segunda-feira, 4 de abril de 2011

Portantes...

Não tente virar o computador. Eu sei que está ao contrário. Fiz de propósito!



Ora bem… vamos lá a contas que nestas coisas o melhor, como diz o outro, é começar pelo princípio.

Tenho então que dizer que no meu entender, o Porto é um justíssimo e incontestável novo campeão nacional de futebol. Foi, de longe, a melhor equipa, a mais regular, a mais segura e a que teve o enorme mérito de saber gerir com uma eficácia implacável a inesperada vantagem oferecida de “mão” beijada pelo Benfica nas jornadas iniciais desta temporada. O facto de permanecer invicto até à data é a prova mais evidente do que digo e um inequívoco certificado da sua superioridade.

Assumir isto custa muito, sobretudo para um benfiquista do meu calibre, mas, como tive oportunidade de explicar ontem à minha Leonor, a fibra das pessoas vê-se não quando ganham (saber ganhar é fácil!), mas sobretudo quando perdem. Há que ser realista: foram melhores. Melhores durante o campeonato. Melhores ontem na Luz e o jogo de ontem não era um jogo qualquer. Para mim, quando é a honra que está em questão, a coisa é para levar muito a sério e foi por isso que ainda doeu mais. A vitória faria toda a diferença: para além de evitarmos que os nossos adversários directos e maiores rivais se sagrassem campeões na nossa própria casa, defenderíamos e salvaguardaríamos a nossa condição de campeões em título ao infligir-lhes a primeira derrota na prova. Falhámos em toda a linha.

Para mim, em primeiro lugar falhou o treinador que “montou” uma equipa desastrada colocando em pontos estratégicos jogadores que não estavam rotinados nem minimamente preparados para essa posição (Jara a assumir as despesas do ataque? Airton encostado à direita?). Já deveríamos estar habituados: sempre que Jesus inventa… dá cagada.

Depois falhou o Roberto, de uma forma absolutamente escabrosa. Mas alguma vez é de admitir que um guarda-redes que custou o que ele custou dê um “frangalhão” daquelas dimensões logo a abrir o jogo, quando a trajectória da bola nem sequer ia em direcção ao interior da baliza? E o que isso intranquilizou a equipa já de si abalada pela forma pressionante como o Porto entrou em jogo? Voltou a falhar no penálti quando se esticou demais e permitiu que Falcão fosse contra os seus braço, simulando uma grande penalidade que só podia ser apontada. Excesso de zelo. A “sombra” tinha-lhe bastado para ter evitado o remate. É certo que fez pelo menos duas grandes defesas a remates de Falcão e de Rodriguez (e o que eu pedi a Deus para essa não entrasse…) mas isso não o iliba. O guarda-redes é uma figura absolutamente decisiva e ao guarda-redes de um clube da dimensão do Benfica pede-se sempre a competência máxima. As grandes defesas devem ser o “prato do dia”. A mim não me tranquiliza. A mim não me convence. No meu tribunal não passa. Por mim ia fora… JÁ!

Falhou, mais uma vez, o Cardozo (e o fartinho que eu estou dele…) quando sozinho, na pequena área, cabeceou direitinho para as luvas de Helton e quando, numa atitude demencial para um jogador profissional, pontapeou intencionalmente Belushi, num lance que não poderia ter tido outro desfecho que a expulsão imediata. E ainda havia tanto tempo para jogar contra 10…

Depois falharam todos os outros (Aimar, Saviola, Javi, Sidnei, Gaitán, Salvio, Jara), todos à excepção de Luisão e de Coentrão que foi mais uma vez, o único a bater-se de alma e coração, o único a levar equipa às costas, o último a baixar os braços.

É que este Porto de Varela, Falcão e Hulk (que trio demolidor!), este Porto orquestrado por um Moutinho de pura filigrana (está em todas!) apoiado por um Guarín-petardo, trancado no meio campo por um Fernando pelo qual ninguém dava nada, seguro na defesa por Fucile, Rolando (nem parece o mesmo do Belenenses), Otamendi e Álvaro… e fechado a 7 chaves por Helton… este Porto está talhado para fazer história. Escrevam o que vos digo…

Este é o Porto de Villas-Boas e se eu não suporto o clube, muito graças às alarvidades do Presidente e às clivagens que criou no passado com os clubes do Sul, já não consigo deixar de gostar do treinador.

Quando ele saiu debaixo das saias do Mourinho e começou a dar um ar da sua graça, li numa entrevista que quando era puto (ainda o é!), uma vez fez uma “espera” ao Robson em frente ao portão da sua casa para, na qualidade de adepto, lhe perguntar porque é que não apostava mais no Domingos que era para si, o melhor avançado do plantel. Eu achei a história o máximo e pensei: “este gajo é da minha laia. Esse é tipo de adepto que eu sou”. Simpatizei com ele desde então e acho que quando fala se torna óbvia a paixão que tem pelo futebol. Adoro a forma como prepara os jogos (convém não esquecer que grande parte do mérito, sobretudo inicial, da carreira de Mourinho se deve também à perspicácia com que lhe preparava as partidas); adoro a maneira como se move durante o jogo e “vive” o que se passa dentro de campo como se fosse um 12º jogador; gosto da maneira como se expressa nas conferências e do seu sentido de humor. Gosto e ponto final. Vê-se que é educado, que é culto, que é humilde, que sabe do ofício e os resultados estão aí para o comprovar. Só espero que não se deixe inquinar pelos ares do Norte e não fique igual áquela gente. Tem classe e reconhecê-lo é, no meu entender, da mais elementar justiça.

Saber perder é importante e é por isso que eu lamento as bolas de golfe e os isqueiros que choveram antes dos cantos. Esse não é o meu Benfica. Esse, a mim não me diz nada. A selvajaria só se erradica com nobreza de actos e pensamentos. Combater a barbárie com ódio é coisa para gerar ondas de violência das quais ninguém jamais poderá sair a ganhar.

Como tive oportunidade de dizer na sms de felicitações que enviei ontem para os meus amigos portistas: que o Futebol, que para mim é sagrado, saiba sempre estar acima (da maldade) dos homens.

Por falar em maldade, lamentável foi também a ordem para desligarem as luzes do estádio e para accionarem os canhões do sistema de rega. Essa não é, claramente! uma atitude “à Benfica” e das duas uma: ou foi uma ideia infeliz de uma mente idiota ou apenas uma ideia idiota de uma cabecita que parou por momentos. Quem não se dá ao respeito nunca poderá ser respeitado. Como seria de prever, tanto “mau perder” só ajudou à festa dos jogadores do Porto. Água é sempre coisa que se agradece nestas coisas das comemorações de títulos e antes ali no relvado, com os flashes dos fotógrafos a servirem de luz de recurso, do que enfiados dentro do balneário. Ali sempre deram mais nas vistas. Virou-se o feitiço contra o feiticeiro. Até aí ganharam.

E foi assim… É certo que podíamos perfeitamente ter empatado o jogo e só não o fizemos no remate supersónico de Gaitán que embateu no poste porque o destino assim o quis, mas a verdade é que este Benfica deixou muito, muito a desejar e permitiu que lhe fizessem o “ninho atrás da orelha”.

Por mim, começávamos já a pensar na 2ª mão da meia-final da Taça de Portugal e numa vingança “à antiga”. Se ganharmos essa, a Taça da Liga e assegurarmos o segundo lugar do campeonato ninguém poderá dizer que foi uma má época.

E sempre há a esperança na Liga Europa mas aí… fia mais fino e teremos sempre de contar com a qualidade dos adversários e sobretudo com aquele que para mim é o grande favorito a vencer a prova: precisamente o F. C. do Porto. Tendo consciência da sua qualidade, estudando bem os seus jogadores e mecanismos, tendo uma atitude mental ganhadora… tudo é possível! Já o provamos no Dragão há bem pouco tempo. Basta acreditar!

Portantes… (como diz o nosso Jesus), vamos mesmo acraditare! Viva o Benfica! (para todo o sempre e mais além, assim na terra como no céu! Amén!)

4 comentários:

Helena Barreta disse...

Vindo de si, já sabia que o comentário ao jogo só podia ser este. Parabéns por se demarcar dos actos de selvajaria, ter discernimento para apontar as falhas do seu Benfica e não ter dificuldade em felicitar o F.C.P. - Campeão nacional.

É lamentável que alguns adeptos não saibam ser cívicos e não consigam lidar com as derrotas, porque é tal e qual como diz, toda a gente sabe ganhar, já perder... É nas derrotas que se vêem os verdadeiros campeões.

Um abraço

luís Vintém disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
luís Vintém disse...

Caro Pedro,
Aprecio o teu fair play mas tenho que discordar de ti. Por muitos méritos que tenha o André Vilas Boas (e tem), muito mais mérito continua a ter Pinto da Costa e toda a "estrutura" do FCP.

Este foi o campeonato mais fácil de ganhar na história recente do futebol.
André Vilas Boas é, na história recente do FCP, o 5º (quinto) treinador a vencer um campeonato logo no seu primeiro ano de dragão ao peito!! Quantos clubes conheces em que isto seja possível?

O FCP jogou parte considerável (e importante) da época sem pontas de lança e sem se preocupar em contratar substitutos para os que tinha lesionados (Falcão) ou os que nem sequer eram opção (Walter). Em que outro clube seria isto possível??

O Benfica errou, é um facto, mas a verdade é que neste campeonato não houve nenhuma margem de erro e o Porto vai ser campeão com uma quantidade de pontos absolutamente recorde. E nem sequer têm uma equipa tão forte como tiveram em outros anos. Tirando o poderio físico e técnico do trio da frente não invejo mais nenhum jogador da equipa. E no entanto, mesmo tendo no ataque a sua maior arma, repara quantos jogos ganharam pela margem mínima e muitas vezes através de penaltis.

Quanto ao fair play, também fiquei envergonhado com o apagão. Não devia ter acontecido. Mas quando a direcção do FCP vem fazer comunicados paternalistas, alguém devia lembrá-los de que o sistema de rega do Dragão também foi ligado após o 0-2 em que ganhámos para a taça e nem estava nenhum título em causa. E, ó Pedro, os jogadores recusarem entrar em campo de mãos dadas com crianças equipadas à Benfica???

e isto:
http://www.youtube.com/watch?v=J6KfXwnhdLk

Não sei o que achas. A mim parece-me um bocado doentio...

Pedro Sobreiro (Tio Sabi) disse...

Meu estimadíssimo Luís,

Elogiar os méritos do treinador não menospreza a solidez e a fortíssima estrutura do FC Porto. Claro que só uma casa disciplinada, blindada, rigorosa, com altíssimos níveis de confiança, um espírito de cruzada e uma mentalidade 100% vencedora pode alcançar aquilo que eles alcançam, com a facilidade com que o fazem.

É certo que, sobretudo no passado quando as coisas aconteciam de forma escandalosa, muitos dos seus triunfos foram conseguidos na secretaria, com dinheiros e golpes sujos, manipulando árbitros, jogadores e dirigentes às claras. Se olharmos para a história, é fácil reconhecermos que tudo aquilo está mais perto de uma organização mafiosa do que de outra coisa qualquer e atenção que não me estou a contradizer.

Eu elogiei o treinador e a equipa. Eu felicitei os adeptos meus amigos por terem sido campeões. Ninguém me ouviu dar elogios ao Pinto da Costa, seu staff ou ao clube em si.

Uma coisa é Cristo. Outra é a Igreja Católica. Não façamos confusões.

O clube é importante mas não é tudo. De vez em quando lá metem um barrete daqueles à antiga e assim de repente, de cabeça, estou-me a lembrar do espanhol Fernandez, do Co Adriaanse e do Couceiro, só para citar três dos mais recentes e evidentes. Não é qualquer um que lá chega e é campeão.

Claro que isto só reforça a minha opinião em relação ao Villas-Boas. Este puto vai longe.

Quanto ao facto de os jogadores entoarem cânticos de ódio ao Benfica nas comemorações do título… remete-me para uma frase que o meu pai me dizia muitas vezes: os actos ficam para quem os pratica. Esses actos identificam o jogador e a pessoa. A mim nunca me hão-de ver com um cachecol a dizer “Porto Merda” ou “Sporting é merda” (e tenho dezenas de cachecóis em minha casa) pelo simples motivo que não me identifico com essa maneira de estar. A mim interessa-me é o meu Benfica, o melhor para o meu clube. Os outros passam-me ao lado. Pura e simplesmente. O facto de se lembrarem de nós só demonstra a nossa importância.

Não concordo quando dizes que do plantel só querias o triunvirato atacante. Eu queria bem mais e começo logo pela baliza. Não te dava jeito um daqueles? Do Moutinho… tb não gostas? Pois… esse agora diz que é do Porto desde pequenino. Já levou a injecção.

Quanto ao facto de ser o campeonato mais fácil… concordo contigo mas não com a tua argumentação. Foi fácil porque foram melhores e lembra-te que as vitórias pela vantagem mínima dão o mesmo resultado que as goleadas: 3 pontinhos.

O campeonato está perdido mas o segundo lugar é nosso e a Champions vai estar aí, o que não é despiciendo. E ainda há muuuito para jogar. Acredito que ainda podemos ter grandes alegrias durante esta época. Vamos ver do que somos capazes.

Grande abraço