segunda-feira, 13 de junho de 2011

Verão... é no Município de Marvão


Quando terminei o mandato autárquico e abandonei as lides políticas, escrevi o texto definitivo e decidi remeter-me ao silêncio. Fi-lo porque tive a clara consciência que tudo aquilo que pudesse dizer ou escrever se iria irremediavelmente virar contra mim. Fosse o que fosse, por justo e óbvio que fosse, poderia sempre ser interpretado como um sinal de má fé, de inveja, de má vontade, tudo que coisas que alguém que sai pelo seu próprio pé e com a satisfação do dever mais que cumprido, quer ver pelas costas.


Ora o silêncio nunca foi nem será sinónimo de cegueira ou surdez. Posso estar mudo mas jamais deixarei de estar atento ao que se passa no meu concelho, como jamais deixarei de ouvir quem fala, tantas vezes em surdina com receio de represálias, do tanto que lhe tem passado.


Este caminho de contenção é um caminho penoso, sobretudo para quem é frontal e tem o coração na garganta, mas é a via sacra mais segura para quem quer atravessar o deserto em segurança.


Tudo isto a propósito dos tantos assuntos de interesse que vão surgindo no nosso concelho e sobre o nosso concelho, e a forma como são tratados pelo poder político vigente, pela imprensa local e pelos munícipes em geral; o último dos quais foi até aqui já abordado e diz respeito à garimpagem ilegal que alguns gringos se propõem fazer nos nossos solos ao seu livre arbítrio e claro está, com a clara conivência do Município de Marvão. Tenho tanta “coisa” arrumada cá dentro de mim, devidamente catalogada e organizada por estantes temáticas que acho que se abrisse a boca dava para escrever um livro. Mas não vou por aí, como dizia o bom do Régio nesse portento inalcançável da poesia que é o cântico negro, hino improvável mas perfeitamente encaixável na minha existência.


Tudo isto a propósito de um assunto, um acontecimento, uma cena, como diz a malta nova, que pode não querer dizer nada mas para mim diz quase tudo e tem a ver com o estado absolutamente lastimável e escandaloso em que se encontra a antiga piscina fluvial da Portagem. Pode parecer uma miudeza mas sempre disseram os grandes sábios, desde a antiguidade mas antiga, que se um quer sequer imaginar os mistérios insondáveis desse universo que se diz sem fim, deve partir por estudar a partícula mas ínfima pois é tantas vezes nos detalhes que se descobre a grandeza do todo.


A piscina fluvial da Portagem sempre foi o grande trunfo estival do nosso concelho e um local quase que idílico para todos aqueles que como eu, por ali passaram tardes inesquecíveis da sua infância e adolescência e já agora, porque não, idade adulta. O que lá existia poderia não estar perfeito. Poderia necessitar alguns arranjos, alguns melhoramentos, mas a devassa que por agora lá reina, em pleno arranque de época de veraneio? É pura e simplesmente de bradar aos céus.


Alvitram alguns que por ali vai sair um amplo relvado. Outros asseguram mil e um melhoramentos e retoques. Mas para mim até poderiam estar por ali a pensar uma réplica do Taj Mahal ou da Ópera de Sidney que o resultado era o mesmo. Aquela margem do rio é hoje, traduzido em miúdos, o mais perfeito retrato da incompetência de quem nos governa localmente. Ver começar o Verão, o calor (logo eu, que sou dos mais fiéis frequentadores daquelas bandas com as minhas crias) e ver tudo aquilo assim… é absolutamente desolador. Desolação é a palavra certa.


Assim está o porta-estandarte do Verão em Marvão. Quase que dá vontade de fazer um documentário só a filmar as caras e as reacções dos muitos que por ali chegam todos os fins-de-semana com a trouxa armada, desertos de passar um dia em cheio com a família. Nem um placard em condições a pedir desculpas pelos melhoramentos, nem uma napa que cubra os trabalhos em curso, nem uma imagem do projecto que por ali irá nascer para adoçar as bocas… nada!


Para quem gosta… dói!


Podem vir com mil e uma desculpas de prazos e pagamentos e o raio que parta porque dá igual: quando se permite uma coisa destas, não se precisa abrir a boca para dizer mais nada. Fica-se apresentado!


Não deveria esta obra ter sido obrigatoriamente iniciada num período pós estival (final de Setembro/Outubro) para estar impreterivelmente terminada antes da nova temporada? Parece-me elementar mas certamente que as eminências pardas terão argumentos que escapam ao comum dos mortais como eu.


E assim permanece, ferida de morte, languidamente estendida sobre a margem, a nossa piscina de sempre, atrofiada entre montes de terra e retroescavadoras, delirando em sonhos com menores dias enquanto sucumbe em estertor.


Será que alguém se lembrou de trabalhar por fases, minorando os estragos em virtude dos calendários? Tolice minha! Certamente que sim… Que ideia…


Aposto que quem vive do negócio, quem tem vidas empenhadas em ganhar algum no ramo deve achar a maior piada à coisa. Eu, no lugar deles, achava, porque perante uma calamidade destas, só a mais fina ironia pode sobrar.


E o que é mais estranho é quem ninguém fala, ninguém critica, ninguém “mete a boca no trombone”, como se estivessem todos comprometidos, de uma forma um de outra, com aquilo que pudessem dizer. Será que já não há cidadãos livres e homens de boa vontade em Marvão, capazes de não pactuar, não ceder, não fraquejar perante o poder, a manipulação e a adversidade? Com certeza que sim… Devem é estar a reflectir…


Recebi, há dias por mail, notícia que as forças da oposição se reuniram para pensar o futuro. Recebi essa boa nova com bons olhos, não porque esteja interessado de alguma forma a reentrar nessa parada que refuto publicamente e à partida, mas porque me parece que já vai sendo tempo de perceber que Marvão é pequeno demais para divisões e que a oposição faz falta neste concelho. E não falo numa oposição confinada à reuniões de câmara que essa passa muito ao largo do grosso dos olhares, mas uma oposição atenta, que denuncie as situações que merecem ser denunciadas como o fiz eu aqui, uma oposição que actue como força controladora da actividade autárquica, uma oposição que fale com os munícipes, que sirva de escudo dos seus interesses, que deixe de uma vez por todas de aparecer só em vésperas de campanha a distribuir sorrisos amarelos por entre isqueiros e esferográficas.


Uma oposição assim faz falta… até a quem governa… por muito que custe a entrar naquelas cabecitas.


Assinado: Pedro Sobreiro


PS: O quê? Que vai ficar tudo muito mais bonito no final? Ai disso não tenho a menor dúvida. Estranho seria o contrário. “Mal feito fora”, como diz o povo. Mas não foi isso que eu quis dizer. O que eu quis dizer foi bem diferente…






6 comentários:

Clarimundo Lança disse...

Não me digas que há interesses adjacentes ás obras, querem que o pessoal se desloque para Castelo de Vide, para as instalações ali existentes e a funcionar em pleno, não creio que as pessoas sejam maldosas a esse ponto, e quando o Concelho se mudar para lá como será, parece já haver presidente disponível!...

linda disse...

Sr Pedro talvez o sr. também na altura da campanha distribuiu alguns sorrisos amarelos,ou até para bem parecer. É pena já não estar mos no poleiro. Não podemos por as culpas só aos outros temos que por a mão na consciência e pensar que também não fazemos tudo perfeito.

Helena Barreta disse...

Tantas tardes, tantas histórias, tantos mergulhos e brincadeiras nessa maravilha que é o rio Sever e a sua piscina, no tempo em que eu não me importava com a água gelada e os "alfaiates" a voar à minha volta. Hoje, temos mais oferta, mas a piscina do rio, como é conhecida por todos da minha família é única, podemos e frequentamos os outros espaços, mas no final, o último mergulho, e se calhar da ponte, é no rio.

Já há muito, e de ano para ano, que falávamos que era necessário, imperioso mesmo, tratarem daqueles balneários, impróprios e de mau cartão de visita, mas obras nesta altura? É de bradar aos céus.

Esta faz-me lembrar quando aí há uns 4/5 anos, fizeram a festa de artesanato e gastronomia de Castelo de Vide nos campos de ténis municipais, privando-nos de os usar muito para além do encerramento da festa.

Atrair turistas assim é complicado.

Um abraço

Gato Preto disse...

Dá-lhes, SOBREIRo !!!!

Sandra Bugalhão disse...

Mais uma vez, me revejo nas tuas palavras e reminiscências...Beijinhos para ti e para as meninas!
"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens.""Fernando Pessoa

conceicaobarreta disse...

Mais uma dessa autarquia,não se percebe onde estão as prioridades???Lamentável e depois o interior está desertificado,pudera!A minha filha esteve aí recentemente e comentou indignada o que se està a passar na Portagem,assim nunca iremos longe o timing que escolheram para o arranque das obras foi "perfeito"