domingo, 24 de agosto de 2008

Bolan... Aquele bar!

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Não devem existir mais bares assim em Portugal e duvido que os haja no resto do mundo, onde sejamos recebidos desta forma arrebatadora, com um sorriso desconcertante e uma mão aberta à nossa espera, como se fossemos um familiar que se pensava perdido para sempre e regressou contra todas as expectativas, mesmo quando é apenas a segunda vez que lá entramos.

O Bolan, em Alvor, bem pertinho de Portimão, é um verdadeiro templo de amizade e tudo aquilo que um bar deve ser: um espaço de paz e convívio, de fraternidade e atitude.

Situado na esquina de uma rua polvilhada de estabelecimentos e gift shops que vai desembocar na Ria local, impressiona logo pela sua aparência exterior, pelas cores garridas da bandeira da Jamaica e pelo seu estatuto interventivo bem patente nas imagens na fachada de Luther King, Mandela, Che, Marley, Ghandi, Malcom X, Haile Selassie, Teresa de Calcutá e Miles Davies, todos homens e mulheres que pugnaram a sua existência na luta por um mundo mais justo e mais fraterno.

Se o aspecto exterior não podia ser mais convidativo, imaginem o recheio… Entrar no Bolan é mergulhar no quarto de um eterno adolescente e deixar-se deslumbrar por toda aquela iconografia de encantar. Numa deliberada estética “pró-erva”, não é de admirar encontrar estampadas nas paredes altas desta casa antiga e de traça tradicional, diversas personalidades do showbizz exercendo a arte do fumo, não faltando mesmo uma versão da Mona Lisa com um grande cacete nas unhas.

No Bolan, o som é reggae e a bebida, caipirinha ou caipiroska de frutos silvestres, ambas de provar e chorar por mais.

Enquanto nos deliciamos com a especialidade da casa, passeamos os olhos em redor e reencontramos Frank Zappa e os Beatles, Jagger com Marley e Tosh, desenhos, posters e souvenirs, Chaplin, Jimmy Hendrix e James Brown, todos eles desfrutando, sorrindo, ajudando a fazer-nos sentir em casa.

Descobri esta pérola pela mão do meu Júnior que em boa hora para ali me encaminhou. Fartou-se de me falar no estatuto quase mítico do fenómeno e na figura tutelar do proprietário conhecido como Cáubi, seu cliente e amigo, figura famosa na cena pelas suas respeitáveis rastas, pela contagiante boa disposição e pela exemplar gestão familiar que implementou no espaço com a ajuda dos seus 6, disse 6 filhos.

Na minha noite de estreia, no ano passado, fiquei com tamanha boa impressão que não resisti a regressar, como se me faltasse fazer qualquer coisa importante nestas férias se por lá não passasse. Desta vez tive o azar de não levar o Miguel comigo e de não poder estar com o patriarca que estava ausente, mas tive a sorte de ter um pôr-do-sol imenso que tudo banhava com um dourado redentor bem à frente da esplanada, e de ter conhecido o Nago.

O Nago é um dos herdeiros deste legado e pelo que tive oportunidade de dele conhecer, posso assegurar que o império está mais do que garantido. Os traços do seu rosto não enganam e ele foi pronto a explicar que naquelas veias corre sangue com ascendência dos indígenas da amazónia, de escravos africanos e dos tão europeus holandeses. A sua atitude muito positiva, uma simpatia contagiante e uma graça natural encantadora fazem dele um adolescente tão diferente de quase todos os outros, standartizados, formatados, limitados. Um verdadeiro anfitrião de luxo!

E eu senti sinceramente que podia ficar ali para todo o sempre, naquelas mesinhas de tábuas vermelhas, verdes e amarelas, a receber a energia revigorante do astro-rei, enquanto intercalava a conversa com mais com mais uma sorvidela daquela mescla divina de açúcar torrado, lima, gelo e cachaça.

Compromissos já assumidos obrigaram-me a partir, contra a minha vontade, mas com uma promessa: “Algarve para mim, tem de ter beijo neste solo sagrado. Jamais falharei!”.

O Bolan ficou por lá, languidamente estendido rua abaixo, à espera dos amigos que já tem e dos tantos que certamente há-de fazer com a sua magia encantadora.

Até breve, espero eu!






Com Nago, o jovem cicerone

A beleza da Ria de Alvor ao cair da noite

3 comentários:

John The Revelator disse...

O Bolan é muito mais do que um bar. É lugar sagrado por entre as centenas de discotecas e bares da Rocha repletos de ingleses e de putos a tentar a confusão . E é também a principal razão pela qual eu adoro a noite de Alvor. Ainda bem que já és fã, o que me faz prever noites futuras muito bem passadas. O Caubi e os filhos são pessoas do melhor que existe, e isso reflecte-se em tudo. Não o viste porque muito provavelmente está a preparar a bagagem para a Festa do Avante, onde é de certeza das tendas mais concorridas mais concorridas. Já agora, se não sabias ficas com o site da casa, que agora têm restaurante acabadinho de inaugurar mesmo ao lado.
"http://www.bolanbar.com/"

Abraço

Pescada disse...

É verdade sim senhor!
Das melhores superficies comerciais de todo o Algarve. As caipirinhas, cipiroskas, etc são de antologia...E o tipo que quando lhe dá na real gana pega numa garrafa de cachaça e dá uma voltinha pela rua só para pôr mais um cheirinho em cada copo...Já não há casas assim...
Abraço

Raquel disse...

o Nago está grande em relaçao a esta foto ternurenta que apresenta. estive lá á pouco mais de 3 dias, e aquele sitio deixa mesmo saudade, nao sei, algo mitico existe ali. conheci no ano passado, e este ano tive de lá voltar, e sp ke parar pelo alvor, lá irei de certeza pk é sem duvida um espaço fantastico. só poderiam fazer uma reformazinha, pois ja nao tem o aspecto lindo que mostra nas suas fotos, mas isso ate quase ke passa despercebido :)