A
estreia da série “1986” escrita por Nuno Markl, era o happening do momento.
Toda gente estava à espera desse primeiro episódio, e até nisso, foi um reviver
desse ido ano, há… 32 anos atrás! Deus… dito assim, até dói.
Markl
é um dos homens, da nossa comunicação social, há já muito tempo atrás. Figura
da rádio (quem nunca ouviu falar d’ “O homem que mordeu o cão”, não está vivo),
da televisão (tem participado em diversa escrita criativa da área), do cinema
(crítico em diversas publicações, e argumentista de outras obras), desenha
maravilhosamente, é craque da net, e sem dúvida alguma, um Nome a ter em
consideração, quando se fala de comunicação social nacional.
Puto
da minha idade, com apenas mais dois anos que eu, parece que vive noutra galáxia,
de tudo parecer que lhe corre bem… mesmo as coisas que aparentemente lhe
correram mal (como o casamento com a “musa” Ana Galvão).
Começou
na rádio pirata “Rádio Voz de Benfica”, e depois dali, tem sido sempre andar às
cavalitas… do seu talento. Andou pela célebre “Correio da Manhã Rádio”, onde
conheceu e se tornou amigo muito próximo do Sr. Rádio, Pedro Ribeiro, e dessa
amizade/parceria, que não mais (o) deixou, a sua presença diária, primeiro na
Antena 3, com o José Carlos Malato e a Ana Lamy; depois na Rádio Comercial; não
deixaria de nos animar as manhãs, e os dias. Depois da rampa da rádio, foi
notado e haveria de integrar as produções fictícias, do grande Nuno Artur Silva,
onde passou a ser adotado pelos grandes nomes do talento humorístico português
(leia-se Herman José, e afins), que passaram a ser padrinhos, porque também
vivam dele.
O Markl é assim um homem… algo estranho, que mais parece um cartoon. Uma barba muito mal esgalhada, que dá o ar de quem não teve tempo para a fazer, uma enorme caixa de óculos, um risco ao meio adornado por cabelos brancos, e um corpinho… nada atlético. Tem, aquele ar de quem se safou de levar mais pancada dos colegas, porque sabia desenhar, e… tinha graça. Ele é, no fundo, uma criança a viver num corpo disforme de homem adulto. Sobretudo, é um amante de música, séries, e filmes, que adora viver no meio desse merchandising e parafernália diversa. E é por ser um tão grande conhecedor destes mundos, que o sucesso desta sua menina dos olhos de ouro, era mais que esperado.
Para
quem viveu esses anos, com a impressão que não foi assim há tanto tempo atrás,
a série é… um mimo, uma delícia, um mergulho no passado. Tudo ali está… estrategicamente
colocado, para resultar na perfeição:
-
Os décors estão maravilhosos, onde não
faltam os azulejos de então, os eletrodomésticos, os equipamentos (televisões e
gira-discos, por exemplo), os sofás, os cortinados… tudo!)
-
O guarda-roupa aprimorado à
exaustão: dos sapatos, aos anoraks, das calças às camisas, dos óculos, aos
relógios…
-
As personagens estão todas muito bem
desenhadas, tipificadas, esculpidas, com tiques, jeitos, e expressões que as
definem muito bem. Ali não falta o pai comuna, crítico de cinema, ou os
professores, desenhados ao ponto, onde não faltou a setôra boazona (quem não
teve uma que desejou ardentemente?); ou os colegas, que parecem mesmo um que
conhecemos, tal e qual: do heavy metal (alô meu amigo Bitch da Póvoa e Meadas!)
à gótica (naquele então, os miúdos vivam muito mais em estanques; enquanto os
de hoje são quase todos mainstream), passando pelos miúdos bonitões, mauzões,
desportistas, que quase sempre nunca chegaram a lado nenhum na vida;
Neste video em baixo, apresentados,em direto, no programa "5 para a meia-noite"
-
A envolvente mundial (pós guerra fria)
e nacional, no tempo quente da
corrida às presidenciais entre o Freitas e o Mário Soares. Nesse então… também
eu puxava pelo professor (o facho! Isto visto por eles), muito pela influência
da minha prima Mimi Carita, para fugir ao esquerdista (comuna?) Soares. A minha
perspetiva era a inversa, à do protagonista.
-
O argumento, que ainda está por
descobrir, mas já vai dando laivos de uma visão crua e realista, daquilo que
foi viver naquele período (a timidez, o abandono, a doença).
Ora
todas estas peças, jogam bem e fazem parte de um quadro que resulta imponente,
muito por ser solidificado por uma banda sonora absolutamente fabulosa, de mais
de 100 temas cristalizados numa playlist do Spotify (“1986 – Canções para uma série”), com 128 canções, 9 horas e 54
minutos (Como dizem os brasileiros, “MASSA!”), que tenho estado a escutar,
enquanto a prosa se desenvolve.
Como
disse, esta série teve o mérito enorme, de hoje conseguir juntar a família, à
volta daquele que era, naquele então, o centro tecnológico nevrálgico de uma
casa: a televisão. A memória que tenho desse tempo, era eu, o meu irmão (o
puto, 6 anos mais novo), o meu pai, e a minha mãe, todos a vermos o mesmo. Ele,
deitado no sofá da sala (pai, era pai. Pai mandava!), estando eu e o meu irmão
sentados, na outra ponta, aconchegados entre as pernas dele e a camila; enquanto
a minha mãe, numa cadeira, fazia trabalhos manuais, tomava notas, ou fazia contabilidades,
numa cadeira. O meu pai fumava e nós ríamos, a ver o “1,2,3” do famigerado
Carlos Cruz; ou os “Jogos sem Fronteiras” apresentados pelo Eládio Clímaco.
Programas para a família.
Na
minha casa, hoje em dia, uma casa não abastada, mas da classe média, quando
muito, cada um… vê o que gosta, quer e consegue. Temos o prazer de estarmos
juntos, e sabermos que somos quem mais gostamos no mundo, mas neste tempo… eu
não obrigo a Alice a ver as notícias, os documentários, ou os debates, que nada
lhe dizem; como ela não me obriga a jogar os jogos da gata no tablet, ou a mãe
não obriga a Leonor a costurar, ou a ver o CSI Las Vegas ou Miami, que ela
adora, nos (escassos) tempos livres. A Leonor habitualmente, quando não está a
estudar, está a descomprimir, ou a rir-se à gargalhada com os que segue no
instagram ou outra rede qualquer.
Enfim... esta
série “1986” é um portento, quanto mais não seja porque mostra aos miúdos deste
tempo, como as coisas eram no século passado, quando tínhamos a idade deles.
Alguma vez tinham ouvido falar numa cassete, vulgo K-7? E já teriam imaginado
que um videoclube (magistralmente recriado na série), era um sítio, e não um
serviço do operador de Televisão? Conseguem imaginar o planeta, e a vida, sem
telemóveis? Pois eu lembro-me perfeitamente deles aparecerem, em forma de
tijolo, enormes! Agora, assistimos às notícias, no horário de trabalho,
transmitidas num. Vejam-me bem a vertigem dos tempos. Esta série traça um quadro
belíssimo, que vai ficar!
Markl,
muitos parabéns. Eu não sei o que vocês estão a pensar fazer na próxima terça à
noite. Mas eu, apesar de já saber, onde os episódios transmitidos irão ficar
alojados, e de ter a série a gravar, vou ter os olhos colados no ecrã. À
antiga!
Até
então!
Da banda sonora, esta delícia, com a grande Lena D'Água
E esta magia, com a sempre brilhante Ana Bacalhau
Tiago, o alter-ego do próprio Markl |
Marta, a bebé da escola |
Sérgio, o heavy |
Patrícia, a pequena vampira |
Gonçalo, o bully betola. Odeio! Vontade de lhe dar uma pêra! |
Eduardo, o pai histrónico |
Fernando, o empresário visionário |
Tó, o fixe tech |
http://visao.sapo.pt/actualidade/cultura/2018-03-13-Os-anos-80-segundo-Nuno-Markl |
E o meu comentário ao Chefe |
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