quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A net


Hoje em dia já não é preciso ver televisão ou ler jornais para se estar informado. Pela net, cada vez mais nossa e verdadeira, pode-se saber quase tudo. Muita informação chega por mail. Muito humor chega pelo cabo. Longe vai o ano de 1995, não tão longe ido, quando comprei o primeiro computador, uma torre gigante. A internet era então quase uma miragem e devo ter sido seguramente um dos primeiros marvanenses a tê-la. O servidor era a Telepac e as páginas demoravam séculos a carregar. Quando carregavam! De vez em quando lá vinha a mensagem de erro que não conseguia abrir a imagem. Isto foi há 20 anos. Hoje leio as primeiras páginas dos jornais através da banca do sapo no smartphone assim que acordo, ainda na cama. Como será daqui a 20 anos? Onde estarei daqui a 20, quando tiver 60? Será que chego lá? E onde estarão as minhas filhas, com 30 e com 20? Onde estará a internet e onde estaremos todos nós? O futuro a Deus pertence e de nada vale especular sobre o desconhecido. Será como for. Já está escrito e sendo português não podia acreditar mais no destino. O destino é que o destino já está escrito.
Nesta net grandiosa e maravilhosa, duas pérolas por mail enviadas pelo meu querido amigo, colega de universidade e hoje colega na Autoridade Tributária, Pedro Gaiolas. O único da turma de Lisboa que ficou mesmo, cá dentro.

Pérola 1: Uma imagem de humor irresistível. O humor que eu adoro. Nada de Benny Hill e Malucos do Riso mas um humor fino, inteligente, sorrateiro. O texto de apresentação dizia:

O Espião. Barack Hussein Obama, produto de marketing, um bluff político, financiador de rebeldes/terroristas, promotor da guerra, espião e…. prémio NOBEL DA PAZ…..




Pérola 2: Um texto com base em ideias deliciosas e premonitórias da falecida Natália Correia que tinha tanto de intelectual como de boémia. Não sei se serão mesmo dela mas poderiam ser. Também há dias divulguei aqui um da Clara Ferreira Alves que me garantiram que não era dela depois de publicado. Menti sem saber. Mas poderia ter sido escrito por ela, de tão certeiro, intocável e bem escrito. Fica a intenção. Quando mais nada nos salva, valha-nos apenas isso. J


"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".

"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"

"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".

"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".

"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".

"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"

"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir".

Natália Correia
Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923 — Lisboa, 16 de Março de 1993
Todas as citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.



A profetisa

Como é que os nossos governantes, presidentes da república, primeiros-ministros e demais deputados, não viram o que esta mulher viu?

E já agora os comentadores de pacotilha, tão sapientes nos seus “achismos”, não tiveram qualquer capacidade para vislumbrar o embuste que era a União Europeia?

E que tal se a Alta Burguesia, dona de bancos e de hipermercados, que está cada vez mais rica, em vez de promover encontros sobre a União Europeia (como fez a Fundação Francisco Manuel dos Santos, no Liceu Pedro Nunes), se preocupasse verdadeiramente com a delapidação e destruição de Portugal, do seu povo e da sua cultura?

O Presidente da República, responsável máximo pela Nação tem a obrigação de pedir contas e responsabilidades à Troika e aos seus serventuários nacionais. Se, após a aplicação das medidas, economicamente Portugal está cada vez pior pelo facto de ter seguido as directivas e os “conselhos da Troika”, então eles são os únicos responsáveis e, como tal, têm que pagar por isso, devolvendo os milhares de milhões de Euros que foram “desviados” para a Alemanha e para a Holanda.

A continuar com estas políticas de austeridade, a União Europeia tornou-se numa casa correcção, bem longe da tão propagada igualdade entre países e prosperidade que diziam defender.

A política de tortura da Troika (composta por “técnicos” que ganham por dia quase o valor do salário mínimo nacional) e dos seus lacaios portugueses vai conduzir à rejeição da União Europeia por parte dos portugueses, tal como já acontece com os Gregos onde, segundo as sondagens, perto de 75% da população preferiria já sair.

Antigamente dizia-se “De Espanha, nem bom vento, nem bom casamento”, hoje os “maus” ventos vêm de Bruxelas, Estrasburgo e de Berlim.

Se na nossa vida pessoal, quando um casamento se torna numa “tortura”, optamos pelo divórcio e seguimos esse caminho, este tem que ser a opção para este malfadado “casamento” com a União Europeia que já deu o que tinha a dar.

Que ninguém tenha ilusões! Tal como não teve a grande Natália Correia.

A Troika também tem que ser avaliada!

2 comentários:

Felizardo Cartoon disse...

Bastante visionário, o texto de Natália Correia. Quando foi escrito, apelidaram-na de profeta da desgraça.

Abraço!
Hermínio

zira disse...

Esta rapariga do meu tempo (um pouco mais velha) grande amante de Marvão onde passava grandes temporados com a elite da altura como Ary dos Santos eFernanda de Castro( AO FIM DA MEMÓRIA), não era muito bem vista em certos meios culturais porque era diferente, e abanava as estruturas estabelecidas. Eu recordo esta passagem de profeta da desgraça.