quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Voando para a imortalidade


Eu estava com uma grande fezada para estes Jogos Olímpicos, certo de que teria aqui um excelente cartaz televisivo para todo o mês de Agosto mas enganei-me.

Na verdade, tenho visto pouco ou nada porque me esqueci que os chineses lembraram-se de inventar a China lá mesmo do outro lado do globo, o que significa que os fusos horários são enormes, querendo com isto dizer que quando estão lá a competir, estamos nós quase a dormir e vice-versa.

Maneira que tirando aquilo que vejo nos telejornais e num ou noutro diário desportivo, não tenho visto quase nada.

É óbvio que já me apercebi dos gajos extraordinários que por lá andam como o nadador americano papa-medalhas que parece que tem guelras e desliza como um torpedo assim que se apanha debaixo de água ou o jamaicano maluco que nem toca com os pés no chão ao correr e limpa os 100 e os 200 metros com uma enorme vantagem sobre os oponentes directos, cortando a meta a rir-se para as bancadas e em clara desaceleração.

Coisas do outro mundo!

Quanto aos portugueses, a habitual banhada a que nos vamos habituando com as esperanças no Judo, na Vela e em tantas outras modalidades a esfumarem-se perante as adversidades habituais.

Destaco em particular o jovem lançador de peso, Marco Fortes, que justificou o seu mau resultado pelo facto de a prova se ter realizado de manhã, quando se sabe de antemão que “de manhã se está bem é na caminha”. Sim senhor, por mim, deviam-lhe dobrar o subsídio para poder dormir mais. A coisa promete…

O cenário estava de tal maneira tenebroso que o velhinho que chefia os olímpicos lusos, o comandante Vicente Moura, disse que estava disposto a mandar tudo às urtigas e passar o resto dos seus dias a jogar à bisca lambida nos bancos da Alameda. Agora parece que já reconsiderou.

De tudo salva-se a Vanessa que foi de prata, mas para mim mal porque é claramente a melhor do mundo e quando se é a nº 1 não se pode ser outra coisa senão ouro. Ela diz que está feliz assim. Eu não, sobretudo porque sei, e ela disse-o, que sabia que tinha pernas para a outra mas não quis arriscar. Ora quem não quer arriscar… fica em casa. A prata pode saber-lhe a mel mas para mim e lá no fundo, acho que sabe é a fel.

E vivemos praticamente nas trevas olímpicas até hoje, até ao momento em que o pretinho bonito de sorriso de menino decidiu voar para o mais alto lugar do pódio, com uma graça e uma leveza que mais pareciam dignas de um anjo.

Incrível!

Fiquei todo contente quando soube que a prova era à hora de almoço e ainda comecei a ver em directo. Os primeiros ensaios foram bons mas depois um inglês cheio de brincos, de cabelos vermelhos, fita branca na cabeça e meias brancas de gesso até aos joelhos, começou a pular como se fosse uma corça e eu decidi não ver mais, sobretudo quando um gajo das Bahamas também pulou como o raio.

Como tinha mais que fazer, a coisa demorava e me parecia que ia correr mal, regressei à câmara e foi lá que ouvi na rádio da proeza do Nelson Évora.

Epá, foi uma emoção ouvir o relato e pensar como aquilo tudo deveria estar a ser. Uma emoção sobretudo quando o ouvi dedicar a vitória aos portugueses e a mim também. Como não ficar orgulhoso de um miúdo destes?

Adorei ver as imagens nas notícias da televisão e o oportuno programa da RTP1 sobre a vida do atleta, com depoimentos de pessoas que com ele se cruzaram, revelando-nos muitos pormenores importantes dos quais destaco a história enternecedora de amizade com o seu treinador de sempre, o Professor João Campos, nos braços de quem se foi anichar quando soube que era o vencedor. Revelou que já teve convites de outros treinadores que são muito mais avançados tecnicamente e com recursos de treino mais modernos ao seu dispor, mas todos eles rejeitou porque sabia que nenhum lhe podia dar o amor, o carinho e a compreensão que tem do seu, a quem quer como a um pai.

Muito bom!

Parabéns Nelson! Parabéns mesmo, campeão! Parabéns pela humildade, pela alegria, pelo gozo com que voas e sobretudo porque acreditas sempre que o adversário nunca está ao teu lado mas sim dentro de ti e que para o venceres, tens apenas o céu como limite.

És um modelo para todos e a tua história de coragem, sacrifício e triunfo deverá ser um elixir para nós, para as nossa vidas e para os nosso filhos.

Quem é que não se vai arrepiar quando “A Portuguesa” ecoar no Ninho de Pássaro?
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