domingo, 12 de janeiro de 2014

A Ana do Infantário



A Ana Pinheiro é amiga de longa data, mesmo muito longa data e só não digo quão longa é a data porque pode dar azo a pensarem que a gente é velhos e a gente não é, prontos. Eu posso já não ser assim um rapazola e ter pouca penugem no casco (sim, porque olheiras sempre tive!) e ela pode ter cabelinhos brancos mas ainda somos novos. Sempre me habituei à presença dela e da mana que, quando eu era puto, eram duas cachopas novas ali das beiras que tinham vindo trabalhar cá para o infantário. Depois a mana casou e emigrou para Espanha mas a Ana sempre foi ficando por cá. Sendo das amizades dos meus pais, foi uma amizade herdada por mim, em muito reforçada pelo seu casamento com o Zé Manuel Baltazar, um companheirão das Covilhãs, a quem sou muito chegado.

Maneira que a Ana e o Infantário foram sempre, no meu universo mental, dois conjuntos interligados. A Ana foi responsável pela sala da minha Alice e sempre nos demos do melhor. Neste tempo de atividade, nestes anos todos, ajudou a educar gerações de arenenses e marvanense que hoje têm com ela uma boa relação. Pelo que me é dado a saber, é uma relação mais ou menos próxima porque nem todos podemos agradar a toda a gente e cada um nutrirá por ela maior ou menor afeto, e é natural que assim seja. Como eu costumo dizer, “Cristo que foi Cristo, com 33 anos já estava cravado no barrote. Se isto aconteceu com ele e tinha a cunha do Pai, não se pode mesmo agradar a toda a gente”.´

Já estive muito ligado à câmara municipal, à educação e à ação social. Agora, de longe, vou acompanhando o que posso e apanho. É certo que não me esforço muito. Não vou assistir às reuniões de câmara, nem às assembleias municipais porque não quero e estou a viver assim uma fase de negação, de “euquélásabêdisse”, como era o grupo do meu amigo Manuel Coelho.

Entretanto, a minha Alice passou para o pré-escolar que funciona na escola, mas sei que quanto ao infantário houve recentemente grandes alterações. Penso que com anuência do município, a segurança social deu espaço à APPCDM de Portalegre e a Ana foi convidada a sair. Aconselhada a descontinuar o seu trabalho naquele local. Foi transferida para a Segurança Social em Marvão e ela diz-me que se sente feliz ali, que gosta de estar onde está. Eu sei que pode estar, de facto, e quero muito que esteja. Não tenho falado muito com ela sobre o assunto, nem tenho intimidade para tal. Mas preocupo-me.

Pelo que me foi dado a saber, a sua mudança foi motivada pelas queixas de alguns pais e é isso que me preocupa. Que queixas terão feito dela quando nada em concreto lhe foi apontado? Se não foi acusada de nenhuma agressão, nenhum gesto óbvio que a incompatibilizasse com uma criança/pai/mãe, porquê esta mudança? Será que desaprendeu aquilo que sempre fez ou será que “dantes comiam porque estavam menos informados e não tinham novas tecnologias, internet e smartphones?”

Ou será que são os pais de agora que estão mais despertos, a quererem melhores profissionais que a Ana que ajudou a criar tantos arenenses? Será que os pais de hoje estão mais preocupados com a educação dos filhos do que estavam os nossos? E será que a gente, os produtos daquela educação que agora não querem, não presta?

Há dias, a Ana pediu-me boleia de Marvão e eu trouxe-a até casa. Falou-me vagamente neste texto que aqui vou publicar. Disse-me que tinha escrito um agradecimento a quem a tinha apoiado e gostava de o publicar num jornal. Falou-me se não conhecia ninguém no “Fonte Nova”. Disse-lhe que sim, que conhecia o Aurélio Bentes Bravo que era o diretor, mas disse-lhe também, sem me ter perguntado, que esse jornal é mais lido na cidade e tem pouca expressão aqui no concelho. Falei-lhe que era muito amigo do Manuel Isaac do “Alto Alentejo”, desde os tempos (curiosamente) em que ele era jornalista do “Fonte Nova” e eu, diretor do “Altaneiro”. Falei com ele e acordámos o valor para esta publicidade pessoal por forma a não ferir susceptibilidades nas entidades envolvidas.

A Ana tem uma sobrinha que está a fazer uma pós-graduação em jornalismo que a ajudou a fazer o texto. Publico-o como o recebi, como o publicou no jornal.

Percebendo-o, sentindo-o, desejando-lhe o melhor.


Espero ter ajudado a fazer justiça, querida.


Eu, Ana Maria Serôdia Pinheiro, venho por este meio, deixar uma palavra de agradecimento a todas as pessoas que de uma forma ou outra, estiveram do meu lado, me apoiaram, ajudaram e tiveram sempre uma palavra amiga para me confortar, numa fase complicada e desagradável, a qual também aproveito para clarificar.

Há cerca de 33 anos que me encontrava a trabalhar no Centro Infantil de Santo António das Areias, 7 anos dos quais como responsável, possuindo um contrato de trabalho com afectação à Segurança Social. Em 2013, face à reestruturação imposta ao nível Governamental e após a realização de um Protocolo entre a Câmara Municipal e a APPACDM, esta entidade assumiu a gestão do Infantário. Assim, a partir Setembro 2013, a Direcção do Centro Infantil de Santo António das Areias ficou a cargo da Instituição APPACDM. 

Antes de mais gostaria de deixar claro, que nunca pertenci nem pertenço contratualmente a esta Instituição. Aquando da reunião de tomada de posse desta entidade, bem como, da definição e atribuição das funções da equipa constituída, fui confrontada com uma série de situações que considero injustas e as quais pretendo aqui descrever e esclarecer, visto nunca me ter sido dada essa oportunidade.

Logo no primeiro dia de trabalho após a entrada desta entidade, a mãe de uma criança referiu-me que não pretendia que o seu filho ficasse na minha sala, situação à qual a educadora lhe referiu que qualquer tipo de queixa que pretendesse fazer, só seria aceite por escrito. Nos dias seguintes, o pai da criança só deixava a criança na minha sala caso eu não estivesse lá sozinha.

Posteriormente numa conversa com a nova Diretora foi-me comunicado, que este era apenas um caso de entre outros existentes, observação que mais uma vez me surpreendeu visto o Infantário ser detentor de um livro de reclamações onde até à data, não existia nenhuma reclamação com referência ao meu nome. Sublinho, que também nunca me foram mostradas provas evidentes das acusações que me estavam a ser efectuadas, facto que me leva a crer a inexistência das mesmas.

Para além deste facto, e segundo me foi relatado, no decorrer da primeira reunião de pais com a nova Direção, foi também questionada a existência de um atestado médico o qual justificava a minha permanência definitiva como responsável do Berçário 1. Sublinho, que este atestado existe já desde 2002, o qual apesar da sua veracidade dei indicação que ignorassem, com receio não me trouxesse futuros dissabores.

Bem, perante a minha perplexidade face a esta situação, na medida em que, e quem me conhece sabe, nunca apresentei comportamentos que levassem a algum tipo de descontentamento por parte dos pais das crianças, solicitei que me fosse mostrada ou me fosse dado conhecimento do conteúdo exato da referida reclamação, o que nunca chegou a acontecer. Solicitei uma reunião conjunta com a anterior Diretora do Infantário, a nova Direção e os pais da respectiva criança o que também nunca veio a acontecer. Os pertences queixosos, tem certamente muito pouco conhecimento sobre o trabalho até aqui desenvolvido por mim, desconhecendo o elevado desconforto e descontrolo profissional que a partir daqui se gerou.

Ora perante tudo isto, gostaria de deixar claro, que sempre tentei primar por uma postura de elevado profissionalismo no decorrer destes 33 anos de serviço no mesmo estabelecimento, não admitindo por isso que o meu bom nome seja posto em causa desta forma.

É importante que se perceba, que quando se acusa alguém, devemos ter provas concretas das afirmações que fazemos, quem analisa deverá ter pois a capacidade de, já que mais não seja, analisar e debater os factos, não os tratando de forma banal, e acima de tudo conhecer as pessoas de quem falamos na medida em que podemos estar a cometer uma forte injustiça a alguém, tomando as posições erradas.

Porque esclarecer é necessário, porque confiar no trabalho dos outros é importante e porque há histórias que merecem ser conhecidas, obrigada a todas as pessoas que continuam a merecer a minha consideração.

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