Num bucólico almoço de família, muito fim-de-semana, crianças no jardim, muita relva, muito boa onda, muito relax, muito stress-less, alguém me dispara que tenho um defeito enorme.
Um defeito enorme!!!!!!!!! (Que diacho! E qual poderá ser? Por Deus!).
“Gostas muito de falar, mas muito pouco de que falem!”.
Confesso que fiquei sem balas.
…
…
…
Custa-me a olhar para dentro, pá!
Sei que é verdade.
…
E tenho que confessar que às vezes sou meio aparvalhado.
Vou em cantigas.
Custa-me dizer que não.
Alinho na maré…
E neste caso, foi mesmo assim.
Conheço a Zita Seabra do 9º ano, quando comecei a comprar o Expresso.
A gaja era do tipo muy duro, uma espécie de encarnação feminina do próprio Cunhal, de garras e dentes afiados, sempre acutilante, pronta a rasgar.
De repente, vejo-a passar para o outro lado e não foi necessariamente para o partido vizinho do espectro luso.
Um dia a servir imperiais no Avante!, no outro em amena cavaqueira com o Portas…
Caraças, pá! Assim, não dá!
A gaja só podia ser uma vira casacas e isso é um rótulo que ninguém quer ter.
Aquilo agarrou-se a mim e cada vez que a via, num jornal, num telejornal, numa revista, num boletim ou na sua bem sucedida carreira como editora, dizia para comigo… a bicha esta!
Deu a volta ao prego!
Está aburguesada. Vendeu-se!
E chego a casa e enquanto janto, encontro-a na RTP1 com a Judite de Sousa.
A protagonizar a mais brilhante entrevista política eu vi em muitos anos.
E não foi pela Judite, a pobre, que se mete no meio e não deixa mastigar e não percebe que a estrela não é ela.
Foi mesmo a mulher. Que força! E que soco no estômago!
Falando do PCP como nunca, da voragem e da dura militância, da perseguição interna e das escutas, da manipulação psicológica e do ostracismo como nunca.
Gritou em silêncio que só queria ser livre outra vez.
Ter direito a duvidar daquilo porque lutou até à morte.
E isso é comovedoramente belo.
Contou desassombrada que quando rompeu de vez com o Comité Central fez um esforço brutal para não perder o tino mas não resistiu a esvair-se em lágrimas no primeiro táxi que apanhou.
“O homem reconheceu-me de algures e disse-me que vinha a ouvir na rádio aquilo por que estava a passar. Não me cobrou a bandeirada”.
“Adoeci profundamente. Tive hemorragias enormes e estive tuberculosa durante a gravidez. Espreitei o lado de lá”.
É preciso tê-los no sítio para se despir assim em público.
Do último encontro com Cunhal, duas frases.
Disse-lhe ele: “Nunca mais vais ser ninguém”.
A cachopa responde-lhe à letra: “Espero que dures o tempo suficiente para veres que estavas errado!”.
Eh pá! Temos miúda!
E muita coragem. “Há os que dizem que saíram em discórdia com o processo mas em consonância com os ideais. Pois eu saí em ruptura com tudo. Quando fui, fui e soube donde estive. Quando saí, saí só. Desacreditei-me e hoje sou capaz de ser livre outra vez”.
Sorriu.
O livro que acabou de editar, de memórias, intitula-se “Foi assim”.
Está na lista de Verão.
Deve estar tenrinho.
Vale pela ousadia e eu prometo que onde quer que a veja, lhe hei-de espetar dois beijos e louvar a frontalidade.
Mesmo que não concorde nada... mas há coisas que por muito que nós discordemos, nos temos mesmo assim de vergar... nem que seja pela coragem!
Um defeito enorme!!!!!!!!! (Que diacho! E qual poderá ser? Por Deus!).
“Gostas muito de falar, mas muito pouco de que falem!”.
Confesso que fiquei sem balas.
…
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…
Custa-me a olhar para dentro, pá!
Sei que é verdade.
…
E tenho que confessar que às vezes sou meio aparvalhado.
Vou em cantigas.
Custa-me dizer que não.
Alinho na maré…
E neste caso, foi mesmo assim.
Conheço a Zita Seabra do 9º ano, quando comecei a comprar o Expresso.
A gaja era do tipo muy duro, uma espécie de encarnação feminina do próprio Cunhal, de garras e dentes afiados, sempre acutilante, pronta a rasgar.
De repente, vejo-a passar para o outro lado e não foi necessariamente para o partido vizinho do espectro luso.
Um dia a servir imperiais no Avante!, no outro em amena cavaqueira com o Portas…
Caraças, pá! Assim, não dá!
A gaja só podia ser uma vira casacas e isso é um rótulo que ninguém quer ter.
Aquilo agarrou-se a mim e cada vez que a via, num jornal, num telejornal, numa revista, num boletim ou na sua bem sucedida carreira como editora, dizia para comigo… a bicha esta!
Deu a volta ao prego!
Está aburguesada. Vendeu-se!
E chego a casa e enquanto janto, encontro-a na RTP1 com a Judite de Sousa.
A protagonizar a mais brilhante entrevista política eu vi em muitos anos.
E não foi pela Judite, a pobre, que se mete no meio e não deixa mastigar e não percebe que a estrela não é ela.
Foi mesmo a mulher. Que força! E que soco no estômago!
Falando do PCP como nunca, da voragem e da dura militância, da perseguição interna e das escutas, da manipulação psicológica e do ostracismo como nunca.
Gritou em silêncio que só queria ser livre outra vez.
Ter direito a duvidar daquilo porque lutou até à morte.
E isso é comovedoramente belo.
Contou desassombrada que quando rompeu de vez com o Comité Central fez um esforço brutal para não perder o tino mas não resistiu a esvair-se em lágrimas no primeiro táxi que apanhou.
“O homem reconheceu-me de algures e disse-me que vinha a ouvir na rádio aquilo por que estava a passar. Não me cobrou a bandeirada”.
“Adoeci profundamente. Tive hemorragias enormes e estive tuberculosa durante a gravidez. Espreitei o lado de lá”.
É preciso tê-los no sítio para se despir assim em público.
Do último encontro com Cunhal, duas frases.
Disse-lhe ele: “Nunca mais vais ser ninguém”.
A cachopa responde-lhe à letra: “Espero que dures o tempo suficiente para veres que estavas errado!”.
Eh pá! Temos miúda!
E muita coragem. “Há os que dizem que saíram em discórdia com o processo mas em consonância com os ideais. Pois eu saí em ruptura com tudo. Quando fui, fui e soube donde estive. Quando saí, saí só. Desacreditei-me e hoje sou capaz de ser livre outra vez”.
Sorriu.
O livro que acabou de editar, de memórias, intitula-se “Foi assim”.
Está na lista de Verão.
Deve estar tenrinho.
Vale pela ousadia e eu prometo que onde quer que a veja, lhe hei-de espetar dois beijos e louvar a frontalidade.
Mesmo que não concorde nada... mas há coisas que por muito que nós discordemos, nos temos mesmo assim de vergar... nem que seja pela coragem!
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