Nestes
dias, ter um blogue é fácil. Quer dizer… é fácil em termos de assuntos. As
matérias blogáveis são tantas, tantas, tantas e surgem de tantos pontos do dia que
são como os tortulhos: basta um bocadinho de humidade e nascem logo uns poucos.
A informação é tão abundante e as formas de chegar a ela são tão variadas que podia
levar o dia inteiro a alimentar o meu blogue, sem me repetir. O menu poderia
ser tão rico e variado que o prato do dia nesta tasca nunca se repetiria. O
problema é que este prazer não dá rendimento ou como diz o meu grande amigo Pescada,
não me dá o dinheiro “que dá alegria à minha vida”. À minha e às minhas
pequenas…
O
problema é o tempo. Assuntos que deito fora e deixo cair chegam a ser aos pares
por dia. Mandar para o lixo petiscos como punhetas de bacalhau e toucinho frito,
com tanta fome que há no mundo, dá pena! E o vinho? Eu sei que é carrascão, de
baixa qualidade e preço, mas é vinho, que diabo! O tempo não chega… Não dá! No
Inverno sempre tenho mais tempo. Quando tudo vai prá caminha, fico acordado a
fazer o gosto aos dedos e aos miolos. Agora no verão… com o sol, o calor, a
piscina maravilhosa que temos na Portagem… não dá! Ontem à noite, os meus
santos sogros deram uma excelsa sardinhada. Hoje outra, na casa do meu querido
Escarameia. As solicitações são mais que muitas e eu pareço uma dondoca
daquelas que andam a correr de festa em festa para aparecer nas revistas do
social. Que cabra vadia me saí!
O
meu querido Vítor Hugo, colega no fisco e iscspiano como eu, mandou-me esta
pérola que adorei. Já tinha recebido há tempos mas voltei a rir-me muito. O
português espalhou uma língua lindíssima pelo mundo. África, Ásia e América do
Sul. Agora aprende com eles essa mesma língua com o novo acordo ortográfico.
Cedendo aos recetores. Saudade… a única palavra que não tem tradução. Saudade
desse tempo atrás. Pensar que andou o D. Afonso Henriques a espetar surras na
mãe para fundar este condado… Se tivesse estado sossegado a ver o Meo…
Outro
amigo do fisco que foi colega nos tempos de liceu, o grande Gonçalo, mandou-me
esta belíssima crónica da grande jornalista e escritora Clara Ferreira Alves
que eu sigo sempre no Expresso (revista) e na televisão (Eixo do Mal na SIC
Notícias). Brilhante, como sempre, sem papas na língua. (clicar nas ligações em cima dos nomes para saber mais)
Para
vós, meus petizes, do vosso tio sabi, com amor…
Texto original:
"Eis parte do enigma. Mário Soares, num dos momentos
de lucidez que ainda vai tendo, veio chamar a atenção do Governo, na última
semana, para a voz da rua.
A lucidez, uma das suas maiores qualidades durante uma longa carreira politica. A lucidez que lhe permitiu escapar à PIDE e passar um bom par de anos, num exílio dourado, em hotéis de luxo de Paris.
A lucidez que lhe permitiu conduzir da forma "brilhante" que se viu o processo de descolonização.
A lucidez que lhe permitiu conseguir que os Estados
Unidos financiassem o PS durante os primeiros anos da Democracia.
A lucidez que o fez meter o socialismo na gaveta durante a sua experiência governativa.
A lucidez que lhe permitiu tratar da forma despudorada amigos como Jaime Serra, Salgado Zenha, Manuel Alegre e tantos outros.
A lucidez que lhe permitiu governar sem ler os "dossiers"…
A lucidez que lhe permitiu não voltar a ser primeiro-ministro depois de tão fantástico desempenho no cargo.
A lucidez que lhe permitiu pôr-se a jeito para ser agredido na Marinha Grande e, dessa forma, vitimizar-se aos olhos da opinião pública e vencer as eleições presidenciais.
A lucidez que lhe permitiu, após a vitória nessas eleições, fundar um grupo empresarial, a Emaudio, com "testas de ferro" no comando e um conjunto de negócios obscuros que envolveram grandes magnatas internacionais.
A lucidez que lhe permitiu utilizar a Emaudio para financiar a sua segunda campanha presidencial.
A lucidez que lhe permitiu nomear para Governador de Macau Carlos Melancia, um dos homens da Emaudio.
A lucidez que lhe permitiu passar incólume ao caso Emaudio e ao caso Aeroporto de Macau e, ao mesmo tempo, dar os primeiros passos para uma Fundação na sua fase pós-presidencial.
A lucidez que lhe permitiu ler o livro de Rui Mateus, "Contos Proibidos", que contava tudo sobre a Emaudio, e ter a sorte de esse mesmo livro, depois de esgotado, jamais voltar a ser publicado.
A lucidez que lhe permitiu passar incólume as "ligações perigosas" com Angola, ligações essas que quase lhe roubaram o filho no célebre acidente de avião na Jamba (avião esse transportando diamantes, no dizer do então Ministro da Comunicação Social de Angola).
A lucidez que lhe permitiu, durante a sua passagem por Belém, visitar 57 países ("record" absoluto para a Espanha - 24 vezes - e França - 21), num total equivalente a 22 voltas ao mundo (mais de 992 mil quilómetros).
A lucidez que lhe permitiu visitar as Seychelles, esse território de grande importância estratégica para Portugal, aproveitando para dar uma voltinha de tartaruga.
A lucidez que lhe permitiu, no final destas viagens, levar para a Casa-Museu João Soares uma grande parte dos valiosos presentes oferecidos oficialmente ao Presidente da Republica Portuguesa.
A lucidez que lhe permitiu guardar esses presentes numa caixa-forte blindada daquela Casa, em vez de os guardar no Museu da Presidência da República.
A lucidez que lhe permite, ainda hoje, ter 24 horas por dia de vigilância paga pelo Estado nas suas casas de Nafarros, Vau e Campo Grande.
A lucidez que lhe permitiu, abandonada a Presidência da Republica, constituir a Fundação Mário Soares. Uma fundação de Direito privado, que, vivendo à custa de subsídios do Estado, tem apenas como única função visível ser depósito de documentos valiosos de Mário Soares. Os mesmos que, se são valiosos, deviam estar na Torre do Tombo.
A lucidez que lhe permitiu construir o edifício-sede da Fundação violando o PDM de Lisboa, segundo um relatório do IGAT, que decretou a nulidade da licença de obras.
A lucidez que lhe permitiu conseguir que o processo das velhas construções que ali existiam e que se encontrava no Arquivo Municipal fosse requisitado pelo filho e que acabasse por desaparecer convenientemente num incêndio dos Paços do Concelho.
A lucidez que lhe permitiu receber do Estado, ao longo dos últimos anos, donativos e subsídios superiores a um milhão de contos.
A lucidez que lhe permitiu receber, entre os vários subsídios, um de quinhentos mil contos, do Governo Guterres, para a criação de um auditório, uma biblioteca e um arquivo num edifico cedido pela Câmara de Lisboa.
A lucidez que lhe permitiu receber, entre 1995 e 2005, uma subvenção anual da Câmara Municipal de Lisboa, na qual o seu filho era Vereador e Presidente.
A lucidez que lhe permitiu que o Estado lhe arrendasse e lhe pagasse um gabinete, a que tinha direito como ex-presidente da República, na... Fundação Mário Soares.
A lucidez que lhe permite que, ainda hoje, a Fundação Mário Soares receba quase 4 mil euros mensais da Câmara Municipal de Leiria.
A lucidez que lhe permitiu fazer obras no Colégio Moderno, propriedade da família, sem licença municipal, numa altura em que o Presidente era... João Soares.
A lucidez que lhe permitiu silenciar, através de pressões sobre o director do "Público", José Manuel Fernandes, a investigação jornalística que José António Cerejo começara a publicar sobre o tema.
A lucidez que lhe permitiu candidatar-se a Presidente do Parlamento Europeu e chamar dona de casa, durante a campanha, à vencedora Nicole Fontaine.
A lucidez que lhe permitiu considerar Jose Sócrates "o pior do guterrismo" e ignorar hoje em dia tal frase como se nada fosse.
A lucidez que lhe permitiu passar por cima de um amigo, Manuel Alegre, para concorrer às eleições presidenciais mais uma vez.
A lucidez que lhe permitiu, então, fazer mais um frete ao Partido Socialista.
A lucidez que lhe permitiu ler os artigos "O Polvo" de Joaquim Vieira na "Grande Reportagem", baseados no livro de Rui Mateus, e assistir, logo a seguir, ao despedimento do jornalista e ao fim da revista.
A lucidez que lhe permitiu passar incólume depois de apelar ao voto no filho, em pleno dia de eleições, nas últimas Autárquicas.
No final de uma vida de lucidez, o que resta a Mário Soares? Resta um punhado de momentos em que a lucidez vem e vai. Vem e vai. Vem e vai.
Vai.... e não volta mais.
2 comentários:
Só me ocorre agradecer-lhe a partilha, de outra maneira este texto tinha-me falhado.
Um abraço
IMPRESSIONANTE.E de vez em quando lá vem ele "cagar"mais umas postas de pescada é a LUCIDEZ vai e vem,obrigada.
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