Olhar para tudo em volta. Observar, analisar e ruminar tudo o que vejo.
Perante a oportunidade de ver tanta gente, de tantos sítios diferentes e durante tantas horas à minha frente, aproveito sempre a praia para fazer o meu raio-x à portugalidade, batendo uma chapa ao sentir e ao estar lusitano.
E isto porque não há moda, boato, crença ou novidade que não rebente ali bem no meio do areal, nas bocas de quase todo o mundo.
Neste ano, estão em destaque:
1) Rabos
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Acho justo. Na verdade, nós, os homens, já há muito que utilizamos a tanguinha tipo “nadador”, ao melhor estilo Zézé Camarinha, e nunca ninguém se horrorizou com isso. Ainda era eu gaiato e já me lembro de uns modelos à leopardo, com as ancas bem cavadas, que a mim me pareciam que davam um ar traveca aos machos que os envergavam, mas que me parece que não deixavam de surtir o efeito desejado no público feminino que perante tamanho exibicionismo, nem sequer precisava usar muito a imaginação para antever o calibre…
De forma que saúdo as jovens e as senhoras que, de uma vez por todas, se assumem sem complexos e sobretudo aquelas que mesmo sabendo que não são donas de um corpo escultural, não deixam por isso mesmo de revelar as suas formas, mais lisas ou arredondadas que ele há gostos para tudo e é por isso mesmo que o mundo não cai para o lado.
Nota do Professor Martelo: 5/5
2) Tatuagens
A prática de gravar no próprio corpo símbolos ou elementos relevantes com carácter de permanência é uma prática corrente do homem desde tempos imemoriais.
Hoje em dia, não há coisa mais na moda que as tatuagens, ao ponto de eu dar toda a razão ao meu irmão quando diz que qualquer dia quem é notado não é quem as tem, mas quem não as tem. Realmente, conta-se pelos dedos de uma mão, o pessoal que ainda não aderiu a isso.
Não é que eu não concorde, antes pelo contrário. Interesso-me bastante pelo tema e há muito que ando a matutar naquilo que gostava de ver para sempre gravado na minha pele e só ainda não concretizei porque o facto de ser para sempre me deixa meio a vacilar.
O que me custa notar é que a maior parte do pessoal só não tatua um sinal de trânsito, o símbolo do Lidl ou o número de telefone dos bombeiros lá da terra porque não calha.
Há o grupo dos caracteres chineses (que vão sendo cada vez menos à medida que vão abrindo mais lojas chinocas pelo país fora), o grupo dos caracteres árabes (estilo Simão Sabrosa e Quaresma), o grupo dos indígenas (estilo índios e lobos), o grupo ao estilo inglês (apanhando o braço todo, como o Raul Meireles), o grupo dos clubes de futebol e o grupo das pessoas (que tatuam a cara dos filhos e da avó e nunca ficam parecidos), isto para não esquecer o grupo dos pioneiros, da guerra colonial, da malta que esteve em Angola, Moçambique ou na Guiné e que ostenta, orgulhosa, a data do período em que lá permaneceu, um “Amor de Mãe”, “Em África rezei por ti” ou “Sangue, Suor e lágrimas”.
Hoje passei por um tipo que num ombro tinha uma imagem de Jesus e no outro, uma águia. Estive para lhe dizer: “olhe, desculpe, mas o meu amigo de certeza que é católico e do Benfica, certo?”. Como de certeza que ele me ia perguntar: “epá! como é que sabe?”, achei melhor fingir que não vi nada. As tatuagens podem ser perigosas…
Eu ando louco por uma tribal azteca ou por um elemento floral oriental que vi numa revista mas é melhor esperar a ver se me passa. Se tivesse ido na minha conversa de há uns anos atrás, já há muito que tinha um extraterrestre num antebraço ou o Batman com a capa a esvoaçar nas costas. Ele há coisas…
3) Colares à Cristiano Ronaldo
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A rapaziada cá da praia, querendo tanto imitar o ídolo e na dificuldade de arranjar uma namorada com o calibre de mamas da Nereida ou um Rolls-Roice de 500.000 euros, faz romaria à santinha para adquirir o adereço da moda.
Ainda hoje me cruzei com um casal em que ele levava um branco a condizer com os dentes da frente e ela um rosa-choque bem feminino.
No Sasha, o clube / discoteca nº 1, são mato e não há jovem que se preze que não tenha o seu. Aposto que nem desconfiam que aquilo também dá para rezar mas… quem é que precisa de rezar quando há ipods e playstations?
“Isso tá fora de moda”, dizem eles, e eu acho que a Igreja também tem culpa: quem é que os manda meterem as missas a um domingo de manhã quando sabem que a malta vai toda para a borga no sábado à noite? Experimentam a fazê-las às segundas-feiras de tarde, quando anda tudo arrependido do mal que se portou no fim-de-semana e vão ver que apanham lá muitos mais, até a confessarem-se!
Termino como uma nota que me surpreende sempre imenso que é a predisposição para a novidade com que os veraneantes vêm para as terras do Algarve. É uma coisa divertidíssima! Não podem ver nada novo que juntam-se logo num magote de malta, atropelando-se para estarem na linha da frente. Seja um gajo a tocar berimbau, um cãozinho que faz o pino ou uma pulga amestrada a praticar dança Jazz, tudo é razão mais que suficiente para que o pessoal que circula nos passeios aos milhares fazer logo uma roda com um escarcéu monstruoso à volta.
Isto é bom para quem tem o amor-próprio em baixo ou necessita um suplemento extra de atenção. A solução está em vir para o Algarve, estender uma toalha numa esplanada ou montar uma banca numa avenida qualquer e começar a tocar pífaro liso, a falar ao contrário ou a fingir que é capaz de imitar o som dos traques apertando o sovaco como nós fazíamos quando éramos putos.
Um dica de ouro? Fazer de homem-estátua! É dinheiro garantido. Vista uma cuecas largas, meta muita base na cara, coloque uma lata de atum vazia para as moedas (uns bons metros à sua frente), empine-se num balde virado ao contrário e finja que é capaz de estar quieto mais de 5 minutos. Acha que não aguenta? Não faz mal, também ninguém vai ficar lá mais do que esse tempo a reparar e entretanto pode coçar o nariz, os tintins ou a orelha que o pessoal até se ri a pensar que é de propósito.
Verão 2008! Ele há coisas fantásticas, não há?
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