terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Porquê? Porquê? Porquê?



Eu também me lembro de ter tido a minha idade dos "porquês", de passar ao dias a fazer perguntas sobre tudo o que mexia, mas quem é que está preparado para um “ó pai, o que é que é um gato esterilizado”? (no seguimento de um anúncio televisivo) quando está prestes a iniciar uma refeição? Ainda bem que não tinha começado a sopa. Era “engasganço” certo...

Agora que já desistiu de reclamar por desenhos animados de cada vez que nos sentamos à mesa, por saber que a hora dos noticiários é sagrada (e lamentavelmente coincidente com a das refeições), adoptou uma postura do tipo “se não os consegues vencer, junta-te a eles”.

Vai daí… entra num debitar de perguntas que jamais parece ter fim…

“O que é o Dia de Acção de Graças?” e no seguimento da explicação… “porque é que os Estados Unidos são um país tão novo e nós somos tão antigos?”, “Porque é que os colonos e os índios combatiam uns com os outros?” e por aí fora… so on and so on até ao “mais infinito”.

Eu até lhe expliquei que hoje em dia, as crianças da idade dela que têm muitos “porquês”, o que é natural e desejável, têm a vida muito mais facilitada do que as crianças do meu tempo. Nós perguntávamos e tínhamos obrigatoriamente de fazer fé nos pais e professores. A contra-prova só podia ser feita numa biblioteca e isso era coisa que ou estava longe (em Castelo de Vide) ou demorava (no caso da ambulante da Gulbenkian). Os poucos que tínhamos sorte de ter enciclopédia daquelas de dezenas de calhamaços também sabíamos que não respondiam a tudo.

Hoje em dia, uma criança como ela tem tudo à distância de um clique. É tão simples como sentar-se no sofá, ligar o Magalhães, ir à net, digitar a palavra-chave num motor de busca e deixar-se espantar à medida que se vai abrindo um mundo de respostas. “Surfar” até ao limite do conhecimento. Neste caso, imagino eu que possa, para além de saber tudo sobre o “Thanksgiving Day”, fazer deste marco um portal para onde quiser, seja na história dos Estados Unidos, na cultura dos nativos americanos… enfim… Devem existir centenas de livros, filmes, documentários disponíveis on line sobre o tema, de borla! (o que ainda é o melhor de tudo).

Hoje em dia é fácil, muito fácil saber-se muito desde que haja curiosidade e alguma acutilância.
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Diz o sábio ditado que “não me dês um peixe, ensina-me a pescar” mas neste caso, até fico feliz que pergunte. Foi a tecnologia que fez com a que os idosos deixassem de ser o repositório último do conhecimento para passarem a ser adultos fora de prazo. Só espero que a net não antecipe as coisas e faça o mesmo aos pais. Ia custar…
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E eu até gosto que ela entre de rompante (como hoje) pela cozinha adentro e pergunte com indignação (perante a notícia): “Mas quem é que é o parvalhão que anda sempre a aumentar o IVA?”.

“Quem é que tu achas, Leonor?”, perguntou-lhe a mãe, num tom de voz conformado.

“O SÓCRATES, CLARO! Só podia!”.

3 comentários:

Helena Barreta disse...

A sua filha para além de se questionar sobre assuntos da actualidade, vê-se que está bem informada. É por estas e por outras que eu acredito nestas novas gerações.

Um abraço

gi disse...

Diz- se que a verdade está na boca das crianças. A Leonor colocou uma pergunta de resposta dificil, penso eu, Porque se fosse só um, nós ainda passavamos menos mal, mas é um sem fim deles com o parvalhão maior no topo.

conceicaobarreta disse...

Agora ainda gosto mais da Leonor,pois claro acertou na mouche raça da gaiata.