Numa das tuas festas de anos: Sr. Murta, Zé Pop, Prof. João de Deus, tu ao centro (essa expressão...), eu, a Cali, a Fatinha e a minha mãe.
Num Rallie Paper numa festa da Beirã, vestidos de travecas: Alexandre Novo Almeida, Bela Carita, Manuel Ventura, tu, eu e o meu pai (mostrando a depilação)
Em conversa com uma amiga comum, comentámos que se fosses vivo, cumpririas hoje mais um aniversário. Se ainda fosses do nosso mundo, hoje seria mais um dia grande na Rua Fernando Namora, com festa a condizer.
Ao pensar nisto, pensei também que o tempo passa depressa demais… que parece que foi ontem e já lá vão 4 anos desde que partiste.
Lembrei-me do jantar de homenagem que te fizemos e do texto que escrevi e li para todos nessa noite. Andei a dar voltas aos arquivos e acabei por encontrá-lo.
Na altura fomos muito criticados e incompreendidos. As pessoas não perceberam como pudemos reunir-nos todos a uma mesa para comer e beber e falar de ti. Reconfortou-me pensar então que tu sim sabias porque o fazíamos e certamente concordavas.
Quando li de novo estas palavras, estremeci ao reencontrá-las e por motivo desta data, pareceu-me bem recordá-las, em tua memória,
Amigo Zé.
Que descanses em paz.
Ao pensar nisto, pensei também que o tempo passa depressa demais… que parece que foi ontem e já lá vão 4 anos desde que partiste.
Lembrei-me do jantar de homenagem que te fizemos e do texto que escrevi e li para todos nessa noite. Andei a dar voltas aos arquivos e acabei por encontrá-lo.
Na altura fomos muito criticados e incompreendidos. As pessoas não perceberam como pudemos reunir-nos todos a uma mesa para comer e beber e falar de ti. Reconfortou-me pensar então que tu sim sabias porque o fazíamos e certamente concordavas.
Quando li de novo estas palavras, estremeci ao reencontrá-las e por motivo desta data, pareceu-me bem recordá-las, em tua memória,
Amigo Zé.
Que descanses em paz.
"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."
Miguel Sousa Tavares sobre a morte de sua mãe, Sophia de Mello-Breyner
Duro ao rasgar no branco da folha, a saudade de um amigo...
Para mim, o Zé é de sempre. Quando comecei a ter noção das coisas e do que me rodeava, naquela Beirã imensa como um mundo aos olhos de uma criança, repleta de esconderijos e mil lugares místicos, habituei-me a reconhecer aquele vulto rechonchudo que descia as escadinhas da casa dos pais em passo curto, ar atarracado, barba rala, entrando no carro e saindo rua fora.
A primeira memória concreta que tenho dele é numa das suas festas de aniversário, verdadeiros acontecimentos onde enchia a casa de muitos e bons amigos. Eu, miúdo, pelas mãos dos pais, lembro-me de abrir o portão da garagem e sentir uma onda de calor e luz, mesa grande, farta e cheia, bons enchidos e bom vinho que se comemorava o melhor da casa. Lembro-me de espreitar a casinha do lume, território bem masculino, onde as faces dos homens se faziam rosadas, atiçadas pelo calor do lume e dos tintinhos que rodavam. Soavam modas e fadunchos e os convivas celebravam até altas horas.
O Bonachinho tinha sempre uma atenção, um gesto, uma graça. Tinha também um porta-chaves com um berloque de corda com que me martelava a cabeça. Gostava de me agarrar e apertar e ria-se, com aquele risinho curto, quando me via à rasca a correr à sua frente. Habituei-me a ele e era como se fosse mais um da família.
Com o passar dos anos, comecei a acompanhá-lo mais. A mãe dizia que boleias só com a Bela ou com o Bonacho! (porque assim descansava). E eu, os primos Caritas e o Pop, íamos. Para a “Cave” e mais tarde para a “MaluKa”. Lembro-me de uma noite no Renault 5 azul em que gramei os “Mingos e os Samurais” do Rui Veloso todo o caminho. E como sabia que eu não gostava, tocava à exaustão. Lembro-me da música de um trolha da Areosa a que achava muita piada e eu fugia só de ouvir falar. “Ó Zé, fogo, a do trolha é que não!” e ele mostrava os dentes a rir, de olhos fechados, contente por me ver zangado! Era assim. Aposto que se ainda hoje lhe falasse nela, faria o mesmo gesto.
Os gloriosos carnavais no Pedro V (onde até as paredes suavam de tanta folia), as passagens de ano, as festas da Beirã, os Verões no Algarve, as noites do Tabu e a fantástica história do espanhol que pediu licença para tirar jackpot… Histórias e momentos para sempre.
Ultimamente e porque a vida assim o quis, não pude acompanhar tanto quanto desejava, essas épicas caminhadas que o levavam pelos caminhos de Marvão. Ficava com pena de não poder ser mais um no repasto pós-exercício e lamentava-me quando ouvia da boca do Rui e do Banana, os relatos inflamados dos devaneios gastronómicos na Churrasqueira do Sever. Se não ficava com a taça, contentava-me com a medalha de poder pelo menos compartilhar com eles o uísquinho da meia tarde no Poejo, onde falávamos de bola, dos filmes e dos discos que ele tanto gostava. “Grava-me isso, grava-me isso!”. O último para mim foi esse tributo a Kurt Weil que há-de ser sempre um tributo a ti, Zé.
É infelizmente normal, neste tipo de situações, saírem chavões e frases feitas a que quero fugir… mas não me recordo seguramente de uma outra pessoa tão isenta de maldade, tão inocentemente pura e tão em paz consigo mesmo como o Zé. Ainda hoje entro no Poejo e me parece que o hei-de ver ali sentado, a ler o “Expresso” ou a “Bola”, a ver um joguinho da liga inglesa ou à conversa com amigos comuns. Ás vezes parecia-me algo distante, fechado sobre si, só? Não consigo esconder que lamento não o ter visto tão feliz quanto deveria ser, não o ter visto casar, ter filhos e ter acesso a esses preciosos momentos de felicidade que temos os que têm a benção de ter do seu lado a mulher que amam e os filhos que desejam.
Nem que viva mil anos esqueço aquela tarde de sábado no Poejo e o terror lívido estampado na cara de quem ouviu uma notícia impossível. O resto não quero lembrar…
No dia seguinte a ele partir fiz uma opção. Não compareci no funeral e optei por levá-lo comigo à catedral da Luz onde vi jogar o nosso glorioso, conforme estava combinado. Em vez do fim, escolhi um princípio, porque o quero assim, bem vivo e presente na memória e no coração de todos os que o amaram e se sentiram de alguma forma por ele queridos. É por isso que esta reunião de amigos é importante, é por isso que nos devemos sempre reunir e recordá-lo, fazendo aquilo que ele gostava de fazer e aquilo que ele faria se porventura pudesse.
Sei que onde está, está connosco. Espero que a sorrir tranquilo… até sempre, Zé!
O vizinho,
Pedro Alexandre Ereio Lopes Sobreiro
Miguel Sousa Tavares sobre a morte de sua mãe, Sophia de Mello-Breyner
Duro ao rasgar no branco da folha, a saudade de um amigo...
Para mim, o Zé é de sempre. Quando comecei a ter noção das coisas e do que me rodeava, naquela Beirã imensa como um mundo aos olhos de uma criança, repleta de esconderijos e mil lugares místicos, habituei-me a reconhecer aquele vulto rechonchudo que descia as escadinhas da casa dos pais em passo curto, ar atarracado, barba rala, entrando no carro e saindo rua fora.
A primeira memória concreta que tenho dele é numa das suas festas de aniversário, verdadeiros acontecimentos onde enchia a casa de muitos e bons amigos. Eu, miúdo, pelas mãos dos pais, lembro-me de abrir o portão da garagem e sentir uma onda de calor e luz, mesa grande, farta e cheia, bons enchidos e bom vinho que se comemorava o melhor da casa. Lembro-me de espreitar a casinha do lume, território bem masculino, onde as faces dos homens se faziam rosadas, atiçadas pelo calor do lume e dos tintinhos que rodavam. Soavam modas e fadunchos e os convivas celebravam até altas horas.
O Bonachinho tinha sempre uma atenção, um gesto, uma graça. Tinha também um porta-chaves com um berloque de corda com que me martelava a cabeça. Gostava de me agarrar e apertar e ria-se, com aquele risinho curto, quando me via à rasca a correr à sua frente. Habituei-me a ele e era como se fosse mais um da família.
Com o passar dos anos, comecei a acompanhá-lo mais. A mãe dizia que boleias só com a Bela ou com o Bonacho! (porque assim descansava). E eu, os primos Caritas e o Pop, íamos. Para a “Cave” e mais tarde para a “MaluKa”. Lembro-me de uma noite no Renault 5 azul em que gramei os “Mingos e os Samurais” do Rui Veloso todo o caminho. E como sabia que eu não gostava, tocava à exaustão. Lembro-me da música de um trolha da Areosa a que achava muita piada e eu fugia só de ouvir falar. “Ó Zé, fogo, a do trolha é que não!” e ele mostrava os dentes a rir, de olhos fechados, contente por me ver zangado! Era assim. Aposto que se ainda hoje lhe falasse nela, faria o mesmo gesto.
Os gloriosos carnavais no Pedro V (onde até as paredes suavam de tanta folia), as passagens de ano, as festas da Beirã, os Verões no Algarve, as noites do Tabu e a fantástica história do espanhol que pediu licença para tirar jackpot… Histórias e momentos para sempre.
Ultimamente e porque a vida assim o quis, não pude acompanhar tanto quanto desejava, essas épicas caminhadas que o levavam pelos caminhos de Marvão. Ficava com pena de não poder ser mais um no repasto pós-exercício e lamentava-me quando ouvia da boca do Rui e do Banana, os relatos inflamados dos devaneios gastronómicos na Churrasqueira do Sever. Se não ficava com a taça, contentava-me com a medalha de poder pelo menos compartilhar com eles o uísquinho da meia tarde no Poejo, onde falávamos de bola, dos filmes e dos discos que ele tanto gostava. “Grava-me isso, grava-me isso!”. O último para mim foi esse tributo a Kurt Weil que há-de ser sempre um tributo a ti, Zé.
É infelizmente normal, neste tipo de situações, saírem chavões e frases feitas a que quero fugir… mas não me recordo seguramente de uma outra pessoa tão isenta de maldade, tão inocentemente pura e tão em paz consigo mesmo como o Zé. Ainda hoje entro no Poejo e me parece que o hei-de ver ali sentado, a ler o “Expresso” ou a “Bola”, a ver um joguinho da liga inglesa ou à conversa com amigos comuns. Ás vezes parecia-me algo distante, fechado sobre si, só? Não consigo esconder que lamento não o ter visto tão feliz quanto deveria ser, não o ter visto casar, ter filhos e ter acesso a esses preciosos momentos de felicidade que temos os que têm a benção de ter do seu lado a mulher que amam e os filhos que desejam.
Nem que viva mil anos esqueço aquela tarde de sábado no Poejo e o terror lívido estampado na cara de quem ouviu uma notícia impossível. O resto não quero lembrar…
No dia seguinte a ele partir fiz uma opção. Não compareci no funeral e optei por levá-lo comigo à catedral da Luz onde vi jogar o nosso glorioso, conforme estava combinado. Em vez do fim, escolhi um princípio, porque o quero assim, bem vivo e presente na memória e no coração de todos os que o amaram e se sentiram de alguma forma por ele queridos. É por isso que esta reunião de amigos é importante, é por isso que nos devemos sempre reunir e recordá-lo, fazendo aquilo que ele gostava de fazer e aquilo que ele faria se porventura pudesse.
Sei que onde está, está connosco. Espero que a sorrir tranquilo… até sempre, Zé!
O vizinho,
Pedro Alexandre Ereio Lopes Sobreiro
1 comentário:
Já algumas vezes me sentí tentado a comentar os temas propostos e desta vez não pode deixar de ser.
Resumo numa frase os meus sentimentos referentes ao Zé Manuel.
Ainda hoje, passados quase 4 anos após o Seu falecimento ,é raro o dia em que não sinto a falta deste amigo insubstituível.
Enviar um comentário