(Com a amiga Eva no escorrega do infantário, há dias)
O carro ia cheio. Íamos no caminho para Portalegre, para almoçarmos a
convite da madrinha Paula que nesse dia fazia anos. Sem mais, na boa, a minha
Alice começou a fazer uma das birras já típicas que hão-de ficar conhecidas como
as birras da sua chancela. Uma cena de antologia ao nível da que quando queria à força ser loira.
Sem nada o fazer prever e quando íamos todos bem na viagem, começa-me a
chorar e a falar alto, do nada. Desta vez a bom som, sem mais, teimava… “eu
quero crescer. Eu quero ser grande”.
Silêncio e admiração geral.
“Mas porque é que eu não sou grande? EU QUERO SER GRANDE! EU QUERO
CRESCER. MAS QUANTO É QUE FALTA PARA EU SER GRANDE?!?!? EU QUERO CRESCER!!!! EU
QUERO SER GRANDE!!!!”.
Eu, impávido, sereno, continuei a conduzir, a agir com a naturalidade
que podia. As mães, a dela e a minha, desdobravam-se em justificações, em argumentos,
em baldes de água para apagar o incêndio que ardia bravo e já queimava as
redondezas. “Mas querida, tu já és grande e cresces todos os dias” avançava
uma, “Não vês que as calças te vão ficando cada vez mais pequenas? É sinal que
estás a crescer!” retorquia a outra, E ela, nada! Fechada em si. A resmungar já
assim a atirar para o desespero e a olhar de soslaio para o vidro.
“Temos o baile armado!” pensei eu…“Não se vai calar tão cedo…”
Mas depois, vinda do nada, a solução instalou-se e a birra apagou-se de
vez. Sozinha, sem argumentação contra. A crise morreu como nasceu: do nada. Ela esqueceu-se, ou então distraiu-se. Nunca a
paisagem da serra meu pareceu tão bela. Nunca as curvas se revelaram tão desconcertantes.
Afinal foi como veio. Sem deixar rasto. Tanto barulho para nada.
O veto é o melhor bloqueio.
Mas para alguma coisa serviu e eu quis plastificar esta polaroid em
palavras porque sei que a Alice vai gostar de se descobrir quando já não se
recordar de nada disto. Vale por isso. Quanto mais não seja. E acreditem que é muito.
2 comentários:
Temos que ver o grande lado positivo. A cabecinha dela funciona muito bem, com objectivos definidos. Nós é que não chegamos lá.
A Alice questiona-se, o que é bom. Deve ter ficado satisfeita com as respostas que lhe deram, ou as curvas da Rampa de Portalegre amainaram as dúvidas e baralharam o espírito.
A sua menina está a crescer e muito.
Um abraço
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