segunda-feira, 12 de março de 2018

Alice, a justiceira










Já tinha decidido faz algum tempo que a televisão, fosse transvestida de pc, tablet, ou telemóvel (que isso das televisões convencionais, do meu tempo, é coisa para já ter desaparecido), não entraria no espaço onde a família está reunida, à refeição. Ali, era tempo para estarmos juntos, nos sentirmos, respirarmos, olharmos nos olhos e sabermos mais, uns, dos outros.

Mas depois… fui fraquejando face ao argumento “ó pai, eu não vejo na escola, ao almoço, e se não vejo aqui, agora, nem sei às quantas ando…”. Ora isto, aliado ao fato de também eu, precisar de saber as novidades deste retângulo, como de ar para viver, fui deixando.

Pois nesse então, os três (que a mãe trabalhava), ao almoço, comentávamos as notícias:

- Já viste isto, Alice? Alguém matou a mãe, tão jovem, e foi o menino tão pequenino, com 5 anos, que deu com ela, numa poça de sangue. Já viste quão cruéis são as pessoas? Coitadinho… Jamais se irá esquecer desta memória… E agora, que será dele?

(fazendo uma cara feia, misto de espanto e horror)

- É só disto, filha! Por isso é que eu não quero que as notícias feias, deste mundo cruel, cheguem aqui onde nós estamos, descansadinhos, no nosso sítio… Olha! Olha-me esta… um emigrante em Inglaterra, matou a mulher, e atirou-se com as duas filhas, de 7 e 10 anos de um penhasco abaixo! Louco!”



(a mesma cara, ainda mais vincada)

- Ó PAI! MAS ELE TAMBÉM FOI, NÃO? TAMBÉM SE ATIROU, VERDADE?!?

- Foram todos… :(

- Se ele também foi… AO MENOS ISSO!

Olhando uns para os outros… gargalhada geral! Esta miúda tem porras…


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