Não querendo ser desmancha-prazeres, nem desmobilizador de planos familiares para esta época, não consigo, no entanto, ficar calado e sendo assim, lamento ter de vos dizer (agora que a minha filha não nos ouve) que o projecto “Óbidos Vila-Natal” é um grande barrete e uma imensa roubalheira.
E perguntam vocês, boquiabertos e em coro: “mas, Tio Sabi, porquê isso então, rapaz?”.
E eu respondo: “elementar, meus caríssimos irmãos! E passo a explicar as pretensas razões para tal conclusão…”
Constitui pois uma grande barretada porque se trata de um caso mais do que evidente de vender “gato por lebre”. Terá de haver quem se levante e grite que “o rei vai nú” porque senão corremos o risco de estarmos todos a ir na mesma cantiga. Trata-se de um caso em que como poucos, podemos verdadeiramente afirmar que o conteúdo fica muito aquém do produto prometido no embrulho. O aparato é enorme, a coisa vem muito bem embalada, mas tirando uma pretensa rampa de neve (trata-se de uma passadeira branca) que se desce de bóia, de uma pista de gelo que nem por isso é muito grande e uma área com póneis; creio que tudo o que demais ali se dá não passa de muita parra e pouca uva.
É certo que as decorações estão de nível, é certo que os detalhes não são descuidados, é certo que os animadores não faltam mas insufláveis já nós conhecemos de outras encarnações; a Vila dos Duendes não passa de meia dúzia de casitas com grandes filas e pouquíssimo para dar; os jogos tradicionais são corriqueiros e nada acrescentam (andas e joguinhos de madeira? Por favor…); a área de desportos radicais é do mais visto e não traz novidades em relação, por exemplo, ao Dia da Criança de Marvão; a casinha do Pai Natal está abaixo das recriações de muitas das grandes superfícies e quem diz isto diz muito mais… Para já não falarmos da animação que estava patente no dia em que por lá passámos ser um grupo coral, pelos vistos lá da terra!
Como costumo ter uma pontaria bestial nestas coisas, acertei em cheio no dia em que o Baião se lembrou de ir para lá abanar o rabo no “Portugal no Coração” em directo e a organização, a bem da produção, não teve pejo em fechar a área nevada dos póneis sem que considerasse essa menos-valia no valor que cobra à cabeça. Engraçado, não é?
A tudo isto temos de acrescentar, ou diminuir, conforme a perspectiva, a enorme desorganização nalgumas áreas. Tomemos duas a título de exemplo: os benditos desportos radicais e a patinagem.
Quanto à dita área radical, digo-vos que o evento abriu às 11 horas e encerrou às 19h. Pensem que aquilo é gente por todos os lados, e quando falamos em catraios então… parece que por lá pariu a galega! São mais que as mães! Mas ainda assim, os monitores da área radical decidiram encerrar às 13 horas para almoçarem. “1 horinha!”, disse o man. Só se for no Rolex dele. No meu deu quase duas certinhas e o pessoal, como seria de esperar, ali à seca. Os pais sopravam e os putos desesperavam com o atraso.
Só para terem uma ideia, a minha meteu na cabeça que tinha de descer na escalada (e sempre esperei que se baldasse com medo ao fim, vá lá, vá lá) e foi nada mais nada menos que 1 hora e 45m de fila para 11 segundos de descida! Valha-me Deus, o que os pais fazem pelos filhos…
Como o pessoal de serviço deve de ser de alguma empresa lá do sítio e era insuficiente, tinham de ser os putos a carregar com os cintos de segurança e os capacetes de volta para a partida depois da actividade, tendo de escalar uma área nada macia por ali acima! Espertinhos, os gajos…
Isto para já não falar na segurança que deixava mesmo muito a desejar. Aquilo era tudo “à molhada” e houve putos que no regresso, não levaram com os que desciam em cima, por um triz. E ainda ouviam um ralhete do monitor. “Ó miúdo, por aí não! Tás tonto?”. Até que um pai mais afoito ali ao lado lhe disse: “a culpa é sua, que é um inconsciente. Devia saber que deve de guardar áreas de protecção e não o fez!”. E o gajo safou-se à pintarola: “a culpa é minha? Ah, ah! A culpa é da Câmara!”. “Da Câmara não! È sua. Você é que está a monitorizar a actividade!” e nisto vira-lhe as costas e abalou. Pensei para mim: “ainda os há com eles no sítio!”. Mai nada!
Na patinagem, a confusão mantinha-se. As inscrições estavam com quase 2 horas de espera. A pista estava tão perigosa do excesso de utilização que as quedas eram mais que muitas. O risco de quebrar qualquer coisa era tal que os monitores avisavam logo à entrada que não se responsabilizavam pela água ser quase mais que o gelo. Quando quisemos entrar, as saquetas plásticas identificativas andavam todas a rodar e não havia para reporem e o tempo a passar. Uma comédia… sem graça nenhuma.
Quanto à roubalheira, esta é mais do que evidente e dispensa quase qualquer comentário. Os crescidos levam logo com 5 euros à cabeça (os pequenos abancam com 3) que dão só para entrar. Depois, tudo o que é actividade lá dentro só está disponível com recurso a fichas sendo que cada uma vale 1 euro. Só para terem uma ideia, meia hora na pista de gelo vale 3 fichas por pessoa (600 escudos) e o algodão doce vale 2 fichas cada (400 paus, meia dúzia de Cornettos no meu tempo). Até para ver uma banal exposição de Pais Natais se tem de avançar com a dita ficha.
O cenário estende-se à alimentação: como não há grandes opções onde comer e voltar para trás é impensável, quem não leva bucha aviada de casa, bem pode pagar cafés a 160 escudos e sopas a quase 500 paus cada (em moeda antiga parece mais!).
Enfim, uma verdadeira máquina de facturar! À nossa custa!
E eis que chega a fase em que a pergunta se impõe: “queres então dizer que não vale mesmo a pena?”.
Também não vou por aí. Esta é apenas a minha modesta leitura, cada caso é um caso e as crianças, como nós sabemos, ainda têm quase intacta aquela fabulosa capacidade de acreditar que as faz, de forma inata, enaltecer o que é bom e relegar para segundo plano as coisas que nos partem a cabeça a nós, crescidos. Houve momentos em que a minha foi mesmo feliz e via-se que desfrutava de tudo em redor. Por isso, pelo passeio, por apanhar outros ares, sempre valeu. Mas a verdade é que para o ano não me enrolam outra vez. O mais certo é ir atrás da neve (se a houver) e tudo isto só confirma a teoria que já defendia antes de lá chegar: se querem mesmo, mesmo, mesmo sonhar em grande, mais vale fazer um sacrifício maior e levá-los à Eurodisney. Aí sim, com o total selo de garantia do Tio Sabi. (tantas saudadinhas, já…).
Grande abraço, continuação de boas festas e desculpem lá qualquer coisinha!
E perguntam vocês, boquiabertos e em coro: “mas, Tio Sabi, porquê isso então, rapaz?”.
E eu respondo: “elementar, meus caríssimos irmãos! E passo a explicar as pretensas razões para tal conclusão…”
Constitui pois uma grande barretada porque se trata de um caso mais do que evidente de vender “gato por lebre”. Terá de haver quem se levante e grite que “o rei vai nú” porque senão corremos o risco de estarmos todos a ir na mesma cantiga. Trata-se de um caso em que como poucos, podemos verdadeiramente afirmar que o conteúdo fica muito aquém do produto prometido no embrulho. O aparato é enorme, a coisa vem muito bem embalada, mas tirando uma pretensa rampa de neve (trata-se de uma passadeira branca) que se desce de bóia, de uma pista de gelo que nem por isso é muito grande e uma área com póneis; creio que tudo o que demais ali se dá não passa de muita parra e pouca uva.
É certo que as decorações estão de nível, é certo que os detalhes não são descuidados, é certo que os animadores não faltam mas insufláveis já nós conhecemos de outras encarnações; a Vila dos Duendes não passa de meia dúzia de casitas com grandes filas e pouquíssimo para dar; os jogos tradicionais são corriqueiros e nada acrescentam (andas e joguinhos de madeira? Por favor…); a área de desportos radicais é do mais visto e não traz novidades em relação, por exemplo, ao Dia da Criança de Marvão; a casinha do Pai Natal está abaixo das recriações de muitas das grandes superfícies e quem diz isto diz muito mais… Para já não falarmos da animação que estava patente no dia em que por lá passámos ser um grupo coral, pelos vistos lá da terra!
Como costumo ter uma pontaria bestial nestas coisas, acertei em cheio no dia em que o Baião se lembrou de ir para lá abanar o rabo no “Portugal no Coração” em directo e a organização, a bem da produção, não teve pejo em fechar a área nevada dos póneis sem que considerasse essa menos-valia no valor que cobra à cabeça. Engraçado, não é?
A tudo isto temos de acrescentar, ou diminuir, conforme a perspectiva, a enorme desorganização nalgumas áreas. Tomemos duas a título de exemplo: os benditos desportos radicais e a patinagem.
Quanto à dita área radical, digo-vos que o evento abriu às 11 horas e encerrou às 19h. Pensem que aquilo é gente por todos os lados, e quando falamos em catraios então… parece que por lá pariu a galega! São mais que as mães! Mas ainda assim, os monitores da área radical decidiram encerrar às 13 horas para almoçarem. “1 horinha!”, disse o man. Só se for no Rolex dele. No meu deu quase duas certinhas e o pessoal, como seria de esperar, ali à seca. Os pais sopravam e os putos desesperavam com o atraso.
Só para terem uma ideia, a minha meteu na cabeça que tinha de descer na escalada (e sempre esperei que se baldasse com medo ao fim, vá lá, vá lá) e foi nada mais nada menos que 1 hora e 45m de fila para 11 segundos de descida! Valha-me Deus, o que os pais fazem pelos filhos…
Como o pessoal de serviço deve de ser de alguma empresa lá do sítio e era insuficiente, tinham de ser os putos a carregar com os cintos de segurança e os capacetes de volta para a partida depois da actividade, tendo de escalar uma área nada macia por ali acima! Espertinhos, os gajos…
Isto para já não falar na segurança que deixava mesmo muito a desejar. Aquilo era tudo “à molhada” e houve putos que no regresso, não levaram com os que desciam em cima, por um triz. E ainda ouviam um ralhete do monitor. “Ó miúdo, por aí não! Tás tonto?”. Até que um pai mais afoito ali ao lado lhe disse: “a culpa é sua, que é um inconsciente. Devia saber que deve de guardar áreas de protecção e não o fez!”. E o gajo safou-se à pintarola: “a culpa é minha? Ah, ah! A culpa é da Câmara!”. “Da Câmara não! È sua. Você é que está a monitorizar a actividade!” e nisto vira-lhe as costas e abalou. Pensei para mim: “ainda os há com eles no sítio!”. Mai nada!
Na patinagem, a confusão mantinha-se. As inscrições estavam com quase 2 horas de espera. A pista estava tão perigosa do excesso de utilização que as quedas eram mais que muitas. O risco de quebrar qualquer coisa era tal que os monitores avisavam logo à entrada que não se responsabilizavam pela água ser quase mais que o gelo. Quando quisemos entrar, as saquetas plásticas identificativas andavam todas a rodar e não havia para reporem e o tempo a passar. Uma comédia… sem graça nenhuma.
Quanto à roubalheira, esta é mais do que evidente e dispensa quase qualquer comentário. Os crescidos levam logo com 5 euros à cabeça (os pequenos abancam com 3) que dão só para entrar. Depois, tudo o que é actividade lá dentro só está disponível com recurso a fichas sendo que cada uma vale 1 euro. Só para terem uma ideia, meia hora na pista de gelo vale 3 fichas por pessoa (600 escudos) e o algodão doce vale 2 fichas cada (400 paus, meia dúzia de Cornettos no meu tempo). Até para ver uma banal exposição de Pais Natais se tem de avançar com a dita ficha.
O cenário estende-se à alimentação: como não há grandes opções onde comer e voltar para trás é impensável, quem não leva bucha aviada de casa, bem pode pagar cafés a 160 escudos e sopas a quase 500 paus cada (em moeda antiga parece mais!).
Enfim, uma verdadeira máquina de facturar! À nossa custa!
E eis que chega a fase em que a pergunta se impõe: “queres então dizer que não vale mesmo a pena?”.
Também não vou por aí. Esta é apenas a minha modesta leitura, cada caso é um caso e as crianças, como nós sabemos, ainda têm quase intacta aquela fabulosa capacidade de acreditar que as faz, de forma inata, enaltecer o que é bom e relegar para segundo plano as coisas que nos partem a cabeça a nós, crescidos. Houve momentos em que a minha foi mesmo feliz e via-se que desfrutava de tudo em redor. Por isso, pelo passeio, por apanhar outros ares, sempre valeu. Mas a verdade é que para o ano não me enrolam outra vez. O mais certo é ir atrás da neve (se a houver) e tudo isto só confirma a teoria que já defendia antes de lá chegar: se querem mesmo, mesmo, mesmo sonhar em grande, mais vale fazer um sacrifício maior e levá-los à Eurodisney. Aí sim, com o total selo de garantia do Tio Sabi. (tantas saudadinhas, já…).
Grande abraço, continuação de boas festas e desculpem lá qualquer coisinha!
Também tem lixo amontoado, também tem falta de caixote...
5 comentários:
Este post veio confirmar a ideia que eu tinha acerca da Vila Natal, em tudo. Mas também concordo que pelo sorriso e a alegria dos pequenos vale a pena ignorar os muitos defeitos e entrar na festa.
Já a Eurodisney não está ao alcance de todos (felizmente ainda se ganham viagens em latas de salsichas...), mas também confirmo que não pode haver experiência mais feliz do que essa, ainda que o problema do gastadeiro de euros se mantenha, e ao nível francês que é bem pior...
Mas o que eu gostei especialmente neste post foram as comparações subliminares. É caso para dizer que está lá tudo, para quem quiser entender. Sair do nosso cantinho e conhecer outras realidades permite estabelecer comparações, retirar bons e maus exemplos, é indispensável!
Muito bom, chefe!
É necessário muito peito para uma crítica como esta, parabéns pela coragem!!!
Quanto a nós aqui em Castelo do Piauí, estamos apenas sonhando com a neve, vista somente pela televisão. rsrrsrs lol
Abraços Pedro.
Pois é meu Caro Pedro.
Quem conhece Marvão a sério, não se atreve a falar de Óbidos, só que nós ficamos para lá do sol posto e eles ao pé da 'civilização'.
E marketing é marketing.
Quem está à frente de Óbidos sabe muito bem vender o produto e a proximidade de Lisboa, Torres, Caldas e etc fazem toda a diferença. E uma vez lançada a propaganda ... é só esperar pelos petizes, já que os pais pagam tudo.
E depois vemos tantos comentários negativos por causa do euro da discórdia das entradas na Feira da Castanha na nossa Vila de Marvão!!! Deviam era pagar no minimo 5 Euros.
Em todo o lado se paga, parece que só em Marvão é que não se pode cobrar entradas porque se está a vedar a Vila, e então Óbidos como é???
Quêm opina assim, nunca saiu de casa.
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