Vejo nas notícias que os alfaiates e os fatos por medida estão de novo na moda. Quando a produção já parecia definitivamente standartizada, eis que regressam em força os fatos desenhados para o corpinho de cada um, com pormenores, acessórios e assinatura personalizada.
Claro que tudo isto assim só para a malta mais endinheirada, que dar 200 euros por camisa não é para todos.
Pelo preço de um casaco feito à antiga, compra-se a indumentária toda ali na Modalfa e ainda se trazem os sapatos e com alguma ginástica orçamental, até um perfumezito para dar cheiro à coisa.
E eu lembrei-me do meu avô João Ereio, que já lá está na terra da verdade.
Lembrei-me da divisão onde tinha o seu estúdio em Idanha, depois de reformado, onde fazia uns biscates para quem o conhecia. Lembrei-me das fitas métricas, dos retalhos que se apinhavam geometricamente até ao tecto, da sua mesa, da tesoura, do sabonete azul que usava para riscar nos tecidos que era igualzinho ao do alfaiate que apareceu na televisão. Lembrei-me também dos caderninhos onde apontava tudo com tanto pormenor, onde escrevia sempre “meu netinho Pedro” antes de tomar nota das medidas. Lembrei-me de como usava o relógio ao contrário no pulso, com o 12 virado para fora. Lembrei-me das suas plantinhas, da pequena horta e dos provérbios e dizeres que tinha sempre na memória. Lembrei-me das suas leituras, dos livros e dos Bordas d’Água e do quadro que tinha com um louvor que recebeu na escola. Lembrei-me de como era tão sensível e atencioso connosco.
Quando vi estas notícias lembrei-me que se calhar, se ainda fosse vivo, talvez gostasse de ter essa alegria de ver o seu trabalho reconhecido como nos tempos áureos da sua arte.
Aposto que os fatos que ele faria agora seriam muito mais perfeitos do que os do senhor que apareceu na televisão.
Pelo menos para mim.
Claro que tudo isto assim só para a malta mais endinheirada, que dar 200 euros por camisa não é para todos.
Pelo preço de um casaco feito à antiga, compra-se a indumentária toda ali na Modalfa e ainda se trazem os sapatos e com alguma ginástica orçamental, até um perfumezito para dar cheiro à coisa.
E eu lembrei-me do meu avô João Ereio, que já lá está na terra da verdade.
Lembrei-me da divisão onde tinha o seu estúdio em Idanha, depois de reformado, onde fazia uns biscates para quem o conhecia. Lembrei-me das fitas métricas, dos retalhos que se apinhavam geometricamente até ao tecto, da sua mesa, da tesoura, do sabonete azul que usava para riscar nos tecidos que era igualzinho ao do alfaiate que apareceu na televisão. Lembrei-me também dos caderninhos onde apontava tudo com tanto pormenor, onde escrevia sempre “meu netinho Pedro” antes de tomar nota das medidas. Lembrei-me de como usava o relógio ao contrário no pulso, com o 12 virado para fora. Lembrei-me das suas plantinhas, da pequena horta e dos provérbios e dizeres que tinha sempre na memória. Lembrei-me das suas leituras, dos livros e dos Bordas d’Água e do quadro que tinha com um louvor que recebeu na escola. Lembrei-me de como era tão sensível e atencioso connosco.
Quando vi estas notícias lembrei-me que se calhar, se ainda fosse vivo, talvez gostasse de ter essa alegria de ver o seu trabalho reconhecido como nos tempos áureos da sua arte.
Aposto que os fatos que ele faria agora seriam muito mais perfeitos do que os do senhor que apareceu na televisão.
Pelo menos para mim.
1 comentário:
E, Pedro, sabe o que me faz lembrar?
Que a minha avó que já não está por cá há bastantes anos, dizia já nessa altura que as pessoas deixaram de dar valor e importância às pessoas e passaram a dar esse valor às coisas.
A diferença que encontro entre a modalfa (e eu também lá vou fazer compras), e o alfaiate é exactamente o aspecto pessoal e a tal relação afectiva que se cria, a atenção, e a exclusividade. Atendimento personalizado. Coisa que raramente existe numa loja da modalfa, embora algumas empregadas até sejam bem simpáticas, não tenho razão de queixa.
E porque de uma forma geral, hoje em dia fabrica-se em quantidade e não em qualidade.
É como no comentário acima acerca dos politicos,...muitas decisões para sabermos que trabalham a "sério", mas tudo com muito pouca qualidade e eficiência.
Mas rir de tudo isso é o melhor porque não sei se se pode fazer grande coisa. Todos têm muito boas intenções, mas depois é vê-los a fazerem tudo do avesso daquilo que afirmam...
E quando pensamos que já não pode piorar mais, descobrimos que pode!
Muito mais...
E as mudanças ao longo dos anos ocorrem através de ciclos, fases boas intercaladas com fases menos boas. É como na moda, segundo a minha filha mais velha, a moda que se tem usado nos últimos meses é o renovar da moda dos anos oitenta. Dei por mim a pensar que estou velha. Se não tomasse atenção ia jurar que ontem ainda estavamos nos anos oitenta. Enfim...
E quanto ao estado das coisas, de uma forma geral, pensamos que estamos no fundo do poço, mas infelizmente ainda não estamos, ainda podemos descer mais abaixo. E eu não sou pessimista, muito pelo contrário.
Ás vezes dá vontade de se voltar a ter um ditador que ponha tudo no lugar e toda a gente a trabalhar, mas por mim dispenso, acredito mais numa união de forças para enfrentar verdadeiras dificuldades a todos os níveis, mas que sei eu de política? Talvez isto seja uma verdadeira utopia, mas também temos o direito a sonhar.
Tudo de bom
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