O nosso motorista guiou-nos com muita habilidade por uma estrada gelada e parámos, ao fim de cerca de 25 minutos, num sítio muito parecido com o meio de nada. O restaurante Tundra, impressionante nem que fosse só pelo nome, aguardava-nos coberto de neve, com as suas cores vermelhas garridas, sorrindo-nos numa imensidão branca e eu não conseguia parar de pensar no vídeo do “Last Christmas” dos Wham. O cozinheiro esperava-nos à porta, sorridente e de braços abertos e pensem vocês na diferença… já há coisas que eu não preciso de dizer aqui. One gets used to it!
O restaurante situava-se no primeiro andar onde um empregado de meia idade que já correu e conheceu o mundo inteiro nos deu as boas vindas com um sorriso franco e um champanhe cava gelado.
Recebidos com honras de Estado
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A mesa era enorme, elegantemente decorada e o que se seguiu então foi uma demonstração de como a alta cozinha pode ser verdadeiramente suculenta e saborosa. Um espanto! Abrimos com uma salada, à qual se seguiu um salmão praticamente cru mas sabiamente cozinhado, num ponto em que mantinha todas as suas propriedades naturais e sabia de excepção. Após, proporcionaram-nos um “white fish”, como eles lhe chamam, também excepcionalmente trabalhado e sempre acompanhado de maravilhosos vinhos importados da América Latina, México e Chile. Foi então que pensei que poderia adaptar-me com muita facilidade à condição de rico. Sim, hoje estou certo: eu seria rico sem qualquer tipo de problemas. Acho que é fácil. Só falta o dinheiro.
A sobremesa conheceu um espirituoso que me recordou o moscatel e enquanto cafézava, troquei algumas impressões com o chefe de mesa, que apesar dos maneirismos me pareceu verdadeiramente simpático e interessado. Ofereci flyers da minha terra e recomendei-lhe os tintos alentejanos, sobretudo, claro está, os de Portalegre e Estremoz. We’ll be in touch!
Durante o repasto, o perfume mágico do néctar dos deuses libertou os convivas e brincámos e divertimo-nos imenso. Descobrimos inclusivamente que poderíamos vir a ter futuro enquanto grupo de forcados, especialistas na pega de caras às renas, onde eu seria o cabo e a restante companhia aportaria ao espectáculo o melhor de cada um dos seus países. A saber… a inspectora austríaca faria o “iodeling” de apresentação, intervalo e encerramento; a italiana Alessandra venderia pizzas, o turco Ahmet faria stand up comedy, os franceses trariam os queijos e a gastronomia local e o nosso director Pekka, sugeriu um número de magia da sua parte… enfim… rimos a bom valer, sobretudo quando lhes contei que não era novato na coisa, e lhes falei da mítica carreira do glorioso Circo Cardinas. Muito divertido, mesmo…
A vista para o exterior
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Enquanto o ouvia, via a neve cair copiosamente lá fora e cobrir tudo à volta com o seu espesso manto e pensei: “Deus do Céu, mas que faço eu aqui? Como pude eu cair neste lugar quando tudo parece um sonho?”. Ambos concordámos com a força do destino e creio que ficámos quites com isso. É um homem mesmo muito encantador. Pensei que se por aqui morasse, seriamos grandes amigos e teríamos muito que falar. Acho que vou sentir a sua falta também.
O andamento da turma estava bom e havia fiesta! no hotel, com a actuação da Tanssiorkesteri Pekkaniskan Pojat. Aproveitámos para tomar algo no bar e eu sentei-me no salão a apreciar os gestos, a forma de dançar, a forma de falar e de se mover desta gente. É estranho como somos tão diferentes em tanta coisa. Dançam umas modas assim aos pulinhos, lado a lado, rodopiando… uma graça... Anyway, reparei que mudavam imenso de casais e que havia ali muita coisa em jogo quando decidi recolher aos aposentos, para exercer a minha vocação de escriba, mas não sem antes apreciar a sessão de Karaoke de um rapaz que mais parecia que o estavam a matar… Ruim…………..
As minhas colegas disseram-me acerca de uma conversa da idade, que achavam que eu tinha 45 anos. “Estou assim tão estragado?”. “Nada disso! É pelo cargo que ocupas e pelos cabelos brancos…”. Sendo assim… Mas para compensar, ao comentarem a minha imitação do nosso colega grego, o fabuloso Mário, obtive um “oh Petru… you’re so funny. You should try theatre”…
Disse a senhora que mais de 50% dos alunos têm de ser transportados e fazer cerca de 50 quilómetros até ali chegar. Ela própria tem de sair de casa e viver ali durante toda a semana, regressando ao lar apenas no final e pergunta-se diariamente onde vai ver dos alunos e que será dos professores? E eu disse-lhe que se tranquilizasse porque não é a única no mundo. Na verdade, ouvindo-a falar assim, disse-lhe que se tivesse o cabelo escuro em vez de louro, o seu discurso passaria perfeitamente pelo de uma colega portuguesa. Ela riu-se imenso e sei que ficou algo reconfortada. “O nosso problema é como manter viva esta área… Esperemos que o Governo nos ajude mas o governo só quer é cidades…”.
Onde é que eu já ouvi isto?
Bem haja pelo almoço na cantina. “É porco?”, perguntou o turco. “Não… beef!”. “Ah ok! Put some more, then…”.
Tempo então de voltar para o hotel para a primeira sessão de trabalho do relatório de grupo. A coisa promete…
1 comentário:
deve ser uma viagem inesquecivel!!! Que coisas e lugares maravilhosos !! Estou deveras fascinado, é o termo !!! Diverte-te e aprende mais para nos contares ( se possivel em livro rsrsrs ) Abraços grandes !!!!
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