sábado, 13 de junho de 2009

Diga lá...


Uma colega ligou-me a dizer que estava a fazer um trabalho académico que tinha que incluir duas entrevistas a políticos no activo.

Disse-me que tinha pensado em mim, lançou-me o desafio e eu aceitei.

Depois de ler o resultado pensei… “olha, é engraçado. Já tinha feito muitas mas sempre a outras pessoas. Aqui sou eu mesmo…”.


1 - Pode descrever o seu percurso político e profissional?
Terminei a licenciatura em Comunicação Social, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em 1995. Fui o segundo melhor classificado do curso, com uma média de 14 valores que me abria as portas do mestrado. Por motivos familiares, decidi deixar Lisboa e regressar à minha terra natal. A minha grande esperança de então era fazer carreira académica como docente no ensino superior em Portalegre. Cheguei a apresentar currículos e ter quase garantida a entrada mas esbarrei com compadrios e jogos de interesses. Não calculo como funciona actualmente, mas nesses anos, a vida académica distrital era gerida por uma espécie de máfia que se preocupava apenas em satisfazer os seus próprios interesses. Deles e dos amigos...
Comecei então a procurar emprego na área da comunicação e ainda trabalhei numa rádio local, a Rádio São Mamede, na área da publicidade. Como não me pagavam, saí desiludido ao fim de 3 ou 4 meses. Tomei então conhecimento através de um jornal local que o Agrupamento de Instrução de Portalegre da Guarda Nacional Republicana tinha aberto um concurso para professores civis e concorri ao lugar para ensino da língua inglesa. Tive a sorte de entrar e fiquei durante 3 anos onde me senti muito bem e fui muito bem tratado. O ambiente era fantástico. Porém, como não me garantiam a continuidade e eu necessitava estabilidade para a minha vida, decidi ingressar num estágio Agir do IPJ e fui colocado na Câmara Municipal de Marvão, durante um ano.
Quando terminou esta iniciativa, concorri a um lugar de Chefe de Vendas na Opel do Grupo A. Matos, em Castelo Branco e fui seleccionado. Trabalhei ali durante 5 meses e saí porque entretanto fui admitido para o Ministério das Finanças como técnico de administração tributária adjunto estagiário, como resultado da minha classificação no maior concurso público a nível nacional, a que me tinha submetido meses atrás. Fui colocado em Nisa e 2 anos depois, fui colocado definitivamente em Marvão.
Sempre me interessei pela política. Colaborei activamente em diversas eleições e sobretudo nas autárquicas onde tive um papel muito activo como organizador de campanha do PSD, embora preferisse sempre ficar na sombra e em cargos menores.
Há 4 anos fui convidado pelo candidato a presidente pelo PSD para avançar como seu nº 2 e aceitei. Fizemos uma campanha exemplar e contra todas as expectativas, alcançámos uma vitória retumbante de mais de 600 votos de diferença num universo de pouco mais de 2.500 eleitores.
Concorri como independente.
Um ano após ter ganho as eleições, precisamente no dia em que cumpria um ano de mandato, tornei-me militante do PSD por decisão exclusivamente pessoal.

2 - Quem influenciou a sua entrada na política? E o que o atrai na política?
A minha família sempre viveu a política. O meu pai chegou a fazer parte de um executivo da Junta de Freguesia da minha aldeia e tenho uma tia paterna que me é muito próxima e sempre foi uma fervorosa adepta do PSD e do Sá Carneiro. Pegou-me o bichinho. Enquanto criança e adolescente, colaborei com amigos em algumas campanhas sempre como apoiante do PSD ou da ala mais direita do espectro político. Fui interveniente activo, sobretudo das autárquicas no meu concelho. Fiz parte de diversas candidaturas ao longo dos anos.
Já na Universidade, fui muito influenciado pelo professor Basílio Horta que mudou a minha visão ao explicar-me que a política é apenas a escolha de um entre muitos caminhos e que passamos as nossas vidas a tomar decisões políticas. Na conversas que mantinha após as aulas com alguns alunos mais interessados, informalmente, entre um ou dois cigarros, ajudou-nos a desmistificar a ideia da política como algo que é nocivo e de puro interesse, mostrando-nos o seu lado mais nobre.
O que mais me atrai na política é a capacidade de poder melhorar a vida das pessoas. Há sorrisos que me enchem a alma.

3 - Qual a sua ideia e opinião de Francisco Sá Carneiro? Considera-o o líder carismático?
Sá Carneiro faleceu quando eu era muito jovem e não estava ainda desperto para a questão política. Consumo tudo o que me chega às mãos sobre a sua visão e a sua vida mas ainda assim nunca é suficiente. Está para mim como o Eusébio, como alguém excepcional, absolutamente fora de série, mas que não é do meu tempo. Conheço mais o mito do que a obra, se é que me consigo fazer explicar.
Como homem era uma figura carismática que cativava pela sua humildade e eloquência.
Acredito na sua direita, numa direita social, que compreende as desigualdades e luta diariamente para as esbater, para tornar o mundo mais justo e mais fraterno.
A sua morte trágica e ainda hoje inexplicável, acabou por influenciar enormemente o nascimento da lenda à sua volta.

4 - Considera que os resultados eleitorais para as europeias foram uma reacção dos portugueses à política do Eng.º Sócrates, nas palavras de Rui Rio, ou considera que foi sobretudo fruto do trabalho do candidato Paulo Rangel e de todo o PSD, mostrando-se inequivocamente como uma alternativa ao PS?
As eleições não se ganham, antes se perdem.
Quanto a esta questão das europeias, parece-me que devemos separar as águas. Considero que é precipitado tentar extrapolar daqui indicações para as autárquicas e legislativas que hão-de vir.
Em primeiro lugar, os valores da abstenção são aterradores e no meu entender, castigam as propostas dos candidatos que falharam por não terem conseguido explicar aos portugueses a importância do seu voto nestas eleições. A Europa está longe demais do nosso povo que pensa que tem mais que fazer do que andar metido nestas andanças.
Em segundo lugar, a extraordinária e surpreendente vitória do PSD não significa que em Outubro as tendências se mantenham. Cabe ao partido compreender o sentido desta votação e pensar rapidamente de que forma pode ganhar balanço e afirmar uma dinâmica vencedora. Há muito trabalho por fazer. Quando os milhões que agora se abstiveram forem votar para a sua câmara e para o governo do nosso país, as expressões de voto podem ser diferentes.
No entanto, há um dado que é inquestionável, os portugueses aproveitaram a ocasião para mostrarem um cartão laranja-avermelhado ao Eng.º Sócrates como forma de os castigarem sobretudo pela sua prepotência e arrogância. Parece-me que a crítica vai mais pela forma do que pelo conteúdo. Veremos qual será o desfecho.

5 - Acha que a liderança da Dr.ª Manuela Ferreira Leite saiu reforçada?
Sem qualquer margem de dúvida. A Dr.ª Ferreira Leite foi uma das grandes vencedoras deste processo eleitoral. Assumiu a responsabilidade da escolha do Dr. Rangel e revelou-se uma aposta ganha. O PSD ganhou um nome emergente que para além de ser um brilhante académico mostrou ter garra e valor para ir muito mais longe.

6 - E o PSD?
Desde a trágica saída do Dr. Durão Barroso que trocou o voto de confiança dos portugueses pelo seu futuro dourado europeu, que o PSD se perdeu para nunca mais se encontrar. Depois da dramática prestação governativa de Pedro Santana Lopes e da trágica liderança de Luís Filipe Menezes, o partido bateu no fundo. Precisava de uma imagem que lhe conferisse estabilidade e lhe devolvesse a credibilidade aos olhos dos portugueses. Foi por isso que apoiei a candidatura à liderança da Dr.ª Ferreira Leite, porque me pareceu a mais adequada para a vida de então do partido. A recuperação tem sido lenta e conquistada a pulso. Esta vitória, a primeira em eleições do género, é um bálsamo revigorante que pode trazer o partido de volta em toda a sua força.

7 - Como vê o desempenho (ou o empenho) da líder? Acha que deve manter-se na liderança? Com ela c PSD tem boas hipóteses de ganhar as próximas eleições?
A actual líder do partido deve manter-se até às eleições e aproveitar ao máximo o balanço positivo deste escrutínio. Deve trabalhar no programa eleitoral, na elaboração das listas com as pessoas mais adequadas e evitar a todo o custo as gaffes tremendas que custam muitos milhares de votos. Os episódios das críticas aos casamentos entre pessoas do mesmo sexo e da suspensão da democracia são ridículas e podem deitar tudo a perder.

8 - Com maioria absoluta?
Nem os mais optimistas, aqueles que sempre acreditaram na possibilidade desta vitória nas europeias, conseguem ser optimistas a esse ponto.

9 - Quais seriam para si as prioridades dadas pela líder para sair triunfante nas próximas eleições?
Em primeiro lugar, e porque a política de hoje em dia vive muito à base da imagem, deveria rever a sua postura e a sua prestação pública. Deveria corrigir o ar cinzento e tentar aproximar-se das pessoas. O Portas é mestre nisso. Apesar de ser o mais elitista que pode haver, consegue mergulhar nos mercados deste país e passar uma imagem de quem se sente como peixe na água. Os portugueses gostam disso. Consegue imaginar uma Manuela Ferreira Leite a passear confortável no Bulhão?
Estamos a falar de uma candidata, de uma mulher, que deveria rentabilizar mais essa sua condição, de se fazer valer do seu instinto feminino para chegar às pessoas. Ter essa coragem num meio que ainda é muito dominado pelos homens poderia ser um trunfo fabuloso.
No que diz respeito às políticas, penso que está no bom caminho. Criticar a arrogância, o despesismo e os projectos megalómanos do actual governo são propostas que vão de encontro ao sentir dos portugueses.

10 - O que acha da posição de Pedro Passos Coelho sobre a ideia de que o Estado deve retirar-se rapidamente da economia, restringindo-se a intervenções excepcionais como é o caso no actual estado de crise financeira?
Deixar a economia funcionar ao seu livre arbítrio pode conduzir a um estado de canibalismo puro dos mercados. O Estado deve, no meu entender, assumir um distanciamento que permita o normal desenvolvimento dos processos financeiros mas sem nunca os perder de vista. A imagem correcta é a do pai que lê o jornal no parque infantil mas não nunca perde de vista as brincadeiras do filho no escorrega. Só age se for estritamente necessário para garantir a sua segurança e integridade.

11 - Considera importante o Estado intervir e legislar de maneira a distribuir a população de forma equilibrada pelo território, atendendo ao facto da maioria das pessoas se concentrar no litoral, desertificando o país no interior?
Sem dúvida alguma. Uma das principais funções do Estado é a de gerir o território que ocupa. Para que serve um Estado se falhar nesta missão primordial? Um dos erros crassos que actualmente estão a ser cometidos em Portugal é precisamente esse, o de ter um Estado que não sabe administrar de forma equilibrada o seu território.
Hoje em dia, Lisboa governa apenas com olhos nos números, pelos números e para os números. O interior, assolado por um despovoamento galopante, perde expressão eleitoral e está cada vez mais relegado para segundo plano. Este é um fenómeno assustador, que aterra todos os que vivem nestas zonas.
Por outro lado, as grandes urbes estão cada vez mais populosas e nelas ganham expressão fenómenos como o da criminalidade ultra-violenta e outros males das grande metrópoles.
O Estado deveria incentivar a vinda de novos habitantes para o interior, legislando, criando medidas específicas que fizessem sentido aos portugueses,
Cabe na cabeça de alguém, eu ter uma casa onde tenho uma sala e um quarto com tudo o que é do bom e do melhor e ter um quintal cheio de ervas daninhas, sem qualquer adorno e arrumação? Temos de ser equilibrados.
A desertificação do interior preocupa-me mesmo muito e é um pensamento constante em mim. Como sou uma pessoal naturalmente bem disposta e brincalhona, costumo dizer que a desertificação e o abandono do interior actual é de tal ordem que se os espanhóis decidissem, por absurdo, conquistar o nosso país e entrassem com os tanques pela fronteira dos Galegos, chegavam no mínimo a Santarém sem que ninguém os impedisse. É de loucos!

12 - Considera importante o TGV? Ou acho que esse dinheiro deveria ser canalizado para outras prioridades?
O TGV é uma medida megalómana que se tornou uma mania deste governo. No meu entender, as actuais ligações existentes à Europa (aéreas, ferroviárias e rodoviárias) são suficientes. Existem outras prioridades mais básicas e elementares, como por exemplo, ao nível do sistema de saúde e do funcionamento judicial que é uma verdadeira vergonha. O TGV é um capricho do governo do Eng.º Sócrates e também uma forma de alimentar e satisfazer os lobbies da construção que lhes estão associados.
O nosso país é perito neste tipo de disparates. Recordo os estádios de futebol construídos propositadamente por motivo do Euro, alguns em regiões que nem sequer tinham equipas a disputar a 1ª Liga Nacional. Rios de dinheiro gastos sem critério.
Quanto ao TGV, quando se analisa e estuda a construção de uma ligação deste tipo, devem ser muito bem analisados todos os prós e os contras. Por exemplo, quando se construiu a auto-estrada para o Algarve, quantas famílias que viviam e trabalhavam nos restaurantes na berma das estradas nacionais ficaram no desemprego e sem meio de subsistência? Quando se dá um passo com esta profundidade, devem-se prever as contrapartidas necessárias.
Na situação actual, o TGV é uma excentricidade.

13 - Porque razão não se fez ainda uma auto-estrada com ligação a Portalegre?
Porque a voz da nossa cidade soa baixinho no Terreiro do Paço. Por tudo aquilo que disse atrás. Com Estremoz e a A23 a curtas distâncias, já não estamos tão longe do progresso quanto isso. Já nos pudemos queixar mais. Mas não haja dúvida que para o Distrito, uma auto-estrada até Portalegre seria um passo de gigante em direcção a quase tudo.

14 - Tendo Portalegre uma situação geográfica privilegiada com a Raia, com a Beira (1 hora, 80 Km de Castelo Branco), com Lisboa (2 horas, 230 Km ), porque razão não se investe mais nesta zona tanto a nível de empreendimentos hoteleiros, espaços comerciais, de lazer e de saúde?
Não nos pudemos esquecer que ainda hoje estamos a pagar a terrível factura dos erros crassos que antigos dirigentes cometeram em décadas anteriores. Conheço bem a cidade de Castelo Branco, até por motivos familiares, e nos últimos 20 anos pude acompanhar com uma pacata cidadezinha do interior passou a case study e a capital modelo de uma região. Não nos podemos esquecer que muito deste sucesso foi conquistado à custa dos erros e das desgraças de Portalegre.
Comparem-se as zonas industriais… Quando aqui pediam preços exorbitantes pelos terrenos, lá eram praticamente cedidos a custo zero. Quem semeia ventos…
No meu entender, os políticos que estão à frente da Câmara de Portalegre nunca se podem esquecer que para além de estarem à frente dos destinos do seu concelho, estão à frente de uma cidade que é capital de distrito. Por muito que Elvas e Ponte de Sôr clamem por atenção, o centro nevrálgico está em Portalegre e é importante que essa consciência nunca se perca. Os líderes podem e devem sempre lutar pela região.
Infelizmente, não me parece que os cenários se possam mudar radicalmente.
Évora e Beja ganham cada vez mais peso face às novas conjuntura e isso preocupa-me.
Há uns tempos, fui daqui precisamente a Beja para uma reunião com a Presidente do Turismo de Portugal onde esta se propunha explicar quais os projectos Pin e as grandes estratégias do governo para o turismo no Alentejo. E que ouvi eu então? Que tudo o que não fosse Costa Vicentina e Alqueva, era uma carta fora do baralho. Falei-lhe em Marvão, na importância da candidatura a património mundial, no facto de sermos uma das 21 maravilhas de Portugal, na possibilidade de sermos discriminados positivamente mas nesse dia, a única coisa que ganhei foi uma multa por excesso de velocidade que tive de pagar na hora e do meu bolso.

15 - Na actual conjuntura de que depende o arranque da economia?
No meu entender, da confiança. Esta crise tenebrosa, profunda e mundial, é também psicológica. As pessoas têm medo de gastar e a economia retrai-se muito. Eu, como toda a gente, também gosto de ter coisas boas. Gosto de me sentir bem, de viver com conforto e qualidade, de usufruir dos prazeres da vida, de ser feliz com aquilo que posso ter à medida das minhas posses. Nos últimos tempos, quando compro qualquer coisa, em vez da habitual felicidade, tenho dado por mim a sentir-me culpado por ter gasto, por consumir quando tantos não têm sequer para comer ou comprar medicamentos. É este o actual campeonato.
Atenda-se ao caso BPP… quem é que acredita numa economia, num sistema financeiro que permite que gatunos de gravata abrasem as poupanças de uma vida que os clientes lhes confiaram? Isto é terceiro-mundista e inacreditável.

16 - Considera importante a projecção da imagem do Presidente Obama a nível internacional para injectar confiança nos mercados?
Não é só nos mercados. É no planeta, à escala global e a todos os níveis. Obama é a personificação da esperança numa América e num mundo melhor. Ouvi, na íntegra, via internet, o seu discurso de vitória eleitoral e cheguei a arrepiar-me. É um homem único e muito especial que marca uma ruptura com a tirania dos Bush. É um homem de paz, de diálogo, um humanista. Uma pessoa que diz “ouvir-vos-ei sempre, sobretudo quando estivermos em desacordo” , só pode ser alguém que nos abre as portas de um amanhã melhor. Eu acredito nele. É um dos meus heróis actuais. Oxalá não me deixe ficar mal.
17 - Na sua opinião considera que as linhas de crédito pelo Governo às PME são medidas positivas?
Sem dúvida alguma. Podem ser um estímulo e um balão de oxigénio em direcção à continuidade e um regresso ao caminho da sustentabilidade. Resta agora saber, se nas actuais condições, serão suficientes.

18 - O que pensa do braço de ferro entre o Ministério da Educação e os professores?
O Ministério da Educação, na pessoa da ministra, pecou pela teimosia e pela arrogância. Considero, no entanto, que a avaliação deve de existir porque nenhuma classe profissional pode estar acima da legislação e das restantes classes. Faltou o diálogo e uma aproximação entre as partes.
Urge que se encontre um consenso. Os professores são o motor da função educativa. Se estão contrariados, frustrados, revoltados, acabarão por passar esse sentir para os alunos e aí o processo complica muito.
As posições estão extremadas, com a ministra fechada sobre as suas convicções e os professores nas ruas. É um processo muito complicado que só pode ser ultrapassado com cedências de parte a parte.

19 - Entre os funcionários das finanças e do Ministério das Finanças e da Administração Pública na questão da alteração dos vínculos laborais?
Este é processo que me diz particularmente respeito por motivos profissionais e me preocupa bastante. Concordo em absoluto com a proposta dos deputados do Bloco de Esquerda quando expressa que “a liquidação e cobrança de impostos constitui um meio necessário à satisfação das necessidades do Estado e das suas funções públicas e sociais, devendo, por isso, ser considerada uma função nuclear, fazendo portanto parte integrante das funções de soberania do Estado. As funções exercidas pelos trabalhadores da Administração Fiscal são essenciais para o combate contra a fraude e a evasão fiscal pelo que a colocação destes trabalhadores no âmbito do contrato individual de trabalho, remete-os para uma situação de menor protecção na luta contra a fraude e a evasão fiscal. O vínculo de nomeação é um dos garantes, perante o contribuinte, de uma posição de maior respeitabilidade, para além de facilitar o exercício da sua profissão, pelo que é da mais elementar justiça que o governo reconheça que estes trabalhadores desenvolvem funções consideradas de soberania do Estado, devendo-lhes ser garantido o vínculo de nomeação”.


20 - Qual deveria ser o papel de Portugal em relação aos países da CPLP?
Portugal, sobretudo por uma questão histórica, deve assumir o seu papel de centro nevrálgico desta comunidade. Deve trabalhar em conjunto, deve ouvir os restantes membros mas nunca se deve demitir da responsabilidade de ter estado na génese desta comunidade, de ser o ponto fulcral a partir do qual ela se criou. Sou contra o acordo ortográfico, por exemplo. É uma questão de princípios.

21 - Considera-se português, ou, atendendo à nossa história, um lusófono? E em que medida esse sentimento pode ser enriquecedor e recíproco, dando-nos vantagens em relação aos parceiros europeus?
Sou um português convicto que acredita que esta casa gigantesca que é a língua portuguesa nos pode trazer muito mais vantagens que desvantagens, a todos os níveis. Deve-se trabalhar com honestidade, com integridade, com espírito de equipa e se assim for, os bons resultados surgem por acréscimo. O peso enorme da nossa história pode e deve sempre acompanhar-nos porque nos torna únicos e autênticos. Quantos países se podem gabar de ter dividido o mundo ao meio?

22 - Que mensagem deixaria para os portugueses para este ao económico e 2009?
Deixo uma mensagem de esperança e de fé, nem que seja neles próprios. Já estivemos bem pior e demos sempre a volta por cima. Desta vez não há-de ser diferente. Corre-nos nas veias o sangue de uma nação que deu novos mundos ao mundo. Essa grandeza, mesmo que invisível, há-de sempre viver dentro de cada um de nós.

1 comentário:

Tiago Pereira disse...

Pedro,

Apesar de divergir de algumas coisas que foram ditas, considero na generalidade a entrevista muito equilibrada, e com um olhar muito perspicaz na análise à política nacional. Talvez fruto da aprendizagem do ISCSP...

Só tenho pena de ninguém fale da regionalização nestes contextos.

Saudações ISCSPianas
Tiago Pereira