terça-feira, 27 de agosto de 2013

A GRANDE pequena Alice (de 3 anos)



A minha Leonor é muito inteligente. Digo isto com muita alegria e alguma vaidade mas sem me querer armar aos cágados. É a constatação de uma realidade. Dizer isto para mim é tão óbvio como dizer que a Alicia Keys é linda, tem uma voz soberba é uma artista que não dá um tiro ao lado. A Leonor sempre teve uma inteligência pacífica, tranquila.

A minha Maria, filha pelo baptismo, também é muito inteligente. Mas já é uma inteligência rebelde, algo desassossegada. Muito desassossegada. Questiona tudo o que mexe.

A ver se consigo explicar a diferença: pela Leonor ainda vivíamos no tempo do Salazar se ele não tivesse caído da cadeira, o pobre do velhinho. Para não fazer reboliço, ela aguentava o Antigo Regime. Sofria em silêncio.

Isto para dizer que se as grandes são assim, a minha Alice é um upgrade da Maria. É a inteligência dela em versão de 2010. Rebelde ao cubo. Um cubo em 3 dimensões e virtual.

Dois apontamentos deste domingo passado:

Fomos almoçar fora com as tias do Vasco Santana (as minhas…) no sítio do costume quando saímos para comer no Verão, à beira rio e a ver Marvão. Onde se paga não só a comida mas o espaço também. Tudo muito bom, tudo muito fantástico. Mas a Dona Alice, que tinha ido de manhã para a piscina comigo e com a mana, arreou depois do peixinho grelhado. Não foi ao tapete, resistiu mas quando fomos dar uma voltinha a Castelo de Vide para apresentar às minhas tias que estavam desertas de ver gente e coisas novas, a loja da mãe da minha amiga Sofia Borges, a Alice deixou-se dormir no carro. Aí só não foi ao tapete como se diz no boxe porque ficou encostada na cadeirinha. Ficou com guarda mas a descansar no carro. “Coitadinha… eu sabia que se ia deixar dormir”, pensei. Uma meia hora depois decidimos regressar a casa. Eu arrisquei-me na condução e desci uma rua mais estreitinha do que eu me lembrava, que vai da igreja matriz à fonte da vila. Raspei um bocadinho com o espelho. Um bocadinho, porque o Astra é largo que se farta e eu estava habituado a descer aquilo à pendura nos carros dos meus pais, mais franceses e mais fininhos, um Renault e um Peugeot. Tudo tranquilo. Tudo calmo. Mas a menina Alice, de 3 anos, acordou com uma energia que foi como a inteligência dela. Quando ouviu o carro a raspar, saltou e disse bem alto e a ralhar: “se a mãe tivesse vindo não te tinha deixado vir por aqui!” Logo assim, de rompante e à primeira, sem medir as distâncias. Como eu não tinha medido com o carro.

Como se não bastasse, de tarde outra pérola, esta relatada pela mãe que a presenciou. Como almocei bem, apenas jantei uma sopa e uma peça de fruta. A Cris falou com a Tia Bia e ela disse que a Alice tinha comido bolachas na Beirã. Houve mal entendido e a Cris que é uma mãe zelosa foi-se na conversa da minha tia que tem quase 90 anos e já se alimenta com muito pouco porque os anos não querem fartazanas. Confiaram uma na outra. Descuraram a Alice. A Alice também comeu uma sopa fantástica que a mãe tinha estado a fazer nessa tarde, para desenjoar. Quando acabou de comer a sopinha, achando que o convés ainda não estava bem arrumado, disse: “ó mãe: eu agora queria um bocadinho daquilo que se come depois da sopa ao jantar.”


Compreendem agora o que escrevi no princípio do texto?

2 comentários:

zira disse...

não colocaste no face por esquecimento ou por não quereres partilhar?

Helena Barreta disse...

Gosto da subtileza do "daquilo que se come depois da sopa", muito bom.

Um abraço