O
Tribunal Constitucional voltou a salvar o Tio Aníbal António Cavaco Silva,
mandando para trás a proposta de referendo à coadoção. Os senhores juízes do
Constitucional, os xerifes do palácio Ratton que são os verdadeiros
manda-chuvas desta porra chamada país, decidiram que a pergunta não está bem feita
porque mistura conceitos e pode confundir as cabecitas que já andam tão
baralhadas. Dito de forma cara, isto traduz-se em "a cumulação no mesmo referendo das duas
perguntas propostas dificulta a perfeita consciencialização, por parte dos
cidadãos eleitores, da diversidade de valorações que podem suscitar, sendo
suscetível (passe a redundância) de conduzir à contaminação recíproca das respostas, não garantindo
uma pronúncia referendária genuína e esclarecida". Viram como é
claro e fácil? Mas os homens têm estudos… Isto não é para todos. Por mais
tabuadas que estudasse e se as soubesse todas de cor e salteado (que a partir da do 6 já não estou muito seguro e tenho de a pensar), muito dificilmente
chegaria a ser Ratão do Tribunal e a ter umas opas à Batman como as destes rapazes.
Pois
eles, não satisfeitos ainda acham que há mais porque “a restrição do universo eleitoral é
"injustificada", pelo que se impõe "a abertura do referendo aos
cidadãos recenseados residentes no estrangeiro". Perceberam? Eu também não.
Um
grande imbróglio, foi o que daqui resultou desta história do referendo e isto
ao princípio confundia até o mais atento. A deputada do PS Isabel Moreira, a porta-estandarte
destas matérias e autora do projecto de Lei chorava que não queria o referendo.
O Bloco de Esquerda revoltava-se… em bloco e até parecia que quem estava a
favor se manifestava contra?!?!?!? Como podia lá isto ser?
Pois
eu explico. Estavam contra isto de “descer” o referendo à populaça, ao Ti Chico
e à Dona Gertrudes que estão mais preocupados com o que não vão almoçar nesse
dia. Esta é uma matéria séria, fraturante, que divide a sociedade entre os que
são a favor e os que não podem sequer ouvir nessa possibilidade dos paneleiros terem
um filho. Ainda há os que acham que sim, que está bem, que é justo, que pode
ser contra a natureza mas é legítimo. É um direito que os assiste.
Esses
deputados que são a favor acham que a Assembleia tem o dever e a
responsabilidade de tratar estas matérias delicadas e atirá-las aos crocodilos
era uma manobra… suja. Realmente, a possibilidade de se fazer um referendo
sobre esta matéria é uma ideia das tangerinas (JSD) que revela o pior que há na
política. Um referendo é uma arma poderosa em democracia, uma consulta direta à
população que só se deve fazer em questões importantes e com alguma urgência.
Nunca sobre esta matéria que passa em muito ao lado da maior parte da população
portuguesa, tão divorciada que está da política que o mais certo se se
realizasse era nem sequer meter lá as patas. Eles querem lá saber se as fufas e
os que pegam de marcha atrás podem adotar filhos?!?!? Eles querem é dizer mal
daquela cambada que anda lá engravatada em Lisboa na assembleia que são só uns
chulos porque cortam nas reformas, no subsídio de desemprego, no subsídio de
viuvez e aumentam os impostos de tudo, dos carros, da casa, dos rendimentos e
cortam e reduzem tudo o que é isenção.
Os
referendos são sempre uma incógnita mas acho que neste o resultado é mais que
certo: um fracasso total. Se passar e se se realizar, a abstenção há-de ser
brutal. Se não for é porque Portugal ainda é muito mais atrasado do que eu
pensava e as velhinhas hão-de ir pelo sol e pela chuva calcorrear os caminhos
para dizerem que nem pensar essa dos paneleiros poderem adotar crianças.
Há
tempos, amigos esclarecidos comentavam entre si em privado que isto é mais uma
medida proposta pelo CDP (leia-se Cê Dê Portas) e que o PSD teve de levar com ela.
Diziam que ter parceiros políticos é assim e isto da adoção gay é uma vergonha
para o país.
Pois
eu acho que vergonha tenho eu de viver num país onde as primeiras páginas do
jornal CMpeão de vendas terem sempre em destaque na 1ª página o assassínio de
uma mulher pelo marido encornado. Se caça a mulher com o “amigo” dela, em vez
de cada um seguir a sua vida livremente, não consegue suportar o belisco na
masculinidade e acaba logo com a vida dela e com a do outro desgraçado também
se não esgarrar depressa.
Vergonha
tenho eu de viver num país onde um processo de adoção demora séculos e
contempla só alguns, porque nisto aqui, uns são filhos da mãe e outros, filhos
da outra senhora que é a puta.
E
o que pensa o menino Pedro sobre isto? O menino pensa (por muito estranho que
possa parecer a algumas mentes iluminadas…) que o mais importante é sempre o
bem estar da criança. Se o seu domínio, a sua interioridade for respeitada, o
mais importante está salvaguardado. A mim tanto se me dá como se me deu se um
menino ou uma menina tiver dois pais ou duas mães. Desde que respeitem a sua
vontade e lhe propiciem uma boa educação; desde lhe passem os valores corretos
para viver nesta selva chamada sociedade; desde que rodeiem o seu crescimento
de amor sincero e verdadeiro; desde que lhe propiciem ternura, respeito e
entreajuda, o sexo é o que menos interessa. Se uma família de gays tiver
sucesso na educação do filho, ele será um adulto bem formado e casará com o
sexo contrário, porque essa é a ordem natural das coisas e assim poderão ter
filhos e dar continuidade à espécie.
Isto
pode ser tão possível (e acredito tanto nisto) como é possível que haja famílias
conservadoras que tenham filhos gays, filhos que escolhem alguém do mesmo sexo. O
que eu penso é que uma criança não nasce gay. Ser gay não está nos genes.
Ninguém nasce a gostar de iguais. O que se passa é que na primeira célula que
encontramos na vida (a familiar), há um homem ou uma mulher que se destaca
muito em detrimento do outro e a falta de estrutura faz despertar num fascínio
pelo mesmo sexo que depois é cultivado na adolescência.
Ser
gay não está nos genes mas na família destruturada aliada a uma influência que
até pode ser externa, da escola ou do grupo de amigos. Quando acontece o
primeiro sentir gay, a criança tem a guarda em baixo e a influência entra. A
criança ou o teenager, na idade em que tudo se decide, deixa-se levar. Depois a
música, os livros, os filmes fazem o resto e até alguma rebeldia pode apontar nesse
sentido de ser diferente.
Eu
sei que as crianças são cruéis e quando descobrirem na escola que a Laura tem 2
pais e o Paulo duas mães vão esmiuçar e ofender. Apoiados pelo suporte da sua
falange de críticos, vão enxovalhar, magoar, cobrar. Mas as famílias gay são
tendencialmente de um nível cultural e económico mais alto que lhes permite
propiciar melhores recursos e educação. Quando descobrirem que os dois pais até
são fixes e os levam a passear com os filhos que são seus colegas, começarão a
pensar de maneira diferente.
É
óbvio que uma mudança destas não se faz de um ano para o outro. Estas coisas
levam décadas, gerações a serem aceites. Mas por algum lado tem de começar. Eu
aceito a diferença e penso que não serei o único da minha geração a opinar
assim. Por isso, já somos alguns e quando a geração das minhas filhas estiver
em idade de casar, os olhos com que se olhar para este assunto serão certamente
diferentes. Serão melhores, espero eu.
É
óbvio que eu como pai, desejo que as minhas filhas casem com um rapaz e sejam
felizes. O piqueno não tem de ser bonito, não tem de ser de boas famílias (se é
que isso ainda existe), não tem de ter estudos, não tem de ser cinturão preto
de Karaterra, não tem de ser abstémio. A única condição que tem de ter é ter de
a amar. Isso vê-se à distância e não permite ilusões. Quero que casem, sejam
felizes e tenham fihos que hão-de ser os meus tão queridos netos. Mas se
escolherem uma companheira, não as vou renegar, nem vedar a possibilidade de
verem o pai feliz por as ver felizes a elas, que é o que ele sempre quer toda a
vida.
Respeito
porque o amor, como cantam aqui o Maclemore e o Ryan Lewis, é o mesmo. E o que nos
faz falta a todos nós. Como pão para a boca. Porque nem só de pão vive o homem.
Uma letra que diz tudo. Percebe-se porque já é um hino.
1 comentário:
É por isto que eu gosto tanto de aqui vir.
Um abraço
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