quinta-feira, 15 de abril de 2010

Tango à chuva (Benfica 2 x Sporting 0)

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Temos de ser honestos e começar por dizer que na primeira parte só deu Sporting. O Benfica acusou a responsabilidade da partida, entrou intranquilo e não conseguiu explanar o seu futebol perante um adversário que, não tendo nada a perder, entrou mais destemido e pressionou em toda a linha. Nem por isso teve mais ou melhores ocasiões de golo mas a verdade é que foi mais forte nesses primeiros 45 minutos.

Ao intervalo, comentei com o meu companheiro de partida e de petisco (magnífico coelhinho com arroz de feijão), Luís Barradas, que ou o Jesus mexia na equipa ou mais cedo ou mais tarde tínhamos uma lá dentro. Até parece que nos ouviu.

Para a segunda metade, JJ sacou um brilhante Aimar da cartola e o jogo nem parecia o mesmo. Sob a sábia batuta do genial maestro argentino, deixámo-nos de viras e malhões atabalhoados e passámos a ser o macho num elegante tango à chuva com os lagartinhos, claro está, a fazerem de fêmea desorientada e submissa.

Tudo mudou, como por magia. Os passes começaram a bater certo, a pressão tornou-se constante e em todo o campo e as transições defesa-ataque estiveram, pela primeira vez, a funcionar. Com um meio-campo criativo e cerebral, o futebol tornou-se fluído, consistente e consequente.

Óscar Cardozo é assim… pode andar um jogo inteiro a passear aquela estrutura disforme de carne e ossos que o sustenta, sempre a olhar em volta com ar aparvalhado, por vezes a tentar fazer qualquer coisa parecida com correr… a encher chouriços… mas, na hora H, sabe-se posicionar e meter o pézinho que faz toda a diferença, como ontem fez. Brilhante a forma como se antecipou aos defesas e rematou primeiro. Soube fazer toda a diferença.

O Benfica estava galvanizado. A locomotiva levava velocidade cruzeiro e abrasava a lagartagem por onde passava mas a vantagem era magra para tantos “olés”.

Chegou então o momento em que o incansável e ontem bastante perdulário Ramires fez um corte/passe acrobático que abriu a Aimar um corredor até à baliza. É um daqueles instantes em que parece que tudo pára. O mundo… o nosso corpo… tudo fica em suspenso. A minha cabeça só repetia “não falhes, não falhes, olha para a frente… não me falhes…”.

Aimar sai isolado, veloz, elegante... correndo solitário para o golo. Dá dois toques, o último com um pouco de força a mais e eu digo para mim que “já não a agarras”… mas ele esforça-se, ele estica-se, ele morde a língua, em esforço… vai com raça, vai com alma, vai apanhá-la… e eu vejo e revejo tudo em câmara lenta…

Patrício já ficou para trás, o ângulo é muito apertado… Grimi, no chão, é o único obstáculo entre a bola e as redes…

E o pequeno grande craque, num lance digno de ser filmado com a tecnologia de 360º do Matrix, pica a bola com elegância e coloca-a certeira no segundo poste.

Golo!

Aimar corre para a bancada e nós corremos atrás dele através da câmara. Ele beija a camisola, agarra-se ao símbolo que traz no peito e espera pelos colegas. Ao fundo, os adeptos exultam. Saltos, bocas abertas, gritos, braços no ar, abraços, sorrisos, cachecóis a voar… uma alegria sem igual.

A festa estende-se ao banco. Jesus e os adjuntos abraçam-se efusivamente. O sonho está próximo. Shéu han está emocionado e parece chorar.

Como diria o meu querido Gabriel Alves (onde andarás?)… “o futebol como expressão máxima da alegria popular”.

Foi GRANDE! Foi bom! Foi muito bom!

Depois, só faltou gerir a confortável vantagem até ao final. Facilmente e com direito, agora sim, a uns merecidos “olés” pelo meio.

26 pontos de diferença?!?!? È muito ponto. Bastantes pontos, mesmo.

Faltam 4 jogos. 4 finalíssimas. A primeira é já neste domingo, com a Académica, em Coimbra, que fica aqui tão perto…

Depois, recebemos o Olhanense na Luz, vamos às Antas e fechamos com o Rio Ave em casa.

Fazer a festa do título no estádio do dragão num ano em que o Porto nem à Champions vai… é coisa que nem nos meus melhores sonhos poderia imaginar.

Faltam 7 pontos em 12 possíveis. Está tão perto…

O sonho está tão perto…



Algumas notas soltas e finais:

Lástima para o mau perder Sportinguista. É uma pena que não saibam assumir a derrota e que o Benfica foi mais forte. Desculparem-se com o árbitro que só revela o verdadeiro (mau) carácter de jogadores e dirigentes. Falam no lance do David Luíz com o Moutinho na área e do amarelo a Luisão. São lances discutíveis, concordo, mas e o que me dizem do penálti descarado do Carriço quando cortou um remate do Carlos Martins com a mão na área, ou do penálti claríssimo não assinalado quando Grimi pontapeou Cardozo, também na área, lesionando-o e mandando-o para o estaleiro? No aspecto disciplinar há mais: e a entrada para vermelho directo do Moutinho sobre o Ramires? E a do Miguel Veloso já na ponta final, junto à linha de canto? Lances polémicos aconteceram para ambos os lados. O árbitro preferiu privilegiar o espectáculo. No meu entender, bem.

Nota comovente para o Luisão e para a revelação de Jorge Jesus na conferência de imprensa. O patrão da defesa não estava a 100%. No aquecimento sentiu dores e disse ao treinador que o melhor era não alinhar mas se a equipa precisasse dele, daria tudo o que tivesse. Um gesto que revela a verdadeira alma de campeão de um capitão único.

Um último agradecimento para os meus anfitriões, Luis Barradas e família. Que bem que se estava (mais uma vez) numa casa onde nunca falta devoção benfiquista. Aquela sala parecia o salão nobre da Casa do Benfica em Marvão. Não faltaram posters, cachecóis, bandeiras, adereços e até uma imagem de Jorge Jesus de Cristo redentor para abençoar a partida. Bem ao meu jeito! Magnífico!

A minha filha disse-me hoje de manhã: “Papi… eu já estava deitadinha e ouvi aqui os vossos gritos. Tão altos… Pensei logo: Já marcámos mais um!


Lindo!


3 comentários:

M. disse...

O título já ruge é um bocadinho a gozar com o Sporting, não? :D

Helena Barreta disse...

Parabéns.
Não sou do Benfica, mas o que mais aprecio no desporto é a superação, o querer fazer mais e melhor e o fair play. Por vezes, ou melhor, muitas vezes, num desporto colectivo como é o futebol os dirigentes das equipas e os adeptos desculpam-se com os árbitros, mas quem assim reage às derrotas não gosta de ver futebol, gosta só de ver a sua equipa ganhar. E isso, para mim, é básico e triste.

O Benfica foi melhor, marcou golos e "nós" não. Parabéns

Bonito disse...

Não sei se é isto que está muito bem escrito se é o meu coração “vermelho” a influenciar…

“Aimar sai isolado, veloz, elegante... correndo solitário para o golo. Dá dois toques, o último com um pouco de força a mais e eu digo para mim que “já não a agarras”… mas ele esforça-se, ele estica-se, ele morde a língua, em esforço… vai com raça, vai com alma, vai apanhá-la… e eu vejo e revejo tudo em câmara lenta…

Patrício já ficou para trás, o ângulo é muito apertado… Grimi, no chão, é o único obstáculo entre a bola e as redes…

E o pequeno grande craque, num lance digno de ser filmado com a tecnologia de 360º do Matrix, pica a bola com elegância e coloca-a certeira no segundo poste.

Golo!”