quarta-feira, 2 de junho de 2010

Nós fomos (ao Rock in Rio)! (e adorámos!)


Junte-se o sábio provérbio “o prometido é devido” e a expressão popular “o que tem de ser tem muita força” e facilmente se compreende como é que eu dei uma pequena fortuna pelos bilhetes mais caros que já comprei para realizar um sonho da vida da minha filha até ao momento.

Quando soube que a Miley Cyrus, a cachopinha que interpreta o papel de Hannah Montana na mundialmente popular série do Disney Channel, vinha a Portugal, a sua reacção imediata foi gritar com histeria e dizer, assim que recuperou o fôlego, “pai, eu TENHO de ir”. E eu sabia que este “TENHO” não era de birra ou de mimo mas antes a constatação de uma inevitabilidade. Eu admito que haja crianças que sejam tão fãs da Hannah Montana quanto a minha filha. Mais fãs do que ela já acho difícil. É que ela não falha nada! Vê e revê os episódios até à exaustão (sabe muitas das falas de cor e salteado), tem as músicas na ponta da língua (isto, claro está, num inglês técnico muito parecido ao do Sócrates), já viu o filme oficial, anda a ler a biografia (escrita aos 17 anos?!?!?) best seller do New York Times, não falha uma revista mensal que colecciona com fervor religioso, tem um poster 3d gigante no quarto e isto para não falar numa lista impressionante de merchandising onde se inclui por exemplo, o vestido oficial, as botas, a peruca (!!!), um relógio, malas, esferográficas… enfim… tanta coisa que dava para meter uma tabuleta de madeira à minha porta a dizer: “Visite o Museu não oficial da Hannah Montana em Portugal”. É certo que sou responsável pela aquisição de 90% desse material e esse é mais um dos motivos pelos quais não podíamos falhar ao concerto.

A vedeta americana era pois O motivo da expedição. Se fosse só ela a fazer playback em cima de um estrado iríamos na mesma pelo que tudo o resto vinha por acréscimo. Ditou a logística familiar que tivéssemos que deixar em terra a progenitora e a herdeira mais nova que ainda não puxa para estas coisas. Lá virá o tempo. Assim nos fizemos à estrada. As portas da dita cidade do rock abriam às 16 horas e eu fiz quase tudo bem para lá estar a essa hora mas as filas para comprar bilhetes para o metro recordaram-me que a partir dali não ia ser fácil.

A cidade do Rock, aterrada no território gitano da Bela Vista (onde os antigos dealers da Curraleira vivem felizes nas habitações sociais que todos nós oferecemos a quem, recorde-se, não paga um tostão de impostos) é um assombro megalómano. Depois de passarmos 3 barreiras de segurança, de sermos revistados e bombardeados com folhetos de toda a espécie passamos os portões e descobrimos um mundo onde tudo é grande, gigante, imenso. Coisa de brasileiros mesmo. Aquilo é uma espécie de paraíso da Igreja Universal só que numa versão Rock’n’Roll.


"Ó pai... as filas começam já aqui nos bilhetes do Metro? Medo..."


"Então mas esta coisa não pára?"




Assim que meti a vista em cima desta geringonça comecei logo a gritar: "INVENÇÃO DO SÉCULO! INVENÇÃO DO SÉCULO!" Uma máquina de imperial móvel ao estilo mochila? Com direito a geladinha com gás e copos incluídos? Disse logo para o jovem: "Quanto é que queres por uma?". "Dois euros". "Não tótó, pela máquina!". "Ui... isso é muito mais... 2 mil não chegam...". "2 mil? Então deixa-te estar. Não te incomodes. Dá uma pequenina e vai-te arrecadar à sombra que o sol está quente..."


As diversões são mais que muitas e há-as para todos os gostos. Não falta uma montanha russa, um downloader ao estilo elevador fantasma, uma roda gigante e mil uma mais atracções que polvilham o espaço todo e até poderiam ser uma proposta interessante se não fosse a fila pirilau de centenas (milhares) de cabeças que antecede toda e cada uma delas. Os grandes tubarões do consumo do nosso tempo, sejam eles do ramo bancário (Millenium BCP), das telecomunicações (Vodafone, Yorn), da alimentação (KFC, Pizzas), das bebidas (Pepsi, Licor Beirão) ou comunicação (RFM, Diário de notícias), também marcaram presença em stands gigantes que distribuíam brindes caso os interessados estivessem dispostos a digladiar-se por uma bagatela que tanto podia ser um anel que brilhava no escuro, uma guitarra insuflável, uma peruca rosa-choque ou um sofá insuflável que levou as gentes à loucura e as obrigou a horas à esturra para lhe poder meter as mãos em cima e chamar-lhe seu. Uma volta de reconhecimento pelo recinto foi mais do que suficiente para constatar a extensão interminável das “bichas” e levar-me a explicar à minha pequena que o melhor era “tirar o cavalinho da chuva”. “Viemos para ver concertos e concertos vamos ver. Vamos preocupar-nos em conseguir o melhor lugar possível para que tu possas ter uma boa perspectiva do palco e ficamos “contentinhos da Silva”. Se o que queres é passar horas em filas não era preciso termos feito tantos quilómetros. Íamos passar a tarde a um banco do hospital ou para um Centro de Emprego e já estava”. Acho que os argumentos foram suficientes porque ela concordou de imediato sem, pasmem-se, ripostar.
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25 euros por uma t-shirt? Na Feira custam 25 cêntimos



Pois... está tudo muito bem mas quando falamos na montanha-russa dá nisto... Pena!



O palco principal fica no fundo de um vale, com duas encostas íngremes de cada lado e realmente não pode haver melhor local para se fazer um concerto. Para ser ideal só falta mesmo o ponto de água nas proximidades mas isso era ter o próprio paraíso na terra. Conseguir um ponto com visibilidade revelou-se ainda assim tarefa complicada. Era um dia para as crianças, que são pequeninas, mas as crianças são acompanhadas por adultos e aí a coisa complica. Se pensarmos que muitos deles têm o hábito de as meter às cavalitas para ver melhor, cedo descobrimos que temos um problema. Mas eu, que modéstia aparte não sou propriamente novato na coisa, percebi que as grades que protegiam as câmaras da SIC eram o spot ideal. Estavam a uns escassos 150 metros do palco, davam a possibilidade de a sentar lá para ver mesmo tudo (ficava mais alta que eu) e ainda por cima serviam de suporte para as costas e protecção da multidão em caso de algum imprevisto que temos sempre de contar com isso. Imaginem o que é aquela turba a mover-se em caso de incêndio ou acidente… Medo!

Depois de identificado o sítio e uma nesgazinha disponível, fui-me chegando, chegando, como quem não quer a coisa e pimba! Já está! Maravilha! Melhor era impossível. Depois foi só explicar à minha filha a lógica das necessidades da vida em festivais. Quem muito come muito bebe, quem muito bebe muito mija (eu disse urina mas mija fica mais engraçado) e quem muito mija não só não pára quieto como perde os espectáculos, o lugarinho bom e ainda por cima se pode perder dos pais (em criança) ou dos amigos (se for adolescente e estiver bêbado). A cachopa não passou fome, nem sede, nem fez nas calças mas basicamente aprendeu que concerto é também dureza.






Os D’zrt abriram as hostilidades com estrondo e bem, digo eu. São jovens, são bonitos, talentosos, cantam bem, dançam melhor, têm uma grande banda (monstruosos baixista, guitarrista e baterista), estão rodados e não dão hipótese. Aquele Angélico então é um escândalo. Aquele homem é uma ofensa a quem se preza e esforça por ter um físico em forma e sem gorduras. O jovem parece que foi esculpido pelo próprio criador… que inveja! E depois é mestiço, estava quase nú com umas asinhas de anjo nas costas, sempre a insinuar-se às cachopinhas… enfim… uma lascívia! Uma pouca-vergonha! Um escândalo! Fartei-me de assobiar mas quando percebi que era só eu… calei-me. Os D’zrt brilharam e mereceram a ovação.






Entrementes tínhamos de ir dando ao dente que a bucha aviada pela mãe veio mesmo a calhar e a jornada ia ser longa

Vocês nem imaginam o sucesso que estas botas fizeram. Quantas pessoas pararam só para lhes tirar uma foto... Realmente, se houvesse o número 44... até eu era gajo para ir montando numas destas prás Finanças. Classe!


A Amy MacDonald é lindíssima e faz uma folk actual fresca e pop que tem conquistado tops por toda a Europa mas se me perguntassem à partida, diria que tinha sido um erro de casting, que não fazia sentido surgir num cartaz de estrelas teenager produzidas pela e para a televisão. Enganei-me e apercebi-me disso quando vi os paizinhos todos a bailar e a cantar ao ritmo dos seus últimos hits radiofónicos. A Roberta Medina, para além de gatchinha sorridêntchi é muito sabida e enfiou ali uma bucha muito bem metida para calar a boquinha aos papás e mamãs. Espertalhona… Tirando os êxitos imediatos, aquilo é música que não aquece nem arrefece sobretudo num festival daquele género onde a malta quer é pedal, gritaria e maluqueira. Devo dizer-vos que a mim me agarrou pelos tintins quando sozinha em palco, se atirou a uma belíssima cover de “Born to run”, o épico de mestre Springsteen que ali conheceu uma versão em “flesh and bone” com sotaque das ilhas. Viu-se logo que aquela já lhe saiu milhares de vezes dos dedinhos e da garganta, primeiro no quartinho de adolescente e depois nos pubs da terrinha e arredores. She meant every single word and chord e isso foi, de longe, o ponto alto da sua actuação para mim.






Os McFly foram a grande surpresa da noite e isto a partir do preciso momento em que “voaram” para cima do palco e conseguiram dominar todas as atenções. Apesar de serem muito jovens são já bastante experientes e denotaram uma enorme vivacidade em palco que não deixou ninguém indiferente. O seu som é uma espécie de “Teenage Punk Pop” situado algures entre os Green Day e os Take That (aprimorados com harmonias vocais e melodias da escola Beatles) que deve tanto ao rock mais melódico e speedado como ao conceito das boys band. São todos muito bem apessoados, carinhas larocas, roupinhas da moda mas isso não quer dizer que sejam só bonecos e não cantem muito bem e sejam exímios executantes. É certo que a sua música tem tanto de orelhuda como de inócua, mas ali também ninguém esperava uma banda que quisesse salvar o mundo. É pop “pastilha elástica” mas cumpriu o dever com distinção. Como se não fosse suficiente já me terem convencido, ainda tiveram a cortesia de tocarem uma eficiente cover (mais uma… cota!) dos meus hinos favoritos de sempre… “Gotta fight for your right (to party!)” dos Beastie Boys, que é como quem diz “se queres curtir tens de bater pé e lutar por tudo aquilo a que tens direito”. Ora bem! É isso aí!






Os momentos que antecederam a entrada em palco da cabeça de cartaz foram de histeria total. Cada vez que entrava um roadie e se movia no escuro, os gritos eram tantos que mais parecia que estava no Shea Stadium em plena Beatlemania. Fartei-me de explicar à minha filha que não era a Hannah Montana que ia ver. Disse-lhe que a miúda tinha crescido… que estava farta da série e da personagem… que queria ir à vida dela… A minha dizia-me que sim… que sabia… que não havia problema… que ela adorava a Miley Cyrus e sabia que estava diferente.

Diferente sabíamos nos mas tããão diferente… acho que ninguém esperava. Entra-me aquele furacão pelo palco adentro e não deve ter havido um único paizinho que não tenha ficado de boca aberta. A minha disse-me (diversas vezes) “ó pai, fecha a boca que entra mosca”. Um body verde do mais justo que pode haver (mais explícito só se viesse toda nuazinha), parte de trás à meia canela a deixar ver metade das bochechas do rabo… Ai eu… Se a cachopa tem 17 anos, valha-me Deus!!!! Eu virei-me para uns pais que estavam ao meu lado, também eles à beira do AVC e disse-lhes: “a minha tem por hábito querer vestir-se como ela. Se continuar com a mania… acho que vamos ter problemas em casa…”. E não era bem só a fatioca… Era a pose provocante, os olhares, os trejeitos, as insinuações para os bailarinos e os músicos. E as pernas… as pernasssss… pernas até ao pescoço. Eu sei… é criminoso…

Quanto à actuação foi aquilo que eu e acho que toda a gente esperava: irrepreensível, ultra-profissional e só ao nível de uma jovem Madonna, de alguém que foi treinada desde criança-prodígio para um dia se sentar no trono de rainha da pop. Para mim merece-o muito mais que a outra que já está velha e cheia de peles, vá-se lá amolar!

Uma banda do melhor que pode haver, um corpo de baile que funcionava na perfeição, um aproveitamento genial do mega ecrã que servia de cenário com constante passagem de imagens que “ilustravam” cada tema e depois… uma grande voz, uma presença carismática que encheu todo palco, uma colecção de hits de primeira água… tudo do bom e do melhor.

Foi 1 hora e tal de delírio total que a todos soube a pouco. A minha ainda fez beicinho… “já acaboooouuuu…oooohhhhh”. Ainda bem que não chorou. É que eu ia atrás. Já tinha tantas saudades da piquena…

Ponto alto in my opinion: mais uma cover, tinha de ser. Outra grande malha: “I love Rock’n’Roll” da Suzy 4. Grande escolha! Tudo a ver com o novo fôlego da sua carreira. Hannah Montana?!?!? Mas qual Hannah Montana?!?!? Myley Cyrus, pá! Sou fã!





E prontos, como um fogo de artifício fica sempre bem nestes ajuntamentos, lá apareceu o Ti João Esteves para largar umas granadas de luzes que a malta curte é festa. Quando a mole humana se começou a mover em direcção à saída é que eu me apercebi verdadeiramente da quantidade de pessoas que ali havia. Diz que quase 90.000!!! Nunca pensei que houvesse tanta gente no mundo… Parecia uma cena do filme “Marabunta”, aquele o das formigas. Que coisa! Foge!

Agora estão a ver o que é aquela massa de gente a querer entrar para um táxi ou para o buraquinho do Metro. Giro, não é? A minha só reclamava e eu respondia-lhe: “Ai queres concertos? Isto é dureza, filha. Faz parte da coisa. Tens de sofrer também. Conforto é em casa, no sofá!”.

Quando já íamos no carro a caminho de casa, deixou-se dormir a cantarolar uma qualquer das que tinha ouvido. Acho que ia feliz.

Achando um roubo as t-shirts oficiais a 25 euros que diziam “EU FUI”, aproveito para me desforrar aqui…

“NÓS FOMOS!” e adorámos!
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1 comentário:

Jota disse...

Quer então dizer que foi uma tarde em cheio!! Para ti e para a Leonor.
Tenho visitado o teu blog com bastante frequência, mas ainda não tinha tido o prazer de "postar" aqui um "comment" (ai estes estrangeirismos!!!)
Parabéns, grande Pedro!... e parece-me que aquela mochila merece um lugar no "ranking" (ooops, lá se me escapou mais um) das melhores invenções do século.
Abraço