terça-feira, 4 de março de 2008

Só nós dois é que sabemos

A TVI não faz parte do meu cardápio televisivo. Apesar de adorar ver televisão, acabo por ver muito pouco porque o tempo não chega para tudo. Vejo quase só e sempre aquilo que quero mesmo e quase nunca é na estação do Moniz.

Porém, por vezes, tenho agradáveis surpresas. Há dias, andava eu num zapping desenfreado quando me deparo com…isto.

Uma cena de artista.

Para mim, o artista é aquele que é capaz de com o seu talento tornar aquilo que seria banal quando feito por uma pessoa normal, em algo transcendente, insuperável, de estatuto quase mítico. Esse, seja ele um músico, um actor, um realizador, um escritor, um desportista ou um trapezista, esse é o grande artista.

O Tiago Bettencourt apesar de jovem, é um grande, grande artista que vive iluminado num talento sem par. Conheci-o nos Toranja, banda infelizmente já desaparecida da qual a princípio desconfiei e com a qual só depois me apaixonei. Os Toranja eram na verdade, muito, muito bons mas os Toranja eram o Tiago Bettencourt e é por isso que precisamos de o acompanhar na sua nova versão com os Mantha, dando-lhe o benefício da dúvida.

Por acaso não gostei muito do primeiro tema que lançaram do novo disco, mas o segundo single é absolutamente portentoso.

Mas do que eu queria mesmo falar era disto que sucedeu em pleno aniversário da TVI. Uma das modas desta estação que parece que pegou de estaca é reunir as “estrelas” todas numa festa de aniversário onde se esfalfam com atrocidades para descobrir quem faz a figura mais triste.

Entre os números musicais, lá engataram o rapaz e ele fez isto. Pegou num faduncho clássico de segunda linha, numa melodia mais que gasta que até para anúncio de detergentes já serviu, e fez um hino ao amor. Um amor incompreendido, claustrofóbico e excessivo, um amor que se alimenta de si mesmo e que se fecha do mundo. Um amor proibido, sem futuro e sem perdão. Um amor insensato que sabe que não tem amanhã e celebra o momento como se fosse o último.

E eu fiquei em pele de galinha.

Jamais tinha percebido que este amor era assim, sem ser pela voz trémula do Tiago.

Uma sala tão grande, tão repleta e engravatada, mas tão silenciosa e atenta como se fosse proibido soltar um som que fosse.

Dois momentos na plateia: o grande Ruy de Carvalho, quase em transe majestático e a inenarrável Moura Guedes, num Karaoke de falsete e puro ridículo.

O Tiago é um poeta e um gigante. Quem pega num farrapo corriqueiro e dele faz o vestido mais deslumbrante do baile de gala, merece tudo.

Por grande que sejas, Jorge Palma, sabes que tens delfins à altura, capazes disso e muito mais.

Um diamante único.






PS1: O jogo, aqui, para quem quer saber mais do muito bom.

PS2: Duas fotos resgatadas do baú digital aquando do concerto dos Toranja em Marvão, no tempo em que ainda se traziam grandes bandas e se investia a sério na Cultura.

Da esquerda para a direita: Zé Tavares, Janeca, o baixista da formação na época, o Tiago e moi même. Em baixo, numa pose artística, Manuel Ventura. Na altura, riamo-nos do fotógrafo desajeitado que insistia em meter o dedo em cima do flash: Zé Pop.

Legenda: o momento em que lhe dizia: "tens de ir à gala da TVI! Estou cá convicto que vais fazer um brilharete!". Ele ouvia.

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