terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Emigrantes


Anteontem de manhã, depois do jogging matinal debaixo de chuva miudinha e furando um nevoeiro 100% natalício, dei a habitual volta ao meu bairro para descomprimir. Tudo isto antes de entrar na Piscina Municipal para quilómetro e meio de estilos. Para o triatlo completo, só faltou mesmo a volta na bicicleta. Já vislumbro os Jogos Olímpicos do próximo ano e sinto, sem qualquer tipo de imodéstia, que para ser a Vanessa Fernandes, para ser invencível nestas modalidades, só me falta o aparelho nos dentes e… outra coisa que agora não interessa nada para o caso.

Nessa volta em que os níveis corporais se restabelecem, enquanto caminhava e observava o bailado da condensação da minha respiração quando encontrava o ar frio da rua, bem na frente dos meus olhos, uma placa despertou-me a atenção. Era uma placa estrategicamente colocada, bem na frontaria de uma vivenda das mais recentes e eu estranhei.

Dizia “VENDE-SE” e a constatação de que era de facto aquilo que dizia, em letras garrafais para que todos pudessem ver, partiu-me o coração.

Não consegui evitar suster a respiração, um longo e profundo suspiro e um sabor amargo na boca que teimava em não sair.

Aquela placa soube-me a derrota.

Porque para além das letras e dos números de telefone, há ali muito mais escrito nas entrelinhas. Há agora uma família onde antes só houve um casal, um jovem casal que atracou neste porto cheio de sonhos e esperanças e agora atirou com a toalha ao chão. Desistiu. Disse basta!

A mina secou. A seara mirrou. Não há mais futuro aqui. É tempo de embalar a trouxa e zarpar.



Há dias, quando incumbido da missão de adquirir os presentes para as crianças, por motivo da festa de Natal da autarquia, tive oportunidade de conhecer o novíssimo Fórum de Castelo Branco. É um espaço muito agradável e moderno, cheio das lojas que a malta agora gosta, onde não falta praticamente nada. È um pequeno Colombo, como lhe chamou a Felicidade, a apenas hora e pouco de distância, mesmo a convidar para o passeio de fim-de-semana. Para ser tão bom como o Colombo, não são lojas que lhe faltam, mas sim a nossa gloriosa catedral a um passinho de distância. Se assim fosse, só faltava o metro de superfície até à minha porta para que não falhasse um joguinho em casa. Era bom era!

No Colombinho também não faltam os “restaurants” da berra, as marisqueiras, os burguers e as pizzas, o leitão da Bairrada e o rodízio. No “nosso”shopping não faltam os estacionamentos, os espaços verdes, as casas de banho com música de fundo e as escadas rolantes. Para mim… está perfeito.

A dada altura, depois de repostos os níveis calóricos, apeteceu mesmo o tal cafezinho. Dirigindo-me ao quiosque mais próximo, bem no “coração” do átrio central, chamo pela menina cujo rosto reconheço de imediato assim que se vira. Era a Cristina, a filha da Maria da Luz, beiranense de gema que conheço desde sempre lá da minha rua e da minha aldeia. Não consegui evitar um “olhá Cristina” sem disfarçar o meu ar de labrego que vem à cidade, que lhe arrancou um sorriso instantâneo nos lábios. É sempre engraçado quando a gente encontra assim alguém sem estar à espera e acho que ela também gostou. Perguntou-me ao que vinha e eu quis saber também dos seus. Disse-me que estava tudo bem, de saúde e “empregadinhos da Silva”. A sua família debatia-se desde há muito com a dificuldade de arranjar um emprego estável e duradouro por estas paragens até que decidiram emigrar. Sim, emigrar, não me enganei no termo porque mais parece que vivem num país diferente do nosso, tão próximo e tão distante. Não conseguiu esconder a satisfação quando me confidenciou que “males” de emprego já não eram com eles. “Eu gosto de estar aqui, a minha mãe está na cozinha da Portugália, o meu pai no Chimarrão e o meu irmão no Burguer King”.
“A sério, eh pá, e eu não o vi lá!”.
“Trabalha por turnos porque anda a estudar à noite. Só entra mais tarde. Mas está muito bem”.

Ainda dei uma volta lá por cima só para cumprimentar o “Chefe António” que há-de ser sempre chefe por ter sido um dos grandes mentores do Agrupamento 659 da Beirã. Quando me viu, sorriu satisfeito e disse-me “comecei ontem mesmo mas já me estou a sair em grande!”, enquanto passeava um espeto enorme com carnes suculentas. Eu respondi-lhe que “não há nada que meta medo a um escuteiro do seu gabarito!” e sei que é bem verdade porque enquanto escuteiros não somos apenas meninos de jarreteiras e lencinho ao pescoço como pensam alguns ingénuos menos informados que passaram ao lado dessa enorme realidade. Nos escuteiros aprendemos também a ser homens e mulheres e a dar sempre um pontapé no prefixo “IM” da palavra “IMPOSSÍVEL”. Ao longo da minha vida, tenho-me lembrado muita vez dessa imagem do escuteiro que tínhamos no “Manual do Lobito”, a chutar para longe a impossibilidade da possibilidade que me tem ajudado a superar muito dos desafios que tenho encontrado no meu percurso. Lembro-me sempre muito de quem muito me ensinou e o Chefe António nisso foi barra. Desde fazer um fogo em pleno mato sem riscos de incêndio, a aprender a guiar-me pelas estrelas, há-de sempre haver cá um cantinho para ele.


Já há dias, quando me desloquei a Évora para uma reunião na CCDRA e optei por um hambúrguer rápido no Mcdonald’s para não chegar atrasado, reconheci de imediato os olhitos verdes que me sorriram detrás do balcão. Era a Maria João Raposo que há-de sempre ser para nós, a Maria João “Salsinha”. Depois de muito por cá passar, reconstruiu o seu futuro e a sua vida com o Zé em Évora, onde ele já trabalhava e onde se sente como peixe na água. A sua cara transparecia um bem-estar tal que não enganava ninguém. Embora de farda e num trabalho que todos sabemos extenuante, transmitia uma onda tão boa, de quem tem o melhor emprego do mundo que até eu fiquei com pena de não ter um chapéu daqueles.

O companheiro felicíssimo por estarem todos juntos e o Fábio que já está mais do que integrado na escola com os novos colegas, contente como nunca. O pequenito Afonso, esse, já se há-de fazer gente naquele ambiente que será sempre o seu e tudo corre bem quando acaba bem.

Disse-me que “lhe custa muito quando volta… ver tudo tão parado… tão velho e na mesma” e eu fiquei com um nó tão grande na garganta que estava capaz de dispensar o sanduíche se não o tivesse já pago.


Em qualquer das duas situações, nas duas cidades vizinhas, fiquei a pensar. Pensar se serei mesmo este bicho raro como me senti, estranho a mim mesmo por insistir em ficar.

Quando acabei o curso regressei convicto, pela minha família, pela minha mulher e pela minha terra. No fundo, regressei por mim também.

Embora voltasse a fazer tudo de novo e mesmo que acredite profundamente que não sou só eu que comando a minha vida por haver tantas forças que não vejo, mas sinto, à minha volta, não consegui evitar sentir-me raro.

Tem-se apostado na habitação e na compra de terrenos.

Cada vez mais acredito, e jamais fugirei à minha quota-parte de responsabilidade, que se não acontecer depressa um milagre que gere empregos, e é melhor que sejam muitos, dentro em breve teremos mil promessas de futuro que se desvanecerão por falta de gente que lhe dê corpo.

E isso dói-me…

tanto.

44 comentários:

Marilia Rosado Carrilho disse...

Não tenha duvidas. Onde não há emprego, não há maneira de ficar.

Guardam-se para momentos de fim-de-semana ou para quando vier a reforma. Lamento dizê-lo, mas é como eu o encaro.

Óbidos, por exemplo, tem uma vida extraordinária que Marvão teima em não conseguir ter. Não é inveja... é dizer q Marvão, fisicamente, é superior a Óbidos, mas não sai da mesma "cepa torta" e Óbidos, não sendo mais bonito e impressionável q Marvão (q não é!), consegue "chamar" toda aquela vida. Claro q o contexto fisico é outro, obviamente (a "litoralidade"), mas há ali muito investimento, desde logo dos moradores q adornam a vila com flores e pequenas placas ao estilo medieval. Pequenas coisas q embelezam maravilhosamente. Há ali um claro movimento de todos q converge no mesmo sentido e q resulta em sucesso. Perdão, mas quem diz o que pensa, não teme represálias...!

E isto não é um facto apenas de Marvão, ou seus arredores, mas da própria cidade de Portalegre, q faz um contexto a Marvão q em nada a beneficia: cidade triste, pouco desenvolvida, com mentes pouco empreendedoras, com industrias (poucas) q fecham... assim é impossivel.

Colocou muito bem esta angustia, por muito triste q seja.

Luís Bugalhão disse...

juro que qd comentei o post anterior, ainda não tinha lido este (e já cá estavam os dois).
mas o q é facto é q a coisa complementa-se. tens tempo para a lareira, mas falta-te 'um bocadinho assim' para inverteres a desertificação. começas a ver que qq dia serás o último dos moicanos...

é assim é. mas olha, se tiveres condições para isso, insiste sempre. não faças o que o meu pai fez por necessidade, e o que eu não desfaço por falta de coragem (pq vontade tenho muita): não saias daí.

estamos quase a voltar à conversa das pontes transfronteiriças, mas eu quero 'amandar' mais uma boca: de repente (cm dizem em s. miguel) vai tudo começar à procura do 'anterior profundo e dostracizado'. e porquê? porque isto vai começar a aquecer, e a faltar água, e a ter cada vez mais gente, e a haver cada vez mais violência, e a... em menos dum forfo tá tudo a fugir p'raí, ou p'ra outros aís. e será nessa altura que, tu já aí estás, será recompensada a teimosia de não emigrar.
entretanto vai lutando para que haja mais famílias a arrancar as etiquetas 'vende-se' e a produzir riqueza no concelho.

deixo agora de lado as minhas propostas mais naïve e digo só: tu é que aí estás, tu é que sabes da poda. faz o que tiveres que fazer, mas não 'estragues', if you know what i mean.

e claro que concordo com a marilia na comparação com óbidos. marvão é melhor, só que... é angustiante. compara a festa da castanha com a festa do chocolate. mas a castanha é tuga desde antes da batata e o chocolate só veio com as descobertas. vós fazeis bem melhor, mas os habitantes emigram. em óbidos a população aumenta (lá está o mar, esse íman). e o dilema põe-se assim duma forma mais premente para quem, cm tu, tem responsabilidades institucionais...

repito, não desistas pedro!
é fácil para mim dizê-lo (vivo cá no 'bem bom'!) mas tenho que dizer alguma coisa para combater a tristeza que o teu post destila...

qt ao resto, o costumeiro abraço

Luís Bugalhão disse...

e já agora, olá outra vez marilia, faz tempo que não vinhas à tasca.
mas, como é que é essa de (segundo o teu perfil) 'local: marvão' e blogs ligados a uma escola de évora?

és uma das emigrantes? desculpa a curiosidade, mas como as gajas vêm pouco à taxca, a malta quer saber mais (ou pelo menos eu quero, já que vivo cá na 'cedade').

abraço (ou bjs, que nunca se sabe o que pode ferir susceptibilidades)

Bonito disse...

A desertificação: o “cancro” do interior. E Marvão não foge à regra, muito pelo contrário. Como tenho referido: mais importante que a Paisagem e o Castelo, são as pessoas. Sem elas, tudo perde o esplendor!

Origem da desertificação: falta de emprego, lógico! O mar (ou falta dele) não é o único culpado. Espanha, por exemplo, tem grandes cidades e regiões que não têm o dito ali ao lado! A política nacional dos últimos trinta anos foi catastrófica nesta tematica. Inclinou este pequeno rectângulo de tal forma que as pessoas escorregam (tipo Titanic a afundar) e… ficam todas (quase) encavalitadas no outro lado.

Quando estiverem de tal forma encavalitadas, que não “consigam respirar”, talvez tenham “arte” para equilibrar, novamente, o pequeno rectângulo. Eu, em linha com o pensamento do Luís, acredito nisso a curto/médio prazo.

O interior, além da qualidade de vida e o contacto com a natureza, tem uma grande vantagem competitiva: tem Espanha ali ao lado! Parece simples, não! Então vá…

Acredito no interior e acredito em Marvão porque além dessas vantagens… tem “Marca”! Atrai!…

Basta que surja algum desenvolvimento económico e os consequentes empregos.

Vão ver!!

Eu, não tendo uma tão grande atracção pelas “grandes superfícies” não considero grande sorte trabalhar, por aí, nessas lojas multinacionais! Até porque a exploração é grande, quer pelo que sobra em horas de trabalho, quer pelo que falta no vencimento ao fim do mês! Mas, de facto, sempre é emprego. E é isso que conta! Contudo, estar perto das coisas e não lhes poder tocar…custa!

Ps: A Marília já me “conquistou”: com 27 anitos também gosta de Queen! E eu para aqui caladinho, não me chamassem cota ou “embichanado”!

Grande Abraço
Bonito Dias

Jaime Miranda disse...

Ora vivam caros amigos, deixem-me entrar nesta conversa, que hoje até tenho tempo e o tema também me interessa. Rima e é verdade.
Eu sou emigrante 2 vezes. Saí de Santo António há 16 anos para a cidade onde vivo hoje, Coimbra, e saio diarimente para a vila onde passo os meus dias a trabalhar, Figueiró. Sinto que pertenço a estas três comunidades que estimo, com orgulho.
Ninguém deixa a sua terra sem uma mágoa e uma esperança e o destino resume-se sempre a uma questão de sobrevivência. Individual e social.
As nossas necessidades estão dispersas por muitos locais mas a nossa existência fisica é única e finita. Acredito que o grande desafio que cada homem enfrenta consiste em resolver um complexo jogo de aproximações e separações, em que se transforma, com a idade, a vida de cada um de nós. Deste desafio, o fim todos conhecemos, mas está vedado o conhecimento sobre o melhor caminho para lá chegar.
Ontem cruzei-me aqui em Coimbra com o Silvestre, nosso conterâneo que veio viver para cá. De carro para carro, trocámos umas sonoras saudações, no meio do trânsito, e eu senti-me em casa.
A nossa casa é onde nos sentimos bem, onde estamos protegidos. Na minha terra eu hei-de sentir-me sempre em casa,e em família, mesmo que seja na rua. Em Figueiró sinto-me bem, numa grande casa que é a Misericórdia, e na rua, no meio dos colegas e amigos que vou conhecendo. Em Coimbra, estou na minha cidade, onde tenho uma casa demasiado exígua para a arrumação da família, mas onde cabem todas as minhas riquezas. O destino trouxe-me até aqui e eu não posso desprezar as oportunidades que me tem oferecido. Porque amanhã é outro dia, e eu posso acordar com um sorriso nos lábios.
Tenho de acabar isto que já vai longo. Mas hei-de voltar para continuar este tema, numa versão mais técnica. Porque eu acho que as pessoas não deveriam sair da sua terra, contra a sua vontade, por necessidades financeiras. E acredito que existem soluções para este problema. Estive a ler os documentos sobre a estratégia da Câmara para o Concelho, no âmbito do projecto da Agenda Local. Encontrei lá coisas interessantes que têm condições para resultar em boas ideias. Também encontrei a lista de todas as dificuldades. Vale a pena estudar o assunto. Até amanhã. Um abraço do Jaime Miranda

Marilia Rosado Carrilho disse...

Para Luís Bugalhão: é verdade sou de Marvão (também percebia-se pelos meus apelidos) mas sou emigrante, para fora cá dentro e para fora lá fora. Ando por aí e depois volto. Mas volto de “fim-de-semana”, isto é, de visita, e não penso poder ser de outra forma. Não é só uma questão de querer, é mesmo de poder – ou se pode ou não.

Évora é a minha cidade académica logo uma cidade que ficará sempre muito especial p mim. Depois andei mais por aí, já vivi em sítios distintos, inclusive fora do país. Mas isso não nega a beleza que sempre tem a nossa terra. Contudo, julgo q se é feliz num qualquer lugar, desde q tenhamos uma relação afectiva com esse lugar, q ele nos faça sentir bem ou a já nos tenha feito sentir algo especial. Sou de Marvão, mas Marvão não é meu. Acho, sinceramente, q às vezes falta espírito de abertura e de terminar com o sentimento de posse q algumas pessoas têm sobre Marvão. Aliás, o ambiente humano é até muito curioso, mas isso fica, quem sabe, para uma outra discussão de “tasca”.

Por mero acaso conheci o blogue e costumo andar por aqui, se bem q escreva apenas algumas (poucas) vezes.

Para Bonito Dias: ahahah. Achei graça a sua nota. Em qualquer parte q vá encontro sempre outro fã. Mas claro q gosto de Queen! Musicalmente perfeccionistas, voz extraordinária, capacidade de reinvenção e mudança/inovação. Sou das fãs q tem os álbuns todos (originais) e os dvds  Isso do achar “embichanado” por gostar da obra artística de um é para mentes q não sabem distinguir o público do privado! Há uma clara separação.
Mas também já ouvi isso muitas vezes, acredite. Mas como sou mulher, lá escapo a um qualquer olhar mais “repreensor”. Apetece-me dizer a essas pessoas como os jovens agora dizem: “Dah!” 

Até breve.

Garraio disse...

Bom, Bom, Bom... isto está-se a compor. Vejo pro aqui mais candidatos/as à 2ª marcha dos cágados (como lhe chamou o Luis Buga, grande abraço pa ti, marujo do Pego Ferreiro e doutros mares).

Só vou soltar um palpite sobre o tema da emigração. Tentei várias vezes, tantas como as que tentei deixar de fumar. Nunca consegui aguentar mais de mês e pico. Tanto unma coisa como a outra. Ambas me fazem mal aos nervos.

Mas A Marília, tocou aqui outro tema muitooo engraçado que também dá pano para mangas. Refiro-me aquilo que tu chamas " ambiente de Marvão" e que é realmente "uma coisa do outro mundo". Acho que há matéria para resmas de tratados sociólogicos, psicológicos, psiquiatricos, e até de ciencias ocultas e outras magias negras...

Mudei-me para cá no dia 11 de Setembro de 2001. O dia em que cairam as torres. Mas as nossas "torres" continuam sem cair.
Compreendo perfeitamente a sensação que tu tens, Marília, quando por cá dás uma volta... Eu também senti isso muitas vezes.

Há até dias, de nevoeiro, chuva, e vento em que penso que Marvão é o cenário do livro do Humberto Eco " O Nome da Rosa" mas em versão real.

Esta é uma terra tocada pela mão do sobrenatural. E não é só no patrímonio construído que as coisas se mantêm praticamente intactas. Aqui não há as mesmas leis que há nos outros sítios, aqui os regedores permanecem intactos, sem necesidade de eleições nem nada por estilo. Quem manda, manda. E quem manda é dono disto.

Temos um perfeito exemplo numa das partes nobres da Vila. Puseram-se alguns pilares para que não se pudesse estacionar. Estes foram
retirados, toda a gente "sabe" por quem. Houve queixa à GNR? Houve substituição do material roubado? Não. Nem parece ser que vá haver. Destruir aquilo que é público é crime. Em todos os lados. Por aqui, não. Fecham-se os olhos e pronto.

Depois, às vezes, queremos evoluir... e digo eu: tanto trabalhito que temos por fazer...

João, disse...

Boas tardes amigos da “tasca”…

Certamente já haviam sentido a minha falta.

Não, não teve a ver com a crítica do Luís, pois assumo que ele tem razão. De vez em quando deixo escapar um ou outro pequeno erro ortográfico, defeitos de fabrico meus amigos…Embora tenha, ao longo dos tempos, feito algum aperfeiçoamento, a minha aprendizagem fez-se pelo Ensino Técnico, onde não dávamos muita atenção a estas coisas da literatura e nos preocupasse mais o conteúdo do que a forma, mas sei perfeitamente que a dita influencia e aceito a crítica, obrigado Luís.

Mas o facto, é que fiz uma ausência de beber uns copos aqui com vocês, ando a gozar umas merecidas férias de fim de ano e tenho andado por aí a observar, a ouvir, que isto da vida tem um tempo para tudo, como dizia o outro.

Pois é meus amigos “emigração” é tão antiga como a história do homem…no passado bem mais penosa do que aquela que aqui tendes relatado.

Poderia até falar-vos da história de um rapazinho, que acerca de 40 anos, então com apenas 14 anos de idade, teve que deixar o seu “pobre lar” e não estamos a falar no sentido figurativo, era mesmo assim, para rumar à grande capital. E não era para fazer de estudante, com os “paizinhos” a pagar uma qualquer licenciaturazita e umas bebedeirazitas á noite… era para trabalhar no duro, 9 horas por dia e à noite agarrar nos livros e ter aulas até à meia-noite, para no dia seguinte, ás 7 da matina estar pronto para malhar no ferro, que assim é que se amansavam os pobres. Aos 19 anitos já havia completado o Ensino Secundário e prontinho para entrar no Superior…sempre com mais 9 horas de trabalho diário, para ganhar para comer, vestir e pagar os seus próprios estudos, porque não havia cá pão para malucos…
E felizmente que o seu saudoso irmão Francisco, pai do Luís, ainda lhe proporcionou esta oportunidade… acolhendo-o em sua casa e o criou como filho, como se irmão fosse daquele “mal educado”, que agora aqui vem, ás vezes, dizer uns palavrões, diga-se que quase sempre bem aplicados e foi assim, que se fez aquilo que é, com muito orgulho, pois se não tivesse sido emigrante, certamente, estaria muito pior…
OBRIGADO MANO!

Mas mudando de assunto, o último comentário do Garraio, estimulado pela Marília, fez-me estremecer, porque penso que tocaram com o dedo numa das “feridas” da nossa terra. Que por sinal, se encontra em elevado estado de “infecção”… crónica digo eu e a necessitar de terapia com urgência.
Há muito que penso que “marvão concelho”, tem uma forma muito própria de pensar, de ser e de estar. Muito diferente dos restantes concelhos, mesmo daqueles que lhe estão mais próximos, o que, em minha opinião, tem a ver com a localização geográfica, “as serras”. E por isso, há muito que defendo, que uma forma de mudar “marvão” seria derrubar esses montes, que “obstaculizam” a mudança.
Passam-se coisas em Marvão, que não sei se são sobrenaturais, mas parecem do arco-da -velha…
Não tenhamos dúvidas, Marvão tem dos piores indicadores de desenvolvimento do distrito, mesmo de Portugal e porquê?
As razões têm de ser encontradas nos marvanenses e só neles, tendo à cabeça da responsabilidade, os seus dirigentes. Embora nos últimos anos todos nós sejamos responsáveis, pois somos nós que os elegemos.
No entanto, apesar destes dirigentes ocuparem os cargos políticos, o fenómeno do exercício do poder, é mais complexo em Marvão, apesar das mudanças de pessoas e partidos.
O Garraio chama-lhes “regedores”, eu vou mais longe e chamo-lhes “CACIQUES”. São eles, que na sombra, dirigem quase toda a vida do concelho, tendo como objectivo apenas o proveito próprio e marginalizando todos os que ponham em causa o seu poder ignorante.
Não tenho dúvidas, que actualmente, um dos alvos desse poder feudal, é o “dono da tasca”, porque tem ás vezes incomodado os tais “princípios sobrenaturais”, embora em minha opinião, um pouco ingenuamente, como eu já fiz no passado.

Marvão, está lá, imponente, no alto do monte, donde se vê quase todo o mundo, rodeado de vales, com muitas casas, algumas novas e bem bonitas, fruto da mudança dos tempos mas…as pessoas terão elas mudado?

Marvão é bonito, pois é. Mas falta o resto…e o resto, como diz o Bonito são as pessoas e essas, Marvão tem cada vez menos… e mesmo assim, umas são boas, outras nem por isso…o problema é que são essas que mandam.

Um abraço e desculpem pela seca, mas já há um mês que não bebia aqui um copos…e parabéns Marília, não sei quem és, mas aparece mais vezes, pois Marvão bem precisa de “massa” critica.

J. Buga

José Boto disse...

Sou dos poucos,como o Pedro Sobreiro e mais alguns,que após terminar a licenciatura teimei em me estabelecer em Marvão.

Compreendo perfeitamente todos os que tiveram de saír,ou porque não conseguiram aqui emprego ou por outras motivações.

A discussão sobre os motivos do atraso e desertificação de quase todo o interior do País e os meios que outros Países têm utilizado para ultrapassar estes problemas,como a vizinha Espanha para não irmos mais longe, pode ficar para quando inevitávelmente o tema da Regionalização voltar à ordem do dia.

Mas centrando-me exclusivamente em Marvão gostaria de trazer à discussão um tema que em parte contradiz a tão falada falta de iniciativa e de ofertas de emprego.

Marvão tem uma população reduzida e proporcionalmente tem algumas entidades que em conjunto ocupam um nº elevado de trabalhadores-a Nunes Sequeira,varias panificadoras,um nº bastante consideravel de unidades hoteleiras e de restauração e bebidas,outras pequenas empresas,um elevado nº de unidades agricolas,um conjunto de instituições de solidariedade social que em conjunto devem ser já os principais emoregadores,para além da C.Municipal e dos orgãos da Administração Central,que como na generalidade dos municípios do ínterior são os principais empregadores.
Faltam as grandes empresas ou mais algumas de media dimensão como a Nunes Sequeira.

Mas duvido de que na actualidade tal seja viavel áté porque neste momento já há projectos que não se desenvolvem em Marvão por falta de mão de obra.

Dou exemplos:

Ageneralidade das empresas de hotelaria e restauração têm enormes dificuldades em conseguír pessoal para os periodos de maior actividade.

A Nunes Sequeira tem todos os anos muita dificuldade em admitir todos os trabalhadores que necessita para a campanha de fabrico de produtos para a Pascoa.
Poderia admitir 35 funcionarios durante cerca de 3 meses por ano,mas como sabe que tal não é viavel apresenta ao Centro de Emprego uma oferta de apenas 25(que a muito custo consegue) e subcontata noutras zonas do País e no estrangeiro parte dos trabalhos que normalmente seriam aqui desenvolvidos.

A mesma empresa tem neste momento em estudo a implantação de um novo centro fabril,que dará ocupação a 50 trabalhadores durante cerca de 3 meses,num periodo distinto ao da campanha de Pascoa.
Mas a condicionante de falta de mão de obra vai muito provavelmente obrigar à localização noutra região.

Em parceria com a C.Mun.,ainda a N.S.,estão a incentivar os agricultores que possuem terrenos de óptima qualidade no perímetro de rega da barragem da apertadura para aí desenvolverem a plantação de pimentos,assumimdo a N.S. o compromisso de absorver as produções.
Mas será que os agricultores vão conseguir o pessoal necessário ao desenvolvimento desta actividade?

Quantas toneladas de azeitonas ficam por colher todos os anosde ,quando se sabe que sobretudo para conserva é uma actividade rentavel?Mas como actualmente não Há gente suficiente para os trabalhos agricolas vamos assistindo à morte lenta do sector.

Bem sei que só me referí a actividades sazonais,mas as empresas que as desenvolvem ocupam também um nº elevado de efectivos e sem as actividades sazonais não sobrevivem;e a maioria dos municipios mais prosperos do interior vivem muito desta sazonalidade.

A conversa pode estender-se muito mais e certamente não vão falfar comentarios que o justifiquem.

Clarimundo Lança disse...

M ARAVILHA SECULAR
A MANHÃ INCERTO, QUAL PASSADO
R EALIDADE, CRENÇA, PODER
V ALORAR AS CERTEZAS PRESENTES
A CARICIAR O FUTURO COM PASSOS FIRMES
O CULTANDO AS MURALHAS CHORANDO

Bonito disse...

Parabéns Sabi!

A sério!!!

Que “desenterraste” esta sequência de comentários.

Todos “suculentos”. De um suco que vai rareando.

Aqui, por exemplo, falaram-se de coisas pragmáticas (José Boto, Garraio, J.Buga…) e de coisas do coração (Tany, J. Buga, Marília…) e… etc…

Estava tentado a partilhar a minha experiência de “emigrante” em Odemira mas, perante outras experiências de há 40 anos atrás, não vale a pena…

Curiosa a realidade dos poderes instituídos…se calhar é por aí!!!!

Por que será que Marvão, ao contrário dos seus pares (concelhos pobres do distrito de Portalegre), não tem já infra-estruturas “económicas”, sociais, culturais, desportivas, etc, condignas! Será apenas devido à limitação geográfica da sua sede de concelho????

Parabéns!

A sério!!



Grande Abraço

Bonito Dias

Marilia Rosado Carrilho disse...

Bem, lá vou eu responder de novo. Sinto-me bem aqui, mal comento sou logo notada e compreendida… Suspeito que os membros da “tasca” são os alternativos aos “loucos” não de Lisboa, mas de Marvão.

Para Garraio: pois… eu não fui tão longe como tu (não sei se deva tratar por tu pois sou mais nova, mas olha, já foi. Se não gostares diz, obviamente) mas mostrei apenas a ponta do véu q tu puxaste e mostraste por completo. Voilá… eu não diria melhor q tu! Confesso q me incomoda ver aquele ambiente taciturno, fechado, de muitas vezes nem um “bom dia” se dizer a quem passa. Curioso mencionares o filme O Nome da Rosa… sim, muito semelhante. Há olhares comprometedores q se cruzam quando circulamos na rua. Às vezes diz-se “bom dia”, outras não, mas mesmo quando se diz, é muito baixinho e de cabeça baixa, reacção q ainda não consegui entender muito bem em q sentimento se funda, mas tento muito compreender.

Pois… era a isso q me referia quando vejo e ouço alguns dizerem maravilhas de Marvão. Mas uns dizem-no de modo a partilhar com o Mundo, um modo altruísta; outros não, dizem-no como se Marvão lhes pertencesse.

Bem… e quanto a essa dos pilares, ui, acho melhor conter-me senão sai-me aqui muita coisa. Ai… muita! É q não só uns fecham os olhos, como a outros lhes dá muito jeito o “crime” q se cometeu, não apenas ao q o cometeu… como ainda outros nunca pensaram nos moradores, mas sim naqueles q iriam à casa da cultura à Internet e para eles sim se guardaria um lugar de estacionamento… Eu acho q Marvão tem de se abrir ao Mundo, escancarar as muralhas como fez Óbidos, mas primeiro estão os moradores, como eu, como tu, q corajosamente vivemos e teimamos em viver neste meio fantástico/ficcional, mas infelizmente tão real. Sou de Marvão, mas Marvão não é meu. Muitos deviam interiorizar isto… É q sem terminarmos com isto Marvão nunca se abrirá.
Há uma clara inversão de valores nesta vila. Em nada a beneficia… só prejudica.

Para J. Bugalhão: afinal pensava q só eu reparava neste ambiente estranho e enganei-me. É q quando por ali ando parece q sou eu quem está fora de contexto, q sou eu a “aberração”, q sou eu quem não encaixa ali. Muito me agrada ver q ainda há mentes criticas em Marvão. Ai desculpem, mas é, como disse o Luís Bugalhão mais acima… angustiante.

Pelos meus apelidos não será difícil perceber quem sou, penso eu. Eu também não vos conheço... Apenas ao Garraio, sobretudo a sua maravilhosa esposa, com quem gosto muito de trocar umas palavras quando dá.

Já me sinto bem aqui. Agora q me puxaram já não mais me calarei.

Até breve.

Garraio disse...

Como estou sem sono ainda vai dar tempo para mandar mais umas baboseiras dos dedos pra fora.

Na semana passada, durante a reunião da Agenda 21, coincidi na mesa de trabalho com o amigo Zé Boto, e na nossa conversa, falou-se das coisas que ele aqui transmitiu no seu comentário.

Cada vez que há eleições, os políticos coincidem todos no mesmo discurso, parques industriais, ninhos de empresas, criação de emprego, etç. Tenho dúvidas que as nossas prioridades actuais sejam essas. Não adianta construir se tudo o que está à nossa volta, se desmorona.

Lamentavelmente a nossa realidade já perdeu esse comboio. E devemos estar muito atentos porque há outros importantíssimos que estamos em vias de perder. Em vez de tentarmos meter mais golos, acho que nos devíamos preocupar em que não nos metam mais nenhum.

Se calhar, somos o único concelho deste mundo mundial que não tem serviço de atendimento permanente no Centro de Saúde. E ocasional, tem só de vez em quando.

Desde 2003, somos o único Concelho do mundo mundial em que um Presidente de Câmara não colocou entraves ao fecho da sua única escola primária na sede do Concelho.

A GNR em Santo António ou fechou ou está para fechar. Os Correios também. As finanças vão perder vários funcionários, creio. Um dia destes, vão juntar as Escolas Básicas Integradas. O Campo de Golfe está como sabemos. A Nunes Sequeira não consegue nem mão de obra nem matéria prima no Concelho. Com a construção da linha do comboio de Alta velocidade por Elvas, o Lusitânia deixará de circular e a Beirã verá desaparecer o seu único comboio internacional de passageiros.

A crise nacional, a internacional, e a estagnação do projecto “ Marvão – Património Mundial” travam o nosso fluxo turístico. A BT não sai das nossas estradas e os espanhóis trocaram o frango assado e o bacalao a la dorada pelas suas paellas, porque lá até podem virar uns birinaites. Não se vislumbram perspectivas para resolver o problema do bairro da fronteira.

O amigo Tonho Zé fechou a tasca no Porto de Espada. Nesta aldeia também já não há um minimercado. Nem na Rasa, nem nos Cabeçudos, nem na Ranginha. Nem no Salvador.

A actualização da Amostra-Mãe do INE, diz com a crueza dos seus números, que em 2001, o Concelho de Marvão tinha uma população de mais de 4000 residentes. Em 2007, temos pouco mais de 3600. Perdemos 100 habitantes por ano. Dá medo ver estes números.

Será que está ao nosso alcance parar ou atenuar esta tendência? Acho que isto já nos fugiu das mãos. O melhor é fazer a tal Ponte das Castelhanas para Valência. Quando começarmos a ter medo de estar sozinhos, fazemos à estrada e enfiamos umas cañas...

Nota do autor: A menina Marília fica terminantemente proibida de me tratar de outra forma que não seja por “tu”. Por duas razões, a primeira, porque eu não gosto de quem não o faz; a segunda é que, caso não o faças, meto uma cunha ao dono da Tasca e nunca mais cá entras! ;-))

Clarimundo Lança disse...

Garraio
Marvão deve o seu nome a Ibn Marwan al-Yil'liqui «O Galego»
Obrigaste-me a ir á pesquisa e encontrei o teu gene, pelo dicionário é tudo ao contrário, mas lá encontrei a tua verdadeira origem, a tua fevra, o teu nervo, o teu MARVÃO sentido.
IBN MARWAN -O GALEGO
Depois de ler o teu brilhante comentário, só me resta, começar a comprar ferramenta, e aos fins de semana, caminho das castelhanas e mãos á obra.
Mas sobre a debandada dos habitantes, uns pela inevitável morte (mas até estes não se vão embora, mudam é de posição, da verticalidade, para os pés para frente) outros porque efectivamente.
Marvão teve os seus tempos áureos em termos populacionais, dos anos 30 aos anos 60, altura em que o tal ditador, por cá andava, mas são estes os números, agora queremos fixar e conquistar novos “Marvanenses”, e o que oferecemos? “TRABALHO SAZONAL”, ora bolas até os ciganos já têm moradia fixa, e agora querem que sejamos Marvanenses no Inverno e Algarvios ou Minhotos no Verão.
Sejamos realistas isto está mau mas é só para alguns, porque vivemos num de país de lotarias e totolotos, cunhas e ancoras, porque quem em devido tempo se cunhou e ancorou hoje canta de galo, enquanto outros já nem força têm para bocejar, tal a letargia e ineficácia politica, que neste pais se instalou.
Em conversa de tasca á dias, dizia um em termos jocosos, que a culpa disto estar como está, é única e exclusivamente da AGRICULTURA, pelo que se receberam de subsídios e nada estar aplicado nas terras, salvo raras excepções.
O que foi feito aos milhões ou nem sei tri………………….de escudos e agora de euros.
Nada mais verdade do que isto, olhamos á volta e o que vemos…….nada, a não ser JIPES.
Ao menos uma indústria prosperou, a AUTOMOVEL.
Só que meus colegas de TASCA o mal está na justiça ou falta dela, num país que está podre de corrupção, temos 20 e tal presidiários culpados de tal e muitos destes sem culpa formada.
Houvesse justiça, quer fiscal, criminal e politico e este País meus meninos era o tal paraíso que em tempos imaginei.
Só que a torneira está a secar, ou secou.
“A mina secou. A seara mirrou. Não há mais futuro aqui. É tempo de embalar a trouxa e zarpar.”
Castelhanas espera por nós.

João, disse...

EMIGRAÇÃO (PARTE II)

Tive que sair da minha terra, várias vezes. Desde aquela aos 14 anos que atrás vos contei. Aos 20 anos, saí da grande urbe para passar a viver numa pequena cidade, Estremoz, durante 4 anos. Quando aí havia estabelecido a minha vida profissional e social, tive que montar arraiais na cidade de Portalegre durante três anos, onde frequentei o curso, que me daria a possibilidade de voltar para a minha terra e para junto daqueles que sempre identifiquei como os da minha “tribo”, os marvanenses. E onde, pensei, finalmente, construir o meu “meio social” e viver em paz o resto da vida. Enganei-me.

No entanto, estou como a Marília, em quase todos os lados fui “feliz” e em todos os lados aprendi e penso que evoluí. Por isso, amigos da tasca, a minha opinião é positiva sobre o emigrar, embora tenhamos que ter em conta, a idade. Isto de quando a “malta” é jovem, a adaptação ao meio, não é muito difícil. O pior é quando a PDI, começa a influenciar, e isto do eternamente jovem é “bonito” como ideal, mas é irreal e pouco social, como dizia o jl, o filho de um dos tais CACIQUES…

Mas pior que Emigrar, é ter de o fazer como “exilado”, isto é, ter emprego, ter casa, ter amigos…mas a conjectura social, onde os tais poderes ocultos ditam leis, manobram os ingénuos, mentem descaradamente, compram “prostitutas sociais”, valem-se de estatutos sociais e económicos, etc, etc…
E para quê?

Esta foi a minha última experiência emigratória. Depois de 20 anos ao serviço da minha comunidade, muito trabalho voluntário, na saúde, no desporto, no associativismo e sempre com uma grande paixão, Marvão, a minha terra…
E claro que não confundo, não tomo as “partes pelo todo”, sei perfeitamente quem são esse “actores” e mais tarde ou mais cedo, a justiça de que fala o Clarimundo (embora também fosse um dos subscritores, não sei se enganado…), será feita e saber-se-á quem beneficiou com estas manobras obscuras.

Entretanto, vou continuando a viver o meu “exílio”. Um EXILADO DE LUXO, pois passei a ganhar mais, tenho uma casa como nunca tive na minha terra, profissionalmente sou mais considerado, passei de gestor de “um pequeno grupo”, para ter responsabilidade por um distrito inteiro, trabalho numa outra terra onde sou respeitado e penso que considerado…e, só tenho um desejo que os marvanenses tenham beneficiado com o meu exílio. Pois então, estaremos todos mais “felizes”…

Um abraço, e desculpas ao dono da “tasca”, por este desabafo, mas a cerveja que bebi tinha álcool e fiquei assim…E VIVA A EMIGRAÇÃO

J. Buga

Clarimundo Lança disse...

Amigo J. Buga:
Qualquer coisa me escapa, mas estás a colocar-me num barco para o qual não me destes os remos,nem eu te escolhi como timoneiro.
Para esse peditório não dou.

Bonito disse...

Acabei de ler um artigo, na revista do Expresso de ontem, sobre Elvas e Badajoz e sobre os ganhos mútuos… Caiu que nem ginjas!!! (eu, aliás, já me tinha, aqui, referido a isso…)

Lêem se puderem…e se quiserem!

É algo do género que precisamos … nessa tal estratégia transfronteiriça. A situação é GANHAR/GANHAR (para os dois lados!)

É o comércio, é o imobiliário, são os restaurantes, é o investimento, é o emprego, etc. Enfim, é o ganho em ESCALA e MASSA CRÍTICA.

Podemos aprender, não?



Grande Abraço

Bonito Dias

Goyi disse...

É um bocadinho tarde para mim e amanhá é dia de escola, mas consegui ler quase todos os comentarios que fizeram á entrada do Ti Sabí.

O assunto interesa-me e muito, tanto ou mais do que a vocês, já que eu tambem estou a viver na minha pel a dor que provocam as ausencias de aqueles que têm de sair da sua terra à procura dum mundo digno e un bocado de pao.

Como nunca tinha visto esta tasquinha tao concorrida e até as meninas se animaram, prometo que amanhá, assim que tiver um bocadinho entro e dou mais em profundidade a minha opiniao sobre um assunto que tanto parece nos preocupar.

Garraio, nao deixes de entrar no nosso blog de Valencia, as tuas opinioes vao ser mais importantes agora do que nunca. Amanhà vou para o Ayuntamiento e falarei com os meus colesgas das reunioes e assuntos importantes que temos entre nós e voces ..... Já!.

Desculpem os meus erros na ortografía, mais juro que houve uma altura,faz alguns anos já, que eu falava e escrevia muito bem português.

Beijos.

Garraio disse...

Duas notas:

1ª - Para a Goyi: Parabéns pelo teu português que tem tanto nível como o meu espanhol (modestia aparte).

Como tu sabes, as Câmaras Municipais portuguesas têm mais responsabilidades que os Ayuntamientos, uma vez que, ao não haver regiões autónomas em Portugal, o poder local tem de assegurar algumas das competências que em Espanha são do foro das Diputaciones e das Autonomias. Por exemplo, Educação, transportes etç.

Ao aumentar a nossa responsabilidade nestas matérias, dispomos de quadros técnicos mais amplos e, o seu trabalho acaba por ser mais abrangente a quase todos os níveis de intervenção do poder local. É através dessa experiência que, penso eu, vos podemos ser muito úteis. Mas não esperes que eu vá dizer para o blog aquilo que, em minha opinião, o governo de Valência pode e deve fazer. Esses temas não devem ser públicos, penso. Podes, contudo, contar com a minha humilde colaboração para o que achares oportuno. Até porque não ocupo cargos políticos, nem nunca ocuparei. O que não me inibe de estar muito atento ao trabalhos destes. "Un saludo, mujer valiente".

2ª Nota: Para o Clarimundo Lança.

Ó pá, eu pensava que já sabias que eu sou um descendente directo do IBN Maruan!!! ;-)

Jaime Miranda disse...

Ora boas noites. Passei outra vez por aqui e, lendo o que se escreveu, não resisto a meter um pouco mais lenha para aquecer a discussão. Pensando sobre a emigração e sobre a criação de postos de trabalho que fixem as pessoas à terra, ocorrem-me algumas coisas. Em primeiro lugar a história singular de Santo António das Areias, a minha aldeia que tem um passado marcado pela visão de João Nunes Sequeira, um homem que foi muito mais do que um benquisto filho desta terra. A riqueza que foi criada nas empresas com
o seu nome, e a forma como foi aplicada e distribuída desde há décadas, constitui um dos principais sustentos do Concelho. Talvez analisando a oportunidade e os meios de que este empresário dispôs para criar o seu império, encontremos uma luz para os problemas de hoje em dia.
Em segundo lugar, penso que a desertificação do nosso concelho, em que tenho uma quota parte de responsabilidade, não é um problema. Ou melhor, é um problema, mas tem uma gravidade muito relativa. Pensando na história concreta de cada uma das nossas aldeias, se conseguíssemos conhecer a população residente num passado longínquo, acredito que ficaríamos espantados com o reduzido numero de habitantes em cada lugar, e a escassez dos serviços que eram oferecidos há mais de duzentos anos. Há cem anos a situação era diferente, depois da construção de caminho de ferro e da reforma administrativa do Estado, pelo que no início do século passado a população seria de aproximadamente 6000 pessoas. Desde essa altura o concelho ganhou pujança económica, beneficiando em larga escala da fronteira e das alfândegas. Esta história de sucesso durou 80 anos de grande prosperidade para a maioria das famílias das várias Freguesias. Na ressaca do 25 de Abril iniciou-se o período actual de instabilidade social do Concelho, que se agravou com as crises que a industria sofreu em 78 e 82, de que resultou, por exemplo o encerramento da Celtex, em S.A: Areias. Desde esta altura tem existido uma forte saída de pessoas do Concelho que aumentou a intensidade, na inicio da década de noventa, com o encerramento do estabelecimentos alfandegários. Esta parte da história já é recente e todos nós conhecemos bem muitos episódios. Mas será que somos capazes de entender o que se passa actualmente, para preparar o futuro?
Para conhecer a situação real que se vive no Concelho, seria interessante conhecer os saldos da população do Concelho, em 2007. Para saber em quanto se reduziu o número de residentes, contribuintes, eleitores e visitantes este ano, em comparação com o ano passado.
Na minha opinião, este saldo, que recentemente foi muito negativo, está a equilibrar-se. E acredito que em todo o lado se está viver uma mudança nas relações sociais, económicas e politicas, que podem já estar a dar resultados.
Desculpem meus amigos, mas não partilho do pessimismo de quem acha que não há grande futuro no Concelho. Pode-se estar a passar um mau bocado se virmos a coisa na perspectiva do encerramento de serviços, da perda de importância política e institucional. Mas, para mim, isto não é um problema, porque resulta da própria evolução da sociedade. Eu fiquei imensamente infeliz com o encerramento do posto dos Correios de S.A.Areias, onde passei muitas tardes com o meu avô que era carteiro. Mas tenho de reconhecer que pagar uma renda de um estabelecimento e o salário de um funcionário para o manter aberto tem de ser um factor a ter em conta na avaliação sobre o rendimento de um serviço, de um ponto de vista empresarial. Se aceitamos as regras, é justo reconhecer que uma empresa pode recusar a responsabilidade de manter um posto de atendimento em funcionamento, que não corresponde aos seus critérios, por razões subjectivas de natureza social. Eu aceito a situação que existe na maior parte das freguesias, em que o posto dos correios funciona na Junta de Freguesia. Desta forma os recursos são melhor aproveitados e penso que não há prejuízo para o cidadão.
A situação de crise actual na oferta de emprego no Concelho é recente. Estudando-se atentamente os cenários, acredito que em breve se encontrará o caminho que leva ao aumento da riqueza criada, permitindo a fixação de população do Concelho e a melhoria do acesso a alguns serviços. Eu quero pensar assim, acreditando, por exemplo que há muita gente com um percurso semelhante ao meu. Actualmente estou fora, mas tenho a convicção que um dia hei-de regressar à minha terra. Entretanto vou procurando que o percurso profissional, que me garante a sobrevivência, siga um rumo de compromisso entre as minhas necessidades e os meus interesses.
Isto já vai estupidamente longo e já é tarde. Sabi desculpa o abuso de espaço que o comentário ocupa. Um abraço do Jaime Miranda

Garraio disse...

Não sei se foi do adiantado da hora se foi da minha capacidade de interpretação, mas não percebi nada do que disseste, ó Jaime.

Apresentei números referentes à população residente no Concelho, tenho centenas de indicadores que apontam todos na mesma direcção. O Concelho de Marvão, está a perder cem pessoas por ano. CEM, Jaime. DOIS AUTOCARROS, por ano, pá.!!! Parece-te que isto se está a inverter? Invertidos também por aqui há alguns, não sei se é desses que estás a falar.

Olha, Jaime, eu não me preocupo muito com o tema do emprego. Preocupava-me mais se houvesse desemprego. O que realmente me preocupa é a perda de serviços, é, como disse, o fechar das centenárias tascas e mercearias das nossas aldeias. Esse é que é um indicador infalível que estamos a morrer, lentamente, mas a morrer. E se perdermos os serviços públicos jamais os voltaremos a recuperar, disso podes ter a certeza!!! E se perdermos os serviços públicos da Administração Central, de seguida vai-se equacionar o que é que nós valemos como Concelho, etç. etç.

Não devemos pensar em grandes unidades fabris, em auto - estradas a atravessar o Concelho, nem em tretas desse calibre, que não estão na primeira linha de prioridades. Não devemos pensar que temos uma poção mágica que, de repente, vai trazer meio mundo em idade activa a instalar-se no concelho.

O que devemos é tentar melhorar substancialmente as condições de vida dos que cá estão, para sarar a ferida da emigração. E isso passa por ter melhor acesso à educação, melhores serviços públicos, (câmara, finanças, saúde, conservatórias, gnr), por ter melhor saneamento básico, por ter mais e melhor oferta cultural, por ter mais actividades lúdicas ou de lazer, por ter um associativismo mais forte, etç. etç. etç.

As prioridades de Marvão devem centrar-se na satisfação das necessidades e na melhoria de qualidade de vida dos SEUS RESIDENTES, e não passam, em primeira análise, por aqueles como tu, que emigraram porque a sua vida lhes constituiu uma série de necessidades e interesses que não podiam ser colmatadas por aqui e que estão a pensar, quando se reformarem, vir para cá respirar ar puro antes de “bater a bota”.

Vai um abraço.

José Boto disse...

Algumas opiniões sobre o que tem sido dito.



1.Não tenho duvidas de que,por mais que nos desagrade a todos,vamos nos próximos anos assistir ao fecho de mais alguns dos serviços a que o Garraio se referiu.

Tal está a acontecer em algumas zonas com poder reivindicativo,quanto mais aquí.

Não estou a apelar a que não nos revoltemos ou que não actuemos;mas a faze-lo é antes dos factos consumados.



2.Também penso que ninguém tem duvidas de que os tempos de hoje são completamente diferentes daqueles em que Marvão viveu o seu auge;como tal não é razoavel pretender voltar a modelos de desenvolvimento assentes no passado.

As alfandegas desapareceram;as leis do condicionamento industrial e da proibição de importação de produtos em que o País era autosuficiente,baniram a concorrencia do mercado Portugues e foram grandes responsaveis pelo atraso de Portugal nos anos 50,60 e 70;mas permitiram que Marvão e muito em particular S.A.Areias prospera-se aproveitando essas regras-logo que as mesmas se alteraram a "Celtex" faliu(como quase todas as congeneres da mesma epoca)e a N.S. só não fechou porque se foi conseguindo reestruturar-mas é evidente que tem hoje de utilizar meios muito mais avançados e com recurso a menos pessoal permanente;o sector agricola que teve em Marvão um enorme peso sofreu um processo de transformação,em parte natural,e não foram apenas os subsídios ao sector os motivos para a sua derrocada-foi a integração na U.E.,é o facto de hoje em dia não haver gente suficiente interessada em fazer trabalhos agricolas e,em parte por este motivo,mas não só,as explorações modernizaram-se;...



3.O comentario do Clarimundo sobre os trabalhos sazonais não me estranhou,pois reflecte a opinião comum.

Os objectivos de emprego fixo e pleno emprego são defendidos por todos,mas realísticamente não são alcançaveis .

As actividades sazonais amenizam os problemas de falta de emprego e sinseramente parecem-me uma alternativa melhor e mais sustentavel do que a dependencia de subsídios de que muita gente tem tido de viver nos ultimos anos.

Conheço municipios bem próximos de nós,por exemplo Estremoz/Vila-Viçosa/Borba,onde se sente prosperidade e que vivem muito das actividades sazonais(da vinha,da azeitona,da fabrica dos pimentos,...).Por vezes trabalham-se 3 meses,mas trabalha-se sabados,domingos,fazem-se horas extras(tudo pago acima do valor normal) e a remuneração auferida equivale a 6 ou 8 meses de salarios normais;e trabalhando 6 meses em dois periodos de 3 meses ultrapassam o valor anual.Como estou habituado a fazer este tipo de horarios não me parecem assim tão estranhos;mas,...



4.Quanto à questão das" forças ocultas,..."que alguns invocaram para a "emigração"não tenho duvidas que muitos jovens nem sequer procuraram emprego na N/ Terra e saíram só por esse tipo de motivos;e não tenho duvidas que quanto maior fôr o atraso e estagnação,mais este tipo de factores se vão fortalecer.



5.Por ultimo,não acredito no desenvolvimento de Marvão se toda a Região à n/ volta não estiver também a "mexer".

Não acredito no actual modelo de desenvolvimento regional para o conseguir-nem c/Agendas21,nem c/outros projectos do genero,nem c/ este executivo camarario ,nem c/outro(por mais empenhado,competente e serio que seja).

Na minha opinião sem Regionalização o Interior do País não tem futuro,c/ algumas poucas excepçôes que só confirmam a regra.
Sei que não é uma opinião muito partilhada,mesmo nas Regiões do Interior e em particular por muitos autarcas,mas talvez seja tempo de discutír abertamente o tema.

Pedro Sobreiro (Tio Sabi) disse...

Estimados clientes,

Atendendo à qualidade e quantidade de testemunhos aqui registados, tenho a informar que este estabelecimento vai oficialmente abandonar a designação de tasca para passar a ser uma pastelaria.

Daqui em diante, não serão permitidas camisolas de braceletes, barbas por fazer, calções por cima do joelho e combinações meia e chinelo.

Obrigado,

A gerência.

PS1: ó Bugalhão, nós já vimos que a máquina fotográfica do seu portátil funciona, mas mude lá a imagem que mais parece um ucraniano no Linhó. Pelo amor di Deus! Virge Maria.

PS2: Desculpem o desabafo, mas isto estava a ficar muito sério!

Pedro Sobreiro (Tio Sabi) disse...

De tudo aquilo que aqui foi dito, quase tudo está certo. Há contudo realidades que não podemos ignorar.

A menos que haja um cataclismo, o governo de Sócrates vai limpar as próximas legislativas. Ele sabe-o e está a governar a longo prazo, com cautelas e certezas.

Estou mais do que certo que vai ser durante o seu reinado que se vai jogar o futuro de municípios da dimensão do de Marvão.

Soube há dias que após o movimento de transferências do meu Serviço de Finanças, saíram 2 funcionários para Portalegre e Castelo de Vide e as suas vagas foram congeladas. Congeladas! O que significa que há gente a sair mas não querem que entrem outros.

O mesmo aconteceu com todas as vagas do distrito.

Porque será? Será que é desta que avançam com as 3 Super-Repartições de Elvas, Portalegre e Ponte de Sôr?

Será desta que fundem serviços e avançam com a Loja do Cidadão? Até quando?

Eu vou mais pela linha de pensamento do Garraio e por muito esforço que faça, não consigo beber do optimismo do Jaime.

E ou muito eu me engano, ou a pressão legislativa e os cortes orçamentais cada vez mais duros e incisivos só apontam para uma morte lenta das autarquias do interior que não vão ser extintas mas vão implodir ou esfumar-se no meio de tanta dificuldade.

E aí… tudo ficará ainda mais cinzento e deserto.

Na minha opinião, o nosso destino está traçado num gabinete yuppie qualquer, à espera de ser promulgado.

Um dia hão-de perceber que o nosso futuro não depende assim tanto de nós.

victor disse...

A emigração continua, porque a vida cá dentro para quem trabalha é cada vez mais difícil ,porque não vêem futuro aquí não há horizontes de vida. Mas terão todos ainda força para resistir e contrariar um processo doentio, de que não se vê remédio nem controle? Se o difícil cede o lugar ao impossível e os braços caem, só ficam favorecidos aqueles a quem interessa um povo alienado ao qual basta pão e futebol.
O nosso sítio é Marvão ,é um sítio. Já não achamos mau!

Jaime Miranda disse...

Boas tardes. Não esperava que o meu comentário provocasse reacções tão exaltadas, como a do Garraio, cujas palavras, apesar de não concordar com o tom e o conteúdo, me deixaram bem disposto. Primeiro, porque reparei, que mesmo sem entender, leu o que escrevi até ao fim; segundo, porque demonstra um empenho nesta discussão que vai mais longe do que a simples especulação. Por mim, estou tranquilo, não tenho causas escondidas, e se discordo das opiniões de quem aqui escreve, com certeza que a minha prosa trôpega não trará prejuízo a ninguém. Gosto de meu Concelho acima de todas as outras terras, sinto-me um marvanense de corpo e alma e, naquilo que estiver ao meu alcance, tudo farei para que se reconheça e se acrescente o valor desta terra e das suas gentes. Por isso, desilude-me o discurso pessimista e de queixume que sobressai do que aqui se tem escrito. Eu não penso assim, não gosto de me lamentar e custa-me que, neste país, se dê tanta atenção ao fado da desgraçadinha, ao mesmo tempo que se faz tão pouco para dar ânimo e esperança a quem realmente tem poucas razões para sorrir na vida. Não quero ser opinion maker, mas também não sou nenhum tolo. Não possuo centenas de dados sobre o Concelho, mas tenho muita curiosidade e contacto diariamente com pessoas que vivem intensamente o que se passa nessa Comunidade. Por isso volto a sublinhar: Marvão é um Concelho cheio de potencialidades se o compararmos com quase todos os concelhos do país e, igualmente, é um concelho cheio de problemas se fizermos a comparação por este lado. Não temos falta de gente de valor, capacidade, inteligência e arrojo. Temos é de por isto tudo a funcionar, sem preconceitos. Um grande abraço do Jaime Miranda

João, disse...

EMIGRAÇÃO (PARTE III)

O AQECIMENTO GLOBAL E O REPOVOAMENTO…

Gosto desta gente “americanizada”, do positivismo.
No meu “futebolês”, de bola para a frente e vamos todos a correr atrás dela, que a baliza é além. Ou do “rapaz cawboi”, que sozinho derrota os 100 índios ou mais e… casa com o cavalo!

Ultimamente instalou-se na cultura portuguesa esta forma de pensar `americana liberal, um pouco em oposição ao tal pensamento português, protagonizado pelo “velho do restelo”. Começa no ensino primário e vai até faculdade, onde andam toda a malta jovem cá do rectângulo mais ocidental da Europa.


Claro que sei, que isto é moderno, que não existe dificuldade que não seja ultrapassada com uma boa dose de optimismo. Se isto resulta com os outros… porque não há-de resultar com os portugas? Deus quer e obra nasce, e com os homens não há razão para ser diferente, basta ser “positivo”.

Uma pergunta de algibeira. Se assim é, porque andam tantos destes “positivistas/optimistas” encharcados em produtos químicos, vulgo antidepressivos? Preciso dar estatísticas?

Claro, que pessoalmente, não me estou a referir ao Jaime, mas aos princípios que aqui tem defendido e eu, congratulo-me com isso, pois apesar da ameaça de isto passar a pastelaria, não tem que ser um espaço de “meninos do coro” e andarmos aqui só a trocar de camisolas, numa de desportivismo, pois sou dos que pensa que só do contraditório e da discussão é que a coisa avança.

Quanto ao problema da desertificação, que eu penso que de momento ainda é só despovoamento, as coisas não estão nada bem, porque o problema não é só em Marvão, é de todo o distrito e de todo o interior de Portugal.
O distrito de Portalegre perdeu nos últimos 35 anos, mais de 70% da sua população. Em alguns concelhos, com é o caso de Marvão as perdas, foram superiores a 100% (7 800 habitantes em 1971, para cerca de 3 700 em 2007) e não é o pior.
Destes 3 700, 35% têm mais de 65 anos de idade (1 300 almas), que irão desaparecer, certamente, nos próximos 15 anos (se não forem eternos), o que quer dizer que daqui a 15 anos habitarão estas paragens, talvez cerca de 2 500 humanos e desses, 40% serão velhos.

Não sou grande sociólogo, nem nunca pus os pés na “faculdade”, também não sou futorologista, mas não me custa acreditar, que a coisa está negra…A não ser, que a exemplo do passado, apareça o tal cataclismo, como foi caso do terramoto de 1755, que obrigou o povo a deixar o litoral.

Parece que o que está a dar agora, é a possível INUNDAÇÃO, desse mesmo litoral, provocado pelo degelo como consequência do aquecimento global (palavra de americano). Se assim for, que remédio terão os litoralistas, senão apanhar o barco e rumar a terra segura, se tiverem tempo…porque isto de fazer coisas planeadas, ainda não encontrou eco nos novos princípios portugas, ser optimista é mais fixe…

De qualquer modo, o afogamento será sempre um risco, porque com tanta gente à beira-mar, a carrada vai tombar… só não se sabe quando, por isso aprendam a nadar companheiros da “tasca”!

Um abraço especial para o Jaime

J. Buga

Jorge Miranda disse...

Caros amigos, lamento chegar tão tarde à discussão, mas um ácaro informático deu-me cabo do sistema.
Concordo com a maior parte das opiniões... mas vamos devagar com o andor...
Amanhã na posse de alguns dados que me faltam e que estou a tentar arranjar através do Centro de Emprego, completo o meu comentário

João, disse...

Errata:Mais uma vez, onde se lê AQECMENTO, claro que queria dizer:AQUECIMENTO
Descupas, especialmente, ao luis

Bonito disse...

Amigo J. Buga:

Apesar de não ser seu sobrinho estou à vontade para lhe fazer uma correcção. Onde diz:

“… Em alguns concelhos, com é o caso de Marvão as perdas, foram superiores a 100% (7 800 habitantes em 1971, para cerca de 3 700 em 2007) e não é o pior…”

Quer dizer:

“… Em alguns concelhos, com é o caso de Marvão as perdas, foram superiores a 50% (7 800 habitantes em 1971, para cerca de 3 700 em 2007) e não é o pior…”

De facto, as perdas nunca poderiam ser superiores a 100% e se fossem 100%, já cá não havia ninguém…

Atendendo ao teor da matéria, não podia deixar passar!!

Grande Abraço
Bonito Dias

Garraio disse...

Amigo Jaime:

Agora desta vez, quem não percebeu foste tu.

Em primeiro lugar, o meu comentário não foi exaltado. É a minha escrita. Se te “toquei” desculpa, mas nada mais longe da minha intenção.

Estivemos foi a falar de coisas diferentes. E é irrefutável que isto por aqui não está bem. Nem pouco mais ou menos. Eu não sou “velho do Restelo”. Nem cego, cuidado!!

O crescimento do nosso nível de vida não passa por um aumento quantitativo em termos populacionais. Mas também não nos convém absolutamente nada perder mais gente, porque isso implica a perda de serviços públicos que põem em causa a nossa soberania como Município. Ok?

Para além disso, equacionei também o modelo de desenvolvimento que devemos ter. Enquanto alguns querem parques industriais que não temos as mínimas condições de viabilizar, já que não temos mão de obra disponível para colocar essas “máquinas” em movimento, eu defendo outra tipo de valores.

Quem vai investir em unidades fabris, mesmo que sejam de pequenas dimensões, aqui, no cú do mundo? E quem é que trabalha? Trazem a mão de obra atrás? Pagam-lhe ajudas de custo? Onde é que os alojam? Quanto custa trazer as matérias primas? Quanto custa o transporte do produto final aos grandes centros de consumo?

Para mim, desenvolvimento de Marvão, é eliminar os esgotos a céu aberto a duzentos metros da muralha que queríamos fosse Património Mundial.

Para mim, desenvolvimento de Marvão é NÃO ter uma fossa séptica nos Galegos a deitar merda pelo tecto há dezenas de anos!! Para um ribeiro onde, na minha infância, eu passava o Verão a perseguir os bordalos, que até chocavam uns com os outros porque não tinham sítio onde esconder-se. Quantos há lá agora?? ZERO PATATERO, como diria a amiga Goyi. (Goyi, grand abrazo para ti, y callate, anda!!!)

Para mim, desenvolvimento de Marvão é eliminar a poluição na ribeira que vai de Santo António até à Beirã.

Para mim, desenvolvimento de Marvão é levar água da rede ao Vale de Ródão.

Para mim, desenvolvimento de Marvão é fazer uma casa mortuária nos Galegos, onde os velhotes possam velar os seus mortos, já que nas suas centenárias casas não têm condições para o fazer!!


Desculpa, Jaime, mas não estamos bem. Desculpa, Jaime, tu estás no quentinho da tua casa de Coimbra, feliz e contente, com a tua família, e quando te levantas, ligas o esquentador, tomas o teu banhinho de imersão (ou de chuveiro, como queiras) e tudo porreiro.

Mas à mesma hora, vai uma mãe de família no Vale de Ródão com um balde na mão e um cântaro na cabeça, a caminho de casa. Para que o seu filho, que tem que ir para escola, possa limpar as ramelas dos olhos e possa beber um copo de água.

João, disse...

Claro que sim, amigo Bonito. Esta merecia pelo menos 20 reguadas no meu tempo de escola primária, deve ser da “boina”… obrigado pela correcção.

Luís Bugalhão disse...

aí garraio! agora puseste o dedo, a mão, as duas mãos na ferida.

então não era dessas coisas a acabar que se falava quando escrevemos sobre o desenvolvimento de Marvão? eu pensava que era, e que devia ser por aí que se começaria.

excelente post companheiro raiano, estremenho, alentejano, português e marvanense.

ao j. buga o meu elogio tb, por causa dos positivos (positivistas e positivismo são outra folha de obra, nas antípodas dos positivos nova era, ou 'new age').

é que de paulos coelhos e margaridas rebelo pinto estamos todos fartos. o positivo é o que, durante o efeito dos prozacs e viagras, pensa que o mundo é todo uma benção dos céus, que tudo vai correr bem. quando o efeito começa a passar é que é pior: a realidade começa a parecer mais... real. e o que é que faz o positivo? toma outra dose, claro, e aí está ele, novamente pronto para fazer as coisas só com o seu, embotado, pensamento.

e a caixa de comentários a aumentar... isto é que foi um post, hem 'ti sabi?

abraço

ps juro que nunca mais digo nada em relação a erros de escrita. que se lixe a língua. ela não passa de um signo. os significados são mais importantes que os significandos...
a sério, nunca mais corrijo ninguém.

Bonito disse...

Ainda, o futuro do concelho de Marvão:

Genericamente, parece-me que impera o pessimismo! E isso, não ajuda nada! A economia, em geral, e o desenvolvimento económico, em particular, são condicionados (mesmo determinados) pelas expectativas dominantes, pelo que o pessimismo será uma grande ajuda para o “fracasso”!

Entendo as dificuldades, percebo que o diagnóstico é preocupante, mas não estou assim tão pessimista!

Concordo que satisfazer as necessidades básicas da população deverá ser uma prioridade (já vivi sem electricidade, sem água canalizada e sem esgotos, portanto sei do que falo!), contudo isso não é incompatível com a tentativa de criar condições para o investimento, emprego e consequente desenvolvimento económico e social.

Habituei-me a ouvir, nos últimos 20 anos, que não era possível desenvolver projectos estruturantes no concelho porque em primeiro lugar estava o saneamento básico! Os anos passaram, os projectos não surgiram, a desertificação ganhou terreno e… continuamos com problemas graves de saneamento básico! Curioso!!


Considero, também, curioso (no mínimo) afirmarem que as zonas para a implantação de empresas não têm futuro porque o concelho não tem mão-de-obra disponível.

Penso que a equação é, precisamente, ao contrário!

Sei que, caso se consiga implementar o projecto do espaço para o desenvolvimento de pequenas unidades de negócio, se corre o risco de o mesmo não ser aproveitado! Mas, isso é o mínimo que a Câmara pode fazer para desempenhar o papel, que se lhe exige, de facilitador do desenvolvimento. Se o não conseguiu desempenhar nos últimos 15 anos, quando as condições eram favoráveis, que o desempenhe agora!

Vale mais tarde que nunca!

Até pode ser que, nesse caso, os investidores sejam espanhóis e os trabalhadores imigrantes. Não via mal nenhum nisso!!!

Veja-se a página 25 do Jornal “Fonte Nova” do passado 15 de Dezembro. Concelho de Nisa em destaque! O Novo Complexo Termal, um projecto de 8,9 milhões de euros! E as “Grandes Opções do Plano e Orçamento” do concelho para 2008. Nestas destaco: “concursos para ampliação da Zona de Actividades Económicas de Nisa” e “O Parque de Negócios em Tolosa”.

Sintomático. Não é por acaso que Nisa “mexe”! Não é por acaso que Tolosa tem tanta actividade económica…

Infra-estruturas que facilitem pequenos negócios não são, necessariamente, as famigeradas “Grandes Zonas industriais! Percebam isso!

Marvão tem muito potencial para actividades económicas que tenham como “core business” o contacto com a natureza! E tem a fronteira! E tem história e “saber fazer” em negócios! E tem potencial em actividades agro-industriais! E tem condições naturais para o turismo que poderão (deverão) ser exploradas como uma indústria!

...ah, e… tem Marca!!!

Marvão tem futuro! DEIXEM-SE DE PESSIMISMOS S.F.F.!!!!

Grande Abraço

Bonito Dias

Luís Bugalhão disse...

ao reler os comentários a este post, não posso deixar de largar aqui mais um elogio (não sou gajo de só dizer mal). o bonito, quase com pézinhos de lã, larga-as bem. e, para aderir à moda, de um modo positivo. aos companheiros boto e jorge digo que, cm os não conheço, as vossas perspectivas, embora em alguns aspectos antagónicas, complementam-se. só que o raiano veio com probs concretos, que exigem resoluções concretas, e isso, parece-me, ainda carece de um salto epistemológico das 'forças ocultas'. e se elas não o derem, alguém tem que as empurrar, senão Marvão não vai lá. lembram-se da outra vez que eu me puz com agriculturas biológicas? e lembram-se da sobranceria de alguns comentários a seguir? pois, para além das forças ocultas, há tb 'forças iluminadas' que precisam... sei lá... de ouvirem uma crónica dos caixilhos ilaminados na comercial. para ver se abrem a pestana e potenciam a abertura de olhos de outros marvanenses. é que há p'raí uns tótós camónes, a viver lá p'ró pego ferreiro, e fazem coisas engraçadas. até limpam a levada que corre lá de cima do açude. parvos. inda por cima foi gente que veio lá do frio para aí, ou seja, são Imigrantes. e há outros que até fizeram um parque de caravanismo e campismo na relva! já viram estes parolos!? não valia mais fazer-se um centro comercial na... deixa cá ver... na abegoa? isso sim é que estancaria o 'despovoamento'.

aos que pensam que não é por aí, aos que pensam que isso é só uma gota no oceano, eu digo: carradas de água no rio e ribeiros desse concelho, que tb é o meu, é o que o garraio aqui prantou! as gotas que os camones que cá chegam deitam, ainda hão-de fazer um copo cheio, que às tantas transbordará, e encherá um pouco mais essa terra que as rotundas à la portagem. é que esses sabem donde vieram e sabem bem a pérola que aí têm.

por hoje chega, que eu agora vou para o largo do camões fazer uma árvore de natal em homenagem ao santo do ultraliberalismo de 'esquerda', conhecido cm engenheiro pinto de sousa.

abraço a todos.

João, disse...

OPTIMISMO/PESSIMISMO

Meu caro amigo Bonito, no que me diz respeito não aceito o rótulo de “pessimista”, espero que me tenha feito entender: o que eu discordo, é de uma certa cultura filosófica de “positivistas”, que se tem vindo a instalar em Portugal, importada dos americanismos, que pensam que basta a gente sorrir quando se levanta, que o dia há-de correr bem e havemos de ser felizes, sem ter em conta o contexto.
Tu sabes que não é assim. È preciso algo mais, e esse algo, chama-se trabalho, com planeamento, organização e avaliação. E não apenas o tal “chutar de bola” para a frente e “fé em deus”. A isto chama-se REALISMO.

Ora o que eu penso é que as condições básicas, de que os meu amigos aqui vêm referindo desde o saneamento, à existência desses tais locais para o desenvolvimento económico, há muito que deviam estar prontas e, se o não estão, é por incompetência dos diversos executivos do poder local, que por cá têm passado, porque tiveram todas as condições para isso.

Para que os meus amigos não tenham dúvidas, sobre a maioria dessas coisas que aqui se vêm escrevendo, não serem novas, fui rebuscar o meu “arquivo histórico”, de quando eu ainda era da vossa idade, quando delas fiz propostas na Ass. Municipal, em declaração de voto em 2001. E tomem conhecimento sobre uma das minhas intervenções nesse longínquo ano, sobre as Grandes Opções do Plano para 2002/2005, que passo a transcrever:

“…sobre as GOP, que agora são apresentadas, considero que de “grandes “, estas apenas possuem o nome.
Enquanto documento de orientação estratégico, não se encontra aí qualquer Projecto relevante que possa mobilizar os marvanenses e contribuir decisivamente para o desenvolvimento económico e social do concelho.
È minha opinião que as prioridades referenciadas, não correspondem ás necessidades mínimas da nossa população e que se formos por este caminho, de pensar pouco e planear menos, chegaremos ao fim dos próximos 4 anos, tão ou mais atrasados do que já estamos em relação aos outros concelhos vizinhos.

A única excepção a este marasmo, continua a ser a “recandidatura” de Marvão a Património Mundial. Mas, a julgar pelas fracas e lentas iniciativas que o actual executivo tem tido, dificilmente lá chegaremos, senão vejamos:

Em 4 anos todos os “objectos aéreos” sobre os telhados de Marvão lá continuam. Os esgotos continuam a correr a céu aberto nas encostas de Marvão (a 500 metros das muralhas), como é o caso do tanque do Areeiro, onde os turistas que nos visitam têm de tapar o nariz; e se olharmos mais para baixo, veremos o estado de degradação ambiental em que se encontram as nossas linhas de água, nomeadamente a ribeira entre SA das Areias e Beirã e o ribeiro dos tintos por baixo dos Galegos.
Sendo assim, podemos concluir, que só seremos aceites pela UNESCO, como Património Mundial, se eles decidirem através de imagens virtuais. Mas não me parece.
Por isso, penso que se trata de um erro de palmatória continuar a apostar tudo nesse Projecto.

O concelho necessita com urgência de um modelo de desenvolvimento, integrado e centrado nas suas potencialidades, que tenha em conta as pessoas e não apenas o património, em diversas áreas, que passam pelo apoio de projectos, como facilitadores, ás pequenas e médias industrias, à agricultura e turismo, onde as parcerias com particulares e os privados sejam uma realidade e não meros exercícios de retórica, tão ao gosto do executivo.
Assim, em minha opinião, é urgente avançar para os seguintes Projectos:

- Criação de um Gabinete Técnico multidisciplinar, para apoio ás diversas áreas de desenvolvimento do concelho.

- Criação de condições e aquisição de terrenos e dotá-los de infraestruturas básicas, para pequenas zonas industriais ou áreas de negócio (a norte e sul do concelho).

- Apoiar efectivamente as associações dos nossos agricultores, pois estes têm aqui vindo a todas as Assembleias queixar-se da falta de apoios, mesmo em coisas de banal resolução.

- Fazer aquisição de terrenos para loteamentos habitacionais e investir na habitação social para os mais carenciados, como forma de fixar a população do concelho e combater a especulação de preços.

- Criar “bolsas de estudo”, para jovens que se queiram radicar no concelho e que sejam áreas deficitárias e se estabelecem com eles protocolos de colaboração (Foi através deste modelo que o saudoso Sargento Paz conseguiu aqui fixar alguns profissionais, em que Marvão tinha carências).

- Fazer com urgência Projectos para as obras de cobertura de saneamento básico em todo o concelho de modo a usar os fundos comunitários. É urgente a construção da ETAR da Beirã e dos Galegos, que dêem resposta à degradação ambiental das linhas de água. O que se passa entre Areias e a Beirã, é um atentado à natureza, aos seus habitantes e um grave risco para a saúde pública.

- Beneficiação do edifício da REFER na Beirã para o pólo universitário da Universidade de Évora, de acordo com o compromisso aceite.

- Construção de um Pavilhão Gimnodesportivo, pois somos o único concelho do distrito, que não possui essas instalações.

- Negociar com o Património do Estado, toda a zona do bairro da fronteira de Galegos e pensar num Projecto de reabilitação.”

Agora, meus amigos, façam as vossas análises e avaliações e vejam passados 7 anos como estão os Projectos aqui referenciados e se temos motivos para continuar OPTIMISTAS…

Se tiverem dúvidas consultem as Actas das AM.

Nota: Durante estes 7 anos, continuei a bater-me por estas ideias em quase todas as AM

J. Buga

Garraio disse...

Estou numa fase em que ando a esparvoar de mais, mas prometo, um dia destes, mudar os discos dos travões. E há uma coisa que eu tenho atravessada na garganta, já há algum tempo, agora vai sair.

É o tema da candidatura de Marvão a Património Mundial. Esse projecto era deveras o “virar da página” para Marvão, a muitos níveis. Era a solução, a médio – longo prazo, para a nossa Hotelaria, que já é considerável, e para outra que se viesse a criar, porque se abririam espaços para outras unidades.

Sempre acompanhei o processo com interesse e até participei nele administrativamente, na fase inicial. Não encontro adjectivos para classificar o trabalho do coordenador do projecto, o Professor Domingos Bucho, uma pessoa competente, dinâmica, persistente, com método, com ritmo de trabalho, Etç. Etç. Etç....

Só que o problema dos técnicos surge quando os seus caminhos se cruzam com os dos políticos. Aí é que a porca torce o rabo.

E o aproveitamento político que se sacou deste projecto, foi de tal ordem, que roçou o cinismo mais de uma vez.

O João Bugalhão sabe perfeitamente, que quando a Câmara não dispunha de maioria na Assembleia Municipal, e havia temas polémicos que “tinham que passar” no Órgão Deliberativo, acontecia uma xaropada de Candidatura, às vezes de hora e meia ou mais, até que a maior parte dos membros da Assembleia começava a dormitar, aprovando tudo o que lhe metessem na frente, de carreirinha.

Então, ao poder político interessava e muito andar a engonhar com esta converseta, porque era um argumento que funcionava, como engana. – parvos, às mil maravilhas. E deixámo-nos, docemente, ultrapassar na lista do Governo Português, pelas vinhas do Pico (um ano) y pelas Ilhas Selvagens (outro ano). Resultado: quando lá fomos, já era tarde.

Mesmo assim, acho que a Candidatura não devia ter sido retirada. Morrer, mas no campo de batalha. Defender a singularidade de Marvão, que fora questionada pelo ICOMOS, em comparação com monumentos como a Alhambra, de Granada, que nem tem características militares, mas sim, essencialmente residenciais, era algo perfeitamente discutível e viável.

Achámos que o ICOMOS era um papão e agachámo-nos. Devíamos ter ido à luta, mesmo que nos partissem a cara. Para além disso, o que tínhamos nós a perder?

Sim, eu sei que preciso de uma bebedeira de optimismo... mas, caros amigos, eu optimismo só bebo marca “REALISTA”

José Boto disse...

Confiamos sempre na capacidade da autarquia para solucionar grande parte dos problemas,mas a margem de manobra de que a mesma dispõe penso que é cada vez mais fraca,face a um conjunto de limites que vêm sendo criados a todas as autarquias e face ao peso das despesas correntes com a estrutura instalada e com o funcionamento/manutenção dos varios equipamentos municipais.

Em paralelo vem aí o novo Q.C.A. e dificilmente vão ser apoiados projectos nas areas tradicionais em condições vantajosas como no passado(saneamento básico,...).
Mas é evidente que a n/ autarquia vai ter de afectar recursos financeiros muito importantes para essas areas,retirando-lhe ainda mais margem de manobra para as areas ligadas ao fomento da actividade económica.

Em contrapartida o novo Q.C.A. abre novas e importantes oportunidades-projectos transfronteiriços,projectos de alcance regional,...
Confiamos que a n/ autarquia e as limitrofes tenham vontade e capacidade para lançar projectos estruturantes e de relevo.

Com isto não retiro por inteiro responsabilidades ao municipio,nem interesse a projectos como os que o Bonito e o Bugalhão defenderam.
Sempre entendí como importante a criação de um pequeno parque industrial em S.A.Areias que possibilitará que alguns pequenos empresarios já cá instalados,para lá transfiram os seus equipamentos com melhores condições de trabalho; e em paralelo não duvido que novos pequenos projectos aparecerão(provavelmente alguns desenvolvidos por Espanhois o que entendo ser positivo).
Concordo também com a criação de um pequeno ninho de empresas virado para os jovens que pretendam iniciar uma actividade por conta propria.
O que não acredito é que estes 2 projectos em conjunto venham a potenciar um forte desenvolvimento,mas darão algum contributo.

Por ultimo,na linha do ultimo comentario do Garraio,sou dos que pensam que com a queda da candidatura a Patrimonio Mundial,Marvão e toda a região perderam a grande oportunidade de se desenvolver.
Vejo muita gente falar do projecto como mais um projecto,mas em minha opinião nem 1.000 pequenos projectos todos somados terão um potencial de desenvolvimento similar.
Como tal não entendo como se abandonou o assunto,quando a mensagem inicial foi de que a candidatura iria ser reapreciada e relançada,contando-se com o apoio e empenhamento do Governo.

Também não entendo como nada está a ser feito(ou então sou eu que estou mal informado)em termos de candidatar Marvão a Patrimonio Europeu ,cuja aprovação se afigura mais simples e cuja classificação se prevê que possa também potenciar fortemente o desenvolvimento turístico.

O turismo é de facto uma das areas em que temos enorme potencial e onde varios pequenos empresarios apostaram,instalando varias unidades de alojamento e de restauração que dão emprego a muita gente(nem tudo foi mau nos ultimos anos).
Mas com o esfumar do patrimonio mundial as coisas estão-se a complicar e com o desenvolvimento de projectos estruturantes noutras regiões do País nomeadamente na zona do Alqueva e noutras,a tendencia é para que Marvão seja cada vez menos falado e esquecido em termos de destino turístico com algum significado.

Bonito disse...

“EMIGRANTES”

O Post que mais e melhores comentários potenciou!

Já os salvei todos numa pastinha. São quase 50 (cinquenta) páginas de massa crítica. Do melhor que já vi sobre Marvão. Bem arrumadinho davam 40 páginas para compilar uma boa brochura que poderia ser a base para um Fórum sobre o interior, em geral, e Marvão, em particular.

Bom, mas isso não interessa! Pensar, falar e escrever é fácil. Dizem! Difícil é fazer, concretizar!

Concordo! Mas, as duas coisas complementam-se!

Que excelente fim de ano para este Blog!

Parabéns!

Aproveito para endereçar votos de FELIZ NATAL a todos os participantes, activos e passivos e convidar, estes últimos, a meterem a sua colherada. Não faz mal que seja discordante. Se o for, melhor!

Ao taskeiro… não desejo nada! Terei o prazer de viver o Natal com ele e, convencê-lo a largar a Sagres Zero e bebericar um néctar dos Deuses que acabei de Adquirir!

O palato Agradece!

Grande Abraço

Bonito Dias

João, disse...

Meu caro amigo Bonito, temos de ter em conta que isto é trabalho voluntário, ninguém nos paga para “pensar” e muito menos para executar. É para isso que existem os “executivos”e nós temo-los bem pagos, com um conjunto de mordomias de fazer inveja a qualquer escandinavo, que parecem ser os cidadãos com melhor qualidade de vida do espaço europeu. Ao contrário de nós, vulgares prestadores de serviços por conta de outrem, que só temos atrás de nós os polacos, os da estónia e os búlgaros. O problema é se esses “executivos”, pensam…e se pesam que têm um papel social a realizar, porque foi para isso que foram eleitos e lhe estamos a pagar.

Toda esta conversa, para por em causa a tua conclusão, meu amigo…pois posso-te confidenciar (aqui que ninguém nos ouve), que eu, também convencido disso, que isto aqui na “tasca”, era um bom espaço de reflexão e talvez um barómetro para consultar, sobre o que pensam algumas pessoas que aqui se vêm expondo e deixando um pouco dessa “massa crítica” a que tu te referes, aconselhei este espaço a um dos tais “executivos” que têm a obrigação de por em obra, alguns dos assuntos que aqui têm sido abordados.

E sabes qual a resposta? Não… mas eu também ta não vou divulgar aqui.
Mas vou-ta confidenciar pessoalmente, quando nos juntarmos no canto da “tasca” a bater uma “trucada”, só os dois. Ou então, quando arranjarmos mais dois parceiros e batemos essa “trucada a 4”. Isso é que vão ser “sêzadadas”, à sagres zero…ou talvez não, pois existe o tal princípio “…faz o mesmo mal e não embebeda!”

J. Buga

João, disse...

ERRATA: Claro que onde se lê "sêzadadas", deve ler-se "sêzadas"

Clarimundo Lança disse...

"Ao contrário de nós, vulgares prestadores de serviços por conta de outrem, que só temos atrás de nós os polacos, os da estónia e os búlgaros."
Vê lá que Deus Nosso Senhor pode te castigar, e começas a receber o salário minimo nacional, não sejas garganeiro.

João, disse...

Pois meu caro amigo Clarimundo, não posso deixar de te responder, embora não deseje aqui entrar em “polémicas pessoais”, mas desta vez vou ter que o fazer.

Sobre o assunto a que te referes, suponho que nesta situação, te não possas queixar da falta de “remos”, pois durante 20 anos, o saudoso “Mesquita”, teu pai e meu “padrinho”, teve a possibilidade de te dar o “barco” os “remos” e até o “motor”…as tuas prioridades é que foram outras. E, ou não te apeteceu “remar”, ou preferiste outras “águas”.
Quanto a mim, se tiveres o cuidado de procurares uns “posts” anteriores, verás que não me deram qualquer “barco”, quanto mais os “remos”, e tive que me fazer ao “mar” a “nado”, isto é, à vida.

Mas sempre te informo, que não se pense, como habitualmente se faz constar, que os enfermeiros, ganham muito (mais do que os médicos, como diziam os outros), caso não saibas, o vencimento mensal base de enfermeiro, não chega a 900 euros, e aqui, naturalmente, nem os outros 3 países mencionados estão atrás de nós.

Claro que sei que em Portugal, há muito pior, sei dos cerca de 250 000 com apenas 400 euros e dos 2 milhões no limiar de pobreza, mas não era a esses que me referia. Por esses tenho muito respeito, pois já por lá passei. Aos 12 anos, o meu primeiro ordenado, foram 12 escudos/dia (que fazias tu com essa idade amigo Clarimundo?), e até hoje, nunca parei de dar aos braços e ainda não consegui comprar um “barco”…

Saudações do ti jbuga e um abraço para ti. E já agora, uns tintos na noite de 24.

Clarimundo Lança disse...

Vejo que te levantas-te cedo para ter a cabeça fresca para me atacar, então segura esta.
"-Esta foi a minha última experiência emigratória. Depois de 20 anos ao serviço da minha comunidade, muito trabalho voluntário, na saúde, no desporto, no associativismo e sempre com uma grande paixão, Marvão, a minha terra…
E claro que não confundo, não tomo as “partes pelo todo”, sei perfeitamente quem são esse “actores” e mais tarde ou mais cedo, a justiça de que fala o Clarimundo (embora também fosse um dos subscritores, não sei se enganado…), será feita e saber-se-á quem beneficiou com estas manobras obscuras."
"Amigo J. Buga:
-Qualquer coisa me escapa, mas estás a colocar-me num barco para o qual não me destes os remos,nem eu te escolhi como timoneiro.
Para esse peditório não dou."
Além de segundo dizem não sabes escrever mais grave que isso é não saberes ler.
Eu traduzo para loiras.
Como podes ler acima estavas a meter-me numa conspiração qualquer, para a qual não te dei autorização, agora vais explicar a um individuo a que o pai, e já agora não era "Mesquita" esse é outro, até pagou os estudos, qual é o teu plano para desmacarares os actores, pois o único que fala em poderes ocultos e cabalas és tu, ou será que és um tentáculo da Carolina.
Quanto á minha situação financeira e profissional nunca me ouvistes queixar, pois tenho guindado e orientado a vida pela minha cabeça e não me queixo.
Não pactuo nem nunca pactuei foi com injustiças e falsidades, como sabes.
Sorte e saúde.