sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Cumplicidades


Quando contemplo o horizonte e o mar calmo de fim de tarde, acabo por reparar num casal de jovens que passeia à beira-mar, ambos na casa dos 20, e se pára a uns escassos metros à minha frente.

Interrompem a marcha e viram-se um para o outro. Ele abraça-a pela cintura e ela rende-se, encostando a cabeça no seu peito. Ele segreda-lhe algo ao ouvido e ela sorri, embalada pela carícia. Olham-se e envolvem-se num beijo terno.

Não sei se será uma paixão de Verão ou uma relação mais duradoura, mas sente-se que o que os une é forte e contagiante.

O amor e os seus cambiantes.

Que coisa esta que nos consome e alimenta, nos domina e nos liberta, nos trespassa e avassala.

Eles ainda não sabem mas aquele sentimento que agora os hipnotiza, há-de também ele mudar ao longo das suas vidas e madurar à medida que a idade o trespassa porque a novidade e o entusiasmo não podem perdurar para todo o sempre.

Por aquela mesma beira-mar, passeiam muitos outros casais de mais idade que vão uns anos à frente, eles de barriguinha proeminente, elas já com rugas e celulite nas ancas, mas de mão dada e quase sempre conversando…

Esses já sabem que a vida leva o ímpeto e traz a cumplicidade.
Esses já sabem que quando a beleza e o desejo se vão e os problemas da vida, a dois, se instalam, não lhes resta senão a amizade, o companheirismo e o respeito.

Pelo caminho ficam cada vez mais tantos, rendidos à tentação, ao facilitismo ou tão somente à incompreensão que é tão mais lancinante quando há rebentos pelo meio.

Eles já sabem que quando as mãos caminham unidas e os cabelos já são brancos, os sorrisos que ostentam são também de vitória como que a dizerem, “depois de tudo o que passámos, ainda aqui estamos…”.

E eu apercebo-me que na praia, quando nos despimos dos trajes convencionais e nos aproximamos da nossa condição natural, é mais fácil chegarmos à conclusão de que no fundo, somos mais parecidos uns com os outros do que muitas vezes nos parece.

Sem comentários: