terça-feira, 19 de novembro de 2019

Um espírito inquieto (como já não há...)

José Mário Branco (1942-2019)
Quando a cantiga era uma arma...
No mar de lamentações que transbordou hoje pelas rádios, tvs, e jornais; alguém disse que a nossa música, a nossa cultura, o nosso país, perdeu um pilar fundamental, tal era a sua importância.
Como concordo, pela genialidade, pela persistência, pelo caráter.
E recordei aquela noite, já há bem mais de uma década, ou duas!, em que fui visitar o meu amigo poeta António Vaz Gonçalves, para uma das nossas trocas de livros, cds, ou de palavras, apenas. Ele, de pijama, recolhido no reduto íntimo do seu quarto, disse-me: “tens de ouvir isto!”.
Eu, que tenho a mania de já ter ouvido tudo o que interessava, pasmei. A música, o poema, rezava assim…
É longo, mas vale a pena! É uma obra de arte...
Porra, pensei, quem escreve uma coisa assim, quem é capaz de cantar uma coisa desta forma… não pode ser normal. Tem de ser muito mais que nós todos, e qualquer um de nós.
Fui-o acompanhando, não tanto quanto quereria, que ele próprio fugia das luzes da ribalta, mas nunca mais me esqueci da sua envergadura.
Sempre na sombra, sempre de um lado que não o nosso, dos comuns simples, foi deixando a sua marca, em colaboração com músicos mais jovens que gostava de orientar (Camané, Kátia Guerrreiro), conduzindo a sua carreira sempre desalinhado de tudo quanto estava estabelecido.
Fica uma imensa…
Inquietação...

Até sempre, Zé!

Nota de pé descalço: e que tal uma escolinha, onde as crancinhas, em vez de estudarem coisas que não interessam nem ao menino Jasus, como a porra das "Viagens na minha terra" do Almeida Garret (MEEEDDDOOOOO), estudassem estes autores, as suas letras, a sua intervenção durante o Estado Novo, na construção do Portugal democrático onde vivem? 

Ele há coisas...

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