quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Dois pais. Duas mães. O mesmo amor.


O Tribunal Constitucional voltou a salvar o Tio Aníbal António Cavaco Silva, mandando para trás a proposta de referendo à coadoção. Os senhores juízes do Constitucional, os xerifes do palácio Ratton que são os verdadeiros manda-chuvas desta porra chamada país, decidiram que a pergunta não está bem feita porque mistura conceitos e pode confundir as cabecitas que já andam tão baralhadas. Dito de forma cara, isto traduz-se em "a cumulação no mesmo referendo das duas perguntas propostas dificulta a perfeita consciencialização, por parte dos cidadãos eleitores, da diversidade de valorações que podem suscitar, sendo suscetível (passe a redundância) de conduzir à contaminação recíproca das respostas, não garantindo uma pronúncia referendária genuína e esclarecida". Viram como é claro e fácil? Mas os homens têm estudos… Isto não é para todos. Por mais tabuadas que estudasse e se as soubesse todas de cor e salteado (que a partir da do 6 já não estou muito seguro e tenho de a pensar), muito dificilmente chegaria a ser Ratão do Tribunal e a ter umas opas à Batman como as destes rapazes.

Pois eles, não satisfeitos ainda acham que há mais porque “a restrição do universo eleitoral é "injustificada", pelo que se impõe "a abertura do referendo aos cidadãos recenseados residentes no estrangeiro". Perceberam? Eu também não.

Um grande imbróglio, foi o que daqui resultou desta história do referendo e isto ao princípio confundia até o mais atento. A deputada do PS Isabel Moreira, a porta-estandarte destas matérias e autora do projecto de Lei chorava que não queria o referendo. O Bloco de Esquerda revoltava-se… em bloco e até parecia que quem estava a favor se manifestava contra?!?!?!? Como podia lá isto ser?

Pois eu explico. Estavam contra isto de “descer” o referendo à populaça, ao Ti Chico e à Dona Gertrudes que estão mais preocupados com o que não vão almoçar nesse dia. Esta é uma matéria séria, fraturante, que divide a sociedade entre os que são a favor e os que não podem sequer ouvir nessa possibilidade dos paneleiros terem um filho. Ainda há os que acham que sim, que está bem, que é justo, que pode ser contra a natureza mas é legítimo. É um direito que os assiste.

Esses deputados que são a favor acham que a Assembleia tem o dever e a responsabilidade de tratar estas matérias delicadas e atirá-las aos crocodilos era uma manobra… suja. Realmente, a possibilidade de se fazer um referendo sobre esta matéria é uma ideia das tangerinas (JSD) que revela o pior que há na política. Um referendo é uma arma poderosa em democracia, uma consulta direta à população que só se deve fazer em questões importantes e com alguma urgência. Nunca sobre esta matéria que passa em muito ao lado da maior parte da população portuguesa, tão divorciada que está da política que o mais certo se se realizasse era nem sequer meter lá as patas. Eles querem lá saber se as fufas e os que pegam de marcha atrás podem adotar filhos?!?!? Eles querem é dizer mal daquela cambada que anda lá engravatada em Lisboa na assembleia que são só uns chulos porque cortam nas reformas, no subsídio de desemprego, no subsídio de viuvez e aumentam os impostos de tudo, dos carros, da casa, dos rendimentos e cortam e reduzem tudo o que é isenção.

Os referendos são sempre uma incógnita mas acho que neste o resultado é mais que certo: um fracasso total. Se passar e se se realizar, a abstenção há-de ser brutal. Se não for é porque Portugal ainda é muito mais atrasado do que eu pensava e as velhinhas hão-de ir pelo sol e pela chuva calcorrear os caminhos para dizerem que nem pensar essa dos paneleiros poderem adotar crianças.

Há tempos, amigos esclarecidos comentavam entre si em privado que isto é mais uma medida proposta pelo CDP (leia-se Cê Dê Portas) e que o PSD teve de levar com ela. Diziam que ter parceiros políticos é assim e isto da adoção gay é uma vergonha para o país.

Pois eu acho que vergonha tenho eu de viver num país onde as primeiras páginas do jornal CMpeão de vendas terem sempre em destaque na 1ª página o assassínio de uma mulher pelo marido encornado. Se caça a mulher com o “amigo” dela, em vez de cada um seguir a sua vida livremente, não consegue suportar o belisco na masculinidade e acaba logo com a vida dela e com a do outro desgraçado também se não esgarrar depressa.





Vergonha tenho eu de viver num país onde a violência doméstica é um prato nacional, tão tradicional como o cozido à portuguesa. O homem está desempregado e por isso refugia-se na bebida que lhe serve de embalo para dar enxertos de porrada na mulher e nos putos ranhosos que dormem entre as chapas de zinco com o estômago vazio.

Vergonha tenho eu de viver num país onde um processo de adoção demora séculos e contempla só alguns, porque nisto aqui, uns são filhos da mãe e outros, filhos da outra senhora que é a puta.

E o que pensa o menino Pedro sobre isto? O menino pensa (por muito estranho que possa parecer a algumas mentes iluminadas…) que o mais importante é sempre o bem estar da criança. Se o seu domínio, a sua interioridade for respeitada, o mais importante está salvaguardado. A mim tanto se me dá como se me deu se um menino ou uma menina tiver dois pais ou duas mães. Desde que respeitem a sua vontade e lhe propiciem uma boa educação; desde lhe passem os valores corretos para viver nesta selva chamada sociedade; desde que rodeiem o seu crescimento de amor sincero e verdadeiro; desde que lhe propiciem ternura, respeito e entreajuda, o sexo é o que menos interessa. Se uma família de gays tiver sucesso na educação do filho, ele será um adulto bem formado e casará com o sexo contrário, porque essa é a ordem natural das coisas e assim poderão ter filhos e dar continuidade à espécie.


Isto pode ser tão possível (e acredito tanto nisto) como é possível que haja famílias conservadoras que tenham filhos gays, filhos que escolhem alguém do mesmo sexo. O que eu penso é que uma criança não nasce gay. Ser gay não está nos genes. Ninguém nasce a gostar de iguais. O que se passa é que na primeira célula que encontramos na vida (a familiar), há um homem ou uma mulher que se destaca muito em detrimento do outro e a falta de estrutura faz despertar num fascínio pelo mesmo sexo que depois é cultivado na adolescência.

Ser gay não está nos genes mas na família destruturada aliada a uma influência que até pode ser externa, da escola ou do grupo de amigos. Quando acontece o primeiro sentir gay, a criança tem a guarda em baixo e a influência entra. A criança ou o teenager, na idade em que tudo se decide, deixa-se levar. Depois a música, os livros, os filmes fazem o resto e até alguma rebeldia pode apontar nesse sentido de ser diferente.

Eu sei que as crianças são cruéis e quando descobrirem na escola que a Laura tem 2 pais e o Paulo duas mães vão esmiuçar e ofender. Apoiados pelo suporte da sua falange de críticos, vão enxovalhar, magoar, cobrar. Mas as famílias gay são tendencialmente de um nível cultural e económico mais alto que lhes permite propiciar melhores recursos e educação. Quando descobrirem que os dois pais até são fixes e os levam a passear com os filhos que são seus colegas, começarão a pensar de maneira diferente.

É óbvio que uma mudança destas não se faz de um ano para o outro. Estas coisas levam décadas, gerações a serem aceites. Mas por algum lado tem de começar. Eu aceito a diferença e penso que não serei o único da minha geração a opinar assim. Por isso, já somos alguns e quando a geração das minhas filhas estiver em idade de casar, os olhos com que se olhar para este assunto serão certamente diferentes. Serão melhores, espero eu.

É óbvio que eu como pai, desejo que as minhas filhas casem com um rapaz e sejam felizes. O piqueno não tem de ser bonito, não tem de ser de boas famílias (se é que isso ainda existe), não tem de ter estudos, não tem de ser cinturão preto de Karaterra, não tem de ser abstémio. A única condição que tem de ter é ter de a amar. Isso vê-se à distância e não permite ilusões. Quero que casem, sejam felizes e tenham fihos que hão-de ser os meus tão queridos netos. Mas se escolherem uma companheira, não as vou renegar, nem vedar a possibilidade de verem o pai feliz por as ver felizes a elas, que é o que ele sempre quer toda a vida.


Respeito porque o amor, como cantam aqui o Maclemore e o Ryan Lewis, é o mesmo. E o que nos faz falta a todos nós. Como pão para a boca. Porque nem só de pão vive o homem.


Uma letra que diz tudo. Percebe-se porque já é um hino.

1 comentário:

Helena Barreta disse...

É por isto que eu gosto tanto de aqui vir.

Um abraço