domingo, 1 de setembro de 2013

A jangada de pedra a arder

Escolhi uma 1ª página do Correio da Manhã que ilustra bem o que escrevo nestas linhas, pela desgraça das notícias da central. Duas tragédias a ver com o fogo: uma morte e uma denúncia familiar.
 Entre as desgraças que ocupam a frontaria do jornal mais lido a nível nacional é só escolher a que mais se adapta. Entre violações, crimes passionais e roubos é fartar vilanagem. 



Vivemos num país a brincar.

Isto é bonito, tem solos ricos, ótimo clima, uma costa sem igual na Europa (banhada pelo Atlântico e pelo Mediterrâneo)… mas não é para ser levado a sério.

É pena…

O nosso mais alto magistrado ganhou dinheiro com a venda de acções do Banco Português de Negócios, vulgo BPN. (Num caso que uma televisão privada, privada chamou o caso Alves do Reis dos tempos modernos.) Por aqui digo tudo e está tudo apresentado.

Mas há mais: as notícias da televisão no Verão demoram sempre mais de 20 minutos com as últimas dos incêndios. Mais imagens das imagens sempre iguais de casas destruídas, vidas roubadas, bombeiros desgastados. E é sempre igual, mais do mesmo. Coitadinho do que morreu que era tão novo e tão com rapaz e passa-se o tempo a falar com as pessoas. Com a família dele que conta como era bom, com a família da rapariga com quem ia casar, com os colegas da corporação e abram alas que lá vêem as imagens do ministro Miguel Macedo, entrevistado no funeral que diz que isto é uma pena, que se gastam milhões no combate as chamas e perdeu-se mais uma vida. Hoje é este ministro. Amanhã o partido socialista ganha as eleições legislativas e vem outro, sempre diferente mas sempre igual.

A novela multiplica-se e desdobra-se. Ontem, no estádio de Alvalade, no derby de Lisboa, assinalou-se um minuto de silêncio pelos bombeiros. Bonito. Até aposto que houve pessoas a comoverem-se e a chorarem. Como uma pessoa que bem conheço, via a missa na televisão ao domingo quando não podia desloca-se à igreja e fazia tudo tal e qual como se estivesse lá. Ajoelhava-se, fazia silêncio e só não desejava a “paz do senhor” aos restantes membros da assembleia, porque estava sozinha. ;)

Eu, que também ando com a cabeça entre as orelhas como canta o Sérgio Godinho, mas de vez em quando engano-me e uso-a a para pensar, pergunto-me: 

QUEM É QUE ANDA A GANHAR DINHEIRO COM ESTA MERDA TODA?!?!?!

Posso tentar arriscar. Isto aqui não é a “Roda dos Milhões” nem eu sou o Fernando Mendes (sou um bocadinho mais alto e mais magro), mas arrisco uma: ganham os proprietários das áreas ardidas com as indemnizações milionárias que os seguros lhe pagam, ganham as seguradoras porque isto é uma pescadinha de rabo na boca (Hoje amanho-me eu, amanhã amanhas-te tu…), ganham os grandes e os que não têm cara.

E quem perde? Perdem os pobres coitados que arriscam e perdem a vida, o valor mais precioso que têm. Ganhando nada, trabalhando para o bem comum, para proteger a floresta. Voluntários. Por vontade própria. Sem receberem nada. Eu sou da opinião que os bombeiros deveriam receber como qualquer outra força de segurança. Zelam por nós e deveriam receber como tal. Num país civilizado seria assim. Este país… é cada vez mais um país a brincar.

Os soldados da paz estão desgastados. Exaustos. Cheios de fumo, cinzas e cansaço, não ganhando nenhum. E os outros sodados?!?!?!?!?, pergunto eu. Os outros soldados que não são da paz mas enchem os quartéis sem fazerem puto, a coçar a micose, como no tempo da outra senhora. Tanto militar, tanto tanque, tanta arma, para quê?!?! Para nos defenderem em caso de guerra?

As guerras hoje em dia não são como as da segunda guerra mundial, em que os países se uniram contra o mal que se chamava Adolf Hitler e era feio e velhaco como a puta que o pariu, o porta estandarte daquela trupe de malfeitores. Aí os soldados faziam falta. Mas as guerras atuais são como as da Síria: químicas, frias e silenciosas que limpam tudo o que mexe; ou traiçoeiras como os atentados às torres gémeas, ou à maratona de Boston.

Os soldadinhos de hoje são carne para canhão e uma carne que o canhão já não quer. O canhão quer é crianças, os mais fracos, os mais indefesos, os mais fáceis. Então porque diabo é que o Ministro da Defesa, o primeiro-ministro, ou até o inquilino de Belém não mandam as tropas combater o fogo, o inimigo real nestes dias quentes?

Estudei direito na faculdade e aprendi aí a Lei de Talião. Basicamente, a lei diz que “olho por olho, dente por dente”. Adaptado diz que “cá se fazem, cá se pagam”. Acho que essa era a solução certa. Eu sou a favor da pena de morte. O medo que tinha dantes era se essa lei fosse utilizada para fins políticos. Mas hoje em dia, na Europa, os direitos do homem estão tão blindados que isso não poderia acontecer. E a morte aqui era a única solução.

Imaginemos um pedófilo, um violador que rouba não só a sexualidade mas também a inocência a uma criança. É caçado e vai para a cadeia, mama lá 25 anos e volta ao mesmo. Não conheço nenhum arrependido que se tenha regenerado porque sofre de uma demência que radica na sua infância. Enquanto está “de molho”, tem cama e roupa de borla que os burros dos cidadãos patrocinam e pode usufruir dos prazeres da vida: pode beber um café quente pela manhã, fumar um cigarro após o almoço, desfrutar uma imperial, ler um livro ou o jornal, ver um filme ou se tiver companheira, esta até pode ir ter com ele para na gaiola descarregar a sua masculinidade. Apesar de preso, pode desfrutar da vida.

Tomemos agora o caso de um assassino, um crápula que mata um ente querido que amamos, sem razão aparente. Na melhor das hipóteses, a sentença será de 25 anos que é a máxima em Portugal. Os anos passam, o gajo regressa há vida e encontramo-nos com ele num café a tomar a bica ou uma imperial, vá, que agora está calor. Vemo-lo a fazer aquilo que aquele que queríamos nunca mais poderá fazer. Por causa dele. Por causa das regras em sociedade. Mas a sociedade somos nós que a fazemos e quando não está bem, temos de levar a nossa avante.

Quer num caso quer noutro, a pena de morte é a sentença ajustada aqui para o vosso tio Sabi. Se a sociedade assim não quer, não sei se o Talião não tomará conta de mim. Oxalá nunca aconteça. Oxalá nunca tenha razão para acontecer. Mas esta sociedade, esta lei, este direito que deixa estes sujeitos andar à solta, a pregar fogos, a violar, a matar e a poderem ser livres ao fim de muito menos tempo que aquele que nós queríamos, não presta!

Se pegassem no cú de um incendiário e o largassem no meio do fogo, transmitindo em direto nos 3 canais para que todos vissem, os gritos lancinantes e o horror, deixando imaginar o inesquecível cheiro a carne queimada, querem apostar que da próxima vez pensariam pelo menos duas vezes? Se não pensassem e estivessem desempregados, alcoolizados, agarrados à droga, teriam uma vida pouco valiosa. Muito menos valiosa que a dos bombeiros que morrem por todos nós.  


Para esses homens e essas mulheres, para esses bravos, para esses corajosos, a minha sincera e sentida homenagem de admiração.   

2 comentários:

Helena Barreta disse...

Bravo. É isto mesmo.

Já ouviu o grito dos UHF? Acabei de ouvir, via um blogue de um seu conterrâneo e digo-lhe, vale mesmo a pena.

Um abraço

zira disse...

Concordo com tudo. Tuuudinho.Mas digo não à pena de morte.Eu lembro-me do que foi em Espanha, aqui ao lado, porta com porta. Não há muito, nos últimos dias do Franco.Criar prisões especiais onde o dia-a-dia fosse um horror constante sim. Cada minuto, cada hora, cada dia para toda a vida.