Palácio Karnak - sede do governador do Estado do Piauí
Reunião com os responsáveis do SETUR / PIEMTUR
Banca de venda de fruta numa rua da capital do estado, Teresina
Lançando as redes ao anoitecer
Ainda mal refeito do jet lag (que sova!) e não recuperado das apenas duas horas de sono nas 48 em que percorri quase 7.00 quilómetros, não resisto à tentação de registar em traços muito largos aquilo que vivi nesta inesquecível viagem à terra de Vera Cruz. Sei que daqui a muito tempo vou gostar de aqui regressar para ler e recordar mas evito a todo o custo entrar na minúcia, porque isto bem espremido dava quase para um livro.
Perguntava-me um jornalista lá de uma das rádios locais, o que é que eu iria trazer de melhor na bagagem e eu respondi-lhe: as pessoas e os lugares.
Nestas funções que agora desempenho, como em muitas outras profissões, há coisas muito boas e outras nem por isso. A saber: não é nada bom ir comer um gelado com a minha filha num domingo qualquer e vir alguém tirar-me sarro dizendo que tem um cano roto à porta de casa; como não é nada bom as pessoas entrarem pela minha casa adentro quase que a exigirem um emprego só porque votaram em mim; como não é mesmo nada bom eu ir a uma festa ou um baile e correr o risco de apanhar algum otário já cacimbado que decide dizer mal só porque sim; como não é nada bom sabermos que na maior parte das vezes muito poucos dão valor pelo trabalho e pela dedicação que não poucas vezes me tira o sono.
Tudo isto para dizer que obviamente, a viagem ao Brasil para assinar o acordo de geminação, o primeiro da história dos dois municípios, foi das missões que menos me chateei de fazer e dizer o contrário era mentir com todos os dentes que tenho na boca ( que não são poucos!) e isso eu não gosto de fazer.
Mas o que eu gostava mesmo era, como disse também à comunicação social que nos esperava na entrada de Castelo do Piauí, de poder levar todos os marvanenses para que pudessem ver toda aquela alegria e a magnífica recepção que nos prepararam, onde fomos tratados como verdadeiras estrelas de cinema. Nem faltaram as faixas e as targas, o cocktail de boas vindas, a banda a tocar forró e todas as entidades civis e militares locais para nos receberem de braços abertos.
A viagem teve duas componentes que não podem ser dissociadas: uma claramente diplomática e institucional; e uma de reconhecimento das mais-valias turísticas, económicas e culturais desta terra com quem fomos casar do outro lado do Atlântico.
Na vertente protocolar, integram-se as reuniões com as instituições governamentais relacionadas com o artesanato e o turismo; bem como toda a dinâmica processual de formalização da geminação. A apresentação sobre Marvão aos castelenses; o acompanhamento das autoridades locais; as reuniões com os empresários e todo o contacto com as forças vivas da terra são aqui contextualizadas.
Na parte de reconhecimento integram-se todas as visitas e as actividades em que nos convidaram a conhecer as mais-valias daquela região incluindo o património natural, as praias, os museus, os sítios de interesse arqueológico, a gastronomia e as tradições.
Uma e outra foram fundamentais mas foi obviamente nesta parte de missão que vivi os momentos mais lindos e interessantes ao conhecer as pinturas rupestres e os singulares afloramentos rochosos do Parque Natural das Sete Cidades, ao descobrir num bote o delta do Rio Parnaíba, ao explorar o canyon do Rio Poty, a Pedra do Castelo e as quedas de água naturais; ou ao poder contactar com um litoral que foi conseguido através da troca de uma serra com um estado vizinho e que revela 66 quilómetros de uma costa quase virgem onde ainda tudo está a tempo de ser bem feito.
Depois trago comigo as pessoas e a sua forma de singular de verem a vida e de se entregarem aos outros sem concessões. Nestes dias conheci extraordinários profissionais, gente culta, boa e dedicada e toda, toda ela, com uma enorme ilusão neste projecto. Gostava sinceramente que todos aqueles que não conseguiram evitar a mesquinhez e a tacanhez de se oporem em Portugal a este passo histórico do nosso município, pudessem ali estar para sentirem a vergonha de verem o quanto estavam errados. Pensei então que seria bom se os pudesse ver ali no palco à frente dos muitos milhares de presentes que assistiram à assinatura do acordo, acompanhado por 5 ou 6 televisões (entre as quais a Rede Globo) e as outras tantas rádios e jornais.
Alguém me confidenciou então que em vésperas de eleições, a vinda dos portugueses para selar esta união constituía um trunfo sem par para a comunidade local e eu acredito porque só assim se explica a maneira ternurenta como todos nos trataram, pedindo constantemente para tirar fotos connosco e inclusive autógrafos!
Estamos já a trabalhar na organização da vinda da comitiva brasileira em Novembro para conhecer o nosso concelho e dentro em breve concluiremos o relatório que nos comprometemos a elaborar, para que fique registado para a posteridade o nosso diário de bordo.
De uma forma genérica, estou convicto que atingimos os objectivos propostos naquelas que defini como sendo os eixos prioritários de actuação:
- No eixo do Turismo acredito que teremos a muito breve trecho, duas propostas concretas para apresentar aos marvaneneses para que possam conhecer o Marvão brasileiro e toda a região a preços muito aliciantes e abaixo dos praticados no mercado;
- No eixo empresarial trazemos connosco intenções muito claras e precisas de empresários locais que querem colocar os seus produtos no mercado nacional através de parcerias com os empresários da nossa região;
- No eixo da cultura assistimos a diversas apresentações e inaugurações que nos aproximam, incluindo uma mostra de teatro lusófono e o lançamento do primeiro livro que conta a história do Castelo do Piauí onde se podem contemplar o escudo e o brasão do nosso concelho. Novas pesquisas estão já também a ser analisadas.
Boas perspectivas e a tranquilidade do sentido do dever cumprido.
Como dizia o pequeno grande Pessoa; “vale sempre a pena, quando a alma não é pequena”.
No álbum ficam muitas, muitas fotos e no coração já muitas saudades de todo aquele calorzinho humano e de todo aquele afecto.
Quando me perguntaram até onde poderia ir esta geminação, eu respondi que este acto é como um casamento e tal como os casamentos, requer companheirismo, respeito mútuo, trabalho e boa vontade. Oxalá o futuro da geminação corresponda às promissoras expectativas e possa ir mais longe do que eu alguma vez o fui capaz de sonhar.
Para já valeu a pena acreditar e ter sido responsável por mais um passo em frente no registo da vida da Câmara que as gerações futuras irão certamente recordar.
Mesmo que nada do resto de bom tivesse acontecido, só por isso…
Com os meus amigos que pediam um real para "comprá bola di fitxibóu" mas que o esturravam na primeira esquina em cachaça e eu fingia que não via. O de azul perguntou-me: "escuta daí cara, purque é qui você fala inrolado?"
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Discurso da assinatura do Protocolo de Geminação com o Castelo do Piaui
25 de Julho de 2007
Há mais de 5 séculos atrás, Pedro Álvares Cabral deu novos mundos ao mundo, ao descobrir o Brasil. A partir de então e até aos nossos dias, o percurso dos nossos dois países não mais deixou de coincidir.
Quando há 4 anos atrás, descobrimos através de uma pesquisa na internet que existia um Marvão no Brasil e encetámos os primeiros esforços para estabelecermos contacto, estávamos longe de acreditar que os nossos melhores prognósticos se haveriam de tornar realidade e nos conduziriam ao tão desejado dia de hoje.
Para além das óbvias semelhanças de toponímia, há todo um rol de coincidências que nos unem ao nível das festividades, da gastronomia, dos usos e costumes, bem como da própria história que nos aproximam e passam oficialmente a unir depois da celebração deste acto solene.
Marvão é um pequeno município situado no centro de Portugal, junto à fronteira com a Espanha, que conta com cerca de 5.000 habitantes e que aqui se encontra representado por uma comitiva composta pela Dr.ª Catarina Machado (técnica superior de história que tem acompanhado o processo pela primeira hora); pela Dr.ª Madalena Tavares (vereadora em exercício à data dos primeiros contactos); pelo Dr. Carlos Sequeira (actual Presidente da Assembleia Municipal) e por mim próprio, Pedro Sobreiro que exerço actualmente as funções de Vice-Presidente; que irá assinar este acordo de geminação, este pacto de irmandade com o nosso elo perdido brasileiro.
Fizemos um longo caminho para aqui chegar: por carro e avião, atravessámos vales e planícies, serras, rios e todo um imenso oceano que nos une e nos separa, numa odisseia de mais de 20 horas de viagem para podermos ter a alegria de estar aqui junto a vós.
Nesta nossa estadia, não podíamos ter sido melhor recebidos por todos. Na realidade, quando se visita o Brasil, é fácil compreender porque razão o seu povo é mundialmente conhecido por ser tão simpático, generoso, caloroso e hospitaleiro.
Para municípios como os de Marvão e o do Castelo do Piauí que têm grandes aspirações turísticas e que apostam sempre e cada vez mais neste sector estratégico das nossas economias, esta geminação constitui a criação de uma ponte, de uma plataforma de união que nos irá desenvolver a ambos no âmbito cultural, empresarial e turístico.
É pois com enorme ilusão e com uma esperança redobrada que aqui assinamos o casamento entre os nossos municípios irmãos, abrindo uma nova página de cooperação na nossa história que nos trará um futuro certamente mais promissor.
O nosso muito obrigado a todos vós, em especial à equipa que está envolvida neste projecto desde a primeira hora, bem como a todos aqueles que tão bem nos têm acompanhado durante a nossa estada. Bem hajam pelo vosso esforço, pelo vosso trabalho e pela dedicação a esta causa tão nobre.
Lá vos esperaremos em Marvão, em Novembro deste ano, durante a XXV Feira da Castanha, para selarmos com a vossa visita este acordo de geminação e para daí em diante, trabalharmos em conjunto e crescermos de mãos dadas, sempre em prol do bem das nossas comunidades.
Viva o Castelo do Piaui. Viva o Brasil.
Viva Marvão. Viva Portugal.
Longa e próspera vida à nossa união!
Pedro Alexandre Ereio Lopes Sobreiro
Vice-Presidente do Município de Marvão
4 comentários:
Depois de ver as fotos, e de ler o post fiquei com tantas perguntas para fazer que nem por telemóvel vai dar. Aqui vão os meus parabéns a todos os que acreditaram e acreditam nesta união, e obviamente para ti, que mereces. As fotos estão lindas, e este é claramente candidato a post do ano no meu ranking pessoal. O discurso foi brilhante! Bem mas falamos melhor depois...
Só dois apontamentos. Como eu não sou empresário e não pertenço nenhuma associação cultural, manda lá o preço das viagens mais baratas
que isso a mim é que me interessa.
E já agora, quando passeavas com a camisola do benfica, já sabias que ias levar duas na gaveta para o torneio do Guadiana?
Abraço
Motorista????
Eulálio! Senhor Eulálio!
Tens razão, Catarina.
Sou mesmo péssimo para nomes mas em compensação, jamais me esqueço de uma cara.
E como é que eu posso me esquecer de um cara destes, do homem que me gritou aflito, no seu devaneio etílico, quando me viu no alto da Pedra do Castelo: “Tem cuidado Pedro, teu pai ti deu cornos não ti deu asas!”.
Bom dimáis!
Bom dimáisssssssss, mêmo!
Meu caro portuga (se é que me permite chamá-lo assim), adorei seu relato e suas impressões sobre o nosso Piauí. Senti-me ao ver seus registros fotográficos como se houvesse eu mesmo participado também. Fico muito feliz por saber que sua incurssão ao nosso Brasil, e mais especificamente à Marvão brasileira, nossa Castelo do Piauí, superou suas expectativas. Saiba que aqui conquistou não uma ou duas pessoas, mas toda uma cidade. Espero que retornemos a nos ver em breve, em novembro, se as forças políticas conspirarem a meu favor.
Um grande abraço meu amigo...
PS: Quase morri de rir ao vê-lo relatar sua experiência do alto da Pedra do Castelo, quando interpelado pelo motorista alcolizado....
Até breve, ficarei acessando este blog.
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