sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

A maratona dos hospitais


A coisa que eu menos gosto na vida é de estar doente.

Para além da asma crónica que é praticamente a minha doença de estimação e se encontra muito mitigada à custa de tanto desporto, felizmente a coisa não tem passado de umas gripes e constipações. É claro que já experimentei todas aquelas doenças dos miúdos, tipo bexigas e sarampos e afins, coisas que davam algum jeito quando o tempo estava chuvoso e apetecia ficar em casa a ver televisão.

Uma vez tive papeira e aprendi em poucos minutos como os contágios se processam tão rapidamente quando vi o acéfalo do meu irmãozinho que na altura nem chegava ao tampo da mesa, todo contente a comer o chocolate que eu tinha pousado durante minutos para me coçar num sítio qualquer. No dia a seguir, tinha o papo tão inchado que mais parecia um pelicano. Sabem como é esta história dos irmãos mais novos, coitadinhos, ficam todos contentes de usar as coisas dos mais velhos, pensando que assim crescem mais depressa e acho que o meu até ficou orgulhoso de lhe ter pegado a maleita. Não pensam… os pobres.

Graças a Deus não fui apanhado na moda da altura de tirar as amígdalas, fenómeno que estava mesmo muito na berra. Por aqueles tempos devo ter visto algumas ilustrações sobre a medicina na Idade Média e meti na cabeça que as ditas cujas eram sacadas a ferros com um alicate, o que adensava o pânico. A única vantagem era dizerem aos recém-operados que deviam comer muitos gelados. Ainda assim, pesando os prós e os contras, a prudência mandava fugir ao bisturi. O meu melhor amigo de então, o Miguel Barradas, acho que não se escapou, se a memória não me atraiçoa. Lembro-me de o visitar no seu leito de convalescença e pensar que o gajo nunca mais ia ser o mesmo mas ao fim de alguns dias já andávamos cantando e dançando por aqueles canchos fora.

Depois um gajo cresce e apercebe-se que há doenças que matam, o que não é definitivamente nada fixe. Doenças ruins, velhacas como o raio, que nos deixam de todas as cores até ao roxinho final.

Quando estamos doentes ficamos fracos e sem paciência e parece que tudo nos incomoda.

Por acaso, agora que penso nisso, reparo que a minha mãe me dizia que eu era muito piegas e chatinho quando estava doente e acho que a minha mulher também já mo disse. Não concordo nada, mas enfim… sabem como são as mulheres. Primeiro é só miminhos e depois casamo-nos e com o tempo convencem-se que são nossas mães. Disparate!

Esta conversa toda sobre as doenças a propósito do Natal dos Hospitais, esse ícone da nossa história televisiva.

Há dias passei pelo Canal 1, já de noite e vi um bocadinho daquilo e achei aterrador.

Dantes era só umas horitas, mas agora demora dias inteiros e vai noite dentro. Era o programa favorito da minha avó, coitadinha, porque aquilo para ela devia de ser uma espécie de Live Aid dos artistas que ela mais gostava. Mas desconfio que hoje, nem ela aturava uma maçada tão grande.

Na altura em que me liguei, cantava o Fernando Tordo e eu embirro com o homem, peço desculpa. O Fernando Tordo e um convencido e nunca fez mais nada que cantar canções que só quando eram de outros é que eram boas. Andou muito à pala do Ary dos Santos (esse sim, tão genial quanto bêbado e maluco) e ainda está convencido que por ter ido fazer uma tourada à vara larga lá para a Eurovisão, é assim uma grande coisa.

Grande é o Eládio Clímaco e Eng.º Sousa Veloso também o é, e esses ao menos não chateiam ninguém.

Pois o Fernando Tordo lá estava, todo engalanado, de olhos esbugalhados e com ar de engate, a fazer um playback fora de tempo, pensando que assim expurgava os males do mundo.

E deu-me pena daquela malta que é para ali levada com a desculpa que é para os animar.

Pois digo-vos eu que às vezes há pessoas que querem ajudar e não conseguem porque um gajo não está nessa onda.

Alguém alguma vez pensou que a rapaziada que está doente pode não estar com pachorra?

PHONE-IX!

Lembro-me perfeitamente de ver um bacano que deve ter levado uns pontos no rabo ou coisa que o valha e estava de papo para baixo, deitado ao comprido numa marquesa. Cada vez que queria olhar para o artista tinha de fazer um esforço tal para levantar a cremalheira que estava a ver que ainda deslocava algum osso do pescoço e lá mamava mais uns meses internado.

A actuação foi tão má que ainda esperei que começassem a atirar algálias, sacos de soro, fraldas descartáveis, penicos e muletas para o plateau.

O Tordo foi mau e a malta desesperou.

Bem melhor esteve a Mónica Sintra, a senhora que se seguiu. De bombeirinha de 3ª linha a starlette da Música Ligeira foi um saltinho e não está nada má. Isto sim que é louça e pelo menos a malta sempre lavou a vista. Aí já estou de acordo e até aposto que ninguém se lembrou do que ela disse mas não se esqueceu a cor do batôn. Sim senhor.

Uma no cravo, outra na ferradura e veio o Marco Paulo que é mais antigo que a Muralha da China a cantar uma balada melosa daquelas de meter meio mundo a chorar. Sempre esperei que lhe saltasse algum braço ou uma posta de carne das maçãs do rosto. Acho que anda no médico que esbranquiçou o Michael Jackson para que lhe implante umas asas, para se poder deslocar mais rapidamente de Centro em Centro de Saúde. Não será fácil!

Eu gostava de saber quantos de vocês gostavam de estar longe de tudo o que mais querem, com um tubo enfiado num orifício qualquer, a pensar “porquê eu e não outro?” e ter de gramas uma estucha destas.

Vou dar a minha teoria: o Natal dos Hospitais reforçado é uma aposta do Sócrates para acabar com as listas de espera.

É de um gajo fugir!

Por falar nisso, vi num anúncio que na Sexta-Feira vão dar um programa de homenagem ao António Sala. Deve de estar a morrer. De qualquer das formas, vou ver se não me esqueço de não ver.

Não é por nenhuma razão em especial. É apenas porque do Sala quero apenas ficar com as melhores recordações e a última que eu tenho dele foi quando há muitas décadas atrás veio a Santo António dar um espectáculo por alturas do São Marcos que encheu a sala nº 1 do Grupo Desportivo. A dada altura, em plena apoteose, lembrou-se de chamar a esposa para interpretar um tema com ele e quando esta entra com ar vampiroso, de vestido de lantejoulas, o meu colega de 1º balcão, o Bailaradas, já em avançado estado de gestação alcoólica, não conseguiu conter a emoção e gritou a plenos pulmões “ÉS MUITA BOA!”.

Incompreensivelmente, a sala veio a baixo, entre risos e apupos e aquele singelo comentário suscitou uma pronta reacção do agente da autoridade ali destacado (creio que na altura era o nosso Cabo Navalhas) que identificou não só o destabilizador como todos os espectadores nas redondezas, não fosse aquilo um acto premeditado.

Foi assim que eu abri cadastro no SIS. É por isso que eu tenho uma coisinha para resolver com o Sala. E é por isso que não só não vou ver o programa como vou tentar distrair os meus vizinhos e conhecidos para que não vejam também.

Dos tempos dele, prefiro a amiga Olga. Essa sim era uma mulher com classe…

Ah, que saudades…


Notem bem:

1) a pinta da assistência;
2) o estilo do 1º concorrente;
3) a inteligência do 2º concorrente;
4) o ar de espanto da 3ª concorrente;
5) a perspicácia do Euménio. Impagável!

Digno de um Emmy!

5 comentários:

Catarina disse...

A Amiga Olga dava material com fartura para os "Tesourinhos deprimentes".
A maratona do Natal dos Hospitais é um clássico, mas ainda assim menos chunga do que o espetáculo de Natal da TVI, em que os apresentadores tentam ser (sem nenhum sucesso...) engraçados. Quando era miúda ficava a tarde toda colada à televisão, esperando pacientemente pelos Ministar e os Ondachoc. Nunca percebi foi a necessidade de se fazerem ligações para a RTP Madeira e a RTP Açores,era sempre uma enorme perda de tempo e nunca se via nada bom...
Quanto ao Sala, também me lembro de o ver ao vivo numa festa de Natal da Rádio Portalegre,e sempre gostei tanto dele como da Rádio Renascença (será que ainda se reza o terço às seis da tarde? credo....)

John The Revelator disse...

aahahahahahahaahhahahahaah

Demais mesmo... impagável!!!!!

O eumenio e deus.

John The Revelator disse...

já agora... acéfalo?!??!?!

"Acefalia significa literalmente ausência da cabeça. É uma malformação muito menos comum que a anencefalia. O feto acéfalo (sem cabeça) é um gêmeo parasita unido a outro feto completamente intacto. O feto acéfalo tem corpo mas carece de cabeça e de coração; o pescoço do feto está unido ao do gêmeo normal. A circulação do sangue do feto acéfalo é proporcionada pelo coração do irmão. O feto acéfalo não pode existir independentemente do feto ao qual está unido."

agora pagas um copo em jeito de desculpas, e fico com credito na tasca ate o natal de 2008.

Luís Bugalhão disse...

boas pedro.

só mais uma achega para o que sofrem os doentes que lá estão a mamar a estopada: o marco paulo (por quem, como calculas, não nutro nenhuma simpatia como artista) é um homem gravemente doente há anos. tem uma leucemia, ou um linfoma, ou uma coisa dessas das neoplasias, há mt tempo. é um doente, mas é tb um lutador pois, mm a sofrer, e apesar de retirado das lides, nunca falha o natal dos hospitais. mm que tenha que aparecer com aquele ar de manequim de plástico. é que o aspecto dele, ao natural, deve ser o de um qq desgraçado a quem a quimioterapia faz o favor de manter vivo, mm que quase embalsamado.

por isso, palmas p'ra ele.

para o natal dos hospitais, é óbvio, uma pateada das maiores. nos actuais formatos (das várias tv's) a coisa deprime mais que uma festa de natal dos nossos filhos e filhas na escola ou ji. é que nessas ainda vale a baba que os pais destilam, orgulhosos de ver os filhos a fazer das tripas coração para lhes agradar. no natal dos doentes... só mm com algum humor (cm o que aqui usas) se pode falar da coisa. eu não quereria estar hospitalizado e aparecer lá aquela súcia de dependentes dos shares televisivos, a fingir altruísmos, a atazanar as meninges de quem precisa é de descanço e boa companhia. mas não há volta a dar: há mt gente a ver a coisa, e a publicidade é bem cara naqueles períodos.

espero que tu e os teus tenham passado um bom natal e que o ano de 2008 traga mais felicidade e menos desventuras que os anteriores. o luís, a mila, a matilde e a catarina, todos bugalhão, agradecem e retribuem assim o gentil sms q me enviaste.

Luís Bugalhão disse...

pois, calha a todos...

nada de descanço, claro. é descanso. foi talvez sob a influência dos etç do ti garraio (olá companheiro, boas festas p'ra ti e para os teus!)