Não vejo sempre o
programa Alta Definição. Não sou daqueles indefetíveis que nunca perde uma
edição. Mas quando posso, o que é pouco comum (um pai que tem a seu cargo duas
filhas pequenas quando a mãe trabalha aos fins de semana, raramente tem as tardes
de sábado livres para si), espreito para descobrir se a pessoa à qual estão a
perguntar o que dizem os seus olhos me agrada. Foi o caso hoje: ter vagar e
querer ouvir os pensamentos do Luís Represas. Foi importante ter passado esta
última hora a “falar” com ele, sobretudo a ouvi-lo. Nunca fui seu fã mas gosto
de muitas das suas músicas, sobretudo das suas palavras, da poesia. A conversa
de hoje foi com um homem maduro, realizado consigo e com a vida. Tivemos
oportunidade de conhecer melhor um homem bom com o qual pude aprender.
A conversa teve
momentos altos que foram muito bonitos como quando comparou a vida a um
edifício, sendo que estamos sempre a viver a fase da construção do último andar,
o mais recente. Apesar da importância das últimas fases em construção, importam
sobremaneira as fundações, as bases que aprendemos dos nossos pais. Esta é uma
ideia sábia, enternecedora e inédita para mim. Gostei.
Como foi novidade a
comparação entre a relação de duas pessoas e um serviço de mesa. Para funcionarem,
têm ambos de serem usados, de se desgastarem, de arriscarem a que se partam. Um
serviço que seja precioso, muito bonito e se use muito raramente, não tem valor
prático. Agora substituam a palavra “serviço” por “relação a dois” e verão como
tem razão. Verão como é verdade.
Verdade e bonito.
Como bonito foi o momento em que disse que gosta de pensar nos erros que comete,
em vez de os tentar esquecer. Ao contrário do esquecimento, diz que tenta sempre
minorar o impacto de negativo de um que aconteça, tentando percebê-lo e
corrigindo os seus danos.
Ter visto o programa
permitiu-nos aprender a lição que aprendeu dos seus pais e eu também aprendi
dos meus. Uma importante máxima de vida: “seja o que fizeres, tens de fazer
bem. Não interessa o que seja. Mas seja o que for: fá-lo bem. Esforça-te por
fazê-lo melhor todos os dias”.
Também sou assim. Se
esta máxima fosse comum a mais pessoas e se aplicasse não apenas à profissão mas a mais áreas da vida,
às relações, a nós próprios, o mundo certamente seria um sítio bem melhor para
se viver.
Alta Definição é, por
vezes (quando o entrevistado tem qualidade para isso), o programa de uma televisão
privada a prestar serviço público: ensinar os espectadores, ensinar quem vê, ensinar
as massas. Bom.
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