Completar 40 anos não é o mesmo que completar 30, ou 20, ou menos.
Completar 40 anos de vida é um marco e por isso reuni algumas das
pessoas que mais amo no mundo para estarem nessa data junto a mim. Não
estiveram todos mas essa era uma tarefa impossível de alcançar. Alguns não
puderam estar presentes por motivos de distância ou porque trabalhavam nesse
dia. E eu sabia muito bem que não podia convidar todos os amigos que queria. Eu
queria que a prenda fosse a presença de todos mas sabia que não podia. Era
grande demais! L
Os meus pais não me deixaram grande fortuna. Não ganhei muita riqueza material. Mas aprendi quase
tudo com eles. A fortuna imaterial, a que se aprende, é tão valiosa que vale
muito daquilo que sou hoje. Essa, tudo potencia. Os valores importantes da vida
que me ajudaram a uma longa
carreira como aluno e me fazem grande parte do homem que sou hoje, vieram
deles. Voltando há ideia que aqui aprendi (e defendi) há dias com o Luís
Represas que comparou a vida de um homem a uma casa; ontem comecei a construir
um piso novo, o dos quarenta. Mas as fundações, os alicerces que são a infância
são fortíssimos e de uma resistência anti sísmica, se é que me faço entender. O
amor que senti dos pais, do meu irmão, das minhas tias, madrinha e avós na
infância são valiosíssimos. Não há dinheiro que os pague.
Entre muitas coisas aprendi com os meus pais é que os amigos são irmãos
não sanguíneos mas dos quais se gosta como se fossem do nosso sangue. Gostaria
então de os ter no dia 8 de Junho, todos junto a mim. Sobretudo os que me telefonaram
ou mandaram mensagem (vocês
sabem quem são). Mas também os que me felicitaram aqui pela internet, pelo
facebook. É óbvio que não tenho 900 amigos como os que tenho no facebook mas
tenho lá alguns bons amigos.
Este 8 de Junho caiu num sábado e isso tornou-se perfeito. Fazer 40 anos
num fim-de-semana tornou-se uma bênção e fiz tudo para saber agradecer. Foi
bonito. Foi um dia muito feliz. MUITO feliz.
As pessoas que estavam junto a mim, tiveram de levar comigo e deixarem-me
dizer algumas palavras. A ocasião merecia um discurso. Como queria dizer tanta
coisa cometi a imprudência de não levar o discurso escrito. Escrito sai sempre
melhor que dito. Sempre… quer dizer, nem sempre porque da última vez que levei um
discurso escrito, rasguei-o na frente de toda a gente e não li nada. A cena
passou-se no almoço de encerramento da campanha do PSD que nos daria a vitória
nas eleições autárquicas de 2004. Já não me consigo lembrar muito bem porquê mas o homem que
haveria de ser eleito presidente falou antes de mim. A sala estava repleta de
pessoas que iriam votar em nós. Ainda assim, o homem que não tem DE TODO o dom
da palavra, começou a falar. A falar muito baixinho, muito devagarinho, sem
ideias fortes, sem força. Ora a sala estava cheia de pessoas que de certeza
iriam votar em nós e que tinham muito pouca vontade de ouvir maçada depois de
almoço. Com a barriguinha cheia e as gargantas bem molhadas começaram a dar
cabeçadas, a deixarem-se dormir. Eu espreitava detrás do cortinado, fiquei em
pânico a assistir áquilo. Só o homem que falava é que não percebia a sonolência
geral que ia na sala. Assim, para solucionar a coisa cheguei ao micro quando
foi a minha vez e falei. Em vez de ler, rasguei o discurso que me tinha
levantado para escrever às 6 da manhã nesse dia. Quando rasguei o discurso, o
pessoal acordou todo. Falei e fiz aquilo que tinha de fazer: mobilizei-os para
espalharem a boa nova da mudança que eles queriam para o concelho aos vizinhos,
amigos e familiares. A coisa correu bem e tenho ideia (não posso precisar porque
já não me recordo bem) que quem veio do PSD a apoiar foi o Miguel Relvas
(?!?!?). Fonte segura que esteve com ele junto ao carro avançou-me que ele disse
que em Marvão se tinham enganado e quem deveria ser o candidato era o
vice-presidente e não o atual presidente. Se isto foi realmente verdade,
digamos que tive um apoio sentimental de um homem que pela história recente não
abona lá muito a meu favor.
Ontem levei algumas notas orientando-me sobre o que queria
dizer mas essas notas tiveram o mesmo destino das do discurso que tinha escrito
na política. Desta vez não foi preciso rasgá-las porque nem sequer as tirei do
bolso. Mas o que eu disse foi que na sala estavam muitas das pessoas que
realmente amava no mundo. Não todas as que amava mas todas as que lá estavam
eram amadas por mim (e estava certo que era mútuo). Tinha lá amigos que tinham
vindo de propósito de longe, de Vendas Novas, de Santarém, que puderam e não
quiseram deixar de estar presentes. Fui feliz. Comemos, bebemos, rimo-nos,
conversámos… fizemos aquilo que chamo de verdadeira riqueza da vida:
desfrutamos uns dos outros e do momento. Quando morrermos não levamos as casas,
nem os terrenos, nem as riquezas terrenas. Vai só alma e fica cá a carcaça para
os bichos comerem. O que nós levamos são estes momentos que já ninguém nos tira!
Eu pedi que não me levassem prendas. A prenda que queria era
a presença de cada um. Ainda assim tive algumas prendas. Mais do que aquelas
que queria. A prenda que mais gostei foi a da família Machado porque foi a mais
inteligente: “Como não querias prendas, oferecemos uma em teu nome. Beijinhos
de parabéns do Nuno, Catarina (+1), Isabel e Zé Pedro” com um donativo de 20
euros aos bombeiros voluntários de Marvão. Realmente, se não fossem os
bombeiros voluntários de Marvão a socorrerem-me naquela noite do acidente, não
estaria cá para celebrar o quadragésimo aniversário.
Outra prenda excelente a destacar foi a que recebi dos
meus sogros que não me ofertaram dinheiro mas sim os ingredientes necessários
para elaborar a festa. Aquilo basicamente foi uma festa que os meus sogros, os
meus santos sogros como lhes costumo chamar, deram a todos em meu nome. Obrigado
Dona Jacinta e Chefe João Manuel! Olha, como diz o outro: “que nunca vos doam
as maõs!”. Eu sei que são só filhas e nunca tiveram um filho varão mas eu e meu
santo cunhado somos tão bons rapazinhos, ó valha-me Deus.
Já a minha mãe e tias optaram pelo tradicional pilim que
sabe sempre bem porque nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Recebi também
prendas úteis como a dos meus amigos Escarameia e Cristina que me equiparam a
bicicleta com alguns apetrechos que necessitava e sabendo ele dessa necessidade,
aproveitaram. E bem. Recebi também imensos livros recentes de autores
portugueses.
Foi como eu previa: muita alegria, muito comer (que sobrou
como eu antevia) e bebida que nunca foi a mais para ninguém porque todos se
comportaram do melhor.
E eu digo e penso: “graças a Deus. Graças a Deus estou vivo, faço anos e
posso dar esta alegria a tantos que me amam que passariam um dia tão triste se
eu tivesse acabado.”
Fiz o discurso que quis. Quando estava na câmara, o Hernâni e o
Barradas, os meus braços direitos na organização dos eventos da cultura (o
primeiro) e no terreno (o segundo) estavam sempre a pedir-me para não
discursar. Começava a falar e sei que não era chato, não aborrecia, dizia o que
queria depressa e com clareza, não era maçudo como o outro mas assim que
falava, os dois começavam logo a fingir que estavam a abrir a boca e a apontar
para o relógio. Desta vez eu sabia que tinha o direito de falar porque quem ali
estava sabia que a festa era minha mas mesmo assim não me livrei do Pescada que
de vez em quando interrompia a perguntar em alto se ainda não chegava, se
queria falar mais e a ameaçar que ia para o restaurante o Sever onde tinha
marcado mesa a pensar que a minha comida era pouca ou não prestava. Com amigos
destes… quem é que precisa de inimigos?
Tive de agradecer à minha mulher e à minha sogra que se fartaram de
trabalhar para que eu pudesse ter a minha festa de anos. Na sexta-feira, eu e a
Cris tivemos de tirar o dia de férias para ir fazer as compras para a festa em
Portalegre. Fartamo-nos de correr, de gastar heróis (euros) e andámos todo o
dia a rodar. Quando chegámos, encontrámos a minha sogra e a nossa amiga Maria
Joaquina que tinham estado a tarde inteira a trabalhar, a fazer a sopa, a
feijoada, o bacalhau com natas, os bolos e doces. Como eram quase 8 horas ainda
tive de ir buscar um fogão a casa e uma panela gigante. Saí então para os anos
do meu amigo Garraio que teve lugar na taberna da Dona Maria da Cruz na Escusa.
Reparem que foi todo o dia a trabalhar e à noite estive fora. No dia dos anos
mal vi a Cristina porque saiu logo às 7h da manhã para ir ao mercado
(adivinhem? Isso mesmo: a fazer compras para a festa!) No dia em que fiz 40
anos tive de me despachar sozinho, de dar banho às duas pequenas e ir à Olga do
Prado ver dos frangos assados antes do almoço. Durante a manhã, ainda em casa,
a Alice perguntou-me como é que se lia, como é que se rezava e mais duas ou três
das dela. Expliquei-lhe que era muito pequenina, que quando fosse para a escola
aprenderia a ler e a rezar. Mas não! Ela queria era saber a Avé Maria. Lá
tentei e lhe fui ensinando como podia. Ela que quer sempre saber tudo e é
desenrascada que eu sei lá teimou que já sabia e avançou: “olha aqui como é pai:
“AVÉ MARIA… GRAÇAS A DEUS”.
Isto reforçou a minha decisão: Esta seria a última festa de anos que
organizaria. Tinha que o dizer e disse-o, apesar de a minha sogra ter gozado
comigo e dito: “ai sim? A última? Isso já disseste tu no ano passado!” Eu tento
explicar-lhe mas não consigo. A ver se por aqui a ler-me, a coisa vai. No ano
passado eu tinha renascido e havia imensas pessoas a quem queria e tinha de
agradecer, pessoas que me ajudaram imenso neste processo, que me emprestaram
casa em Lisboa para ficar quando necessitava, pessoas que me tinham apoiado
imenso nos hospitais quando estive internado e homens que me foram levar e
buscar a Lisboa. A festa deste ano era a da ternura dos 40 anos e tinha de a
fazer. 40 anos são um marco e é o momento ideal para virar uma página. A dos 40
é a última porque se Deus nos der saúde, já é o momento certo para me tornar
egoísta, ou pelo menos mais egoísta.
Isto foi a dos 40 mas a dos 41, caso lá chegue, queria que fosse
pequenina. Muito mais pequenina que esta que por mais pequena que a quisesse
sempre meteu mais de 60 Adultos e 20 crianças. Para o ano eu queria ter mais
tempo para mim e a minha família. 20, 20 e poucos no máximo. E como é que isso
poderia ser possível? Simples: dividindo para reinar.
Ai mais isso fica mais caro! (isto é a fala da minha mulher se isto
fosse um teatro).
(Agora é a minha fala!) E eu quero lá saber do dinheiro! Tenham calma,
eu vou explicar. Eu ganho bem. O vencimento da minha mulher também é alto. Os
dois ganhamos bem acima da média portuguesa onde há tanto desemprego. Mas
também ganhamos acima da média porque temos um nível de escolaridade bem acima
da média. Ela é doutora, licenciada em Turismo e Termalismo. Concorreu ao lugar
na câmara municipal de Marvão e foi escolhida pelos seus conhecimentos
históricos e geográficos do concelho, pelas suas capacidades e pela fluência em
línguas. Ficou pelo seu mérito. Eu também fiquei pelo mérito mas não contou
aqui a licenciatura em comunicação social e a pós-graduação em gestão
autárquica. Concorri no maior concurso da função pública em Portugal sobre cultura
geral (língua portuguesa, história, matemática, cultura, lógica) e dos mais de
80 mil a concurso fiquei classificado em 2053. Depois, durante os 3 anos de
estágio tive de aprovar em Lisboa nos 3 exames específicos internos sobre os
impostos. Aprovei e progredi sempre porque me esforcei imenso. Tenho subido
sempre na carreira porque tenho sempre aprovado nos concursos a que tenho sido
submetido. Estamos bem. Estamos com Deus, estamos bem. Mas quem gere o dinheiro
e veste as calças é ela. Ela é que é a patroa!
Nem sei ao certo quanto nós temos no banco. Não sei! Palavra. Isso é com
a Cris. Mas desde que o dinheiro seja bem gerido como eu tenho a certeza
absoluta que é, e não falte para o nível de vida que pretendo, estou bem. A
prioridade é: as minhas filhas. Sempre elas em primeiro. Não pode faltar roupa,
alimentação, um ou outro brinquedo, alguma guloseima (e eu ajudo a pedir à
mãe). Desde que assim esteja, tá-se bem! Os meus carros estão bons. Dão para
nos transportar onde nós queremos e chegam. A nossa casinha é o único
empréstimo que temos e haveremos de a pagar nem que isso dure mais anos (já não
são muitos…)
Como é que eu divido para reinar não dando trabalho quanto aos anos?
Separando as águas. Por exemplo: no ano passado tive na minha festa de anos,
todas as tertúlias a que pertenço. Neste ano já não convidei a tertúlia que me
foi transferida pelo meu sogro que adoro e da qual fazem parte homens que têm
idade para serem meus pais ou avós até! Vou organizar só para eles um almoço no
restaurante da Olga do prado, como costumava fazer antes. A minha outra
tertúlia que se chama tortulha porque começou com um petisco de tortulhos, foi
também desta vez mas para o ano, para aliviar a barra, terá um petisco à parte.
Perceberam? Dividir para reinar. Paga-se mais mas eu fico mais feliz porque não
dou trabalho a quem amo e fico com mais tempo para mim e para os meus. Com mais
tempo para desfrutar o aniversário.
Quando um gajo faz 40 deixa de ter idade para festas de aniversário
grandes. Quem as fazia sempre enormes era o meu vizinho Zé Manuel Bonacho que
já lá está na terra da verdade. Eram festas grandiosas, enormes porque os pais
podiam e ele nunca casou, nunca teve filhos e assim acabou. Mas eu tenho é de
dar prioridade às princesas. Festas grandes são para elas. Para mim, já nunca
mais faço, mesmo que tenha saúde. Agora… com amigos destes...
Ontem já me disseram que mesmo que eu não organize uma festa de anos para
o ano e passe o dia sozinho, vão organizar eles uma festa de anos em meu nome e
talvez me convidem. Já viram isto?!?!? É demais! Olha… agora que penso nisso,
até era engraçado e talvez aparecesse no Guiness: o homem que foi convidado
para a sua festa de anos. Era bem. Colocavam lá uma foto minha de robe e
chinelos como o Hugh Hefner. Se for com umas coelhinhas da mansão Playboy até
que nem era mal pensado. Psssshhhiiiiuuuu… vem aí a Cris e já estou a escrever
há muito tempo.
Este loooongo texto é dedicado a todos aqueles que me querem bem e me
felicitaram: pessoalmente, por telefone, pelo facebook (sei que foram mesmo
muitos), a todos. Mesmo todos! OBRIGADO!
O povo diz que “quem semeia ventos, colhe tempestades”. Aqui o vosso
amigo tio Sabi tem uma versão diferente
que é um lema de vida: “quem semeia sorrisos e entreajuda, colhe amor, ternura
e abraços.” Como o que vos mando a todos agora!
Agora que deixei os “…intes”, os “…intas” e entrei nos “entas”, faço
votos de chegar aos cem. A gente quando pede tem de pedir à boca cheia e não
estar com miudezas. Se é para pedir, ou é ou não é! Não acham?
PS: O Paco Bandeira também foi convidado para cantar “a ternura dos 40”.
Era apropriado e bem. Já tinha convocado 2 seguranças à paisana para
protegerem as senhoras caso ele quisesse casar com alguma ali e malhá-la na
hora.
2 comentários:
AH!!! SOUBESTE DIZER TUDO O QUE TE VAI NA ALMA.e A TUA É TÃO GRANDE!!!
Mando-lhe um abraço de parabéns, que continue feliz e que a vida lhe dê tudo o que merece.
Um abraço
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