Vivemos num país a brincar.
Isto é bonito, tem solos ricos, ótimo
clima, uma costa sem igual na Europa (banhada pelo Atlântico e pelo Mediterrâneo)…
mas não é para ser levado a sério.
É pena…
O nosso mais alto magistrado ganhou
dinheiro com a venda de acções do Banco Português de Negócios, vulgo BPN. (Num
caso que uma televisão privada, privada chamou o caso Alves do Reis dos
tempos modernos.) Por aqui digo tudo e está tudo apresentado.
Mas há mais: as notícias da televisão no
Verão demoram sempre mais de 20 minutos com as últimas dos incêndios. Mais
imagens das imagens sempre iguais de casas destruídas, vidas roubadas, bombeiros
desgastados. E é sempre igual, mais do mesmo. Coitadinho do que morreu que era
tão novo e tão com rapaz e passa-se o tempo a falar com as pessoas. Com a
família dele que conta como era bom, com a família da rapariga com quem ia
casar, com os colegas da corporação e abram alas que lá vêem as imagens do
ministro Miguel Macedo, entrevistado no funeral que diz que isto é uma pena,
que se gastam milhões no combate as chamas e perdeu-se mais uma vida. Hoje é
este ministro. Amanhã o partido socialista ganha as eleições legislativas e vem
outro, sempre diferente mas sempre igual.
A novela multiplica-se e desdobra-se.
Ontem, no estádio de Alvalade, no derby de Lisboa, assinalou-se um minuto de
silêncio pelos bombeiros. Bonito. Até aposto que houve pessoas a comoverem-se e
a chorarem. Como uma pessoa que bem conheço, via a missa na televisão ao
domingo quando não podia desloca-se à igreja e fazia tudo tal e qual como se estivesse
lá. Ajoelhava-se, fazia silêncio e só não desejava a “paz do senhor” aos
restantes membros da assembleia, porque estava sozinha. ;)
Eu, que também ando com a cabeça entre
as orelhas como canta o Sérgio Godinho, mas de vez em quando engano-me e uso-a
a para pensar, pergunto-me:
QUEM É QUE
ANDA A GANHAR DINHEIRO COM ESTA MERDA TODA?!?!?!
Posso tentar arriscar. Isto aqui não é
a “Roda dos Milhões” nem eu sou o Fernando Mendes (sou um
bocadinho mais alto e mais magro), mas arrisco uma: ganham os
proprietários das áreas ardidas com as indemnizações milionárias que os seguros
lhe pagam, ganham as seguradoras porque isto é uma pescadinha de rabo na boca
(Hoje amanho-me eu, amanhã amanhas-te tu…), ganham os grandes e os que não têm
cara.
E quem perde? Perdem os pobres
coitados que arriscam e perdem a vida, o valor mais precioso que têm. Ganhando
nada, trabalhando para o bem comum, para proteger a floresta. Voluntários. Por
vontade própria. Sem receberem nada. Eu sou da opinião que os bombeiros
deveriam receber como qualquer outra força de segurança. Zelam por nós e
deveriam receber como tal. Num país civilizado seria assim. Este país… é cada
vez mais um país a brincar.
Os soldados da paz estão desgastados.
Exaustos. Cheios de fumo, cinzas e cansaço, não ganhando nenhum. E os outros
sodados?!?!?!?!?, pergunto eu. Os outros soldados que não são da paz mas enchem
os quartéis sem fazerem puto, a coçar a micose, como no tempo da outra senhora.
Tanto militar, tanto tanque, tanta arma, para quê?!?! Para nos defenderem em
caso de guerra?
As guerras hoje em dia não são como as
da segunda guerra mundial, em que os países se uniram contra o mal que se chamava
Adolf Hitler e era feio e velhaco como a puta que o pariu, o porta estandarte
daquela trupe de malfeitores. Aí os soldados faziam falta. Mas as guerras
atuais são como as da Síria: químicas, frias e silenciosas que limpam tudo o
que mexe; ou traiçoeiras como os atentados às torres gémeas, ou à maratona de
Boston.
Os soldadinhos de hoje são carne para
canhão e uma carne que o canhão já não quer. O canhão quer é crianças, os mais
fracos, os mais indefesos, os mais fáceis. Então porque diabo é que o Ministro
da Defesa, o primeiro-ministro, ou até o inquilino de Belém não mandam as
tropas combater o fogo, o inimigo real nestes dias quentes?
Estudei direito na faculdade e aprendi
aí a Lei de Talião. Basicamente, a lei diz que “olho por
olho, dente por dente”. Adaptado diz que “cá se fazem, cá se pagam”. Acho que essa
era a solução certa. Eu sou a favor da pena de morte. O medo que tinha dantes
era se essa lei fosse utilizada para fins políticos. Mas hoje em dia, na
Europa, os direitos do homem estão tão blindados que isso não poderia
acontecer. E a morte aqui era a única solução.
Imaginemos um pedófilo, um violador
que rouba não só a sexualidade mas também a inocência a uma criança. É caçado e
vai para a cadeia, mama lá 25 anos e volta ao mesmo. Não conheço nenhum
arrependido que se tenha regenerado porque sofre de uma demência que radica na
sua infância. Enquanto está “de molho”, tem cama e roupa de borla que os burros
dos cidadãos patrocinam e pode usufruir dos prazeres da vida: pode beber um
café quente pela manhã, fumar um cigarro após o almoço, desfrutar uma imperial,
ler um livro ou
o jornal, ver um filme ou se tiver companheira, esta até pode ir ter com ele
para na gaiola descarregar a sua masculinidade. Apesar de preso, pode desfrutar
da vida.
Tomemos agora o caso de um assassino,
um crápula que mata um ente querido que amamos, sem razão aparente. Na melhor
das hipóteses, a sentença será de 25 anos que é a máxima em Portugal. Os anos
passam, o gajo regressa há vida e encontramo-nos com ele num café a tomar a
bica ou uma imperial, vá, que agora está calor. Vemo-lo a fazer aquilo que
aquele que queríamos nunca mais poderá fazer. Por causa dele. Por causa das
regras em sociedade. Mas a sociedade somos nós que a fazemos e quando não está
bem, temos de levar a nossa avante.
Quer num caso quer noutro, a pena de
morte é a sentença ajustada aqui para o vosso tio Sabi. Se a sociedade assim
não quer, não sei se o Talião não tomará conta de mim. Oxalá nunca aconteça. Oxalá
nunca tenha razão para acontecer. Mas esta sociedade, esta lei, este direito
que deixa estes sujeitos andar à solta, a pregar fogos, a violar, a matar e a
poderem ser livres ao fim de muito menos tempo que aquele que nós queríamos,
não presta!
Se pegassem no cú de um incendiário e
o largassem no meio do fogo, transmitindo em direto nos 3 canais para que todos
vissem, os gritos lancinantes e o horror, deixando imaginar o inesquecível
cheiro a carne queimada, querem apostar que da próxima vez pensariam pelo menos
duas vezes? Se não pensassem e estivessem desempregados, alcoolizados, agarrados
à droga, teriam uma vida pouco valiosa. Muito menos valiosa que a dos bombeiros
que morrem por todos nós.
Para esses homens e essas mulheres, para
esses bravos, para esses corajosos, a minha sincera e sentida homenagem de admiração.
2 comentários:
Bravo. É isto mesmo.
Já ouviu o grito dos UHF? Acabei de ouvir, via um blogue de um seu conterrâneo e digo-lhe, vale mesmo a pena.
Um abraço
Concordo com tudo. Tuuudinho.Mas digo não à pena de morte.Eu lembro-me do que foi em Espanha, aqui ao lado, porta com porta. Não há muito, nos últimos dias do Franco.Criar prisões especiais onde o dia-a-dia fosse um horror constante sim. Cada minuto, cada hora, cada dia para toda a vida.
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