O
meu trabalho é um trabalho sério. Já sou das Finanças há 13 anos mas hoje em
dia, com as voltas que o país deu, pertenço à Autoridade Tributária que congregou
a Direção Geral das Contribuições e Impostos com as Alfândegas. Resumindo, trabalho
para a Autoridade e nessa linha de pensamento, posso-me considerar uma. Sem
uniforme, sem crachat, mas uma. Num país em que a populaça tem dificuldades em
compreender a importância de contribuir para o bem de todos, em que fugir ao
fisco era um desporto nacional, sou uma autoridade pouco considerada, mas ainda
assim, um elemento da autoridade. Tributar para o país avançar e funcionar.
Consegui-o
com muito esforço, muito trabalho. Hoje sou feliz. Sinto-me realizado a fazer o
que faço, a trabalhar no meu concelho. Se no dia em que terminei o curso de
Comunicação Social e deixei o Palácio Burnay a sonhar que iria ser jornalista e
correr mundo, me dissessem que ia acabar por trabalhar num gabinete fechado como
mangas de alpaca, ter-me-ia atirado para baixo do primeiro eléctrico que
passava ali na Rua da Junqueira, tal era a desilusão. Mas as certezas de hoje
são voláteis e as possíveis incertezas de amanhã. A vida dá muitas voltas. Sabendo
que não há certezas, tem de saber surfar a onda que só se conhece depois de
formada. A dimensão e a força dela são as variáveis que a nossa vontade tem de
saber domar.
A
minha secretária está sempre limpa e arrumada como é meu apanágio. Entre o
computador e os dossiers tenho, longe dos olhos do público que acorre ao
serviço, um “bunker” de afetos que me dá o conforto e o calor que me sabe bem
ir reencontrando com os olhos ao longo do dia (e da noite, agora que saímos de
noite cerrada, depois das 18h).
O
talento da Leonor vem de muito pequenina, de andar sempre a rabiscar. Foi de
sua iniciativa esta ilustração que me ofereceu do Circo Cardinas. Olhá-lo
faz-me sempre recordar esse momento absolutamente mágico de um grupo de amigos
que vibrou e fez vibrar num Carnaval que ajudou a criar e agora está mais que morto
e enterrado.
A
Alice, não sei se por imitação da mana, dá-me muitas vezes papéis feitos por
ela para “tu meteres lá nas finanças, pai”. Assim nasceu este retrato da irmã que
adoro porque me faz recordar imenso os comics “Terrance and Philip” da saudosa
série “South Park”.
Leonor por Alice (3 anos e 10 meses) |
Os originais |
Também me deu um auto retrato feito no fim de semana com ajuda da irmã no pontilhismo.
E
para terminar nesta galeria que ilustra os meus dias, um retrato da família feito
pela pequena do alto dos seus 3 anos e meio. Ofereceu-mo e eu, armado no
psiquiatra Daniel Sampaio com quem me dizem parecido, pensei: ela e a mana de
uma cor, o pai e a mãe de outra; eu com os óculos na direita, a mãe como a mais
alta apesar de já ser a 3ª na casa em tamanho… e uma série de outras ilações
que ela desmontou de imediato quando me explicou o que tinha desenhado, a sua
intenção como eu escrevi debaixo das figuras: ela e a mãe sendo as duas
pequenas, eu o caixa de óculos e a Leonor a mais alta da família. A figura
central. A Alice manda. E manda bem.
1 comentário:
O desenho do circo está uma maravilha, o pormenor da miúda a fazer o pino nos pés do colega está demais. Tem artistas.
Bom fim de semana
Um abraço
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