quarta-feira, 3 de outubro de 2007

A música no coração

Carcacinha e Leonor na entrada para o estaminé


Domingo foi dia de excursão a Lisboa para o espectáculo “Música no Coração”, no Politeama. Colmata-se assim a velha lacuna: “se Maomé não vai à montanha…”. A iniciativa foi um sucesso e o primeiro autocarro esgotou em 3 dias. Recorremos assim a duas viaturas, transportando gente de todo o concelho, da Beirã aos Alvarrões, em alegre romaria. Há algo de romântico nestas viagens colectivas, com a rapaziada toda a coabitar na mesma furgoneta. Homens e mulheres, mais e menos jovens, fizeram-se assim à estrada para uma banhinho de civilização e cultura.

Os que fomos no autocarro mais novo, aliás, recém estreado, chegado há dois dias para dar resposta às novas obrigações legislativas dos transportes escolares, fomos cobaias deste primeiro grande teste ao maquinão. O Francisco, motorista de serviço, diz que uma folha de 25 linhas não chega para os acertos. As janelas abriam com o vento, metia água por baixo, o ar condicionado só funcionava a frio e nem sequer microfone havia para acalmar a tripulação. Mas bem, a coisa fez-se e a boa disposição nunca se perdeu, que isso é o mais importante.

Chegados à capital, foi momento de almoço, compras e reencontro com familiares e amigos que por lá fizeram vida. Avançados para o magnífico edifício do Teatro, aguardamos com expectativa a hora do espectáculo. Para mim foram momentos de delícia para admirar a desenvoltura do nosso Cabo Pereira, o Paulinho Cascavel, verdadeira estrela da companhia, a mover-se como peixe na água, na baixa pombalina. Metendo conversa com os junkies que pediam na esquina, interpelando os polícias de potentes motos que patrulhavam a área, admirando as montras, bebericando pelos balcões das cervejarias dos Restauradores, espalhou magia à minha frente, recordando os bons velhos tempos. Apesar de já terem passado muitos anos, reconheceu imensos conhecidos e amigos, uns que lhe ofereceram estadia, outros que lhe prometeram almoços, bem à minha frente. Este rapaz é grande.

No interior do Teatro tocou-me um lugar no galinheiro, na parte mais deslocada e tapada e atrasada de toda a plateia. Reconheci que os meus camaradas de viagem tinham ficado todos à minha frente e bem melhor que eu. Tudo isto seria natural se não tivesse sido eu próprio a distribuir os bilhetes mas antes assim, se alguém tem que se amolar, prefiro ser eu. Tenho é de escrever ao La Feria para lhe dizer que aquele candeeiro que ficou à minha frente pode sair dali já amanhã. O palco é magnífico e se dali se visse ainda melhor, digo eu.

Dois apontamentos.

O primeiro para três casais todos benzocas, muito jovens, muito cheios de filhos como agora é moda, todos a falar “à tia”, como se tivessem os narizes entupidos e o comentário da chefe da equipa para os mais jovens “os que viram o espectáculo mais de 3 vezes têm de dar vez aos papás”. “3 vezes???”.

O segundo para um senhor muito gordo e muito sozinho que se sentou na fila da frente, bem ao cantinho e que deve ter visto o espectáculo muito mais vezes que as miúdas de atrás. Sabia os tempos todos, batia as palmas com precisão sempre que terminava cada quadro, até abanava a cabeça para conseguir bater com mais força. Uma daquelas milhares de almas penadas que erram por Lisboa, ali agarrada à fantasia do espectáculo.

Espectáculo que é magnífico e está certamente ao nível do melhor que se faz lá fora. Cenários grandiosos, uma história que já é eterna, uns Von Trapp muito seguros, um grande Carlos Quintas, uma grande Joel Branco e uma Anabela a sonhar com a Brodway. O La Feria pode dormir com quem quiser e ninguém tem nada a ver com isso porque o homem não tem rival em Portugal. 5 estrelas! E depois o Teatro é a tal arte tão diferente do cinema e da pintura porque aqui é gente de carne e osso como nós que se supera e ascende ao Olimpo com a arte que vive dentro de si. Vale mesmo muito o bilhete e é coisa a não perder.

O regresso correu bem e a paragem obrigatória nas míticas bifanas de Vendas Novas, foi o elixir que nos retemperou para o resto da jornada.

Um dia MUITO bem passado.

E já estou como a vizinha: “ai gostei tanto… Quando houver outra vez digam-me sempre que eu quero ir outra vez…”

Eu também!

Dizem que o próximo é o Jesus Cristo Superstar. Huuum! Deve ser fabuloso. E nesse aposto que as minhas tias choram no fim, coitadinhas. Um beijo grande! Maravilhosas!

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