segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Movimento Tio Sabi: Tira-me a porra da máquina daqui!

Acho que já ando com saudades da vida política. Sempre gostei de desafios e hoje não tenho muitas causas pelas quais lutar, o que para um gajo que sempre gostou de uma boa discussão, não daquelas de gritos e cair para o lado mas daquelas que nos fazem crescer e aprender algumas coisas, é terrível.

De forma que hoje estive cá a pensar e lembrei-me de fundar uma causa, uma liga, uma associação, uma cena ideológica pela qual lutar e nesse instante nasceu a Fundação (não porque tenha estatutos mas porque foi de facto uma cena fundada) “Tio Sabi… Tira-me a porra da máquina daqui!”
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E qual é o objectivo da coisa? Perguntam vocês, em coro.

Bem, o objectivo é criar um movimento contra as máquinas mas não todas as máquinas porque máquinas há que são úteis e dão alegria às nossas vidas.

A ideia bateu-me quando me lembrei, num flash… dos sinaleiros. Os sinaleiros…

Os sinaleiros eram homens de nível. Para começar, tinham um bom gosto tremendo. Andar de capacete e luvas brancas, mesmo no pino do Verão, não é para todo o boneco que quer. É preciso ter nível.

O sinaleiro mantinha a calma mesmo no meio da maior confusão. Nunca perdia o gesto e a atitude, a sinalética de comando e o rigor, o que é absolutamente notável! O poder destes homens… em pleno coração de uma cidade qualquer… manadas de viaturas à sua frente a entupirem os cruzamentos nevrálgicos e eles… impávidos e serenos… a comandarem os carros como se fossem bestas, encaminhando-os ao seu destino, desanuviando as artérias e restabelecendo a normalidade. Que saudades dos sinaleiros. Se tivessem bigodes, então, eram dignos de serem beatificados, quanto mais…

Quando era pequenote, via o sinaleiro em Portalegre e Castelo Branco e sonhava, do banco de trás do Renault 5, no dia em que eu próprio envergaria a farda. O sonho de infância foi brutalmente trucidado por quê? Pelo semáforo… essa máquina diabólica que com recurso a luzinhas irritantes, 3 apenas, nos roubou de uma assentada essa figura mítica do nosso imaginário infantil. Foram-se os sinaleiros e nasceu assim um grito de revolta que agora ganhou vida neste novo movimento: “Movimento Tio Sabi… Tira-me a porra da máquina daqui!”

Nem todas as máquinas serão visadas. As máquinas que são nossas amigas, poderão e deverão continuar a coabitar pacificamente com os membros do movimento, sem qualquer espécie de divisão.

E que máquinas são essas? Todas as máquinas que proporcionam prazer e não enviam seres humanos para o desemprego. Exemplos:

- a televisão,


- o computador,


- a máquina de imperial,


- a calculadora (até à tabuada do 5 toda a gente chega…),


- a máquina do café,


- a torradeira,


- o frigorífico


- o microondas… bem… na cozinha é quase tudo!


- o telemóvel,


- o automóvel,


- o relógio,


- os comandos electrónicos (tv, portões),


- a máquina zero,


- as depiladoras,


- o rádio,


- a máquina de projectar filmes,


- a Monica Belucci (granda máquina!),


- as flippers,


- as máquinas de enrolar cigarros,


- o gira-discos…

Há milhares e milhares de máquinas amigas. Essas estão de fora… Nada contra!

Já os vibradores são verdadeiros alvos a abater e não vamos entrar aqui em miudezas… Acho que todo o homem percebe…

Outras máquinas que serão alvo da ira deste movimento são as máquinas de cobrança das portagens. Só de uma assentada desempregaram 900 homens e mulheres. É uma pena e eu odeio a maquineta aquela. A gente chega, olha para nós, abre a boca metálica, engole o cartão, cospe o recibo… e prontos. Nem ai, nem ui. Bem diferente de quando era gente de verdade:


Portageiro - “Então Sr. Sobreiro… Outro joguinho do Benfica na Luz na companhia de seu santo sogro, cunhado e demais amigos?”,


Pedro - “É verdade, meu caro. Tristezas não pagam dívidas, só se vive uma vez e há que saber desfrutar destes momentos bons que a vida nos proporciona.”


- “E o Sr. a conduzir outra vez? Realmente… tem um coração de ouro… enganam-no sempre! Eu acho que o Sr. é tão bom que se deixa enganar de propósito só para os ver felizes.”


- “Eh, eh… você… já me conhece bem…”


-“Mas a estas horas… de almoço… passarão certamente em Setúbal para bater o peixinho fresco grelhado junto ao Sado, na esplanada do Âncora Azul, sob aquele sol dourado, com Tróia ao fundo… Ele há gente com sorte…”


- “Só isso vale a jornada, meu amigo… Sabe como é… Quando dali saímos… já temos o dia e o jogo ganho!”


-“Umas branquinhas geladas, um licorzinho de lagarto para desmoer oferecido pelo dono… Qualidade! E ao chegar ao viaduto… Rulotes com eles! O coirato e as fresquinhas tamanho Z que se cuidem… Eh, eh!”


- “Você… sabe-a toda. Lá por casa, tudo em ordem? Olhe, dê um abraço a todos.”


- “Obrigado, Sr. Sobreiro… homem bom! Façam uma boa viagem e que Deus vos acompanhe. E… não levantem muito o som do rádio que me parece que o paizinho já vai a dormitar…”


Nisto… é de arrancar que a fila a apitar atrás de nós já chegava quase a Estremoz….


Estão a ver a diferença?

Não tem nada a ver! Certo?

Acções futuras da Causa “Movimento Tio Sabi… Tira-me a porra da máquina daqui!”:

1) Angariar sócios. Para se ser, os leitores devem apenas imprimir o símbolo da causa em duplicado e colar um na lapela do casaco e outro no para-brisas do carro;


2) Promover acções de guerrilha destinadas a exterminar as máquinas más do tipo pintar as luzes dos semáforos todas de vermelho para que ninguém possa circular. Pintar todas de verde não porque isso dá barraca;


3) Fazer uma causa no Facebook;


4) Montar uma quermesse na rotunda da Portagem nos domingos de feira de antiguidades;


5) Fazer bolos caseiros tipo cavacas;


6) Vender rosas artificiais nos dias de tourada em Santo António;


7) Organizar noites de fados em que sou o único a cantar e canto sempre os dois fados que sei mais ou menos (o do Drógado e o do Sobreiro);


8) Fazer uma rifa em que sai um galo que adivinha o tempo (outra máquina boa!);


9) Sensibilizar as juntas para fazerem matanças de cangurus em vez de matanças de porcos porque estas já estão muito vistas;


10) Passar tardes a conversar nos ferros em frente à Pastelaria São Marcos porque as pessoas hoje não convivem.


Tenho dito

O fundador

Sabi

5 comentários:

Fernando disse...

Que grande manifesto fundador do "Movimento Tio Sabi: Tira-me a porra da máquina daqui"...

Como sou a favor do pleno emprego, subscrevo inteiramente o manifesto. Esclareço que a maioria dos portageiros ainda não perdeu o emprego. Estão é fechados para que ninguém os veja e cometa a "imprudência" de lhes perguntar alguma coisa. Enfim, novas técnicas de assédio moral.

Um abraço,

Helena Barreta disse...

Graças a si,as coisas que eu recordo aqui. Ainda sou do tempo de ver o sinaleiro no largo do plátano, aquando da nossa chegada a Portalegre.

Por falar em plátano, ainda existe? É que esta história de ICs e IPs e auto-estradas, faz-me desviar a rota e agora passo por fora de Portalegre.

Catarina disse...

Pode ser um autocolante no vidro traseiro do carro? É que no meu carro tinha lá um da câmara e entretanto queimou-se do sol e tive que o mandar fora, agora tenho lá as marcas da cola e dava-me imenso jeito um autocolante giro para lá por

mfcferro disse...

Quando vir dez carros em Santo Antonio com o Simbolo do movimento, tambem ponho um no meu carro.
Força

Pedro Sobreiro (Tio Sabi) disse...

Cara Helena,

O plátano ainda existe. Muito velhinho e com dezenas de ferros estrategicamente colocados para servirem de bengala, insiste em resistir. Continua de pé mas está triste. Ele sabe bem que o Rossio há muito deixou de ser o centro da cidade. Nestes tempos em que a Rua do Comércio só sobrevive à custa de muitos cuidados paliativos e em que apenas a Loja do Chinês anima o que foi um dia o coração da nossa capital de distrito, o plátano está só. Hoje as pessoas já por ali pouco passam. Entram e saem pela zona industrial, abastecem-se nas grande superfícies onde tudo encontram e não querem mais saber dessa Portalegre antiga que é cada vez mais, apenas um lugar na memória.

Debaixo do plátano já pouco se namora, pouco se conspira, pouco se conversa e pouco se vive.

O plátano de hoje é um gigante bom adormecido que sonha com dias que já não voltam.

Quanto aos amigos Fernando, Catarina e Ferro, agradeço a força mas lamento informar que vão ter de aguardar mais algum tempo pelos vossos autocolantes. O Sr. da gráfica disse-me que só dava a conta ligar a máquina para fazer pelo menos 10. Temos que aguardar por mais 7 convivas…

No entanto, a parte dos donativos já está disponível pelo que podem desde já enviar o vosso contributo para umas das minhas contas pessoais. A boa notícia aqui é que não há plafond mínimo. Aceita-se tudo que os tempos são de crise.

Agora vão e espalhem a boa nova. A cristandade não nasceu de braços cruzados!

Recordo que os 10 primeiros sócios ficam com o estatuto de fundador que neste caso corresponde a apóstolo. Olhem que daqui a uns anos é coisa para valer dinheiro.

Se fosse comigo… aproveitava!

Um abraço!