamos o Carnaval muito a sério. Fazemos diversas reuniões de preparação e debate nos meses anteriores. Gastamos fortunas em roupas, adereços e costureiras. Fazemos pesquisa e reunimos documentação. Chegada à altura, assentamos praça na Ramila e transformamos a casa do nosso Primeiro Ramos numa verdadeira escola de samba alternativa.

Pode haver quem brinque ao Carnaval e quem brinque com o Carnaval. Nós não. E quando saímos para a rua, deixamos a pele na calçada, damos o litro, entramos numa desbunda em piloto automático, numa representação em full time. Nestes dias, quase deixamos as casas e as famílias, vivemos como uma alcateia, entramos em auto-gestão.

Subversão. E perfomances viscerais ao estilo da Fura dels Baus. É a varrer!

E perguntam-me assoreganhados nas Finanças: “então, menino? Estás mais descansadinho?”. E eu apetece-me dizer, “é mais doído…”. Tenho as costas rebentadas dos transes do druída ao convocar os deuses. Não sinto os pés das chinelas de “salto alto de palmo e meio” da Drag Queen. Fiquei quase sem voz depois do enterro da sardinha. Foi muito frio, muita chuva, muito esticar a corda mas tem de ser mesmo assim senão a coisa não vai. De mãos nos bolsos não dá… E ainda bem que há gente desta como a minha: boa, valente, abnegada, disposta a divertir e divertir-se sem pedir nada em troca. Sem fazer concessões.

E é cruel ter de ir trabalhar na manhã seguinte. Porra, pá! Nós merecíamos uma quinzena num Spa com massagens de manhã à noite, a comer só coisinhas boas, a ser tratados como príncipes. Mas não. A vida de um pobre. Mas não é lá por isso que vamos baixar os braços.

O meu trabalho agora é recompilar os arquivos. Arrumar fotos e vídeos. Catalogar e preparar para publicação. Para memória futura e para o arquivo pessoal de cada um dos membros.

Porque mesmo que ninguém note, comovo-me sempre de cada vez que um dos meus me diz que esteve à noite com as filhas ou os filhos a rever o dvd do saudoso Circo Cardinas. Se assim é… é porque valeu a pena.

Quando íamos no alto da carrinha de caixa aberta em direcção ao primeiro desfile, eu de druida louco com as barbas ao vento, ia pensando nisso: este é o maior legado que podemos deixar aos nossos filhos. A vida é curta demais para ser levada a sério. Rir… é mesmo o melhor remédio.

Peço desculpa pela falta de novidades nos últimos dias mas não deu, mesmo. As fotos e os vídeos não tardam.

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